Nutrição, exercício e comportamento

Opinião|Os 7 mandamentos que ajudam a diferenciar bons e maus profissionais da saúde


Seguindo algumas regrinhas, você evita gastar tempo, dinheiro e até sua saúde com condutas problemáticas

Por Desire Coelho

Uma relação de confiança entre cuidador e paciente é fundamental para o sucesso em qualquer tipo de tratamento. Somente assim conseguimos a aderência aos cuidados necessários, que é o maior objetivo de todo bom profissional da área da saúde. Escrevo “bom” porque existem bons e maus profissionais – mas, como sabemos, essa não é uma exclusividade da área da saúde.

Se cuidar bem é a meta do bom profissional, qual seria a do mau profissional? São principalmente duas: fama e dinheiro – o seu, é claro. Mas, quando há várias informações conflitantes e todos falam com tanta propriedade, como saber escolher?

Formulei sete mandamentos para ajudá-lo a separar o joio do trigo.

continua após a publicidade
Assim como em qualquer área, no campo da saúde há bons e maus profissionais. Saber escolher é fundamental para realmente cuidar da saúde Foto: StockPhotoPro/Adobe Stock

1 - ‘Não olharei o número de seguidores nas redes sociais’

Quantidade de seguidores não é credencial de competência. Existem vários motivos para uma pessoa ter muitos seguidores, e alguns dos principais são: gostar do ambiente e ter tempo (muito tempo) para ficar lá.

continua após a publicidade

O Instagram, por exemplo, sempre foi uma rede que destacava os perfis que transformavam sua vida em reality show ou que geravam muitas polêmicas e, com isso, engajamento. Sabendo disso, muitos profissionais acompanharam essa tendência e ganharam muitos seguidores.

Isso não significa que todos os perfis de profissionais da área da saúde com muitos seguidores são ruins. Apenas que se esse for o seu principal critério de escolha, as chances de frustração são grandes.

2 - ‘Buscarei a formação acadêmica do profissional’

continua após a publicidade

Hoje em dia, para a pessoa ser especialista em uma área, basta escrever um “título” no site ou ao lado de seu nome nas redes sociais. Fácil, né? Não precisa mais apresentar diploma, fazer cursos de aprimoramento e especializações. Já leu um livro sobre nutrição esportiva? Basta escrever: “nutricionista esportivo”. Isso não é apenas na área da nutrição. Inventam-se as mais variadas especializações que não são reconhecidas pelos conselhos representativos de cada área.

Se ao lado da profissão estiver escrito coisas como modulação hormonal, quântico, biorressonância, anti-aging, ortomolecular, soroterapia, ancestral ou holístico e, mais recentemente, integrativo, cuidado: alerta vermelho. Esses termos são muito usados para propagar práticas que não têm embasamento científico – e, por isso, podem ser ineficazes e, na pior das hipóteses, até colocar a saúde em risco.

Outro dia vi um perfil de uma profissional da saúde que tinha na descrição do Instagram quatro das opções acima – quase conseguiu gabaritar em se especializar em pseudociência – e ela fala diariamente para mais de 50 mil seguidores sobre seus protocolos de tratamento baseados em suas “especializações”.

continua após a publicidade

Se você não consegue achar informações claras sobre os diplomas e as certificações em locais de referência, desconfie.

3 - ‘Buscarei referência e opinião de outros pacientes (reais) ou outros profissionais da saúde’

continua após a publicidade

Uma das melhores formas de saber se aquele profissional pode ajudá-lo é conversar com alguém que já foi atendido por ele. Novamente: esqueça as redes sociais. Sei que muitos postam mensagens de pessoas agradecidas, mas você não sabe quantas pessoas insatisfeitas também mandaram mensagens e ele não postou. O “boca a boca” é a melhor referência.

Outra opção é pedir indicação para outro profissional de saúde da sua confiança. Quanto mais ele te conhece, maior a chance de que a indicação seja acertada e faça sentido na sua vida.

4 - ‘Desconfiarei de quem insiste para manipular suplementos em uma farmácia específica’

continua após a publicidade

Você sabia que algumas farmácias e empresas chegam a oferecer 30% do valor da venda para o profissional prescritor? Estando dentro do meio, é comum sabermos de farmácias que trabalham com melhor qualidade e, por isso, indicarmos ao paciente, mas muitas vezes esse não é o caso. Já soube de profissionais que ganham mais com a prescrição de suplementos do que com o valor da consulta.

Não são todas as farmácias que fazem essa prática antiética. Mas isso nos faz entender por que alguns profissionais insistem que você procure determinado lugar. Há casos ainda em que o paciente nem vê a prescrição, porque o profissional manda direto para a farmácia. Não à toa, frequentemente recebo pacientes saudáveis com várias fórmulas de suplementos que custaram centenas e até milhares de reais e que se mostraram pouco ou nada relevantes para a saúde deles.

Suplementos fazem sentido quando há uma deficiência a ser tratada ou sintomas condizentes com uma alteração. Quantos suplementos para imunidade foram vendidos na pandemia? Pode ter certeza de que a maior parte não trouxe efeito algum além de uma urina mais cara (que é como o corpo elimina o que não é utilizado).

Um exemplo clássico é suplementar vitamina C para evitar gripes e resfriados. Uma das frases que escuto é: “Ah, mas comigo funcionou.” Sabemos que deficiência de vitamina C é rara se a pessoa tem uma alimentação de qualidade e consome frutas cítricas – uma das riquezas de nossa agricultura. Consumir vitamina C em doses extras não confere qualquer benefício a mais.

Existem muitos motivos para uma suplementação sem respaldo científico funcionar. O principal deles é o famoso efeito placebo – no qual a pessoa sente uma melhora ao consumir uma substância inócua, sem princípio ativo. O efeito placebo é amplamente estudado e, apesar de ainda não compreendermos como ele funciona, seu efeito pode ser real.

5- ‘Duvidarei de todos os testes e exames feitos apenas em locais específicos, como uma clínica parceira do profissional’

Isso se chama conflito de interesse. Muitos profissionais se tornam insistentes ao querer vender procedimentos, exames, produtos, tratamentos e afins que precisam ser comprados ou fechados naquele momento.

Na área da nutrição, existem alguns testes que prometem identificar centenas de alergias a alimentos e que podem custar até milhares de reais, mas que não servem para quase nada. Já atendi pacientes que gastaram muito dinheiro em tais exames e ficaram perdidos com um resultado que indicava alergia ou intolerância a muitos alimentos.

Alergia e intolerância alimentar são condições complexas e difíceis de diagnosticar com precisão. Existem exames específicos, como os baseados na resposta imunológica de anticorpos do tipo IgE, que podem ser realizados em qualquer laboratório de análises clínicas. Já outros testes feitos em clínicas particulares são baseados em anticorpos do tipo IgG, os quais indicam apenas se a pessoa tem algum tipo de reatividade ao alimento. No entanto, essa reatividade pode ser uma resposta normal do corpo, e não necessariamente indicativa de uma intolerância ou alergia alimentar.

Claro que existem casos muito específicos de exames que requerem um cuidado maior, como uma biópsia ou algum exame de imagem mais complexo – que nem toda clínica ou profissional teria a expertise ou o equipamento necessário para realizar com qualidade – o que justifica que o profissional direcione você a um local de sua confiança.

Se ainda estiver na dúvida, uma das possibilidades nessa era de Google e ChatGPT é fazer pergunta simples: “existe um consenso científico sobre tal exame para o tratamento ou diagnóstico de determinada condição”? Fazendo uma pesquisa assim é possível encontrar boas informações que também poderão ajudá-lo a tomar uma decisão sobre a necessidade e a eficácia de tais procedimentos.

6 - ‘Duvidarei de toda promessa definitiva ou orientação que garante rapidez em resultados’

Na área do emagrecimento, promessas de resultados rápidos e definitivos são muito comuns. Frases como “nunca mais volte a engordar”, “resultado garantido” ou “perca X quilos em Y dias” são frequentemente usadas para atrais pessoas que querem um atalho na saúde ou no resultado. Embora essas promessas sejam sedutoras, é importante lembrar que, se tais métodos existissem, todos saberíamos.

É comum encontrarmos propagandas de clínicas de emagrecimento que exibem a foto de uma pessoa muito magra que nitidamente jamais precisou emagrecer. Ou de uma profissional da nutrição extremamente magra, beirando à magreza excessiva, exibindo seu corpo e vendendo seu método – o que é obviamente proibido pelo conselho de nutricionistas, mas que muitos fazem mesmo assim.

A realidade é que não existe um método infalível e universal de emagrecimento, mas muitos inventaram um método de ganhar dinheiro se aproveitando da vulnerabilidade das pessoas.

Cada indivíduo é único e ganhou peso por motivos distintos, logo, cada processo de emagrecimento também o será. Essas promessas e esses protocolos normalmente ignoram a individualidade e, no longo prazo, só tiram seu dinheiro e prejudicam sua saúde física e mental.

7 - ‘Buscarei um profissional que valorize a comunicação e a empatia’

Explicar as condutas e inserir você no processo de tomada de decisão são características fundamentais de qualquer bom profissional da área da saúde. Já passou o tempo do “doutor ditador”, que impunha regras e isolava o paciente no tratamento.

Um bom profissional é aquele que consegue explicar com clareza o diagnóstico e o plano de tratamento, encorajando e empoderando o paciente na tomada de decisões.

A comunicação eficaz e a empatia são essenciais para construir uma relação de confiança e garantir que você se sinta parte ativa no seu processo de cuidar da sua saúde. Afinal, o maior interessado é você.

Uma relação de confiança entre cuidador e paciente é fundamental para o sucesso em qualquer tipo de tratamento. Somente assim conseguimos a aderência aos cuidados necessários, que é o maior objetivo de todo bom profissional da área da saúde. Escrevo “bom” porque existem bons e maus profissionais – mas, como sabemos, essa não é uma exclusividade da área da saúde.

Se cuidar bem é a meta do bom profissional, qual seria a do mau profissional? São principalmente duas: fama e dinheiro – o seu, é claro. Mas, quando há várias informações conflitantes e todos falam com tanta propriedade, como saber escolher?

Formulei sete mandamentos para ajudá-lo a separar o joio do trigo.

Assim como em qualquer área, no campo da saúde há bons e maus profissionais. Saber escolher é fundamental para realmente cuidar da saúde Foto: StockPhotoPro/Adobe Stock

1 - ‘Não olharei o número de seguidores nas redes sociais’

Quantidade de seguidores não é credencial de competência. Existem vários motivos para uma pessoa ter muitos seguidores, e alguns dos principais são: gostar do ambiente e ter tempo (muito tempo) para ficar lá.

O Instagram, por exemplo, sempre foi uma rede que destacava os perfis que transformavam sua vida em reality show ou que geravam muitas polêmicas e, com isso, engajamento. Sabendo disso, muitos profissionais acompanharam essa tendência e ganharam muitos seguidores.

Isso não significa que todos os perfis de profissionais da área da saúde com muitos seguidores são ruins. Apenas que se esse for o seu principal critério de escolha, as chances de frustração são grandes.

2 - ‘Buscarei a formação acadêmica do profissional’

Hoje em dia, para a pessoa ser especialista em uma área, basta escrever um “título” no site ou ao lado de seu nome nas redes sociais. Fácil, né? Não precisa mais apresentar diploma, fazer cursos de aprimoramento e especializações. Já leu um livro sobre nutrição esportiva? Basta escrever: “nutricionista esportivo”. Isso não é apenas na área da nutrição. Inventam-se as mais variadas especializações que não são reconhecidas pelos conselhos representativos de cada área.

Se ao lado da profissão estiver escrito coisas como modulação hormonal, quântico, biorressonância, anti-aging, ortomolecular, soroterapia, ancestral ou holístico e, mais recentemente, integrativo, cuidado: alerta vermelho. Esses termos são muito usados para propagar práticas que não têm embasamento científico – e, por isso, podem ser ineficazes e, na pior das hipóteses, até colocar a saúde em risco.

Outro dia vi um perfil de uma profissional da saúde que tinha na descrição do Instagram quatro das opções acima – quase conseguiu gabaritar em se especializar em pseudociência – e ela fala diariamente para mais de 50 mil seguidores sobre seus protocolos de tratamento baseados em suas “especializações”.

Se você não consegue achar informações claras sobre os diplomas e as certificações em locais de referência, desconfie.

3 - ‘Buscarei referência e opinião de outros pacientes (reais) ou outros profissionais da saúde’

Uma das melhores formas de saber se aquele profissional pode ajudá-lo é conversar com alguém que já foi atendido por ele. Novamente: esqueça as redes sociais. Sei que muitos postam mensagens de pessoas agradecidas, mas você não sabe quantas pessoas insatisfeitas também mandaram mensagens e ele não postou. O “boca a boca” é a melhor referência.

Outra opção é pedir indicação para outro profissional de saúde da sua confiança. Quanto mais ele te conhece, maior a chance de que a indicação seja acertada e faça sentido na sua vida.

4 - ‘Desconfiarei de quem insiste para manipular suplementos em uma farmácia específica’

Você sabia que algumas farmácias e empresas chegam a oferecer 30% do valor da venda para o profissional prescritor? Estando dentro do meio, é comum sabermos de farmácias que trabalham com melhor qualidade e, por isso, indicarmos ao paciente, mas muitas vezes esse não é o caso. Já soube de profissionais que ganham mais com a prescrição de suplementos do que com o valor da consulta.

Não são todas as farmácias que fazem essa prática antiética. Mas isso nos faz entender por que alguns profissionais insistem que você procure determinado lugar. Há casos ainda em que o paciente nem vê a prescrição, porque o profissional manda direto para a farmácia. Não à toa, frequentemente recebo pacientes saudáveis com várias fórmulas de suplementos que custaram centenas e até milhares de reais e que se mostraram pouco ou nada relevantes para a saúde deles.

Suplementos fazem sentido quando há uma deficiência a ser tratada ou sintomas condizentes com uma alteração. Quantos suplementos para imunidade foram vendidos na pandemia? Pode ter certeza de que a maior parte não trouxe efeito algum além de uma urina mais cara (que é como o corpo elimina o que não é utilizado).

Um exemplo clássico é suplementar vitamina C para evitar gripes e resfriados. Uma das frases que escuto é: “Ah, mas comigo funcionou.” Sabemos que deficiência de vitamina C é rara se a pessoa tem uma alimentação de qualidade e consome frutas cítricas – uma das riquezas de nossa agricultura. Consumir vitamina C em doses extras não confere qualquer benefício a mais.

Existem muitos motivos para uma suplementação sem respaldo científico funcionar. O principal deles é o famoso efeito placebo – no qual a pessoa sente uma melhora ao consumir uma substância inócua, sem princípio ativo. O efeito placebo é amplamente estudado e, apesar de ainda não compreendermos como ele funciona, seu efeito pode ser real.

5- ‘Duvidarei de todos os testes e exames feitos apenas em locais específicos, como uma clínica parceira do profissional’

Isso se chama conflito de interesse. Muitos profissionais se tornam insistentes ao querer vender procedimentos, exames, produtos, tratamentos e afins que precisam ser comprados ou fechados naquele momento.

Na área da nutrição, existem alguns testes que prometem identificar centenas de alergias a alimentos e que podem custar até milhares de reais, mas que não servem para quase nada. Já atendi pacientes que gastaram muito dinheiro em tais exames e ficaram perdidos com um resultado que indicava alergia ou intolerância a muitos alimentos.

Alergia e intolerância alimentar são condições complexas e difíceis de diagnosticar com precisão. Existem exames específicos, como os baseados na resposta imunológica de anticorpos do tipo IgE, que podem ser realizados em qualquer laboratório de análises clínicas. Já outros testes feitos em clínicas particulares são baseados em anticorpos do tipo IgG, os quais indicam apenas se a pessoa tem algum tipo de reatividade ao alimento. No entanto, essa reatividade pode ser uma resposta normal do corpo, e não necessariamente indicativa de uma intolerância ou alergia alimentar.

Claro que existem casos muito específicos de exames que requerem um cuidado maior, como uma biópsia ou algum exame de imagem mais complexo – que nem toda clínica ou profissional teria a expertise ou o equipamento necessário para realizar com qualidade – o que justifica que o profissional direcione você a um local de sua confiança.

Se ainda estiver na dúvida, uma das possibilidades nessa era de Google e ChatGPT é fazer pergunta simples: “existe um consenso científico sobre tal exame para o tratamento ou diagnóstico de determinada condição”? Fazendo uma pesquisa assim é possível encontrar boas informações que também poderão ajudá-lo a tomar uma decisão sobre a necessidade e a eficácia de tais procedimentos.

6 - ‘Duvidarei de toda promessa definitiva ou orientação que garante rapidez em resultados’

Na área do emagrecimento, promessas de resultados rápidos e definitivos são muito comuns. Frases como “nunca mais volte a engordar”, “resultado garantido” ou “perca X quilos em Y dias” são frequentemente usadas para atrais pessoas que querem um atalho na saúde ou no resultado. Embora essas promessas sejam sedutoras, é importante lembrar que, se tais métodos existissem, todos saberíamos.

É comum encontrarmos propagandas de clínicas de emagrecimento que exibem a foto de uma pessoa muito magra que nitidamente jamais precisou emagrecer. Ou de uma profissional da nutrição extremamente magra, beirando à magreza excessiva, exibindo seu corpo e vendendo seu método – o que é obviamente proibido pelo conselho de nutricionistas, mas que muitos fazem mesmo assim.

A realidade é que não existe um método infalível e universal de emagrecimento, mas muitos inventaram um método de ganhar dinheiro se aproveitando da vulnerabilidade das pessoas.

Cada indivíduo é único e ganhou peso por motivos distintos, logo, cada processo de emagrecimento também o será. Essas promessas e esses protocolos normalmente ignoram a individualidade e, no longo prazo, só tiram seu dinheiro e prejudicam sua saúde física e mental.

7 - ‘Buscarei um profissional que valorize a comunicação e a empatia’

Explicar as condutas e inserir você no processo de tomada de decisão são características fundamentais de qualquer bom profissional da área da saúde. Já passou o tempo do “doutor ditador”, que impunha regras e isolava o paciente no tratamento.

Um bom profissional é aquele que consegue explicar com clareza o diagnóstico e o plano de tratamento, encorajando e empoderando o paciente na tomada de decisões.

A comunicação eficaz e a empatia são essenciais para construir uma relação de confiança e garantir que você se sinta parte ativa no seu processo de cuidar da sua saúde. Afinal, o maior interessado é você.

Uma relação de confiança entre cuidador e paciente é fundamental para o sucesso em qualquer tipo de tratamento. Somente assim conseguimos a aderência aos cuidados necessários, que é o maior objetivo de todo bom profissional da área da saúde. Escrevo “bom” porque existem bons e maus profissionais – mas, como sabemos, essa não é uma exclusividade da área da saúde.

Se cuidar bem é a meta do bom profissional, qual seria a do mau profissional? São principalmente duas: fama e dinheiro – o seu, é claro. Mas, quando há várias informações conflitantes e todos falam com tanta propriedade, como saber escolher?

Formulei sete mandamentos para ajudá-lo a separar o joio do trigo.

Assim como em qualquer área, no campo da saúde há bons e maus profissionais. Saber escolher é fundamental para realmente cuidar da saúde Foto: StockPhotoPro/Adobe Stock

1 - ‘Não olharei o número de seguidores nas redes sociais’

Quantidade de seguidores não é credencial de competência. Existem vários motivos para uma pessoa ter muitos seguidores, e alguns dos principais são: gostar do ambiente e ter tempo (muito tempo) para ficar lá.

O Instagram, por exemplo, sempre foi uma rede que destacava os perfis que transformavam sua vida em reality show ou que geravam muitas polêmicas e, com isso, engajamento. Sabendo disso, muitos profissionais acompanharam essa tendência e ganharam muitos seguidores.

Isso não significa que todos os perfis de profissionais da área da saúde com muitos seguidores são ruins. Apenas que se esse for o seu principal critério de escolha, as chances de frustração são grandes.

2 - ‘Buscarei a formação acadêmica do profissional’

Hoje em dia, para a pessoa ser especialista em uma área, basta escrever um “título” no site ou ao lado de seu nome nas redes sociais. Fácil, né? Não precisa mais apresentar diploma, fazer cursos de aprimoramento e especializações. Já leu um livro sobre nutrição esportiva? Basta escrever: “nutricionista esportivo”. Isso não é apenas na área da nutrição. Inventam-se as mais variadas especializações que não são reconhecidas pelos conselhos representativos de cada área.

Se ao lado da profissão estiver escrito coisas como modulação hormonal, quântico, biorressonância, anti-aging, ortomolecular, soroterapia, ancestral ou holístico e, mais recentemente, integrativo, cuidado: alerta vermelho. Esses termos são muito usados para propagar práticas que não têm embasamento científico – e, por isso, podem ser ineficazes e, na pior das hipóteses, até colocar a saúde em risco.

Outro dia vi um perfil de uma profissional da saúde que tinha na descrição do Instagram quatro das opções acima – quase conseguiu gabaritar em se especializar em pseudociência – e ela fala diariamente para mais de 50 mil seguidores sobre seus protocolos de tratamento baseados em suas “especializações”.

Se você não consegue achar informações claras sobre os diplomas e as certificações em locais de referência, desconfie.

3 - ‘Buscarei referência e opinião de outros pacientes (reais) ou outros profissionais da saúde’

Uma das melhores formas de saber se aquele profissional pode ajudá-lo é conversar com alguém que já foi atendido por ele. Novamente: esqueça as redes sociais. Sei que muitos postam mensagens de pessoas agradecidas, mas você não sabe quantas pessoas insatisfeitas também mandaram mensagens e ele não postou. O “boca a boca” é a melhor referência.

Outra opção é pedir indicação para outro profissional de saúde da sua confiança. Quanto mais ele te conhece, maior a chance de que a indicação seja acertada e faça sentido na sua vida.

4 - ‘Desconfiarei de quem insiste para manipular suplementos em uma farmácia específica’

Você sabia que algumas farmácias e empresas chegam a oferecer 30% do valor da venda para o profissional prescritor? Estando dentro do meio, é comum sabermos de farmácias que trabalham com melhor qualidade e, por isso, indicarmos ao paciente, mas muitas vezes esse não é o caso. Já soube de profissionais que ganham mais com a prescrição de suplementos do que com o valor da consulta.

Não são todas as farmácias que fazem essa prática antiética. Mas isso nos faz entender por que alguns profissionais insistem que você procure determinado lugar. Há casos ainda em que o paciente nem vê a prescrição, porque o profissional manda direto para a farmácia. Não à toa, frequentemente recebo pacientes saudáveis com várias fórmulas de suplementos que custaram centenas e até milhares de reais e que se mostraram pouco ou nada relevantes para a saúde deles.

Suplementos fazem sentido quando há uma deficiência a ser tratada ou sintomas condizentes com uma alteração. Quantos suplementos para imunidade foram vendidos na pandemia? Pode ter certeza de que a maior parte não trouxe efeito algum além de uma urina mais cara (que é como o corpo elimina o que não é utilizado).

Um exemplo clássico é suplementar vitamina C para evitar gripes e resfriados. Uma das frases que escuto é: “Ah, mas comigo funcionou.” Sabemos que deficiência de vitamina C é rara se a pessoa tem uma alimentação de qualidade e consome frutas cítricas – uma das riquezas de nossa agricultura. Consumir vitamina C em doses extras não confere qualquer benefício a mais.

Existem muitos motivos para uma suplementação sem respaldo científico funcionar. O principal deles é o famoso efeito placebo – no qual a pessoa sente uma melhora ao consumir uma substância inócua, sem princípio ativo. O efeito placebo é amplamente estudado e, apesar de ainda não compreendermos como ele funciona, seu efeito pode ser real.

5- ‘Duvidarei de todos os testes e exames feitos apenas em locais específicos, como uma clínica parceira do profissional’

Isso se chama conflito de interesse. Muitos profissionais se tornam insistentes ao querer vender procedimentos, exames, produtos, tratamentos e afins que precisam ser comprados ou fechados naquele momento.

Na área da nutrição, existem alguns testes que prometem identificar centenas de alergias a alimentos e que podem custar até milhares de reais, mas que não servem para quase nada. Já atendi pacientes que gastaram muito dinheiro em tais exames e ficaram perdidos com um resultado que indicava alergia ou intolerância a muitos alimentos.

Alergia e intolerância alimentar são condições complexas e difíceis de diagnosticar com precisão. Existem exames específicos, como os baseados na resposta imunológica de anticorpos do tipo IgE, que podem ser realizados em qualquer laboratório de análises clínicas. Já outros testes feitos em clínicas particulares são baseados em anticorpos do tipo IgG, os quais indicam apenas se a pessoa tem algum tipo de reatividade ao alimento. No entanto, essa reatividade pode ser uma resposta normal do corpo, e não necessariamente indicativa de uma intolerância ou alergia alimentar.

Claro que existem casos muito específicos de exames que requerem um cuidado maior, como uma biópsia ou algum exame de imagem mais complexo – que nem toda clínica ou profissional teria a expertise ou o equipamento necessário para realizar com qualidade – o que justifica que o profissional direcione você a um local de sua confiança.

Se ainda estiver na dúvida, uma das possibilidades nessa era de Google e ChatGPT é fazer pergunta simples: “existe um consenso científico sobre tal exame para o tratamento ou diagnóstico de determinada condição”? Fazendo uma pesquisa assim é possível encontrar boas informações que também poderão ajudá-lo a tomar uma decisão sobre a necessidade e a eficácia de tais procedimentos.

6 - ‘Duvidarei de toda promessa definitiva ou orientação que garante rapidez em resultados’

Na área do emagrecimento, promessas de resultados rápidos e definitivos são muito comuns. Frases como “nunca mais volte a engordar”, “resultado garantido” ou “perca X quilos em Y dias” são frequentemente usadas para atrais pessoas que querem um atalho na saúde ou no resultado. Embora essas promessas sejam sedutoras, é importante lembrar que, se tais métodos existissem, todos saberíamos.

É comum encontrarmos propagandas de clínicas de emagrecimento que exibem a foto de uma pessoa muito magra que nitidamente jamais precisou emagrecer. Ou de uma profissional da nutrição extremamente magra, beirando à magreza excessiva, exibindo seu corpo e vendendo seu método – o que é obviamente proibido pelo conselho de nutricionistas, mas que muitos fazem mesmo assim.

A realidade é que não existe um método infalível e universal de emagrecimento, mas muitos inventaram um método de ganhar dinheiro se aproveitando da vulnerabilidade das pessoas.

Cada indivíduo é único e ganhou peso por motivos distintos, logo, cada processo de emagrecimento também o será. Essas promessas e esses protocolos normalmente ignoram a individualidade e, no longo prazo, só tiram seu dinheiro e prejudicam sua saúde física e mental.

7 - ‘Buscarei um profissional que valorize a comunicação e a empatia’

Explicar as condutas e inserir você no processo de tomada de decisão são características fundamentais de qualquer bom profissional da área da saúde. Já passou o tempo do “doutor ditador”, que impunha regras e isolava o paciente no tratamento.

Um bom profissional é aquele que consegue explicar com clareza o diagnóstico e o plano de tratamento, encorajando e empoderando o paciente na tomada de decisões.

A comunicação eficaz e a empatia são essenciais para construir uma relação de confiança e garantir que você se sinta parte ativa no seu processo de cuidar da sua saúde. Afinal, o maior interessado é você.

Opinião por Desire Coelho

Nutricionista e bacharel em esporte, doutora e mestre em Ciências pela USP, especialista em transtornos alimentares e em análise do comportamento. É autora do livro “Por que não consigo emagrecer?” e coautora do livro “A Dieta Ideal”

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.