Divórcio dos pais: Como ajudar os filhos a lidar com a situação?


Fim de um casamento traz impactos não só ao casal, mas também às crianças; especialistas indicam caminhos para minimizar os efeitos de uma separação para toda a família

Por Guilherme Santiago

Separações costumam afetar a família toda. Para o casal, representa um projeto de vida interrompido. Para os filhos, significa ter de lidar com muitas mudanças em pouco tempo. Justamente por isso é importante que pais adotem certos cuidados para que o divórcio não traga problemas à saúde e ao desenvolvimento dos filhos, em especial os mais novos.

Segundo Belinda Mandelbaum, psicóloga e professora de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), um processo de separação sem cuidados pode representar problemas à qualidade de vida dos pequenos. Segundo ela, a forma como a separação é vivida pelos filhos vai ser determinante em seu desenvolvimento. “E os pais precisam saber lidar com a situação”, diz.

Ela sugere que os pais busquem manter uma relação harmoniosa entre si e que o contato da criança com ambos seja frequente. Ainda que não seja tarefa simples, esse foi o caminho adotado pela publicitária e escritora Michelle Pacy, que se divorciou do marido quando sua filha Vitória tinha 6 anos.

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“A separação aconteceu porque, em determinado momento, a gente deixou de ser um casal”, diz. “Mas com o tempo percebi que minha filha sofria com essa situação. Como tive um pai biológico ausente e meu ex-marido também, a gente queria fazer diferente com ela.”

Mesmo separados, Michelle e seu ex-marido continuaram fazendo atividades e passeios juntos com a filha, hoje com 16 anos. “A gente almoçava de vez em quando, eu costumava ligar para ele de noite para os dois conversarem”, afirma. “Com muita conversa, a gente conseguiu se ajustar.”

Da sua experiência, nasceu o livro De boa com o ex e o perfil no Instagram de mesmo nome, cujo intuito é mostrar que existe caminho para uma separação mais leve, respeitosa e menos turbulenta para os filhos. “O livro é basicamente uma conversa de como ter bom relacionamento com o ex, mas o foco nunca foi o ex. Sempre foi a criação dos filhos em conjunto. Tanto meu atual marido, quanto meu ex me incentivaram muito.”

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Para minimizar os efeitos da separação na vida da filha Vitória, hoje com 16 anos, Michelle apostou no respeito e no diálogo com o ex-marido. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O caminho escolhido por Michelle é uma possibilidade, mas não a única. Especialistas consultados pelo Estadão ressaltam outras medidas que podem ser adotadas por quem enfrenta o divórcio e quer ajudar os filhos a lidar com isso.

Adote comunicação transparente

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Uma comunicação transparente pode fazer toda a diferença. “É um erro comum dos adultos achar que as crianças não vão entender”, diz Thiago Queiroz, educador parental e autor do livro Abrace seu Filho. Segundo o especialista, é importante ser sincero ao conversar com as crianças sobre a situação e fazer pequenos ajustes de acordo com a faixa etária.

“Para crianças menores, utilizar palavras simples e diretas pode ajudar no entendimento”, diz. “Com crianças mais velhas, pode ser mais direto, mas é fundamental continuar ressaltando que, mesmo com a separação, ela continua sendo amada e que é importante.”

Comunicação transparente não significa, no entanto, que tudo precisa ser dito. Há certas informações com relação à separação que dizem respeito apenas ao casal. Para os filhos, é importante comunicar aquilo que tem efeito na rotina deles. Dúvidas sobre como quando verão o pai ou mãe e se irão mudar de residência ou de escola podem aparecer e devem ser respondidas.

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Para responder a esses questionamentos, é preciso encontrar a forma adequada. Belinda indica aos pais optar pelas respostas sinceras, com transparência e que permitam à criança compreender o que está acontecendo, mas pondera que essas respostas devem separar o que é diz respeito à vida da criança daquilo que se refere à vida privada do casal.

Como facilitar a transição na prática?

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  • Ofereça estabilidade. Mostre à criança que, apesar da separação, o cuidado com ela está garantido. É importante que ela perceba que a separação não muda a relação dela com os pais.
  • Priorize a criança. Mesmo com ressentimentos que podem causar a separação, é preciso colocar a criança no centro da situação, uma vez que ela é a parte mais frágil dessa história.
  • Diga o necessário. Nem tudo precisa ser dito, em especial aspectos da vida privada do casal. Escute o que as crianças têm a dizer e informe apenas aquilo que diz respeito ao futuro delas.
  • Proteção. É importante proteger as crianças nesse momento. Evite utilizar os pequenos como vingança contra seu ex-parceiro e opte sempre por uma relação respeitosa.
  • Abrace as reações. Crianças expressam seus sentimentos de diferentes maneiras. Seja como for, as reações devem ser acolhidas para que os filhos externalizem aquilo que sentem.
  • Presença. O ideal é que os filhos convivam pelo mesmo período de tempo com ambos os pais. E esses acordos precisam ser mantidos fielmente para não criar expectativas nos pequenos.
  • Ajuda. Quando há dificuldades para lidar com a situação, pode ser necessário buscar ajuda. Pode ser por meio de um professor, médico, assistência social ou até mesmo a terapia familiar.

Escute o que os filhos têm a dizer

Escutar é tão importante quanto falar. “As separações muitas vezes envolvem ressentimentos, raiva e tristeza entre o casal”, afirma Belinda. “E, em algumas situações, os pais ficam tomados por esses sentimentos que não dão espaço para escutar as crianças”, diz. Dessa forma, é necessário deixar de lado os sentimentos negativos e abrir espaço para ouvir aquilo que os pequenos falam e, se for o caso, responder a eventuais dúvidas.

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Nem sempre os filhos vão conseguir se expressar por meio de palavras, principalmente os mais novos. Nesses casos, é preciso observar alterações de comportamento, hábitos ou humor, por exemplo. “E os pais devem, de alguma modo, estar disponíveis para lidar com essas reações”, diz. “Às vezes, é mais preocupante uma criança que não expressa nada ou que fica alienada da situação.”

Mantenha a rotina

Manter a rotina dos filhos também pode ajudar. “É importante para a criança perceber que as atividades dela não sofrem alterações por conta da separação”, diz. Isso inclui manter a rotina de visitas e contato com familiares e amigos. “Essa dinâmica dá confiança à criança sobre o futuro dela.”

O caminho adotado por Elisa Gatti, mãe da Chiara, de 3 anos, foi parecido com esse. “Sempre tive uma rotina bem estruturada com a minha filha e acredito que isso ajuda em qualquer processo de mudança”, explica. Mesmo com a separação, a dinâmica da vida da pequena continuou bem parecida. “Quando ela fica comigo ou com o pai, ela segue a mesma rotina, só muda o endereço.”

Quase 8 meses após o início da separação, a situação já havia sido absorvida pela pequena. Como forma de coroar o resultado, Elisa resolveu compor uma música, que serviu de inspiração para outros pais com filhos crianças que passam por situações parecidas. “A música, no meu caso, não serviu para auxiliar no processo, mas entendo que ela pode ajudar outros pais a explicar as mudanças para os filhos”, diz. “Depois que postei o vídeo, recebi milhares de comentários de pais dizendo que o filho não entendia o divórcio até eu cantar essa música.”

Separe o conjugal do parental

Uma relação conjugal é aquela que envolve o casal e a relação parental é entre pais e filhos. São coisas bem diferentes, mas que, no momento da separação, podem ficar misturadas. “De certa forma, por causa do ressentimento em relação ao parceiro, as crianças podem ser usadas na relação conjugal, como quando um dos pais tenta se aliar às crianças contra o outro genitor. E isso não é saudável”, explica Belinda.

Nesse período tão conturbado – para as crianças e os adultos –, toda ação deve ser voltada para a que a relação dos filhos seja a melhor com ambos os pais. Do contrário, a criança pode se sentir culpada pelo o que acontece na relação conjugal, pela qual não tem responsabilidade. “É preciso separar essas relações, mesmo que seja um desafio.”

Para proteger os pequenos dos problemas dos adultos, a psicóloga recomenda algumas medidas, como ter sempre em mente que os dois membros da relação conjugal são os pais, mesmo que não sejam mais cônjuges. “O casal se separa, mas os pais da criança são para a vida toda”, afirma.

Além disso, para que os filhos não sejam afetados pelos conflitos, é fundamental não deixar que o estado de espírito afete estes arranjos e de forma alguma utilizar as crianças para vingar-se do ex-parceiro. Discussões sobre divisão de bens ou valores de pensão alimentícia, por exemplo, não devem envolver as crianças.

Mantenha contato com ambos os pais

Após a separação, é interessante que os filhos passem a mesma quantidade de tempo com ambos os pais. “Algumas pessoas acham que isso pode confundir a criança, como se ela não fosse entender qual é o lar dela e não fosse pertencer a nenhum lugar”, diz Thiago.

Porém, ele explica que não deveria ser dessa forma. De acordo com o educador, as duas casas precisam ser organizadas para que a criança se sinta pertencente aos dois ambientes. Pode ser por meio da rotina ou de espaço que seja apenas do pequeno. “O mais importante é quem vai estar ali com ela. Até porque o lar não é apenas o espaço físico”, diz. Dessa forma, a relação entre pai e filho não acontece apenas por uma visitação e passa a ser parte da rotina da criança.

“Mas sabemos que, infelizmente, essa não é uma realidade”, afirma. Nos casos em que o contato acontece apenas por visitas, é importante que, ao menos, elas sejam frequentes e bem definidas. “A criança precisa de rotina e previsibilidade. Por isso, dias e horários marcados são importantes para ela passar por esse processo de adaptação com menos ansiedade”, diz.

Atenção às novas famílias

Quando as famílias se dissolvem, é comum que cada um dos parceiros forme outras com outros companheiros. E esse momento também exige cuidados com as crianças. “Para a criança, é quase como se fosse um martelo batido de que seus pais nunca mais vão estar juntos”, diz Thiago.

Para a psicóloga Juliana Ferreira, ao inserir novas pessoas na vida de uma criança, é importante que fique claro que essas novas pessoas não são uma substituição da família dela, mas uma extensão. “Quando a criança entende isso, ela passa a se sentir mais segura, pertencente e menos diferente das outras pessoas”, explica Juliana.

Para inserir novas pessoas na vida das crianças, Juliana sugere ir aos poucos. “Só leve a criança para conhecer esse outro parceiro quando sentir que essa nova relação é séria, segura e estável”, diz. “Aos poucos, a criança vai se adaptando a essa nova pessoa que entrou na sua vida. E é importante que esse novo parceiro esteja disposto a estar presente na vida da criança também.”

Separações costumam afetar a família toda. Para o casal, representa um projeto de vida interrompido. Para os filhos, significa ter de lidar com muitas mudanças em pouco tempo. Justamente por isso é importante que pais adotem certos cuidados para que o divórcio não traga problemas à saúde e ao desenvolvimento dos filhos, em especial os mais novos.

Segundo Belinda Mandelbaum, psicóloga e professora de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), um processo de separação sem cuidados pode representar problemas à qualidade de vida dos pequenos. Segundo ela, a forma como a separação é vivida pelos filhos vai ser determinante em seu desenvolvimento. “E os pais precisam saber lidar com a situação”, diz.

Ela sugere que os pais busquem manter uma relação harmoniosa entre si e que o contato da criança com ambos seja frequente. Ainda que não seja tarefa simples, esse foi o caminho adotado pela publicitária e escritora Michelle Pacy, que se divorciou do marido quando sua filha Vitória tinha 6 anos.

“A separação aconteceu porque, em determinado momento, a gente deixou de ser um casal”, diz. “Mas com o tempo percebi que minha filha sofria com essa situação. Como tive um pai biológico ausente e meu ex-marido também, a gente queria fazer diferente com ela.”

Mesmo separados, Michelle e seu ex-marido continuaram fazendo atividades e passeios juntos com a filha, hoje com 16 anos. “A gente almoçava de vez em quando, eu costumava ligar para ele de noite para os dois conversarem”, afirma. “Com muita conversa, a gente conseguiu se ajustar.”

Da sua experiência, nasceu o livro De boa com o ex e o perfil no Instagram de mesmo nome, cujo intuito é mostrar que existe caminho para uma separação mais leve, respeitosa e menos turbulenta para os filhos. “O livro é basicamente uma conversa de como ter bom relacionamento com o ex, mas o foco nunca foi o ex. Sempre foi a criação dos filhos em conjunto. Tanto meu atual marido, quanto meu ex me incentivaram muito.”

Para minimizar os efeitos da separação na vida da filha Vitória, hoje com 16 anos, Michelle apostou no respeito e no diálogo com o ex-marido. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O caminho escolhido por Michelle é uma possibilidade, mas não a única. Especialistas consultados pelo Estadão ressaltam outras medidas que podem ser adotadas por quem enfrenta o divórcio e quer ajudar os filhos a lidar com isso.

Adote comunicação transparente

Uma comunicação transparente pode fazer toda a diferença. “É um erro comum dos adultos achar que as crianças não vão entender”, diz Thiago Queiroz, educador parental e autor do livro Abrace seu Filho. Segundo o especialista, é importante ser sincero ao conversar com as crianças sobre a situação e fazer pequenos ajustes de acordo com a faixa etária.

“Para crianças menores, utilizar palavras simples e diretas pode ajudar no entendimento”, diz. “Com crianças mais velhas, pode ser mais direto, mas é fundamental continuar ressaltando que, mesmo com a separação, ela continua sendo amada e que é importante.”

Comunicação transparente não significa, no entanto, que tudo precisa ser dito. Há certas informações com relação à separação que dizem respeito apenas ao casal. Para os filhos, é importante comunicar aquilo que tem efeito na rotina deles. Dúvidas sobre como quando verão o pai ou mãe e se irão mudar de residência ou de escola podem aparecer e devem ser respondidas.

Para responder a esses questionamentos, é preciso encontrar a forma adequada. Belinda indica aos pais optar pelas respostas sinceras, com transparência e que permitam à criança compreender o que está acontecendo, mas pondera que essas respostas devem separar o que é diz respeito à vida da criança daquilo que se refere à vida privada do casal.

Como facilitar a transição na prática?

  • Ofereça estabilidade. Mostre à criança que, apesar da separação, o cuidado com ela está garantido. É importante que ela perceba que a separação não muda a relação dela com os pais.
  • Priorize a criança. Mesmo com ressentimentos que podem causar a separação, é preciso colocar a criança no centro da situação, uma vez que ela é a parte mais frágil dessa história.
  • Diga o necessário. Nem tudo precisa ser dito, em especial aspectos da vida privada do casal. Escute o que as crianças têm a dizer e informe apenas aquilo que diz respeito ao futuro delas.
  • Proteção. É importante proteger as crianças nesse momento. Evite utilizar os pequenos como vingança contra seu ex-parceiro e opte sempre por uma relação respeitosa.
  • Abrace as reações. Crianças expressam seus sentimentos de diferentes maneiras. Seja como for, as reações devem ser acolhidas para que os filhos externalizem aquilo que sentem.
  • Presença. O ideal é que os filhos convivam pelo mesmo período de tempo com ambos os pais. E esses acordos precisam ser mantidos fielmente para não criar expectativas nos pequenos.
  • Ajuda. Quando há dificuldades para lidar com a situação, pode ser necessário buscar ajuda. Pode ser por meio de um professor, médico, assistência social ou até mesmo a terapia familiar.

Escute o que os filhos têm a dizer

Escutar é tão importante quanto falar. “As separações muitas vezes envolvem ressentimentos, raiva e tristeza entre o casal”, afirma Belinda. “E, em algumas situações, os pais ficam tomados por esses sentimentos que não dão espaço para escutar as crianças”, diz. Dessa forma, é necessário deixar de lado os sentimentos negativos e abrir espaço para ouvir aquilo que os pequenos falam e, se for o caso, responder a eventuais dúvidas.

Nem sempre os filhos vão conseguir se expressar por meio de palavras, principalmente os mais novos. Nesses casos, é preciso observar alterações de comportamento, hábitos ou humor, por exemplo. “E os pais devem, de alguma modo, estar disponíveis para lidar com essas reações”, diz. “Às vezes, é mais preocupante uma criança que não expressa nada ou que fica alienada da situação.”

Mantenha a rotina

Manter a rotina dos filhos também pode ajudar. “É importante para a criança perceber que as atividades dela não sofrem alterações por conta da separação”, diz. Isso inclui manter a rotina de visitas e contato com familiares e amigos. “Essa dinâmica dá confiança à criança sobre o futuro dela.”

O caminho adotado por Elisa Gatti, mãe da Chiara, de 3 anos, foi parecido com esse. “Sempre tive uma rotina bem estruturada com a minha filha e acredito que isso ajuda em qualquer processo de mudança”, explica. Mesmo com a separação, a dinâmica da vida da pequena continuou bem parecida. “Quando ela fica comigo ou com o pai, ela segue a mesma rotina, só muda o endereço.”

Quase 8 meses após o início da separação, a situação já havia sido absorvida pela pequena. Como forma de coroar o resultado, Elisa resolveu compor uma música, que serviu de inspiração para outros pais com filhos crianças que passam por situações parecidas. “A música, no meu caso, não serviu para auxiliar no processo, mas entendo que ela pode ajudar outros pais a explicar as mudanças para os filhos”, diz. “Depois que postei o vídeo, recebi milhares de comentários de pais dizendo que o filho não entendia o divórcio até eu cantar essa música.”

Separe o conjugal do parental

Uma relação conjugal é aquela que envolve o casal e a relação parental é entre pais e filhos. São coisas bem diferentes, mas que, no momento da separação, podem ficar misturadas. “De certa forma, por causa do ressentimento em relação ao parceiro, as crianças podem ser usadas na relação conjugal, como quando um dos pais tenta se aliar às crianças contra o outro genitor. E isso não é saudável”, explica Belinda.

Nesse período tão conturbado – para as crianças e os adultos –, toda ação deve ser voltada para a que a relação dos filhos seja a melhor com ambos os pais. Do contrário, a criança pode se sentir culpada pelo o que acontece na relação conjugal, pela qual não tem responsabilidade. “É preciso separar essas relações, mesmo que seja um desafio.”

Para proteger os pequenos dos problemas dos adultos, a psicóloga recomenda algumas medidas, como ter sempre em mente que os dois membros da relação conjugal são os pais, mesmo que não sejam mais cônjuges. “O casal se separa, mas os pais da criança são para a vida toda”, afirma.

Além disso, para que os filhos não sejam afetados pelos conflitos, é fundamental não deixar que o estado de espírito afete estes arranjos e de forma alguma utilizar as crianças para vingar-se do ex-parceiro. Discussões sobre divisão de bens ou valores de pensão alimentícia, por exemplo, não devem envolver as crianças.

Mantenha contato com ambos os pais

Após a separação, é interessante que os filhos passem a mesma quantidade de tempo com ambos os pais. “Algumas pessoas acham que isso pode confundir a criança, como se ela não fosse entender qual é o lar dela e não fosse pertencer a nenhum lugar”, diz Thiago.

Porém, ele explica que não deveria ser dessa forma. De acordo com o educador, as duas casas precisam ser organizadas para que a criança se sinta pertencente aos dois ambientes. Pode ser por meio da rotina ou de espaço que seja apenas do pequeno. “O mais importante é quem vai estar ali com ela. Até porque o lar não é apenas o espaço físico”, diz. Dessa forma, a relação entre pai e filho não acontece apenas por uma visitação e passa a ser parte da rotina da criança.

“Mas sabemos que, infelizmente, essa não é uma realidade”, afirma. Nos casos em que o contato acontece apenas por visitas, é importante que, ao menos, elas sejam frequentes e bem definidas. “A criança precisa de rotina e previsibilidade. Por isso, dias e horários marcados são importantes para ela passar por esse processo de adaptação com menos ansiedade”, diz.

Atenção às novas famílias

Quando as famílias se dissolvem, é comum que cada um dos parceiros forme outras com outros companheiros. E esse momento também exige cuidados com as crianças. “Para a criança, é quase como se fosse um martelo batido de que seus pais nunca mais vão estar juntos”, diz Thiago.

Para a psicóloga Juliana Ferreira, ao inserir novas pessoas na vida de uma criança, é importante que fique claro que essas novas pessoas não são uma substituição da família dela, mas uma extensão. “Quando a criança entende isso, ela passa a se sentir mais segura, pertencente e menos diferente das outras pessoas”, explica Juliana.

Para inserir novas pessoas na vida das crianças, Juliana sugere ir aos poucos. “Só leve a criança para conhecer esse outro parceiro quando sentir que essa nova relação é séria, segura e estável”, diz. “Aos poucos, a criança vai se adaptando a essa nova pessoa que entrou na sua vida. E é importante que esse novo parceiro esteja disposto a estar presente na vida da criança também.”

Separações costumam afetar a família toda. Para o casal, representa um projeto de vida interrompido. Para os filhos, significa ter de lidar com muitas mudanças em pouco tempo. Justamente por isso é importante que pais adotem certos cuidados para que o divórcio não traga problemas à saúde e ao desenvolvimento dos filhos, em especial os mais novos.

Segundo Belinda Mandelbaum, psicóloga e professora de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), um processo de separação sem cuidados pode representar problemas à qualidade de vida dos pequenos. Segundo ela, a forma como a separação é vivida pelos filhos vai ser determinante em seu desenvolvimento. “E os pais precisam saber lidar com a situação”, diz.

Ela sugere que os pais busquem manter uma relação harmoniosa entre si e que o contato da criança com ambos seja frequente. Ainda que não seja tarefa simples, esse foi o caminho adotado pela publicitária e escritora Michelle Pacy, que se divorciou do marido quando sua filha Vitória tinha 6 anos.

“A separação aconteceu porque, em determinado momento, a gente deixou de ser um casal”, diz. “Mas com o tempo percebi que minha filha sofria com essa situação. Como tive um pai biológico ausente e meu ex-marido também, a gente queria fazer diferente com ela.”

Mesmo separados, Michelle e seu ex-marido continuaram fazendo atividades e passeios juntos com a filha, hoje com 16 anos. “A gente almoçava de vez em quando, eu costumava ligar para ele de noite para os dois conversarem”, afirma. “Com muita conversa, a gente conseguiu se ajustar.”

Da sua experiência, nasceu o livro De boa com o ex e o perfil no Instagram de mesmo nome, cujo intuito é mostrar que existe caminho para uma separação mais leve, respeitosa e menos turbulenta para os filhos. “O livro é basicamente uma conversa de como ter bom relacionamento com o ex, mas o foco nunca foi o ex. Sempre foi a criação dos filhos em conjunto. Tanto meu atual marido, quanto meu ex me incentivaram muito.”

Para minimizar os efeitos da separação na vida da filha Vitória, hoje com 16 anos, Michelle apostou no respeito e no diálogo com o ex-marido. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O caminho escolhido por Michelle é uma possibilidade, mas não a única. Especialistas consultados pelo Estadão ressaltam outras medidas que podem ser adotadas por quem enfrenta o divórcio e quer ajudar os filhos a lidar com isso.

Adote comunicação transparente

Uma comunicação transparente pode fazer toda a diferença. “É um erro comum dos adultos achar que as crianças não vão entender”, diz Thiago Queiroz, educador parental e autor do livro Abrace seu Filho. Segundo o especialista, é importante ser sincero ao conversar com as crianças sobre a situação e fazer pequenos ajustes de acordo com a faixa etária.

“Para crianças menores, utilizar palavras simples e diretas pode ajudar no entendimento”, diz. “Com crianças mais velhas, pode ser mais direto, mas é fundamental continuar ressaltando que, mesmo com a separação, ela continua sendo amada e que é importante.”

Comunicação transparente não significa, no entanto, que tudo precisa ser dito. Há certas informações com relação à separação que dizem respeito apenas ao casal. Para os filhos, é importante comunicar aquilo que tem efeito na rotina deles. Dúvidas sobre como quando verão o pai ou mãe e se irão mudar de residência ou de escola podem aparecer e devem ser respondidas.

Para responder a esses questionamentos, é preciso encontrar a forma adequada. Belinda indica aos pais optar pelas respostas sinceras, com transparência e que permitam à criança compreender o que está acontecendo, mas pondera que essas respostas devem separar o que é diz respeito à vida da criança daquilo que se refere à vida privada do casal.

Como facilitar a transição na prática?

  • Ofereça estabilidade. Mostre à criança que, apesar da separação, o cuidado com ela está garantido. É importante que ela perceba que a separação não muda a relação dela com os pais.
  • Priorize a criança. Mesmo com ressentimentos que podem causar a separação, é preciso colocar a criança no centro da situação, uma vez que ela é a parte mais frágil dessa história.
  • Diga o necessário. Nem tudo precisa ser dito, em especial aspectos da vida privada do casal. Escute o que as crianças têm a dizer e informe apenas aquilo que diz respeito ao futuro delas.
  • Proteção. É importante proteger as crianças nesse momento. Evite utilizar os pequenos como vingança contra seu ex-parceiro e opte sempre por uma relação respeitosa.
  • Abrace as reações. Crianças expressam seus sentimentos de diferentes maneiras. Seja como for, as reações devem ser acolhidas para que os filhos externalizem aquilo que sentem.
  • Presença. O ideal é que os filhos convivam pelo mesmo período de tempo com ambos os pais. E esses acordos precisam ser mantidos fielmente para não criar expectativas nos pequenos.
  • Ajuda. Quando há dificuldades para lidar com a situação, pode ser necessário buscar ajuda. Pode ser por meio de um professor, médico, assistência social ou até mesmo a terapia familiar.

Escute o que os filhos têm a dizer

Escutar é tão importante quanto falar. “As separações muitas vezes envolvem ressentimentos, raiva e tristeza entre o casal”, afirma Belinda. “E, em algumas situações, os pais ficam tomados por esses sentimentos que não dão espaço para escutar as crianças”, diz. Dessa forma, é necessário deixar de lado os sentimentos negativos e abrir espaço para ouvir aquilo que os pequenos falam e, se for o caso, responder a eventuais dúvidas.

Nem sempre os filhos vão conseguir se expressar por meio de palavras, principalmente os mais novos. Nesses casos, é preciso observar alterações de comportamento, hábitos ou humor, por exemplo. “E os pais devem, de alguma modo, estar disponíveis para lidar com essas reações”, diz. “Às vezes, é mais preocupante uma criança que não expressa nada ou que fica alienada da situação.”

Mantenha a rotina

Manter a rotina dos filhos também pode ajudar. “É importante para a criança perceber que as atividades dela não sofrem alterações por conta da separação”, diz. Isso inclui manter a rotina de visitas e contato com familiares e amigos. “Essa dinâmica dá confiança à criança sobre o futuro dela.”

O caminho adotado por Elisa Gatti, mãe da Chiara, de 3 anos, foi parecido com esse. “Sempre tive uma rotina bem estruturada com a minha filha e acredito que isso ajuda em qualquer processo de mudança”, explica. Mesmo com a separação, a dinâmica da vida da pequena continuou bem parecida. “Quando ela fica comigo ou com o pai, ela segue a mesma rotina, só muda o endereço.”

Quase 8 meses após o início da separação, a situação já havia sido absorvida pela pequena. Como forma de coroar o resultado, Elisa resolveu compor uma música, que serviu de inspiração para outros pais com filhos crianças que passam por situações parecidas. “A música, no meu caso, não serviu para auxiliar no processo, mas entendo que ela pode ajudar outros pais a explicar as mudanças para os filhos”, diz. “Depois que postei o vídeo, recebi milhares de comentários de pais dizendo que o filho não entendia o divórcio até eu cantar essa música.”

Separe o conjugal do parental

Uma relação conjugal é aquela que envolve o casal e a relação parental é entre pais e filhos. São coisas bem diferentes, mas que, no momento da separação, podem ficar misturadas. “De certa forma, por causa do ressentimento em relação ao parceiro, as crianças podem ser usadas na relação conjugal, como quando um dos pais tenta se aliar às crianças contra o outro genitor. E isso não é saudável”, explica Belinda.

Nesse período tão conturbado – para as crianças e os adultos –, toda ação deve ser voltada para a que a relação dos filhos seja a melhor com ambos os pais. Do contrário, a criança pode se sentir culpada pelo o que acontece na relação conjugal, pela qual não tem responsabilidade. “É preciso separar essas relações, mesmo que seja um desafio.”

Para proteger os pequenos dos problemas dos adultos, a psicóloga recomenda algumas medidas, como ter sempre em mente que os dois membros da relação conjugal são os pais, mesmo que não sejam mais cônjuges. “O casal se separa, mas os pais da criança são para a vida toda”, afirma.

Além disso, para que os filhos não sejam afetados pelos conflitos, é fundamental não deixar que o estado de espírito afete estes arranjos e de forma alguma utilizar as crianças para vingar-se do ex-parceiro. Discussões sobre divisão de bens ou valores de pensão alimentícia, por exemplo, não devem envolver as crianças.

Mantenha contato com ambos os pais

Após a separação, é interessante que os filhos passem a mesma quantidade de tempo com ambos os pais. “Algumas pessoas acham que isso pode confundir a criança, como se ela não fosse entender qual é o lar dela e não fosse pertencer a nenhum lugar”, diz Thiago.

Porém, ele explica que não deveria ser dessa forma. De acordo com o educador, as duas casas precisam ser organizadas para que a criança se sinta pertencente aos dois ambientes. Pode ser por meio da rotina ou de espaço que seja apenas do pequeno. “O mais importante é quem vai estar ali com ela. Até porque o lar não é apenas o espaço físico”, diz. Dessa forma, a relação entre pai e filho não acontece apenas por uma visitação e passa a ser parte da rotina da criança.

“Mas sabemos que, infelizmente, essa não é uma realidade”, afirma. Nos casos em que o contato acontece apenas por visitas, é importante que, ao menos, elas sejam frequentes e bem definidas. “A criança precisa de rotina e previsibilidade. Por isso, dias e horários marcados são importantes para ela passar por esse processo de adaptação com menos ansiedade”, diz.

Atenção às novas famílias

Quando as famílias se dissolvem, é comum que cada um dos parceiros forme outras com outros companheiros. E esse momento também exige cuidados com as crianças. “Para a criança, é quase como se fosse um martelo batido de que seus pais nunca mais vão estar juntos”, diz Thiago.

Para a psicóloga Juliana Ferreira, ao inserir novas pessoas na vida de uma criança, é importante que fique claro que essas novas pessoas não são uma substituição da família dela, mas uma extensão. “Quando a criança entende isso, ela passa a se sentir mais segura, pertencente e menos diferente das outras pessoas”, explica Juliana.

Para inserir novas pessoas na vida das crianças, Juliana sugere ir aos poucos. “Só leve a criança para conhecer esse outro parceiro quando sentir que essa nova relação é séria, segura e estável”, diz. “Aos poucos, a criança vai se adaptando a essa nova pessoa que entrou na sua vida. E é importante que esse novo parceiro esteja disposto a estar presente na vida da criança também.”

Separações costumam afetar a família toda. Para o casal, representa um projeto de vida interrompido. Para os filhos, significa ter de lidar com muitas mudanças em pouco tempo. Justamente por isso é importante que pais adotem certos cuidados para que o divórcio não traga problemas à saúde e ao desenvolvimento dos filhos, em especial os mais novos.

Segundo Belinda Mandelbaum, psicóloga e professora de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), um processo de separação sem cuidados pode representar problemas à qualidade de vida dos pequenos. Segundo ela, a forma como a separação é vivida pelos filhos vai ser determinante em seu desenvolvimento. “E os pais precisam saber lidar com a situação”, diz.

Ela sugere que os pais busquem manter uma relação harmoniosa entre si e que o contato da criança com ambos seja frequente. Ainda que não seja tarefa simples, esse foi o caminho adotado pela publicitária e escritora Michelle Pacy, que se divorciou do marido quando sua filha Vitória tinha 6 anos.

“A separação aconteceu porque, em determinado momento, a gente deixou de ser um casal”, diz. “Mas com o tempo percebi que minha filha sofria com essa situação. Como tive um pai biológico ausente e meu ex-marido também, a gente queria fazer diferente com ela.”

Mesmo separados, Michelle e seu ex-marido continuaram fazendo atividades e passeios juntos com a filha, hoje com 16 anos. “A gente almoçava de vez em quando, eu costumava ligar para ele de noite para os dois conversarem”, afirma. “Com muita conversa, a gente conseguiu se ajustar.”

Da sua experiência, nasceu o livro De boa com o ex e o perfil no Instagram de mesmo nome, cujo intuito é mostrar que existe caminho para uma separação mais leve, respeitosa e menos turbulenta para os filhos. “O livro é basicamente uma conversa de como ter bom relacionamento com o ex, mas o foco nunca foi o ex. Sempre foi a criação dos filhos em conjunto. Tanto meu atual marido, quanto meu ex me incentivaram muito.”

Para minimizar os efeitos da separação na vida da filha Vitória, hoje com 16 anos, Michelle apostou no respeito e no diálogo com o ex-marido. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O caminho escolhido por Michelle é uma possibilidade, mas não a única. Especialistas consultados pelo Estadão ressaltam outras medidas que podem ser adotadas por quem enfrenta o divórcio e quer ajudar os filhos a lidar com isso.

Adote comunicação transparente

Uma comunicação transparente pode fazer toda a diferença. “É um erro comum dos adultos achar que as crianças não vão entender”, diz Thiago Queiroz, educador parental e autor do livro Abrace seu Filho. Segundo o especialista, é importante ser sincero ao conversar com as crianças sobre a situação e fazer pequenos ajustes de acordo com a faixa etária.

“Para crianças menores, utilizar palavras simples e diretas pode ajudar no entendimento”, diz. “Com crianças mais velhas, pode ser mais direto, mas é fundamental continuar ressaltando que, mesmo com a separação, ela continua sendo amada e que é importante.”

Comunicação transparente não significa, no entanto, que tudo precisa ser dito. Há certas informações com relação à separação que dizem respeito apenas ao casal. Para os filhos, é importante comunicar aquilo que tem efeito na rotina deles. Dúvidas sobre como quando verão o pai ou mãe e se irão mudar de residência ou de escola podem aparecer e devem ser respondidas.

Para responder a esses questionamentos, é preciso encontrar a forma adequada. Belinda indica aos pais optar pelas respostas sinceras, com transparência e que permitam à criança compreender o que está acontecendo, mas pondera que essas respostas devem separar o que é diz respeito à vida da criança daquilo que se refere à vida privada do casal.

Como facilitar a transição na prática?

  • Ofereça estabilidade. Mostre à criança que, apesar da separação, o cuidado com ela está garantido. É importante que ela perceba que a separação não muda a relação dela com os pais.
  • Priorize a criança. Mesmo com ressentimentos que podem causar a separação, é preciso colocar a criança no centro da situação, uma vez que ela é a parte mais frágil dessa história.
  • Diga o necessário. Nem tudo precisa ser dito, em especial aspectos da vida privada do casal. Escute o que as crianças têm a dizer e informe apenas aquilo que diz respeito ao futuro delas.
  • Proteção. É importante proteger as crianças nesse momento. Evite utilizar os pequenos como vingança contra seu ex-parceiro e opte sempre por uma relação respeitosa.
  • Abrace as reações. Crianças expressam seus sentimentos de diferentes maneiras. Seja como for, as reações devem ser acolhidas para que os filhos externalizem aquilo que sentem.
  • Presença. O ideal é que os filhos convivam pelo mesmo período de tempo com ambos os pais. E esses acordos precisam ser mantidos fielmente para não criar expectativas nos pequenos.
  • Ajuda. Quando há dificuldades para lidar com a situação, pode ser necessário buscar ajuda. Pode ser por meio de um professor, médico, assistência social ou até mesmo a terapia familiar.

Escute o que os filhos têm a dizer

Escutar é tão importante quanto falar. “As separações muitas vezes envolvem ressentimentos, raiva e tristeza entre o casal”, afirma Belinda. “E, em algumas situações, os pais ficam tomados por esses sentimentos que não dão espaço para escutar as crianças”, diz. Dessa forma, é necessário deixar de lado os sentimentos negativos e abrir espaço para ouvir aquilo que os pequenos falam e, se for o caso, responder a eventuais dúvidas.

Nem sempre os filhos vão conseguir se expressar por meio de palavras, principalmente os mais novos. Nesses casos, é preciso observar alterações de comportamento, hábitos ou humor, por exemplo. “E os pais devem, de alguma modo, estar disponíveis para lidar com essas reações”, diz. “Às vezes, é mais preocupante uma criança que não expressa nada ou que fica alienada da situação.”

Mantenha a rotina

Manter a rotina dos filhos também pode ajudar. “É importante para a criança perceber que as atividades dela não sofrem alterações por conta da separação”, diz. Isso inclui manter a rotina de visitas e contato com familiares e amigos. “Essa dinâmica dá confiança à criança sobre o futuro dela.”

O caminho adotado por Elisa Gatti, mãe da Chiara, de 3 anos, foi parecido com esse. “Sempre tive uma rotina bem estruturada com a minha filha e acredito que isso ajuda em qualquer processo de mudança”, explica. Mesmo com a separação, a dinâmica da vida da pequena continuou bem parecida. “Quando ela fica comigo ou com o pai, ela segue a mesma rotina, só muda o endereço.”

Quase 8 meses após o início da separação, a situação já havia sido absorvida pela pequena. Como forma de coroar o resultado, Elisa resolveu compor uma música, que serviu de inspiração para outros pais com filhos crianças que passam por situações parecidas. “A música, no meu caso, não serviu para auxiliar no processo, mas entendo que ela pode ajudar outros pais a explicar as mudanças para os filhos”, diz. “Depois que postei o vídeo, recebi milhares de comentários de pais dizendo que o filho não entendia o divórcio até eu cantar essa música.”

Separe o conjugal do parental

Uma relação conjugal é aquela que envolve o casal e a relação parental é entre pais e filhos. São coisas bem diferentes, mas que, no momento da separação, podem ficar misturadas. “De certa forma, por causa do ressentimento em relação ao parceiro, as crianças podem ser usadas na relação conjugal, como quando um dos pais tenta se aliar às crianças contra o outro genitor. E isso não é saudável”, explica Belinda.

Nesse período tão conturbado – para as crianças e os adultos –, toda ação deve ser voltada para a que a relação dos filhos seja a melhor com ambos os pais. Do contrário, a criança pode se sentir culpada pelo o que acontece na relação conjugal, pela qual não tem responsabilidade. “É preciso separar essas relações, mesmo que seja um desafio.”

Para proteger os pequenos dos problemas dos adultos, a psicóloga recomenda algumas medidas, como ter sempre em mente que os dois membros da relação conjugal são os pais, mesmo que não sejam mais cônjuges. “O casal se separa, mas os pais da criança são para a vida toda”, afirma.

Além disso, para que os filhos não sejam afetados pelos conflitos, é fundamental não deixar que o estado de espírito afete estes arranjos e de forma alguma utilizar as crianças para vingar-se do ex-parceiro. Discussões sobre divisão de bens ou valores de pensão alimentícia, por exemplo, não devem envolver as crianças.

Mantenha contato com ambos os pais

Após a separação, é interessante que os filhos passem a mesma quantidade de tempo com ambos os pais. “Algumas pessoas acham que isso pode confundir a criança, como se ela não fosse entender qual é o lar dela e não fosse pertencer a nenhum lugar”, diz Thiago.

Porém, ele explica que não deveria ser dessa forma. De acordo com o educador, as duas casas precisam ser organizadas para que a criança se sinta pertencente aos dois ambientes. Pode ser por meio da rotina ou de espaço que seja apenas do pequeno. “O mais importante é quem vai estar ali com ela. Até porque o lar não é apenas o espaço físico”, diz. Dessa forma, a relação entre pai e filho não acontece apenas por uma visitação e passa a ser parte da rotina da criança.

“Mas sabemos que, infelizmente, essa não é uma realidade”, afirma. Nos casos em que o contato acontece apenas por visitas, é importante que, ao menos, elas sejam frequentes e bem definidas. “A criança precisa de rotina e previsibilidade. Por isso, dias e horários marcados são importantes para ela passar por esse processo de adaptação com menos ansiedade”, diz.

Atenção às novas famílias

Quando as famílias se dissolvem, é comum que cada um dos parceiros forme outras com outros companheiros. E esse momento também exige cuidados com as crianças. “Para a criança, é quase como se fosse um martelo batido de que seus pais nunca mais vão estar juntos”, diz Thiago.

Para a psicóloga Juliana Ferreira, ao inserir novas pessoas na vida de uma criança, é importante que fique claro que essas novas pessoas não são uma substituição da família dela, mas uma extensão. “Quando a criança entende isso, ela passa a se sentir mais segura, pertencente e menos diferente das outras pessoas”, explica Juliana.

Para inserir novas pessoas na vida das crianças, Juliana sugere ir aos poucos. “Só leve a criança para conhecer esse outro parceiro quando sentir que essa nova relação é séria, segura e estável”, diz. “Aos poucos, a criança vai se adaptando a essa nova pessoa que entrou na sua vida. E é importante que esse novo parceiro esteja disposto a estar presente na vida da criança também.”

Separações costumam afetar a família toda. Para o casal, representa um projeto de vida interrompido. Para os filhos, significa ter de lidar com muitas mudanças em pouco tempo. Justamente por isso é importante que pais adotem certos cuidados para que o divórcio não traga problemas à saúde e ao desenvolvimento dos filhos, em especial os mais novos.

Segundo Belinda Mandelbaum, psicóloga e professora de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), um processo de separação sem cuidados pode representar problemas à qualidade de vida dos pequenos. Segundo ela, a forma como a separação é vivida pelos filhos vai ser determinante em seu desenvolvimento. “E os pais precisam saber lidar com a situação”, diz.

Ela sugere que os pais busquem manter uma relação harmoniosa entre si e que o contato da criança com ambos seja frequente. Ainda que não seja tarefa simples, esse foi o caminho adotado pela publicitária e escritora Michelle Pacy, que se divorciou do marido quando sua filha Vitória tinha 6 anos.

“A separação aconteceu porque, em determinado momento, a gente deixou de ser um casal”, diz. “Mas com o tempo percebi que minha filha sofria com essa situação. Como tive um pai biológico ausente e meu ex-marido também, a gente queria fazer diferente com ela.”

Mesmo separados, Michelle e seu ex-marido continuaram fazendo atividades e passeios juntos com a filha, hoje com 16 anos. “A gente almoçava de vez em quando, eu costumava ligar para ele de noite para os dois conversarem”, afirma. “Com muita conversa, a gente conseguiu se ajustar.”

Da sua experiência, nasceu o livro De boa com o ex e o perfil no Instagram de mesmo nome, cujo intuito é mostrar que existe caminho para uma separação mais leve, respeitosa e menos turbulenta para os filhos. “O livro é basicamente uma conversa de como ter bom relacionamento com o ex, mas o foco nunca foi o ex. Sempre foi a criação dos filhos em conjunto. Tanto meu atual marido, quanto meu ex me incentivaram muito.”

Para minimizar os efeitos da separação na vida da filha Vitória, hoje com 16 anos, Michelle apostou no respeito e no diálogo com o ex-marido. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O caminho escolhido por Michelle é uma possibilidade, mas não a única. Especialistas consultados pelo Estadão ressaltam outras medidas que podem ser adotadas por quem enfrenta o divórcio e quer ajudar os filhos a lidar com isso.

Adote comunicação transparente

Uma comunicação transparente pode fazer toda a diferença. “É um erro comum dos adultos achar que as crianças não vão entender”, diz Thiago Queiroz, educador parental e autor do livro Abrace seu Filho. Segundo o especialista, é importante ser sincero ao conversar com as crianças sobre a situação e fazer pequenos ajustes de acordo com a faixa etária.

“Para crianças menores, utilizar palavras simples e diretas pode ajudar no entendimento”, diz. “Com crianças mais velhas, pode ser mais direto, mas é fundamental continuar ressaltando que, mesmo com a separação, ela continua sendo amada e que é importante.”

Comunicação transparente não significa, no entanto, que tudo precisa ser dito. Há certas informações com relação à separação que dizem respeito apenas ao casal. Para os filhos, é importante comunicar aquilo que tem efeito na rotina deles. Dúvidas sobre como quando verão o pai ou mãe e se irão mudar de residência ou de escola podem aparecer e devem ser respondidas.

Para responder a esses questionamentos, é preciso encontrar a forma adequada. Belinda indica aos pais optar pelas respostas sinceras, com transparência e que permitam à criança compreender o que está acontecendo, mas pondera que essas respostas devem separar o que é diz respeito à vida da criança daquilo que se refere à vida privada do casal.

Como facilitar a transição na prática?

  • Ofereça estabilidade. Mostre à criança que, apesar da separação, o cuidado com ela está garantido. É importante que ela perceba que a separação não muda a relação dela com os pais.
  • Priorize a criança. Mesmo com ressentimentos que podem causar a separação, é preciso colocar a criança no centro da situação, uma vez que ela é a parte mais frágil dessa história.
  • Diga o necessário. Nem tudo precisa ser dito, em especial aspectos da vida privada do casal. Escute o que as crianças têm a dizer e informe apenas aquilo que diz respeito ao futuro delas.
  • Proteção. É importante proteger as crianças nesse momento. Evite utilizar os pequenos como vingança contra seu ex-parceiro e opte sempre por uma relação respeitosa.
  • Abrace as reações. Crianças expressam seus sentimentos de diferentes maneiras. Seja como for, as reações devem ser acolhidas para que os filhos externalizem aquilo que sentem.
  • Presença. O ideal é que os filhos convivam pelo mesmo período de tempo com ambos os pais. E esses acordos precisam ser mantidos fielmente para não criar expectativas nos pequenos.
  • Ajuda. Quando há dificuldades para lidar com a situação, pode ser necessário buscar ajuda. Pode ser por meio de um professor, médico, assistência social ou até mesmo a terapia familiar.

Escute o que os filhos têm a dizer

Escutar é tão importante quanto falar. “As separações muitas vezes envolvem ressentimentos, raiva e tristeza entre o casal”, afirma Belinda. “E, em algumas situações, os pais ficam tomados por esses sentimentos que não dão espaço para escutar as crianças”, diz. Dessa forma, é necessário deixar de lado os sentimentos negativos e abrir espaço para ouvir aquilo que os pequenos falam e, se for o caso, responder a eventuais dúvidas.

Nem sempre os filhos vão conseguir se expressar por meio de palavras, principalmente os mais novos. Nesses casos, é preciso observar alterações de comportamento, hábitos ou humor, por exemplo. “E os pais devem, de alguma modo, estar disponíveis para lidar com essas reações”, diz. “Às vezes, é mais preocupante uma criança que não expressa nada ou que fica alienada da situação.”

Mantenha a rotina

Manter a rotina dos filhos também pode ajudar. “É importante para a criança perceber que as atividades dela não sofrem alterações por conta da separação”, diz. Isso inclui manter a rotina de visitas e contato com familiares e amigos. “Essa dinâmica dá confiança à criança sobre o futuro dela.”

O caminho adotado por Elisa Gatti, mãe da Chiara, de 3 anos, foi parecido com esse. “Sempre tive uma rotina bem estruturada com a minha filha e acredito que isso ajuda em qualquer processo de mudança”, explica. Mesmo com a separação, a dinâmica da vida da pequena continuou bem parecida. “Quando ela fica comigo ou com o pai, ela segue a mesma rotina, só muda o endereço.”

Quase 8 meses após o início da separação, a situação já havia sido absorvida pela pequena. Como forma de coroar o resultado, Elisa resolveu compor uma música, que serviu de inspiração para outros pais com filhos crianças que passam por situações parecidas. “A música, no meu caso, não serviu para auxiliar no processo, mas entendo que ela pode ajudar outros pais a explicar as mudanças para os filhos”, diz. “Depois que postei o vídeo, recebi milhares de comentários de pais dizendo que o filho não entendia o divórcio até eu cantar essa música.”

Separe o conjugal do parental

Uma relação conjugal é aquela que envolve o casal e a relação parental é entre pais e filhos. São coisas bem diferentes, mas que, no momento da separação, podem ficar misturadas. “De certa forma, por causa do ressentimento em relação ao parceiro, as crianças podem ser usadas na relação conjugal, como quando um dos pais tenta se aliar às crianças contra o outro genitor. E isso não é saudável”, explica Belinda.

Nesse período tão conturbado – para as crianças e os adultos –, toda ação deve ser voltada para a que a relação dos filhos seja a melhor com ambos os pais. Do contrário, a criança pode se sentir culpada pelo o que acontece na relação conjugal, pela qual não tem responsabilidade. “É preciso separar essas relações, mesmo que seja um desafio.”

Para proteger os pequenos dos problemas dos adultos, a psicóloga recomenda algumas medidas, como ter sempre em mente que os dois membros da relação conjugal são os pais, mesmo que não sejam mais cônjuges. “O casal se separa, mas os pais da criança são para a vida toda”, afirma.

Além disso, para que os filhos não sejam afetados pelos conflitos, é fundamental não deixar que o estado de espírito afete estes arranjos e de forma alguma utilizar as crianças para vingar-se do ex-parceiro. Discussões sobre divisão de bens ou valores de pensão alimentícia, por exemplo, não devem envolver as crianças.

Mantenha contato com ambos os pais

Após a separação, é interessante que os filhos passem a mesma quantidade de tempo com ambos os pais. “Algumas pessoas acham que isso pode confundir a criança, como se ela não fosse entender qual é o lar dela e não fosse pertencer a nenhum lugar”, diz Thiago.

Porém, ele explica que não deveria ser dessa forma. De acordo com o educador, as duas casas precisam ser organizadas para que a criança se sinta pertencente aos dois ambientes. Pode ser por meio da rotina ou de espaço que seja apenas do pequeno. “O mais importante é quem vai estar ali com ela. Até porque o lar não é apenas o espaço físico”, diz. Dessa forma, a relação entre pai e filho não acontece apenas por uma visitação e passa a ser parte da rotina da criança.

“Mas sabemos que, infelizmente, essa não é uma realidade”, afirma. Nos casos em que o contato acontece apenas por visitas, é importante que, ao menos, elas sejam frequentes e bem definidas. “A criança precisa de rotina e previsibilidade. Por isso, dias e horários marcados são importantes para ela passar por esse processo de adaptação com menos ansiedade”, diz.

Atenção às novas famílias

Quando as famílias se dissolvem, é comum que cada um dos parceiros forme outras com outros companheiros. E esse momento também exige cuidados com as crianças. “Para a criança, é quase como se fosse um martelo batido de que seus pais nunca mais vão estar juntos”, diz Thiago.

Para a psicóloga Juliana Ferreira, ao inserir novas pessoas na vida de uma criança, é importante que fique claro que essas novas pessoas não são uma substituição da família dela, mas uma extensão. “Quando a criança entende isso, ela passa a se sentir mais segura, pertencente e menos diferente das outras pessoas”, explica Juliana.

Para inserir novas pessoas na vida das crianças, Juliana sugere ir aos poucos. “Só leve a criança para conhecer esse outro parceiro quando sentir que essa nova relação é séria, segura e estável”, diz. “Aos poucos, a criança vai se adaptando a essa nova pessoa que entrou na sua vida. E é importante que esse novo parceiro esteja disposto a estar presente na vida da criança também.”

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