Dieta da saúde planetária: as mudanças na alimentação que beneficiam as pessoas e o planeta


Criada por um grupo de cientistas de centros de pesquisa ao redor do mundo, ela afasta problemas cardiovasculares e faz muito bem ao meio ambiente; veja como colocá-la em prática

Por Regina Célia Pereira

Junte um cardápio recheado de hortaliças, frutas, feijões, grãos integrais e castanhas com modelos sustentáveis para a produção de alimentos, mais o combate ao desperdício e a valorização da biodiversidade: pronto, eis a receita básica da dieta da saúde planetária.

Lá se vão cinco anos de sua criação e, desde então, ela vem inspirando diretrizes de saudabilidade mundo afora e desponta em estudos pelos benefícios ao nosso organismo.

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Dieta da Saúde Planetária foi criada por cientistas de várias partes do mundo e foi pensada para beneficiar as pessoas e o meio ambiente Foto: udra11/Adobe Stock

Quem criou a dieta da saúde planetária?

“Tudo começou em 2019, quando uma comissão formada por 37 estudiosos de 16 países, chamada EAT-Lancet, lançou um documento que sugere a diminuição no consumo de carne, com ampliação de itens do reino vegetal”, resume a nutricionista Lara Natacci, membro do Entre Solos, pacto global da ONU para sustentabilidade, e uma das precursoras na difusão do relatório EAT-Lancet aqui no Brasil. A diminuição do açúcar de adição e questões como a utilização de água e a emissão de gases de efeito estufa também aparecem no texto.

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O time de pesquisadores, sobretudo dos Estados Unidos e da Europa, se debruçou na literatura científica para desenvolver o artigo. “As recomendações ajudam a reduzir risco de doenças crônicas, como a obesidade, o câncer, o diabetes, além da desnutrição”, diz a nutricionista Aline Martins de Carvalho, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) e coordenadora do Sustentarea, núcleo de extensão da USP que incentiva a alimentação sustentável.

“De acordo com a comissão EAT-Lancet, a adoção desse modelo alimentar pode prevenir cerca de 11 milhões de mortes, entre adultos, por ano”, comenta a nutricionista Milena Gomes Vancini, coordenadora do Ambulatório de Cardiopatia Hipertensiva, Lípides, Aterosclerose e Biologia Vascular, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Para fazer essa estimativa, a comissão EAT-Lancet analisou os potenciais impactos da mudança alimentar usando três abordagens, como risco comparativo, carga global de doença e risco empírico de doença.

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Um trabalho recente chega para comprovar os efeitos em prol das artérias. Foram analisados dados de 637 jovens, coletados no HELENA – estudo multicêntrico europeu que avalia o estado nutricional com mais de 3 mil adolescentes. “Entre os resultados, observou-se que quanto maior a adesão à dieta da saúde planetária, menor o risco de hipertensão e de alterações nos níveis de colesterol”, revela o nutricionista Leandro Cacau, que fez o trabalho na Espanha, mas é pesquisador da FSP-USP.

A presença marcante de ingredientes ricos em antioxidantes, fibras e outras substâncias protetoras, ajuda a explicar o achado.

“Embora padrões alimentares, como o do mediterrâneo, já apresentassem premissas relacionadas à preservação do ambiente, a dieta da saúde planetária traz um olhar global e não restrito às regiões”, comenta o nutricionista.

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Preferências nacionais

É fundamental considerar as tradições e questões culturais que envolvem a comida.

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Aliás, é justamente por isso que a aderência aqui não é grande, como revela outro trabalho realizado pelo grupo de Cacau e publicado no periódico Nutrients.

Para a análise, foi utilizado o Índice de Dieta de Saúde Planetária (PHDI, na sigla em inglês), desenvolvido pela mesma equipe, com um escore que pode variar de 0 a 150 e aponta a adesão ao cardápio. A média da população brasileira foi de apenas 45.9 pontos, ou seja, está bem longe do que seria o ideal.

“Um dos fatores que puxa a pontuação para baixo é o alto consumo de carnes, sobretudo a vermelha”, afirma o pesquisador.

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A sugestão EAT-Lancet é que a carne apareça uma vez por semana no menu. “O que ajuda a diminuir o consumo de gordura saturada”, ressalta Milena. Existem evidências de que o excesso da substância prejudique os vasos.

Há ainda a repercussão ambiental. “A criação de gado está por trás da liberação de metano, gás que contribui para o efeito estufa”, diz Aline.

Por outro lado, o nosso tradicional feijão merece destaque. Embora exista um declínio do alimento no prato, segundo diversas pesquisas, ele resiste e é mesmo fundamental que marque presença sempre. Se a falta de tempo atrapalha, vale lançar mão da panela de pressão e do congelamento para mantê-lo no dia a dia.

Carioca, preto, branco, fradinho, vermelho, cada tipo combina com uma receita e a maioria casa com o arroz, trazendo uma excelente combinação proteica.

Outras leguminosas são bem-vindas, salientando a importância da variedade. “Lentilha, grão-de-bico, ervilha, edamame, soja, tremoço”, enumera Lara. E, para completar a lista de fornecedores de proteína, temos as oleaginosas, ou seja, as nozes, castanhas, amêndoas, além das sementes de abóbora e de girassol. “Lembrando que a Dieta da Saúde Planetária não recomenda a exclusão de alimentos de origem animal, mas, sim, a redução”, avisa a nutricionista. Podem entrar laticínios, pescados, ovos e aves, tudo dentro do equilíbrio.

Precisa haver ajustes, considerando perfis, estilo de vida e os hábitos locais. “O cardápio deve ser nutricionalmente adequado, economicamente justo e culturamente aceitável”, afirma Lara.

Inclusive, uma das recomendações da turma EAT-Lancet é a de restringir bastante tubérculos e raízes. “Mas, no contexto brasileiro não podemos ignorar a importância da mandioca e de seus derivados”, destaca Aline. “A farinha é base de alimentação, especialmente no norte do país”, diz a professora.

Por isso, até o final do ano, a comissão deve soltar um novo relatório, que enfatiza esses aspectos. Afinal, dietas sustentáveis têm que ser moldadas com as características regionais.

Preservação da biodiversidade

E que tal incrementar o cotidiano com alimentos nativos? O Brasil concentra cerca de 20% de todas as espécies encontradas no planeta, destacando-se entre os maiores da biodiversidade mundial.

São muitas opções de vegetais. Cada uma das cinco regiões, com sua diversidade de clima, solo, fauna e flora, oferece ingredientes únicos.

O respeito à sazonalidade é mais um mandamento. Além das frutas e hortaliças, indica-se optar por pescados da época. A atitude respeita os períodos de reprodução das espécies e não só favorece o meio ambiente como é garantia de peixe mais fresco e saboroso.

Vale ainda priorizar a produção local. Assim, os alimentos não precisam viajar muitos quilômetros para chegar à mesa, o que, de quebra reduz a emissão de carbono e de outros poluentes.

Milena toca em outra questão essencial: o combate ao desperdício. “É preciso reduzir as perdas, até porque vivemos em um país com insegurança alimentar”, diz. Embora muita comida acabe no lixo das casas, infelizmente grandes prejuízos acontecem em outras etapas da cadeia, desde o campo até o comércio.

Cabe a cada um frear esse movimento. Planejar as compras e levar somente a quantidade a ser usada naquele período, por exemplo, evita o apodrecimento. Uma sugestão saborosa é usar o alimento integralmente. Talos, folhagens e até cascas fazem bonito em várias receitas. Abuse da criatividade, o planeta agradece!

Junte um cardápio recheado de hortaliças, frutas, feijões, grãos integrais e castanhas com modelos sustentáveis para a produção de alimentos, mais o combate ao desperdício e a valorização da biodiversidade: pronto, eis a receita básica da dieta da saúde planetária.

Lá se vão cinco anos de sua criação e, desde então, ela vem inspirando diretrizes de saudabilidade mundo afora e desponta em estudos pelos benefícios ao nosso organismo.

Dieta da Saúde Planetária foi criada por cientistas de várias partes do mundo e foi pensada para beneficiar as pessoas e o meio ambiente Foto: udra11/Adobe Stock

Quem criou a dieta da saúde planetária?

“Tudo começou em 2019, quando uma comissão formada por 37 estudiosos de 16 países, chamada EAT-Lancet, lançou um documento que sugere a diminuição no consumo de carne, com ampliação de itens do reino vegetal”, resume a nutricionista Lara Natacci, membro do Entre Solos, pacto global da ONU para sustentabilidade, e uma das precursoras na difusão do relatório EAT-Lancet aqui no Brasil. A diminuição do açúcar de adição e questões como a utilização de água e a emissão de gases de efeito estufa também aparecem no texto.

O time de pesquisadores, sobretudo dos Estados Unidos e da Europa, se debruçou na literatura científica para desenvolver o artigo. “As recomendações ajudam a reduzir risco de doenças crônicas, como a obesidade, o câncer, o diabetes, além da desnutrição”, diz a nutricionista Aline Martins de Carvalho, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) e coordenadora do Sustentarea, núcleo de extensão da USP que incentiva a alimentação sustentável.

“De acordo com a comissão EAT-Lancet, a adoção desse modelo alimentar pode prevenir cerca de 11 milhões de mortes, entre adultos, por ano”, comenta a nutricionista Milena Gomes Vancini, coordenadora do Ambulatório de Cardiopatia Hipertensiva, Lípides, Aterosclerose e Biologia Vascular, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Para fazer essa estimativa, a comissão EAT-Lancet analisou os potenciais impactos da mudança alimentar usando três abordagens, como risco comparativo, carga global de doença e risco empírico de doença.

Um trabalho recente chega para comprovar os efeitos em prol das artérias. Foram analisados dados de 637 jovens, coletados no HELENA – estudo multicêntrico europeu que avalia o estado nutricional com mais de 3 mil adolescentes. “Entre os resultados, observou-se que quanto maior a adesão à dieta da saúde planetária, menor o risco de hipertensão e de alterações nos níveis de colesterol”, revela o nutricionista Leandro Cacau, que fez o trabalho na Espanha, mas é pesquisador da FSP-USP.

A presença marcante de ingredientes ricos em antioxidantes, fibras e outras substâncias protetoras, ajuda a explicar o achado.

“Embora padrões alimentares, como o do mediterrâneo, já apresentassem premissas relacionadas à preservação do ambiente, a dieta da saúde planetária traz um olhar global e não restrito às regiões”, comenta o nutricionista.

Preferências nacionais

É fundamental considerar as tradições e questões culturais que envolvem a comida.

Aliás, é justamente por isso que a aderência aqui não é grande, como revela outro trabalho realizado pelo grupo de Cacau e publicado no periódico Nutrients.

Para a análise, foi utilizado o Índice de Dieta de Saúde Planetária (PHDI, na sigla em inglês), desenvolvido pela mesma equipe, com um escore que pode variar de 0 a 150 e aponta a adesão ao cardápio. A média da população brasileira foi de apenas 45.9 pontos, ou seja, está bem longe do que seria o ideal.

“Um dos fatores que puxa a pontuação para baixo é o alto consumo de carnes, sobretudo a vermelha”, afirma o pesquisador.

A sugestão EAT-Lancet é que a carne apareça uma vez por semana no menu. “O que ajuda a diminuir o consumo de gordura saturada”, ressalta Milena. Existem evidências de que o excesso da substância prejudique os vasos.

Há ainda a repercussão ambiental. “A criação de gado está por trás da liberação de metano, gás que contribui para o efeito estufa”, diz Aline.

Por outro lado, o nosso tradicional feijão merece destaque. Embora exista um declínio do alimento no prato, segundo diversas pesquisas, ele resiste e é mesmo fundamental que marque presença sempre. Se a falta de tempo atrapalha, vale lançar mão da panela de pressão e do congelamento para mantê-lo no dia a dia.

Carioca, preto, branco, fradinho, vermelho, cada tipo combina com uma receita e a maioria casa com o arroz, trazendo uma excelente combinação proteica.

Outras leguminosas são bem-vindas, salientando a importância da variedade. “Lentilha, grão-de-bico, ervilha, edamame, soja, tremoço”, enumera Lara. E, para completar a lista de fornecedores de proteína, temos as oleaginosas, ou seja, as nozes, castanhas, amêndoas, além das sementes de abóbora e de girassol. “Lembrando que a Dieta da Saúde Planetária não recomenda a exclusão de alimentos de origem animal, mas, sim, a redução”, avisa a nutricionista. Podem entrar laticínios, pescados, ovos e aves, tudo dentro do equilíbrio.

Precisa haver ajustes, considerando perfis, estilo de vida e os hábitos locais. “O cardápio deve ser nutricionalmente adequado, economicamente justo e culturamente aceitável”, afirma Lara.

Inclusive, uma das recomendações da turma EAT-Lancet é a de restringir bastante tubérculos e raízes. “Mas, no contexto brasileiro não podemos ignorar a importância da mandioca e de seus derivados”, destaca Aline. “A farinha é base de alimentação, especialmente no norte do país”, diz a professora.

Por isso, até o final do ano, a comissão deve soltar um novo relatório, que enfatiza esses aspectos. Afinal, dietas sustentáveis têm que ser moldadas com as características regionais.

Preservação da biodiversidade

E que tal incrementar o cotidiano com alimentos nativos? O Brasil concentra cerca de 20% de todas as espécies encontradas no planeta, destacando-se entre os maiores da biodiversidade mundial.

São muitas opções de vegetais. Cada uma das cinco regiões, com sua diversidade de clima, solo, fauna e flora, oferece ingredientes únicos.

O respeito à sazonalidade é mais um mandamento. Além das frutas e hortaliças, indica-se optar por pescados da época. A atitude respeita os períodos de reprodução das espécies e não só favorece o meio ambiente como é garantia de peixe mais fresco e saboroso.

Vale ainda priorizar a produção local. Assim, os alimentos não precisam viajar muitos quilômetros para chegar à mesa, o que, de quebra reduz a emissão de carbono e de outros poluentes.

Milena toca em outra questão essencial: o combate ao desperdício. “É preciso reduzir as perdas, até porque vivemos em um país com insegurança alimentar”, diz. Embora muita comida acabe no lixo das casas, infelizmente grandes prejuízos acontecem em outras etapas da cadeia, desde o campo até o comércio.

Cabe a cada um frear esse movimento. Planejar as compras e levar somente a quantidade a ser usada naquele período, por exemplo, evita o apodrecimento. Uma sugestão saborosa é usar o alimento integralmente. Talos, folhagens e até cascas fazem bonito em várias receitas. Abuse da criatividade, o planeta agradece!

Junte um cardápio recheado de hortaliças, frutas, feijões, grãos integrais e castanhas com modelos sustentáveis para a produção de alimentos, mais o combate ao desperdício e a valorização da biodiversidade: pronto, eis a receita básica da dieta da saúde planetária.

Lá se vão cinco anos de sua criação e, desde então, ela vem inspirando diretrizes de saudabilidade mundo afora e desponta em estudos pelos benefícios ao nosso organismo.

Dieta da Saúde Planetária foi criada por cientistas de várias partes do mundo e foi pensada para beneficiar as pessoas e o meio ambiente Foto: udra11/Adobe Stock

Quem criou a dieta da saúde planetária?

“Tudo começou em 2019, quando uma comissão formada por 37 estudiosos de 16 países, chamada EAT-Lancet, lançou um documento que sugere a diminuição no consumo de carne, com ampliação de itens do reino vegetal”, resume a nutricionista Lara Natacci, membro do Entre Solos, pacto global da ONU para sustentabilidade, e uma das precursoras na difusão do relatório EAT-Lancet aqui no Brasil. A diminuição do açúcar de adição e questões como a utilização de água e a emissão de gases de efeito estufa também aparecem no texto.

O time de pesquisadores, sobretudo dos Estados Unidos e da Europa, se debruçou na literatura científica para desenvolver o artigo. “As recomendações ajudam a reduzir risco de doenças crônicas, como a obesidade, o câncer, o diabetes, além da desnutrição”, diz a nutricionista Aline Martins de Carvalho, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) e coordenadora do Sustentarea, núcleo de extensão da USP que incentiva a alimentação sustentável.

“De acordo com a comissão EAT-Lancet, a adoção desse modelo alimentar pode prevenir cerca de 11 milhões de mortes, entre adultos, por ano”, comenta a nutricionista Milena Gomes Vancini, coordenadora do Ambulatório de Cardiopatia Hipertensiva, Lípides, Aterosclerose e Biologia Vascular, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Para fazer essa estimativa, a comissão EAT-Lancet analisou os potenciais impactos da mudança alimentar usando três abordagens, como risco comparativo, carga global de doença e risco empírico de doença.

Um trabalho recente chega para comprovar os efeitos em prol das artérias. Foram analisados dados de 637 jovens, coletados no HELENA – estudo multicêntrico europeu que avalia o estado nutricional com mais de 3 mil adolescentes. “Entre os resultados, observou-se que quanto maior a adesão à dieta da saúde planetária, menor o risco de hipertensão e de alterações nos níveis de colesterol”, revela o nutricionista Leandro Cacau, que fez o trabalho na Espanha, mas é pesquisador da FSP-USP.

A presença marcante de ingredientes ricos em antioxidantes, fibras e outras substâncias protetoras, ajuda a explicar o achado.

“Embora padrões alimentares, como o do mediterrâneo, já apresentassem premissas relacionadas à preservação do ambiente, a dieta da saúde planetária traz um olhar global e não restrito às regiões”, comenta o nutricionista.

Preferências nacionais

É fundamental considerar as tradições e questões culturais que envolvem a comida.

Aliás, é justamente por isso que a aderência aqui não é grande, como revela outro trabalho realizado pelo grupo de Cacau e publicado no periódico Nutrients.

Para a análise, foi utilizado o Índice de Dieta de Saúde Planetária (PHDI, na sigla em inglês), desenvolvido pela mesma equipe, com um escore que pode variar de 0 a 150 e aponta a adesão ao cardápio. A média da população brasileira foi de apenas 45.9 pontos, ou seja, está bem longe do que seria o ideal.

“Um dos fatores que puxa a pontuação para baixo é o alto consumo de carnes, sobretudo a vermelha”, afirma o pesquisador.

A sugestão EAT-Lancet é que a carne apareça uma vez por semana no menu. “O que ajuda a diminuir o consumo de gordura saturada”, ressalta Milena. Existem evidências de que o excesso da substância prejudique os vasos.

Há ainda a repercussão ambiental. “A criação de gado está por trás da liberação de metano, gás que contribui para o efeito estufa”, diz Aline.

Por outro lado, o nosso tradicional feijão merece destaque. Embora exista um declínio do alimento no prato, segundo diversas pesquisas, ele resiste e é mesmo fundamental que marque presença sempre. Se a falta de tempo atrapalha, vale lançar mão da panela de pressão e do congelamento para mantê-lo no dia a dia.

Carioca, preto, branco, fradinho, vermelho, cada tipo combina com uma receita e a maioria casa com o arroz, trazendo uma excelente combinação proteica.

Outras leguminosas são bem-vindas, salientando a importância da variedade. “Lentilha, grão-de-bico, ervilha, edamame, soja, tremoço”, enumera Lara. E, para completar a lista de fornecedores de proteína, temos as oleaginosas, ou seja, as nozes, castanhas, amêndoas, além das sementes de abóbora e de girassol. “Lembrando que a Dieta da Saúde Planetária não recomenda a exclusão de alimentos de origem animal, mas, sim, a redução”, avisa a nutricionista. Podem entrar laticínios, pescados, ovos e aves, tudo dentro do equilíbrio.

Precisa haver ajustes, considerando perfis, estilo de vida e os hábitos locais. “O cardápio deve ser nutricionalmente adequado, economicamente justo e culturamente aceitável”, afirma Lara.

Inclusive, uma das recomendações da turma EAT-Lancet é a de restringir bastante tubérculos e raízes. “Mas, no contexto brasileiro não podemos ignorar a importância da mandioca e de seus derivados”, destaca Aline. “A farinha é base de alimentação, especialmente no norte do país”, diz a professora.

Por isso, até o final do ano, a comissão deve soltar um novo relatório, que enfatiza esses aspectos. Afinal, dietas sustentáveis têm que ser moldadas com as características regionais.

Preservação da biodiversidade

E que tal incrementar o cotidiano com alimentos nativos? O Brasil concentra cerca de 20% de todas as espécies encontradas no planeta, destacando-se entre os maiores da biodiversidade mundial.

São muitas opções de vegetais. Cada uma das cinco regiões, com sua diversidade de clima, solo, fauna e flora, oferece ingredientes únicos.

O respeito à sazonalidade é mais um mandamento. Além das frutas e hortaliças, indica-se optar por pescados da época. A atitude respeita os períodos de reprodução das espécies e não só favorece o meio ambiente como é garantia de peixe mais fresco e saboroso.

Vale ainda priorizar a produção local. Assim, os alimentos não precisam viajar muitos quilômetros para chegar à mesa, o que, de quebra reduz a emissão de carbono e de outros poluentes.

Milena toca em outra questão essencial: o combate ao desperdício. “É preciso reduzir as perdas, até porque vivemos em um país com insegurança alimentar”, diz. Embora muita comida acabe no lixo das casas, infelizmente grandes prejuízos acontecem em outras etapas da cadeia, desde o campo até o comércio.

Cabe a cada um frear esse movimento. Planejar as compras e levar somente a quantidade a ser usada naquele período, por exemplo, evita o apodrecimento. Uma sugestão saborosa é usar o alimento integralmente. Talos, folhagens e até cascas fazem bonito em várias receitas. Abuse da criatividade, o planeta agradece!

Junte um cardápio recheado de hortaliças, frutas, feijões, grãos integrais e castanhas com modelos sustentáveis para a produção de alimentos, mais o combate ao desperdício e a valorização da biodiversidade: pronto, eis a receita básica da dieta da saúde planetária.

Lá se vão cinco anos de sua criação e, desde então, ela vem inspirando diretrizes de saudabilidade mundo afora e desponta em estudos pelos benefícios ao nosso organismo.

Dieta da Saúde Planetária foi criada por cientistas de várias partes do mundo e foi pensada para beneficiar as pessoas e o meio ambiente Foto: udra11/Adobe Stock

Quem criou a dieta da saúde planetária?

“Tudo começou em 2019, quando uma comissão formada por 37 estudiosos de 16 países, chamada EAT-Lancet, lançou um documento que sugere a diminuição no consumo de carne, com ampliação de itens do reino vegetal”, resume a nutricionista Lara Natacci, membro do Entre Solos, pacto global da ONU para sustentabilidade, e uma das precursoras na difusão do relatório EAT-Lancet aqui no Brasil. A diminuição do açúcar de adição e questões como a utilização de água e a emissão de gases de efeito estufa também aparecem no texto.

O time de pesquisadores, sobretudo dos Estados Unidos e da Europa, se debruçou na literatura científica para desenvolver o artigo. “As recomendações ajudam a reduzir risco de doenças crônicas, como a obesidade, o câncer, o diabetes, além da desnutrição”, diz a nutricionista Aline Martins de Carvalho, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) e coordenadora do Sustentarea, núcleo de extensão da USP que incentiva a alimentação sustentável.

“De acordo com a comissão EAT-Lancet, a adoção desse modelo alimentar pode prevenir cerca de 11 milhões de mortes, entre adultos, por ano”, comenta a nutricionista Milena Gomes Vancini, coordenadora do Ambulatório de Cardiopatia Hipertensiva, Lípides, Aterosclerose e Biologia Vascular, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Para fazer essa estimativa, a comissão EAT-Lancet analisou os potenciais impactos da mudança alimentar usando três abordagens, como risco comparativo, carga global de doença e risco empírico de doença.

Um trabalho recente chega para comprovar os efeitos em prol das artérias. Foram analisados dados de 637 jovens, coletados no HELENA – estudo multicêntrico europeu que avalia o estado nutricional com mais de 3 mil adolescentes. “Entre os resultados, observou-se que quanto maior a adesão à dieta da saúde planetária, menor o risco de hipertensão e de alterações nos níveis de colesterol”, revela o nutricionista Leandro Cacau, que fez o trabalho na Espanha, mas é pesquisador da FSP-USP.

A presença marcante de ingredientes ricos em antioxidantes, fibras e outras substâncias protetoras, ajuda a explicar o achado.

“Embora padrões alimentares, como o do mediterrâneo, já apresentassem premissas relacionadas à preservação do ambiente, a dieta da saúde planetária traz um olhar global e não restrito às regiões”, comenta o nutricionista.

Preferências nacionais

É fundamental considerar as tradições e questões culturais que envolvem a comida.

Aliás, é justamente por isso que a aderência aqui não é grande, como revela outro trabalho realizado pelo grupo de Cacau e publicado no periódico Nutrients.

Para a análise, foi utilizado o Índice de Dieta de Saúde Planetária (PHDI, na sigla em inglês), desenvolvido pela mesma equipe, com um escore que pode variar de 0 a 150 e aponta a adesão ao cardápio. A média da população brasileira foi de apenas 45.9 pontos, ou seja, está bem longe do que seria o ideal.

“Um dos fatores que puxa a pontuação para baixo é o alto consumo de carnes, sobretudo a vermelha”, afirma o pesquisador.

A sugestão EAT-Lancet é que a carne apareça uma vez por semana no menu. “O que ajuda a diminuir o consumo de gordura saturada”, ressalta Milena. Existem evidências de que o excesso da substância prejudique os vasos.

Há ainda a repercussão ambiental. “A criação de gado está por trás da liberação de metano, gás que contribui para o efeito estufa”, diz Aline.

Por outro lado, o nosso tradicional feijão merece destaque. Embora exista um declínio do alimento no prato, segundo diversas pesquisas, ele resiste e é mesmo fundamental que marque presença sempre. Se a falta de tempo atrapalha, vale lançar mão da panela de pressão e do congelamento para mantê-lo no dia a dia.

Carioca, preto, branco, fradinho, vermelho, cada tipo combina com uma receita e a maioria casa com o arroz, trazendo uma excelente combinação proteica.

Outras leguminosas são bem-vindas, salientando a importância da variedade. “Lentilha, grão-de-bico, ervilha, edamame, soja, tremoço”, enumera Lara. E, para completar a lista de fornecedores de proteína, temos as oleaginosas, ou seja, as nozes, castanhas, amêndoas, além das sementes de abóbora e de girassol. “Lembrando que a Dieta da Saúde Planetária não recomenda a exclusão de alimentos de origem animal, mas, sim, a redução”, avisa a nutricionista. Podem entrar laticínios, pescados, ovos e aves, tudo dentro do equilíbrio.

Precisa haver ajustes, considerando perfis, estilo de vida e os hábitos locais. “O cardápio deve ser nutricionalmente adequado, economicamente justo e culturamente aceitável”, afirma Lara.

Inclusive, uma das recomendações da turma EAT-Lancet é a de restringir bastante tubérculos e raízes. “Mas, no contexto brasileiro não podemos ignorar a importância da mandioca e de seus derivados”, destaca Aline. “A farinha é base de alimentação, especialmente no norte do país”, diz a professora.

Por isso, até o final do ano, a comissão deve soltar um novo relatório, que enfatiza esses aspectos. Afinal, dietas sustentáveis têm que ser moldadas com as características regionais.

Preservação da biodiversidade

E que tal incrementar o cotidiano com alimentos nativos? O Brasil concentra cerca de 20% de todas as espécies encontradas no planeta, destacando-se entre os maiores da biodiversidade mundial.

São muitas opções de vegetais. Cada uma das cinco regiões, com sua diversidade de clima, solo, fauna e flora, oferece ingredientes únicos.

O respeito à sazonalidade é mais um mandamento. Além das frutas e hortaliças, indica-se optar por pescados da época. A atitude respeita os períodos de reprodução das espécies e não só favorece o meio ambiente como é garantia de peixe mais fresco e saboroso.

Vale ainda priorizar a produção local. Assim, os alimentos não precisam viajar muitos quilômetros para chegar à mesa, o que, de quebra reduz a emissão de carbono e de outros poluentes.

Milena toca em outra questão essencial: o combate ao desperdício. “É preciso reduzir as perdas, até porque vivemos em um país com insegurança alimentar”, diz. Embora muita comida acabe no lixo das casas, infelizmente grandes prejuízos acontecem em outras etapas da cadeia, desde o campo até o comércio.

Cabe a cada um frear esse movimento. Planejar as compras e levar somente a quantidade a ser usada naquele período, por exemplo, evita o apodrecimento. Uma sugestão saborosa é usar o alimento integralmente. Talos, folhagens e até cascas fazem bonito em várias receitas. Abuse da criatividade, o planeta agradece!

Junte um cardápio recheado de hortaliças, frutas, feijões, grãos integrais e castanhas com modelos sustentáveis para a produção de alimentos, mais o combate ao desperdício e a valorização da biodiversidade: pronto, eis a receita básica da dieta da saúde planetária.

Lá se vão cinco anos de sua criação e, desde então, ela vem inspirando diretrizes de saudabilidade mundo afora e desponta em estudos pelos benefícios ao nosso organismo.

Dieta da Saúde Planetária foi criada por cientistas de várias partes do mundo e foi pensada para beneficiar as pessoas e o meio ambiente Foto: udra11/Adobe Stock

Quem criou a dieta da saúde planetária?

“Tudo começou em 2019, quando uma comissão formada por 37 estudiosos de 16 países, chamada EAT-Lancet, lançou um documento que sugere a diminuição no consumo de carne, com ampliação de itens do reino vegetal”, resume a nutricionista Lara Natacci, membro do Entre Solos, pacto global da ONU para sustentabilidade, e uma das precursoras na difusão do relatório EAT-Lancet aqui no Brasil. A diminuição do açúcar de adição e questões como a utilização de água e a emissão de gases de efeito estufa também aparecem no texto.

O time de pesquisadores, sobretudo dos Estados Unidos e da Europa, se debruçou na literatura científica para desenvolver o artigo. “As recomendações ajudam a reduzir risco de doenças crônicas, como a obesidade, o câncer, o diabetes, além da desnutrição”, diz a nutricionista Aline Martins de Carvalho, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) e coordenadora do Sustentarea, núcleo de extensão da USP que incentiva a alimentação sustentável.

“De acordo com a comissão EAT-Lancet, a adoção desse modelo alimentar pode prevenir cerca de 11 milhões de mortes, entre adultos, por ano”, comenta a nutricionista Milena Gomes Vancini, coordenadora do Ambulatório de Cardiopatia Hipertensiva, Lípides, Aterosclerose e Biologia Vascular, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Para fazer essa estimativa, a comissão EAT-Lancet analisou os potenciais impactos da mudança alimentar usando três abordagens, como risco comparativo, carga global de doença e risco empírico de doença.

Um trabalho recente chega para comprovar os efeitos em prol das artérias. Foram analisados dados de 637 jovens, coletados no HELENA – estudo multicêntrico europeu que avalia o estado nutricional com mais de 3 mil adolescentes. “Entre os resultados, observou-se que quanto maior a adesão à dieta da saúde planetária, menor o risco de hipertensão e de alterações nos níveis de colesterol”, revela o nutricionista Leandro Cacau, que fez o trabalho na Espanha, mas é pesquisador da FSP-USP.

A presença marcante de ingredientes ricos em antioxidantes, fibras e outras substâncias protetoras, ajuda a explicar o achado.

“Embora padrões alimentares, como o do mediterrâneo, já apresentassem premissas relacionadas à preservação do ambiente, a dieta da saúde planetária traz um olhar global e não restrito às regiões”, comenta o nutricionista.

Preferências nacionais

É fundamental considerar as tradições e questões culturais que envolvem a comida.

Aliás, é justamente por isso que a aderência aqui não é grande, como revela outro trabalho realizado pelo grupo de Cacau e publicado no periódico Nutrients.

Para a análise, foi utilizado o Índice de Dieta de Saúde Planetária (PHDI, na sigla em inglês), desenvolvido pela mesma equipe, com um escore que pode variar de 0 a 150 e aponta a adesão ao cardápio. A média da população brasileira foi de apenas 45.9 pontos, ou seja, está bem longe do que seria o ideal.

“Um dos fatores que puxa a pontuação para baixo é o alto consumo de carnes, sobretudo a vermelha”, afirma o pesquisador.

A sugestão EAT-Lancet é que a carne apareça uma vez por semana no menu. “O que ajuda a diminuir o consumo de gordura saturada”, ressalta Milena. Existem evidências de que o excesso da substância prejudique os vasos.

Há ainda a repercussão ambiental. “A criação de gado está por trás da liberação de metano, gás que contribui para o efeito estufa”, diz Aline.

Por outro lado, o nosso tradicional feijão merece destaque. Embora exista um declínio do alimento no prato, segundo diversas pesquisas, ele resiste e é mesmo fundamental que marque presença sempre. Se a falta de tempo atrapalha, vale lançar mão da panela de pressão e do congelamento para mantê-lo no dia a dia.

Carioca, preto, branco, fradinho, vermelho, cada tipo combina com uma receita e a maioria casa com o arroz, trazendo uma excelente combinação proteica.

Outras leguminosas são bem-vindas, salientando a importância da variedade. “Lentilha, grão-de-bico, ervilha, edamame, soja, tremoço”, enumera Lara. E, para completar a lista de fornecedores de proteína, temos as oleaginosas, ou seja, as nozes, castanhas, amêndoas, além das sementes de abóbora e de girassol. “Lembrando que a Dieta da Saúde Planetária não recomenda a exclusão de alimentos de origem animal, mas, sim, a redução”, avisa a nutricionista. Podem entrar laticínios, pescados, ovos e aves, tudo dentro do equilíbrio.

Precisa haver ajustes, considerando perfis, estilo de vida e os hábitos locais. “O cardápio deve ser nutricionalmente adequado, economicamente justo e culturamente aceitável”, afirma Lara.

Inclusive, uma das recomendações da turma EAT-Lancet é a de restringir bastante tubérculos e raízes. “Mas, no contexto brasileiro não podemos ignorar a importância da mandioca e de seus derivados”, destaca Aline. “A farinha é base de alimentação, especialmente no norte do país”, diz a professora.

Por isso, até o final do ano, a comissão deve soltar um novo relatório, que enfatiza esses aspectos. Afinal, dietas sustentáveis têm que ser moldadas com as características regionais.

Preservação da biodiversidade

E que tal incrementar o cotidiano com alimentos nativos? O Brasil concentra cerca de 20% de todas as espécies encontradas no planeta, destacando-se entre os maiores da biodiversidade mundial.

São muitas opções de vegetais. Cada uma das cinco regiões, com sua diversidade de clima, solo, fauna e flora, oferece ingredientes únicos.

O respeito à sazonalidade é mais um mandamento. Além das frutas e hortaliças, indica-se optar por pescados da época. A atitude respeita os períodos de reprodução das espécies e não só favorece o meio ambiente como é garantia de peixe mais fresco e saboroso.

Vale ainda priorizar a produção local. Assim, os alimentos não precisam viajar muitos quilômetros para chegar à mesa, o que, de quebra reduz a emissão de carbono e de outros poluentes.

Milena toca em outra questão essencial: o combate ao desperdício. “É preciso reduzir as perdas, até porque vivemos em um país com insegurança alimentar”, diz. Embora muita comida acabe no lixo das casas, infelizmente grandes prejuízos acontecem em outras etapas da cadeia, desde o campo até o comércio.

Cabe a cada um frear esse movimento. Planejar as compras e levar somente a quantidade a ser usada naquele período, por exemplo, evita o apodrecimento. Uma sugestão saborosa é usar o alimento integralmente. Talos, folhagens e até cascas fazem bonito em várias receitas. Abuse da criatividade, o planeta agradece!

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