Dói? A frequência diminui? Confira 10 tabus e dúvidas sobre sexo na terceira idade


Manter a sexualidade ativa faz parte do envelhecimento saudável, segundo especialistas

Por Fernanda Bassette

A sexualidade ainda é envolta em tabus, inclusive na terceira idade. Mas ela é um aspecto presente nas diferentes faixas etárias e não se restringe ao ato sexual – envolve a identidade, a orientação da atração sexual, a afetividade, pensamentos e a imaginação. Assim, não importa qual a idade, a sexualidade vai ser sempre parte da vida.

“Se a gente parar para pensar, sexo sempre é um tabu. Parece que ele precisa continuar sendo tabu para continuar sendo interessante e desafiador”, disse a psiquiatra Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Além disso, manter a sexualidade ativa faz parte do processo de envelhecimento saudável – ao lado de manter o convívio social e ter boa saúde – e isso é diferente de ser sexualmente ativo. “A manifestação da sexualidade acontece quando a pessoa está plena, seja com carícias, com toques, com abraços, e não necessariamente precisa haver relação com coito”, afirmou Leonardo Oliva, geriatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

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Por isso, é importante entender as mudanças que ocorrem com a idade e como se adaptar a elas para seguir ativo também nesse aspecto da vida. Abaixo, listamos algumas das principais dúvidas e preconceitos que rondam o sexo entre pessoas mais velhas.

Manter a sexualidade ativa faz parte do processo de envelhecimento saudável Foto: Nadia/peopleimages.com/Adobe Stock

1 – Diminuição da frequência é normal?

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É verdade que os relacionamentos na juventude costumam ser muito mais intensos e frequentes e, com o envelhecimento, isso vai diminuindo.

Estudos realizados no Brasil apontam que a frequência de relações sexuais de um casal jovem, que vive em união estável, por exemplo, é de duas a três vezes por semana. Quando se trata de um casal que está na faixa dos 60 anos, essa frequência passa a ser semanal e entre aqueles com mais de 70 anos a tendência é de uma relação sexual a cada dez dias ou mais.

“Isso não é impressão. São resultados de pesquisas que fizemos com milhares de brasileiros, de diferentes faixas etárias. A diminuição da frequência das relações sexuais com o avanço da idade é uma realidade”, afirmou Carmita, que também é coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo e integrante do Departamento de Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

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A redução, porém, não significa que a atração terminou ou que o casal se distanciou. Na verdade, ela acontece porque quando envelhecemos sentimos uma necessidade menor de fazer uma série de atividades, entre elas o sexo.

2 – O sexo pode melhorar com o envelhecimento?

Apesar de a maneira como os indivíduos manifestam sua sexualidade mudar com o tempo, não significa que ela deixará de existir, tampouco o interesse sexual, o relacionamento com coito ou qualquer outro tipo de intimidade.

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“A experiência e o tempo de vida podem tornar a sexualidade mais rica e mais significativa, em que as pessoas precisam lidar menos com pressões relacionadas a desempenho e estão muito mais ligadas à qualidade e satisfação mútuas. Isso torna o sexo melhor”, disse Oliva.

Segundo Carmita, o sexo se torna mais satisfatório com o envelhecimento quando o casal cresce e amadurece junto, com os mesmos propósitos. “Se o tempo só serviu para mostrar as diferenças, então esse sexo numa idade mais avançada não será tão agradável como acontece com casais que se desenvolveram numa mesma direção”, afirmou.

3 – É comum haver dor na penetração?

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A menopausa pode impactar na libido e em outros aspectos relacionados à manifestação da sexualidade da mulher porque envolve mudanças hormonais significativas, com a queda dos níveis de estrógeno, principal hormônio sexual feminino. Uma disfunção comum é a dispareunia, que é a dor durante a penetração. Isso acontece, em geral, porque com a queda do estrógeno a vagina não lubrifica mais como antes.

Isso pode ser contornado com a terapia de reposição hormonal (que só deve ser feita sob orientação médica) e com alternativas como uso de cremes tópicos à base de estrógeno, lubrificantes e fisioterapia pélvica, uma medida não medicamentosa.

“Se a mulher fizer terapia de reposição hormonal, ela não sentirá mudanças. Caso contrário, o sexo pode se tornar desconfortável. Não significa que o desejo sexual está comprometido, mas a dor acontece porque a mucosa da vagina está atrófica”, explicou Carmita.

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A queda na produção de estrógeno também afeta a saúde dos músculos e ossos, e pode levar a alterações cognitivas e menor sensibilidade na pele, entre outras mudanças. “Todos esses aspectos interferem na sexualidade. Músculos flácidos, ossos quebradiços, mucosa da vagina ressecada, cognição comprometida, a sensibilidade da pele diminuída”, disse.

4 – Mudança no tempo de ereção

O homem também sofre com mudanças fisiológicas do envelhecimento. A duração e a rigidez da ereção não serão as mesmas de quando ele era mais jovem. Ao ficar mais velho, ele precisará de mais estímulos para conseguir ter a ereção – se na juventude o pênis ficava ereto ao ver alguém interessante, com o envelhecimento será preciso um estímulo tátil.

“O homem mais velho precisa do contato, do movimento de fricção, da estimulação com a mão ou do contato com o corpo da outra pessoa para conseguir ter a ereção”, explicou Carmita.

Além disso, o tempo que o homem vai conseguir sustentar essa ereção pode ser menor, especialmente naqueles que têm alguma comorbidade – como diabetes, hipertensão, algum problema cardíaco ou doenças sistêmicas.

“Isso não significa, entretanto, que o homem terá mais dificuldade em ter prazer ou em manifestar a sexualidade. São necessárias apenas adaptações ao processo do envelhecimento e, se preciso, tratar essas dificuldades”, acrescentou Oliva.

5 – O volume da ejaculação diminui?

Sim. Outro fator que acompanha o envelhecimento masculino é a diminuição do volume ejaculatório, mas isso não significa que haverá mudança na qualidade do orgasmo.

“A ejaculação é apenas a liberação de substâncias que incluem os espermatozoides e que vão ajudá-los a fecundar um possível óvulo. Com a idade, esse volume diminui”, disse Oliva.

“Mas isso não tem nenhuma relação com a capacidade do homem de sentir prazer e nem com a qualidade do orgasmo. Ele consegue atingir orgasmo mesmo com menor volume de ejaculação”, explicou o geriatra.

6 – Uso de medicações estimulantes sexuais

Existe uma classe de medicações indicada para casos de homens que sofrem com disfunção erétil, para aumentar a ereção ou deixá-la mais efetiva. São medicamentos seguros, mas é necessário haver indicação médica para usá-los porque não podem ser administrados junto com medicações para problemas cardíacos, por exemplo.

“Essas medicações são muito seguras para aqueles indivíduos que têm dificuldade de conseguir a ereção ou de manter essa ereção pelo tempo que consideram adequado até atingir o orgasmo. O problema surge se elas forem usadas indevidamente, por indivíduos que não têm disfunção erétil. Não há comprovação cientifica nem indicação médica para o uso dessa forma”, alertou Oliva. Por isso, antes de ir à farmácia, procure um médico para receber orientação adequada.

7 – Envelhecimento saudável

Manter a sexualidade ativa faz parte do processo de envelhecimento saudável, ao lado de manter o convívio social e ter boa saúde. Mas isso é diferente de ser sexualmente ativo. “A manifestação da sexualidade acontece quando a pessoa está plena, seja com carícias, com toques, com abraços, e não necessariamente precisa haver relação com coito”, disse Oliva.

8 – Uso de preservativo

O uso de preservativo nas relações sexuais é fundamental, inclusive entre os idosos. Segundo Carmita, as pessoas mais velhas são de uma geração que viveu num período em que não existia Aids, então não aprenderam a usar preservativo e, muitas vezes, não consideram necessário. Mas novos casos de HIV e sífilis continuam surgindo no Brasil, inclusive entre os idosos.

“Se o idoso vai para um relacionamento novo e não usa o preservativo, o risco de infecções sexualmente transmissíveis existe, sim. Então, cuidado”, alertou.

9 – Uso de acessórios

Existem várias formas de resgatar a intimidade e o prazer com o avançar da idade – é preciso adaptar-se às novas situações. A manifestação da sexualidade pode ser adaptada, ser prazerosa e ser satisfatória.

Nesse sentido, o uso de acessórios sexuais pode ser uma alternativa, ao lado de lubrificantes, de forma muito individual. “Diferentes pessoas vão envelhecer de formas diferentes. É importante quebrar o tabu relacionado à sexualidade na terceira idade”, defendeu Oliva.

10 – Preconceitos e estigmas

Preconceitos e estigmas podem provocar diversos impactos negativos na vida sexual das pessoas que envelheceram – ainda se tem a ideia de que pessoas mais velhas não fazem sexo ou não devem fazer.

Por conta disso, muitas vezes é difícil abordar o tema e discutir dificuldades que poderiam melhorar com tratamentos, medicações ou terapias, contou Oliva.

“Esse é o primeiro problema do preconceito, mas não é o único. Se não conversamos sobre isso, não conseguimos melhorar esses aspectos. Isso pode trazer insatisfação para a vida pessoal das pessoas mais velhas”, enfatizou o geriatra.

A sexualidade ainda é envolta em tabus, inclusive na terceira idade. Mas ela é um aspecto presente nas diferentes faixas etárias e não se restringe ao ato sexual – envolve a identidade, a orientação da atração sexual, a afetividade, pensamentos e a imaginação. Assim, não importa qual a idade, a sexualidade vai ser sempre parte da vida.

“Se a gente parar para pensar, sexo sempre é um tabu. Parece que ele precisa continuar sendo tabu para continuar sendo interessante e desafiador”, disse a psiquiatra Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Além disso, manter a sexualidade ativa faz parte do processo de envelhecimento saudável – ao lado de manter o convívio social e ter boa saúde – e isso é diferente de ser sexualmente ativo. “A manifestação da sexualidade acontece quando a pessoa está plena, seja com carícias, com toques, com abraços, e não necessariamente precisa haver relação com coito”, afirmou Leonardo Oliva, geriatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

Por isso, é importante entender as mudanças que ocorrem com a idade e como se adaptar a elas para seguir ativo também nesse aspecto da vida. Abaixo, listamos algumas das principais dúvidas e preconceitos que rondam o sexo entre pessoas mais velhas.

Manter a sexualidade ativa faz parte do processo de envelhecimento saudável Foto: Nadia/peopleimages.com/Adobe Stock

1 – Diminuição da frequência é normal?

É verdade que os relacionamentos na juventude costumam ser muito mais intensos e frequentes e, com o envelhecimento, isso vai diminuindo.

Estudos realizados no Brasil apontam que a frequência de relações sexuais de um casal jovem, que vive em união estável, por exemplo, é de duas a três vezes por semana. Quando se trata de um casal que está na faixa dos 60 anos, essa frequência passa a ser semanal e entre aqueles com mais de 70 anos a tendência é de uma relação sexual a cada dez dias ou mais.

“Isso não é impressão. São resultados de pesquisas que fizemos com milhares de brasileiros, de diferentes faixas etárias. A diminuição da frequência das relações sexuais com o avanço da idade é uma realidade”, afirmou Carmita, que também é coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo e integrante do Departamento de Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

A redução, porém, não significa que a atração terminou ou que o casal se distanciou. Na verdade, ela acontece porque quando envelhecemos sentimos uma necessidade menor de fazer uma série de atividades, entre elas o sexo.

2 – O sexo pode melhorar com o envelhecimento?

Apesar de a maneira como os indivíduos manifestam sua sexualidade mudar com o tempo, não significa que ela deixará de existir, tampouco o interesse sexual, o relacionamento com coito ou qualquer outro tipo de intimidade.

“A experiência e o tempo de vida podem tornar a sexualidade mais rica e mais significativa, em que as pessoas precisam lidar menos com pressões relacionadas a desempenho e estão muito mais ligadas à qualidade e satisfação mútuas. Isso torna o sexo melhor”, disse Oliva.

Segundo Carmita, o sexo se torna mais satisfatório com o envelhecimento quando o casal cresce e amadurece junto, com os mesmos propósitos. “Se o tempo só serviu para mostrar as diferenças, então esse sexo numa idade mais avançada não será tão agradável como acontece com casais que se desenvolveram numa mesma direção”, afirmou.

3 – É comum haver dor na penetração?

A menopausa pode impactar na libido e em outros aspectos relacionados à manifestação da sexualidade da mulher porque envolve mudanças hormonais significativas, com a queda dos níveis de estrógeno, principal hormônio sexual feminino. Uma disfunção comum é a dispareunia, que é a dor durante a penetração. Isso acontece, em geral, porque com a queda do estrógeno a vagina não lubrifica mais como antes.

Isso pode ser contornado com a terapia de reposição hormonal (que só deve ser feita sob orientação médica) e com alternativas como uso de cremes tópicos à base de estrógeno, lubrificantes e fisioterapia pélvica, uma medida não medicamentosa.

“Se a mulher fizer terapia de reposição hormonal, ela não sentirá mudanças. Caso contrário, o sexo pode se tornar desconfortável. Não significa que o desejo sexual está comprometido, mas a dor acontece porque a mucosa da vagina está atrófica”, explicou Carmita.

A queda na produção de estrógeno também afeta a saúde dos músculos e ossos, e pode levar a alterações cognitivas e menor sensibilidade na pele, entre outras mudanças. “Todos esses aspectos interferem na sexualidade. Músculos flácidos, ossos quebradiços, mucosa da vagina ressecada, cognição comprometida, a sensibilidade da pele diminuída”, disse.

4 – Mudança no tempo de ereção

O homem também sofre com mudanças fisiológicas do envelhecimento. A duração e a rigidez da ereção não serão as mesmas de quando ele era mais jovem. Ao ficar mais velho, ele precisará de mais estímulos para conseguir ter a ereção – se na juventude o pênis ficava ereto ao ver alguém interessante, com o envelhecimento será preciso um estímulo tátil.

“O homem mais velho precisa do contato, do movimento de fricção, da estimulação com a mão ou do contato com o corpo da outra pessoa para conseguir ter a ereção”, explicou Carmita.

Além disso, o tempo que o homem vai conseguir sustentar essa ereção pode ser menor, especialmente naqueles que têm alguma comorbidade – como diabetes, hipertensão, algum problema cardíaco ou doenças sistêmicas.

“Isso não significa, entretanto, que o homem terá mais dificuldade em ter prazer ou em manifestar a sexualidade. São necessárias apenas adaptações ao processo do envelhecimento e, se preciso, tratar essas dificuldades”, acrescentou Oliva.

5 – O volume da ejaculação diminui?

Sim. Outro fator que acompanha o envelhecimento masculino é a diminuição do volume ejaculatório, mas isso não significa que haverá mudança na qualidade do orgasmo.

“A ejaculação é apenas a liberação de substâncias que incluem os espermatozoides e que vão ajudá-los a fecundar um possível óvulo. Com a idade, esse volume diminui”, disse Oliva.

“Mas isso não tem nenhuma relação com a capacidade do homem de sentir prazer e nem com a qualidade do orgasmo. Ele consegue atingir orgasmo mesmo com menor volume de ejaculação”, explicou o geriatra.

6 – Uso de medicações estimulantes sexuais

Existe uma classe de medicações indicada para casos de homens que sofrem com disfunção erétil, para aumentar a ereção ou deixá-la mais efetiva. São medicamentos seguros, mas é necessário haver indicação médica para usá-los porque não podem ser administrados junto com medicações para problemas cardíacos, por exemplo.

“Essas medicações são muito seguras para aqueles indivíduos que têm dificuldade de conseguir a ereção ou de manter essa ereção pelo tempo que consideram adequado até atingir o orgasmo. O problema surge se elas forem usadas indevidamente, por indivíduos que não têm disfunção erétil. Não há comprovação cientifica nem indicação médica para o uso dessa forma”, alertou Oliva. Por isso, antes de ir à farmácia, procure um médico para receber orientação adequada.

7 – Envelhecimento saudável

Manter a sexualidade ativa faz parte do processo de envelhecimento saudável, ao lado de manter o convívio social e ter boa saúde. Mas isso é diferente de ser sexualmente ativo. “A manifestação da sexualidade acontece quando a pessoa está plena, seja com carícias, com toques, com abraços, e não necessariamente precisa haver relação com coito”, disse Oliva.

8 – Uso de preservativo

O uso de preservativo nas relações sexuais é fundamental, inclusive entre os idosos. Segundo Carmita, as pessoas mais velhas são de uma geração que viveu num período em que não existia Aids, então não aprenderam a usar preservativo e, muitas vezes, não consideram necessário. Mas novos casos de HIV e sífilis continuam surgindo no Brasil, inclusive entre os idosos.

“Se o idoso vai para um relacionamento novo e não usa o preservativo, o risco de infecções sexualmente transmissíveis existe, sim. Então, cuidado”, alertou.

9 – Uso de acessórios

Existem várias formas de resgatar a intimidade e o prazer com o avançar da idade – é preciso adaptar-se às novas situações. A manifestação da sexualidade pode ser adaptada, ser prazerosa e ser satisfatória.

Nesse sentido, o uso de acessórios sexuais pode ser uma alternativa, ao lado de lubrificantes, de forma muito individual. “Diferentes pessoas vão envelhecer de formas diferentes. É importante quebrar o tabu relacionado à sexualidade na terceira idade”, defendeu Oliva.

10 – Preconceitos e estigmas

Preconceitos e estigmas podem provocar diversos impactos negativos na vida sexual das pessoas que envelheceram – ainda se tem a ideia de que pessoas mais velhas não fazem sexo ou não devem fazer.

Por conta disso, muitas vezes é difícil abordar o tema e discutir dificuldades que poderiam melhorar com tratamentos, medicações ou terapias, contou Oliva.

“Esse é o primeiro problema do preconceito, mas não é o único. Se não conversamos sobre isso, não conseguimos melhorar esses aspectos. Isso pode trazer insatisfação para a vida pessoal das pessoas mais velhas”, enfatizou o geriatra.

A sexualidade ainda é envolta em tabus, inclusive na terceira idade. Mas ela é um aspecto presente nas diferentes faixas etárias e não se restringe ao ato sexual – envolve a identidade, a orientação da atração sexual, a afetividade, pensamentos e a imaginação. Assim, não importa qual a idade, a sexualidade vai ser sempre parte da vida.

“Se a gente parar para pensar, sexo sempre é um tabu. Parece que ele precisa continuar sendo tabu para continuar sendo interessante e desafiador”, disse a psiquiatra Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Além disso, manter a sexualidade ativa faz parte do processo de envelhecimento saudável – ao lado de manter o convívio social e ter boa saúde – e isso é diferente de ser sexualmente ativo. “A manifestação da sexualidade acontece quando a pessoa está plena, seja com carícias, com toques, com abraços, e não necessariamente precisa haver relação com coito”, afirmou Leonardo Oliva, geriatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

Por isso, é importante entender as mudanças que ocorrem com a idade e como se adaptar a elas para seguir ativo também nesse aspecto da vida. Abaixo, listamos algumas das principais dúvidas e preconceitos que rondam o sexo entre pessoas mais velhas.

Manter a sexualidade ativa faz parte do processo de envelhecimento saudável Foto: Nadia/peopleimages.com/Adobe Stock

1 – Diminuição da frequência é normal?

É verdade que os relacionamentos na juventude costumam ser muito mais intensos e frequentes e, com o envelhecimento, isso vai diminuindo.

Estudos realizados no Brasil apontam que a frequência de relações sexuais de um casal jovem, que vive em união estável, por exemplo, é de duas a três vezes por semana. Quando se trata de um casal que está na faixa dos 60 anos, essa frequência passa a ser semanal e entre aqueles com mais de 70 anos a tendência é de uma relação sexual a cada dez dias ou mais.

“Isso não é impressão. São resultados de pesquisas que fizemos com milhares de brasileiros, de diferentes faixas etárias. A diminuição da frequência das relações sexuais com o avanço da idade é uma realidade”, afirmou Carmita, que também é coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo e integrante do Departamento de Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

A redução, porém, não significa que a atração terminou ou que o casal se distanciou. Na verdade, ela acontece porque quando envelhecemos sentimos uma necessidade menor de fazer uma série de atividades, entre elas o sexo.

2 – O sexo pode melhorar com o envelhecimento?

Apesar de a maneira como os indivíduos manifestam sua sexualidade mudar com o tempo, não significa que ela deixará de existir, tampouco o interesse sexual, o relacionamento com coito ou qualquer outro tipo de intimidade.

“A experiência e o tempo de vida podem tornar a sexualidade mais rica e mais significativa, em que as pessoas precisam lidar menos com pressões relacionadas a desempenho e estão muito mais ligadas à qualidade e satisfação mútuas. Isso torna o sexo melhor”, disse Oliva.

Segundo Carmita, o sexo se torna mais satisfatório com o envelhecimento quando o casal cresce e amadurece junto, com os mesmos propósitos. “Se o tempo só serviu para mostrar as diferenças, então esse sexo numa idade mais avançada não será tão agradável como acontece com casais que se desenvolveram numa mesma direção”, afirmou.

3 – É comum haver dor na penetração?

A menopausa pode impactar na libido e em outros aspectos relacionados à manifestação da sexualidade da mulher porque envolve mudanças hormonais significativas, com a queda dos níveis de estrógeno, principal hormônio sexual feminino. Uma disfunção comum é a dispareunia, que é a dor durante a penetração. Isso acontece, em geral, porque com a queda do estrógeno a vagina não lubrifica mais como antes.

Isso pode ser contornado com a terapia de reposição hormonal (que só deve ser feita sob orientação médica) e com alternativas como uso de cremes tópicos à base de estrógeno, lubrificantes e fisioterapia pélvica, uma medida não medicamentosa.

“Se a mulher fizer terapia de reposição hormonal, ela não sentirá mudanças. Caso contrário, o sexo pode se tornar desconfortável. Não significa que o desejo sexual está comprometido, mas a dor acontece porque a mucosa da vagina está atrófica”, explicou Carmita.

A queda na produção de estrógeno também afeta a saúde dos músculos e ossos, e pode levar a alterações cognitivas e menor sensibilidade na pele, entre outras mudanças. “Todos esses aspectos interferem na sexualidade. Músculos flácidos, ossos quebradiços, mucosa da vagina ressecada, cognição comprometida, a sensibilidade da pele diminuída”, disse.

4 – Mudança no tempo de ereção

O homem também sofre com mudanças fisiológicas do envelhecimento. A duração e a rigidez da ereção não serão as mesmas de quando ele era mais jovem. Ao ficar mais velho, ele precisará de mais estímulos para conseguir ter a ereção – se na juventude o pênis ficava ereto ao ver alguém interessante, com o envelhecimento será preciso um estímulo tátil.

“O homem mais velho precisa do contato, do movimento de fricção, da estimulação com a mão ou do contato com o corpo da outra pessoa para conseguir ter a ereção”, explicou Carmita.

Além disso, o tempo que o homem vai conseguir sustentar essa ereção pode ser menor, especialmente naqueles que têm alguma comorbidade – como diabetes, hipertensão, algum problema cardíaco ou doenças sistêmicas.

“Isso não significa, entretanto, que o homem terá mais dificuldade em ter prazer ou em manifestar a sexualidade. São necessárias apenas adaptações ao processo do envelhecimento e, se preciso, tratar essas dificuldades”, acrescentou Oliva.

5 – O volume da ejaculação diminui?

Sim. Outro fator que acompanha o envelhecimento masculino é a diminuição do volume ejaculatório, mas isso não significa que haverá mudança na qualidade do orgasmo.

“A ejaculação é apenas a liberação de substâncias que incluem os espermatozoides e que vão ajudá-los a fecundar um possível óvulo. Com a idade, esse volume diminui”, disse Oliva.

“Mas isso não tem nenhuma relação com a capacidade do homem de sentir prazer e nem com a qualidade do orgasmo. Ele consegue atingir orgasmo mesmo com menor volume de ejaculação”, explicou o geriatra.

6 – Uso de medicações estimulantes sexuais

Existe uma classe de medicações indicada para casos de homens que sofrem com disfunção erétil, para aumentar a ereção ou deixá-la mais efetiva. São medicamentos seguros, mas é necessário haver indicação médica para usá-los porque não podem ser administrados junto com medicações para problemas cardíacos, por exemplo.

“Essas medicações são muito seguras para aqueles indivíduos que têm dificuldade de conseguir a ereção ou de manter essa ereção pelo tempo que consideram adequado até atingir o orgasmo. O problema surge se elas forem usadas indevidamente, por indivíduos que não têm disfunção erétil. Não há comprovação cientifica nem indicação médica para o uso dessa forma”, alertou Oliva. Por isso, antes de ir à farmácia, procure um médico para receber orientação adequada.

7 – Envelhecimento saudável

Manter a sexualidade ativa faz parte do processo de envelhecimento saudável, ao lado de manter o convívio social e ter boa saúde. Mas isso é diferente de ser sexualmente ativo. “A manifestação da sexualidade acontece quando a pessoa está plena, seja com carícias, com toques, com abraços, e não necessariamente precisa haver relação com coito”, disse Oliva.

8 – Uso de preservativo

O uso de preservativo nas relações sexuais é fundamental, inclusive entre os idosos. Segundo Carmita, as pessoas mais velhas são de uma geração que viveu num período em que não existia Aids, então não aprenderam a usar preservativo e, muitas vezes, não consideram necessário. Mas novos casos de HIV e sífilis continuam surgindo no Brasil, inclusive entre os idosos.

“Se o idoso vai para um relacionamento novo e não usa o preservativo, o risco de infecções sexualmente transmissíveis existe, sim. Então, cuidado”, alertou.

9 – Uso de acessórios

Existem várias formas de resgatar a intimidade e o prazer com o avançar da idade – é preciso adaptar-se às novas situações. A manifestação da sexualidade pode ser adaptada, ser prazerosa e ser satisfatória.

Nesse sentido, o uso de acessórios sexuais pode ser uma alternativa, ao lado de lubrificantes, de forma muito individual. “Diferentes pessoas vão envelhecer de formas diferentes. É importante quebrar o tabu relacionado à sexualidade na terceira idade”, defendeu Oliva.

10 – Preconceitos e estigmas

Preconceitos e estigmas podem provocar diversos impactos negativos na vida sexual das pessoas que envelheceram – ainda se tem a ideia de que pessoas mais velhas não fazem sexo ou não devem fazer.

Por conta disso, muitas vezes é difícil abordar o tema e discutir dificuldades que poderiam melhorar com tratamentos, medicações ou terapias, contou Oliva.

“Esse é o primeiro problema do preconceito, mas não é o único. Se não conversamos sobre isso, não conseguimos melhorar esses aspectos. Isso pode trazer insatisfação para a vida pessoal das pessoas mais velhas”, enfatizou o geriatra.

A sexualidade ainda é envolta em tabus, inclusive na terceira idade. Mas ela é um aspecto presente nas diferentes faixas etárias e não se restringe ao ato sexual – envolve a identidade, a orientação da atração sexual, a afetividade, pensamentos e a imaginação. Assim, não importa qual a idade, a sexualidade vai ser sempre parte da vida.

“Se a gente parar para pensar, sexo sempre é um tabu. Parece que ele precisa continuar sendo tabu para continuar sendo interessante e desafiador”, disse a psiquiatra Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Além disso, manter a sexualidade ativa faz parte do processo de envelhecimento saudável – ao lado de manter o convívio social e ter boa saúde – e isso é diferente de ser sexualmente ativo. “A manifestação da sexualidade acontece quando a pessoa está plena, seja com carícias, com toques, com abraços, e não necessariamente precisa haver relação com coito”, afirmou Leonardo Oliva, geriatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

Por isso, é importante entender as mudanças que ocorrem com a idade e como se adaptar a elas para seguir ativo também nesse aspecto da vida. Abaixo, listamos algumas das principais dúvidas e preconceitos que rondam o sexo entre pessoas mais velhas.

Manter a sexualidade ativa faz parte do processo de envelhecimento saudável Foto: Nadia/peopleimages.com/Adobe Stock

1 – Diminuição da frequência é normal?

É verdade que os relacionamentos na juventude costumam ser muito mais intensos e frequentes e, com o envelhecimento, isso vai diminuindo.

Estudos realizados no Brasil apontam que a frequência de relações sexuais de um casal jovem, que vive em união estável, por exemplo, é de duas a três vezes por semana. Quando se trata de um casal que está na faixa dos 60 anos, essa frequência passa a ser semanal e entre aqueles com mais de 70 anos a tendência é de uma relação sexual a cada dez dias ou mais.

“Isso não é impressão. São resultados de pesquisas que fizemos com milhares de brasileiros, de diferentes faixas etárias. A diminuição da frequência das relações sexuais com o avanço da idade é uma realidade”, afirmou Carmita, que também é coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo e integrante do Departamento de Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

A redução, porém, não significa que a atração terminou ou que o casal se distanciou. Na verdade, ela acontece porque quando envelhecemos sentimos uma necessidade menor de fazer uma série de atividades, entre elas o sexo.

2 – O sexo pode melhorar com o envelhecimento?

Apesar de a maneira como os indivíduos manifestam sua sexualidade mudar com o tempo, não significa que ela deixará de existir, tampouco o interesse sexual, o relacionamento com coito ou qualquer outro tipo de intimidade.

“A experiência e o tempo de vida podem tornar a sexualidade mais rica e mais significativa, em que as pessoas precisam lidar menos com pressões relacionadas a desempenho e estão muito mais ligadas à qualidade e satisfação mútuas. Isso torna o sexo melhor”, disse Oliva.

Segundo Carmita, o sexo se torna mais satisfatório com o envelhecimento quando o casal cresce e amadurece junto, com os mesmos propósitos. “Se o tempo só serviu para mostrar as diferenças, então esse sexo numa idade mais avançada não será tão agradável como acontece com casais que se desenvolveram numa mesma direção”, afirmou.

3 – É comum haver dor na penetração?

A menopausa pode impactar na libido e em outros aspectos relacionados à manifestação da sexualidade da mulher porque envolve mudanças hormonais significativas, com a queda dos níveis de estrógeno, principal hormônio sexual feminino. Uma disfunção comum é a dispareunia, que é a dor durante a penetração. Isso acontece, em geral, porque com a queda do estrógeno a vagina não lubrifica mais como antes.

Isso pode ser contornado com a terapia de reposição hormonal (que só deve ser feita sob orientação médica) e com alternativas como uso de cremes tópicos à base de estrógeno, lubrificantes e fisioterapia pélvica, uma medida não medicamentosa.

“Se a mulher fizer terapia de reposição hormonal, ela não sentirá mudanças. Caso contrário, o sexo pode se tornar desconfortável. Não significa que o desejo sexual está comprometido, mas a dor acontece porque a mucosa da vagina está atrófica”, explicou Carmita.

A queda na produção de estrógeno também afeta a saúde dos músculos e ossos, e pode levar a alterações cognitivas e menor sensibilidade na pele, entre outras mudanças. “Todos esses aspectos interferem na sexualidade. Músculos flácidos, ossos quebradiços, mucosa da vagina ressecada, cognição comprometida, a sensibilidade da pele diminuída”, disse.

4 – Mudança no tempo de ereção

O homem também sofre com mudanças fisiológicas do envelhecimento. A duração e a rigidez da ereção não serão as mesmas de quando ele era mais jovem. Ao ficar mais velho, ele precisará de mais estímulos para conseguir ter a ereção – se na juventude o pênis ficava ereto ao ver alguém interessante, com o envelhecimento será preciso um estímulo tátil.

“O homem mais velho precisa do contato, do movimento de fricção, da estimulação com a mão ou do contato com o corpo da outra pessoa para conseguir ter a ereção”, explicou Carmita.

Além disso, o tempo que o homem vai conseguir sustentar essa ereção pode ser menor, especialmente naqueles que têm alguma comorbidade – como diabetes, hipertensão, algum problema cardíaco ou doenças sistêmicas.

“Isso não significa, entretanto, que o homem terá mais dificuldade em ter prazer ou em manifestar a sexualidade. São necessárias apenas adaptações ao processo do envelhecimento e, se preciso, tratar essas dificuldades”, acrescentou Oliva.

5 – O volume da ejaculação diminui?

Sim. Outro fator que acompanha o envelhecimento masculino é a diminuição do volume ejaculatório, mas isso não significa que haverá mudança na qualidade do orgasmo.

“A ejaculação é apenas a liberação de substâncias que incluem os espermatozoides e que vão ajudá-los a fecundar um possível óvulo. Com a idade, esse volume diminui”, disse Oliva.

“Mas isso não tem nenhuma relação com a capacidade do homem de sentir prazer e nem com a qualidade do orgasmo. Ele consegue atingir orgasmo mesmo com menor volume de ejaculação”, explicou o geriatra.

6 – Uso de medicações estimulantes sexuais

Existe uma classe de medicações indicada para casos de homens que sofrem com disfunção erétil, para aumentar a ereção ou deixá-la mais efetiva. São medicamentos seguros, mas é necessário haver indicação médica para usá-los porque não podem ser administrados junto com medicações para problemas cardíacos, por exemplo.

“Essas medicações são muito seguras para aqueles indivíduos que têm dificuldade de conseguir a ereção ou de manter essa ereção pelo tempo que consideram adequado até atingir o orgasmo. O problema surge se elas forem usadas indevidamente, por indivíduos que não têm disfunção erétil. Não há comprovação cientifica nem indicação médica para o uso dessa forma”, alertou Oliva. Por isso, antes de ir à farmácia, procure um médico para receber orientação adequada.

7 – Envelhecimento saudável

Manter a sexualidade ativa faz parte do processo de envelhecimento saudável, ao lado de manter o convívio social e ter boa saúde. Mas isso é diferente de ser sexualmente ativo. “A manifestação da sexualidade acontece quando a pessoa está plena, seja com carícias, com toques, com abraços, e não necessariamente precisa haver relação com coito”, disse Oliva.

8 – Uso de preservativo

O uso de preservativo nas relações sexuais é fundamental, inclusive entre os idosos. Segundo Carmita, as pessoas mais velhas são de uma geração que viveu num período em que não existia Aids, então não aprenderam a usar preservativo e, muitas vezes, não consideram necessário. Mas novos casos de HIV e sífilis continuam surgindo no Brasil, inclusive entre os idosos.

“Se o idoso vai para um relacionamento novo e não usa o preservativo, o risco de infecções sexualmente transmissíveis existe, sim. Então, cuidado”, alertou.

9 – Uso de acessórios

Existem várias formas de resgatar a intimidade e o prazer com o avançar da idade – é preciso adaptar-se às novas situações. A manifestação da sexualidade pode ser adaptada, ser prazerosa e ser satisfatória.

Nesse sentido, o uso de acessórios sexuais pode ser uma alternativa, ao lado de lubrificantes, de forma muito individual. “Diferentes pessoas vão envelhecer de formas diferentes. É importante quebrar o tabu relacionado à sexualidade na terceira idade”, defendeu Oliva.

10 – Preconceitos e estigmas

Preconceitos e estigmas podem provocar diversos impactos negativos na vida sexual das pessoas que envelheceram – ainda se tem a ideia de que pessoas mais velhas não fazem sexo ou não devem fazer.

Por conta disso, muitas vezes é difícil abordar o tema e discutir dificuldades que poderiam melhorar com tratamentos, medicações ou terapias, contou Oliva.

“Esse é o primeiro problema do preconceito, mas não é o único. Se não conversamos sobre isso, não conseguimos melhorar esses aspectos. Isso pode trazer insatisfação para a vida pessoal das pessoas mais velhas”, enfatizou o geriatra.

A sexualidade ainda é envolta em tabus, inclusive na terceira idade. Mas ela é um aspecto presente nas diferentes faixas etárias e não se restringe ao ato sexual – envolve a identidade, a orientação da atração sexual, a afetividade, pensamentos e a imaginação. Assim, não importa qual a idade, a sexualidade vai ser sempre parte da vida.

“Se a gente parar para pensar, sexo sempre é um tabu. Parece que ele precisa continuar sendo tabu para continuar sendo interessante e desafiador”, disse a psiquiatra Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Além disso, manter a sexualidade ativa faz parte do processo de envelhecimento saudável – ao lado de manter o convívio social e ter boa saúde – e isso é diferente de ser sexualmente ativo. “A manifestação da sexualidade acontece quando a pessoa está plena, seja com carícias, com toques, com abraços, e não necessariamente precisa haver relação com coito”, afirmou Leonardo Oliva, geriatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

Por isso, é importante entender as mudanças que ocorrem com a idade e como se adaptar a elas para seguir ativo também nesse aspecto da vida. Abaixo, listamos algumas das principais dúvidas e preconceitos que rondam o sexo entre pessoas mais velhas.

Manter a sexualidade ativa faz parte do processo de envelhecimento saudável Foto: Nadia/peopleimages.com/Adobe Stock

1 – Diminuição da frequência é normal?

É verdade que os relacionamentos na juventude costumam ser muito mais intensos e frequentes e, com o envelhecimento, isso vai diminuindo.

Estudos realizados no Brasil apontam que a frequência de relações sexuais de um casal jovem, que vive em união estável, por exemplo, é de duas a três vezes por semana. Quando se trata de um casal que está na faixa dos 60 anos, essa frequência passa a ser semanal e entre aqueles com mais de 70 anos a tendência é de uma relação sexual a cada dez dias ou mais.

“Isso não é impressão. São resultados de pesquisas que fizemos com milhares de brasileiros, de diferentes faixas etárias. A diminuição da frequência das relações sexuais com o avanço da idade é uma realidade”, afirmou Carmita, que também é coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo e integrante do Departamento de Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

A redução, porém, não significa que a atração terminou ou que o casal se distanciou. Na verdade, ela acontece porque quando envelhecemos sentimos uma necessidade menor de fazer uma série de atividades, entre elas o sexo.

2 – O sexo pode melhorar com o envelhecimento?

Apesar de a maneira como os indivíduos manifestam sua sexualidade mudar com o tempo, não significa que ela deixará de existir, tampouco o interesse sexual, o relacionamento com coito ou qualquer outro tipo de intimidade.

“A experiência e o tempo de vida podem tornar a sexualidade mais rica e mais significativa, em que as pessoas precisam lidar menos com pressões relacionadas a desempenho e estão muito mais ligadas à qualidade e satisfação mútuas. Isso torna o sexo melhor”, disse Oliva.

Segundo Carmita, o sexo se torna mais satisfatório com o envelhecimento quando o casal cresce e amadurece junto, com os mesmos propósitos. “Se o tempo só serviu para mostrar as diferenças, então esse sexo numa idade mais avançada não será tão agradável como acontece com casais que se desenvolveram numa mesma direção”, afirmou.

3 – É comum haver dor na penetração?

A menopausa pode impactar na libido e em outros aspectos relacionados à manifestação da sexualidade da mulher porque envolve mudanças hormonais significativas, com a queda dos níveis de estrógeno, principal hormônio sexual feminino. Uma disfunção comum é a dispareunia, que é a dor durante a penetração. Isso acontece, em geral, porque com a queda do estrógeno a vagina não lubrifica mais como antes.

Isso pode ser contornado com a terapia de reposição hormonal (que só deve ser feita sob orientação médica) e com alternativas como uso de cremes tópicos à base de estrógeno, lubrificantes e fisioterapia pélvica, uma medida não medicamentosa.

“Se a mulher fizer terapia de reposição hormonal, ela não sentirá mudanças. Caso contrário, o sexo pode se tornar desconfortável. Não significa que o desejo sexual está comprometido, mas a dor acontece porque a mucosa da vagina está atrófica”, explicou Carmita.

A queda na produção de estrógeno também afeta a saúde dos músculos e ossos, e pode levar a alterações cognitivas e menor sensibilidade na pele, entre outras mudanças. “Todos esses aspectos interferem na sexualidade. Músculos flácidos, ossos quebradiços, mucosa da vagina ressecada, cognição comprometida, a sensibilidade da pele diminuída”, disse.

4 – Mudança no tempo de ereção

O homem também sofre com mudanças fisiológicas do envelhecimento. A duração e a rigidez da ereção não serão as mesmas de quando ele era mais jovem. Ao ficar mais velho, ele precisará de mais estímulos para conseguir ter a ereção – se na juventude o pênis ficava ereto ao ver alguém interessante, com o envelhecimento será preciso um estímulo tátil.

“O homem mais velho precisa do contato, do movimento de fricção, da estimulação com a mão ou do contato com o corpo da outra pessoa para conseguir ter a ereção”, explicou Carmita.

Além disso, o tempo que o homem vai conseguir sustentar essa ereção pode ser menor, especialmente naqueles que têm alguma comorbidade – como diabetes, hipertensão, algum problema cardíaco ou doenças sistêmicas.

“Isso não significa, entretanto, que o homem terá mais dificuldade em ter prazer ou em manifestar a sexualidade. São necessárias apenas adaptações ao processo do envelhecimento e, se preciso, tratar essas dificuldades”, acrescentou Oliva.

5 – O volume da ejaculação diminui?

Sim. Outro fator que acompanha o envelhecimento masculino é a diminuição do volume ejaculatório, mas isso não significa que haverá mudança na qualidade do orgasmo.

“A ejaculação é apenas a liberação de substâncias que incluem os espermatozoides e que vão ajudá-los a fecundar um possível óvulo. Com a idade, esse volume diminui”, disse Oliva.

“Mas isso não tem nenhuma relação com a capacidade do homem de sentir prazer e nem com a qualidade do orgasmo. Ele consegue atingir orgasmo mesmo com menor volume de ejaculação”, explicou o geriatra.

6 – Uso de medicações estimulantes sexuais

Existe uma classe de medicações indicada para casos de homens que sofrem com disfunção erétil, para aumentar a ereção ou deixá-la mais efetiva. São medicamentos seguros, mas é necessário haver indicação médica para usá-los porque não podem ser administrados junto com medicações para problemas cardíacos, por exemplo.

“Essas medicações são muito seguras para aqueles indivíduos que têm dificuldade de conseguir a ereção ou de manter essa ereção pelo tempo que consideram adequado até atingir o orgasmo. O problema surge se elas forem usadas indevidamente, por indivíduos que não têm disfunção erétil. Não há comprovação cientifica nem indicação médica para o uso dessa forma”, alertou Oliva. Por isso, antes de ir à farmácia, procure um médico para receber orientação adequada.

7 – Envelhecimento saudável

Manter a sexualidade ativa faz parte do processo de envelhecimento saudável, ao lado de manter o convívio social e ter boa saúde. Mas isso é diferente de ser sexualmente ativo. “A manifestação da sexualidade acontece quando a pessoa está plena, seja com carícias, com toques, com abraços, e não necessariamente precisa haver relação com coito”, disse Oliva.

8 – Uso de preservativo

O uso de preservativo nas relações sexuais é fundamental, inclusive entre os idosos. Segundo Carmita, as pessoas mais velhas são de uma geração que viveu num período em que não existia Aids, então não aprenderam a usar preservativo e, muitas vezes, não consideram necessário. Mas novos casos de HIV e sífilis continuam surgindo no Brasil, inclusive entre os idosos.

“Se o idoso vai para um relacionamento novo e não usa o preservativo, o risco de infecções sexualmente transmissíveis existe, sim. Então, cuidado”, alertou.

9 – Uso de acessórios

Existem várias formas de resgatar a intimidade e o prazer com o avançar da idade – é preciso adaptar-se às novas situações. A manifestação da sexualidade pode ser adaptada, ser prazerosa e ser satisfatória.

Nesse sentido, o uso de acessórios sexuais pode ser uma alternativa, ao lado de lubrificantes, de forma muito individual. “Diferentes pessoas vão envelhecer de formas diferentes. É importante quebrar o tabu relacionado à sexualidade na terceira idade”, defendeu Oliva.

10 – Preconceitos e estigmas

Preconceitos e estigmas podem provocar diversos impactos negativos na vida sexual das pessoas que envelheceram – ainda se tem a ideia de que pessoas mais velhas não fazem sexo ou não devem fazer.

Por conta disso, muitas vezes é difícil abordar o tema e discutir dificuldades que poderiam melhorar com tratamentos, medicações ou terapias, contou Oliva.

“Esse é o primeiro problema do preconceito, mas não é o único. Se não conversamos sobre isso, não conseguimos melhorar esses aspectos. Isso pode trazer insatisfação para a vida pessoal das pessoas mais velhas”, enfatizou o geriatra.

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