É tempo de caju: conheça (de verdade) esse fruto


Se você faz parte da turma que não sabe muito sobre esse ingrediente brasileiríssimo, vale aproveitar a sazonalidade para encher o cardápio de sabor e substâncias protetoras

Por Regina Célia Pereira

Além de desfilar sua beleza nas bancadas de feiras, hortifrútis e supermercados, já que é temporada, ultimamente o caju está bombando nas redes sociais. Tornou-se celebridade depois de surgir pendurado numa amoreira, de ponta-cabeça, em um comercial de cosméticos.

Não é de hoje, entretanto, que está envolvido em confusão. Até mesmo o poeta Vinícius de Moraes (1913-1980), em seu Soneto ao Caju comentou um dos mais recorrentes enganos: “O único fruto – não fruta – brasileiro” .

É que, afora botânicos, agrônomos e outros experts, pouca gente sabe que aquela estrutura de casca brilhosa, avermelhada, com polpa doce, refrescante, perfumada e que “amarra” a boca, chama-se pedúnculo e é definida como pseudofruto. “O verdadeiro fruto do cajueiro é a castanha, diz a nutricionista Andréa Esquivel, presidente da Associação Paulista de Fitoterapia (APFIT).

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Existem diversos tipos de cajueiro pelo Brasil  Foto: saiko3p/Adobe Stock

É do Brasil

Detalhes anatômicos à parte, o fato é que o alimento merece ser reconhecido integralmente. “Precisamos valorizar o que é nosso, muitas vezes buscamos o que vem de fora e nem conhecemos a riqueza da biodiversidade brasileira”, comenta a nutricionista Maísa Mota Antunes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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Existem dezenas de espécies de cajueiros originários da Caatinga, do Cerrado e da Amazônia e o mais popular é o de nome científico Anacardium occidental. Alguns apresentam um tronco tortuoso e inclinado, com ramos que alcançam facilmente o solo e se esparramam em novos troncos, estendendo-se por áreas enormes. Há exemplares assim nos estados do Piauí e do Rio Grande do Norte e que ultrapassam inacreditáveis 8 mil metros quadrados. Transformarem-se em atrações turísticas.

“Do nordeste também vem uma receita que ficou ainda mais famosa ao se tornar uma belíssima canção de Caetano Veloso, a cajuína”, conta a professora. A bebida cristalina, inclusive, é Patrimônio Cultural Brasileiro, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Para prepará-la, o primeiro ingrediente é a paciência, já que requer cocção da polpa e filtragem para a retirada dos taninos – os responsáveis por trancar a boca. O trabalho compensa porque resulta em um líquido dourado, saboroso e sem nenhum tipo de aditivo.

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Andréa menciona outro preparado nordestino, o mel de caju que, como o nome indica, é um tipo de xarope bem doce, usado para incrementar tapiocas, bolos e muitas gostosuras.

Mix de nutrientes

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Para a nutricionista Vanderlí Marchiori, conselheira da Associação Brasileira de Fitoterapia (ABFIT), o consumo do pseudofruto in natura é uma excelente maneira de incorporar diversos nutrientes ao cardápio. “Cerca de 10% da polpa é uma mistura de fibras solúveis e insolúveis”, afirma. Inclusive o tipo solúvel tem sido associado, em estudos, à proteção cardiovascular.

Aquela-que-não-é-fruta esbanja vitamina C. “Por isso, quando for degustar em forma de suco, a dica é beber imediatamente após o preparo para assegurar ao máximo essa substância”, ensina Vanderlí.

Além da festejada vitamina, a polpa concentra outros antioxidantes, caso dos carotenoides e dos compostos fenólicos, numa mistura perfeita para fortalecer o sistema imune e resguardar a pele e os cabelos.

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Também chamada carne de caju tem feito bonito em pratos veganos. “Oferece nutrientes e confere textura em receitas como a moqueca”, elogia Maisa.

Ainda na tendência “plant based”, o bagaço, resultante da extração do sumo, e que era descartado pela indústria até pouco tempo, agora pode ser transformado em produtos que imitam hambúrgueres, por exemplo.

Aliás, a castanha é mais uma que tem se destacado nesse novo mercado, já que tem sido utilizada em bebidas vegetais análogas ao leite. “As empresas costumam incluir minerais como o cálcio e outros nutrientes nessas formulações, daí a importância de comparar os rótulos”, sugere a professora.

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Fruto legítimo

A verdadeira fruta, ou seja, aquela noz que fica na parte de baixo – e não no topo – do vegetal, é rica em uma classe de gorduras benéficas, as mono e as poli-insaturadas e oferta vitamina E, num combo que protege as artérias. Para completar o time de aliados do coração, há os fitosterois, substâncias que ajudam a equilibrar os níveis de colesterol na circulação sanguínea.

Vanderli acrescenta à lista o zinco, mineral indispensável para a produção de hormônios. E não acabou. Vale destacar um aminoácido – pedacinho de proteína – chamado arginina. “Auxilia na recuperação muscular, daí ser bem-vindo ao cardápio de praticantes de atividade física”, diz a nutricionista que também é da Associação Brasileira de Nutrição Esportiva.

A castanha é o verdadeiro fruto do caju. Ela concentra uma série de nutrientes bem-vindos à saúde Foto: Victoria/Adobe Stock

Muito apreciada como petisco, a castanha enriquece as mais diversas sobremesas, biscoitos e pratos salgados, caso de risotos e farofas. Ela aparece ainda como acompanhamento de pescados, carnes, aves e o que mais a imaginação do cozinheiro criar.

“Mas, antes de tudo, precisa passar por um processo térmico, de torra ou de fervura, para a exclusão de compostos tóxicos”, diz Andrea. Só depois é que vai estar prontinha para o consumo.

“Existe uma classificação internacional para essas amêndoas extraídas do caju”, revela. Há desde as maiores e mais claras até as quebradinhas, chamadas de xerém, passando por grânulos e até farinhas.

Uma preciosidade é o maturi, que é a castanha ainda verde, processada de modo artesanal em poucos locais no nordeste, e estrela em um prato que junta camarões, tomates, cebolas e coentro.

São inúmeras qualidades atreladas ao caju e que costumam se acentuar agora, quando o vegetal está em plena temporada. “O alimento da safra tende a ser ainda mais saboroso, nutritivo e barato”, elogia Maisa. Não tem mais desculpa, portanto, para não conhecer essa delícia.

Além de desfilar sua beleza nas bancadas de feiras, hortifrútis e supermercados, já que é temporada, ultimamente o caju está bombando nas redes sociais. Tornou-se celebridade depois de surgir pendurado numa amoreira, de ponta-cabeça, em um comercial de cosméticos.

Não é de hoje, entretanto, que está envolvido em confusão. Até mesmo o poeta Vinícius de Moraes (1913-1980), em seu Soneto ao Caju comentou um dos mais recorrentes enganos: “O único fruto – não fruta – brasileiro” .

É que, afora botânicos, agrônomos e outros experts, pouca gente sabe que aquela estrutura de casca brilhosa, avermelhada, com polpa doce, refrescante, perfumada e que “amarra” a boca, chama-se pedúnculo e é definida como pseudofruto. “O verdadeiro fruto do cajueiro é a castanha, diz a nutricionista Andréa Esquivel, presidente da Associação Paulista de Fitoterapia (APFIT).

Existem diversos tipos de cajueiro pelo Brasil  Foto: saiko3p/Adobe Stock

É do Brasil

Detalhes anatômicos à parte, o fato é que o alimento merece ser reconhecido integralmente. “Precisamos valorizar o que é nosso, muitas vezes buscamos o que vem de fora e nem conhecemos a riqueza da biodiversidade brasileira”, comenta a nutricionista Maísa Mota Antunes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Existem dezenas de espécies de cajueiros originários da Caatinga, do Cerrado e da Amazônia e o mais popular é o de nome científico Anacardium occidental. Alguns apresentam um tronco tortuoso e inclinado, com ramos que alcançam facilmente o solo e se esparramam em novos troncos, estendendo-se por áreas enormes. Há exemplares assim nos estados do Piauí e do Rio Grande do Norte e que ultrapassam inacreditáveis 8 mil metros quadrados. Transformarem-se em atrações turísticas.

“Do nordeste também vem uma receita que ficou ainda mais famosa ao se tornar uma belíssima canção de Caetano Veloso, a cajuína”, conta a professora. A bebida cristalina, inclusive, é Patrimônio Cultural Brasileiro, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Para prepará-la, o primeiro ingrediente é a paciência, já que requer cocção da polpa e filtragem para a retirada dos taninos – os responsáveis por trancar a boca. O trabalho compensa porque resulta em um líquido dourado, saboroso e sem nenhum tipo de aditivo.

Andréa menciona outro preparado nordestino, o mel de caju que, como o nome indica, é um tipo de xarope bem doce, usado para incrementar tapiocas, bolos e muitas gostosuras.

Mix de nutrientes

Para a nutricionista Vanderlí Marchiori, conselheira da Associação Brasileira de Fitoterapia (ABFIT), o consumo do pseudofruto in natura é uma excelente maneira de incorporar diversos nutrientes ao cardápio. “Cerca de 10% da polpa é uma mistura de fibras solúveis e insolúveis”, afirma. Inclusive o tipo solúvel tem sido associado, em estudos, à proteção cardiovascular.

Aquela-que-não-é-fruta esbanja vitamina C. “Por isso, quando for degustar em forma de suco, a dica é beber imediatamente após o preparo para assegurar ao máximo essa substância”, ensina Vanderlí.

Além da festejada vitamina, a polpa concentra outros antioxidantes, caso dos carotenoides e dos compostos fenólicos, numa mistura perfeita para fortalecer o sistema imune e resguardar a pele e os cabelos.

Também chamada carne de caju tem feito bonito em pratos veganos. “Oferece nutrientes e confere textura em receitas como a moqueca”, elogia Maisa.

Ainda na tendência “plant based”, o bagaço, resultante da extração do sumo, e que era descartado pela indústria até pouco tempo, agora pode ser transformado em produtos que imitam hambúrgueres, por exemplo.

Aliás, a castanha é mais uma que tem se destacado nesse novo mercado, já que tem sido utilizada em bebidas vegetais análogas ao leite. “As empresas costumam incluir minerais como o cálcio e outros nutrientes nessas formulações, daí a importância de comparar os rótulos”, sugere a professora.

Fruto legítimo

A verdadeira fruta, ou seja, aquela noz que fica na parte de baixo – e não no topo – do vegetal, é rica em uma classe de gorduras benéficas, as mono e as poli-insaturadas e oferta vitamina E, num combo que protege as artérias. Para completar o time de aliados do coração, há os fitosterois, substâncias que ajudam a equilibrar os níveis de colesterol na circulação sanguínea.

Vanderli acrescenta à lista o zinco, mineral indispensável para a produção de hormônios. E não acabou. Vale destacar um aminoácido – pedacinho de proteína – chamado arginina. “Auxilia na recuperação muscular, daí ser bem-vindo ao cardápio de praticantes de atividade física”, diz a nutricionista que também é da Associação Brasileira de Nutrição Esportiva.

A castanha é o verdadeiro fruto do caju. Ela concentra uma série de nutrientes bem-vindos à saúde Foto: Victoria/Adobe Stock

Muito apreciada como petisco, a castanha enriquece as mais diversas sobremesas, biscoitos e pratos salgados, caso de risotos e farofas. Ela aparece ainda como acompanhamento de pescados, carnes, aves e o que mais a imaginação do cozinheiro criar.

“Mas, antes de tudo, precisa passar por um processo térmico, de torra ou de fervura, para a exclusão de compostos tóxicos”, diz Andrea. Só depois é que vai estar prontinha para o consumo.

“Existe uma classificação internacional para essas amêndoas extraídas do caju”, revela. Há desde as maiores e mais claras até as quebradinhas, chamadas de xerém, passando por grânulos e até farinhas.

Uma preciosidade é o maturi, que é a castanha ainda verde, processada de modo artesanal em poucos locais no nordeste, e estrela em um prato que junta camarões, tomates, cebolas e coentro.

São inúmeras qualidades atreladas ao caju e que costumam se acentuar agora, quando o vegetal está em plena temporada. “O alimento da safra tende a ser ainda mais saboroso, nutritivo e barato”, elogia Maisa. Não tem mais desculpa, portanto, para não conhecer essa delícia.

Além de desfilar sua beleza nas bancadas de feiras, hortifrútis e supermercados, já que é temporada, ultimamente o caju está bombando nas redes sociais. Tornou-se celebridade depois de surgir pendurado numa amoreira, de ponta-cabeça, em um comercial de cosméticos.

Não é de hoje, entretanto, que está envolvido em confusão. Até mesmo o poeta Vinícius de Moraes (1913-1980), em seu Soneto ao Caju comentou um dos mais recorrentes enganos: “O único fruto – não fruta – brasileiro” .

É que, afora botânicos, agrônomos e outros experts, pouca gente sabe que aquela estrutura de casca brilhosa, avermelhada, com polpa doce, refrescante, perfumada e que “amarra” a boca, chama-se pedúnculo e é definida como pseudofruto. “O verdadeiro fruto do cajueiro é a castanha, diz a nutricionista Andréa Esquivel, presidente da Associação Paulista de Fitoterapia (APFIT).

Existem diversos tipos de cajueiro pelo Brasil  Foto: saiko3p/Adobe Stock

É do Brasil

Detalhes anatômicos à parte, o fato é que o alimento merece ser reconhecido integralmente. “Precisamos valorizar o que é nosso, muitas vezes buscamos o que vem de fora e nem conhecemos a riqueza da biodiversidade brasileira”, comenta a nutricionista Maísa Mota Antunes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Existem dezenas de espécies de cajueiros originários da Caatinga, do Cerrado e da Amazônia e o mais popular é o de nome científico Anacardium occidental. Alguns apresentam um tronco tortuoso e inclinado, com ramos que alcançam facilmente o solo e se esparramam em novos troncos, estendendo-se por áreas enormes. Há exemplares assim nos estados do Piauí e do Rio Grande do Norte e que ultrapassam inacreditáveis 8 mil metros quadrados. Transformarem-se em atrações turísticas.

“Do nordeste também vem uma receita que ficou ainda mais famosa ao se tornar uma belíssima canção de Caetano Veloso, a cajuína”, conta a professora. A bebida cristalina, inclusive, é Patrimônio Cultural Brasileiro, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Para prepará-la, o primeiro ingrediente é a paciência, já que requer cocção da polpa e filtragem para a retirada dos taninos – os responsáveis por trancar a boca. O trabalho compensa porque resulta em um líquido dourado, saboroso e sem nenhum tipo de aditivo.

Andréa menciona outro preparado nordestino, o mel de caju que, como o nome indica, é um tipo de xarope bem doce, usado para incrementar tapiocas, bolos e muitas gostosuras.

Mix de nutrientes

Para a nutricionista Vanderlí Marchiori, conselheira da Associação Brasileira de Fitoterapia (ABFIT), o consumo do pseudofruto in natura é uma excelente maneira de incorporar diversos nutrientes ao cardápio. “Cerca de 10% da polpa é uma mistura de fibras solúveis e insolúveis”, afirma. Inclusive o tipo solúvel tem sido associado, em estudos, à proteção cardiovascular.

Aquela-que-não-é-fruta esbanja vitamina C. “Por isso, quando for degustar em forma de suco, a dica é beber imediatamente após o preparo para assegurar ao máximo essa substância”, ensina Vanderlí.

Além da festejada vitamina, a polpa concentra outros antioxidantes, caso dos carotenoides e dos compostos fenólicos, numa mistura perfeita para fortalecer o sistema imune e resguardar a pele e os cabelos.

Também chamada carne de caju tem feito bonito em pratos veganos. “Oferece nutrientes e confere textura em receitas como a moqueca”, elogia Maisa.

Ainda na tendência “plant based”, o bagaço, resultante da extração do sumo, e que era descartado pela indústria até pouco tempo, agora pode ser transformado em produtos que imitam hambúrgueres, por exemplo.

Aliás, a castanha é mais uma que tem se destacado nesse novo mercado, já que tem sido utilizada em bebidas vegetais análogas ao leite. “As empresas costumam incluir minerais como o cálcio e outros nutrientes nessas formulações, daí a importância de comparar os rótulos”, sugere a professora.

Fruto legítimo

A verdadeira fruta, ou seja, aquela noz que fica na parte de baixo – e não no topo – do vegetal, é rica em uma classe de gorduras benéficas, as mono e as poli-insaturadas e oferta vitamina E, num combo que protege as artérias. Para completar o time de aliados do coração, há os fitosterois, substâncias que ajudam a equilibrar os níveis de colesterol na circulação sanguínea.

Vanderli acrescenta à lista o zinco, mineral indispensável para a produção de hormônios. E não acabou. Vale destacar um aminoácido – pedacinho de proteína – chamado arginina. “Auxilia na recuperação muscular, daí ser bem-vindo ao cardápio de praticantes de atividade física”, diz a nutricionista que também é da Associação Brasileira de Nutrição Esportiva.

A castanha é o verdadeiro fruto do caju. Ela concentra uma série de nutrientes bem-vindos à saúde Foto: Victoria/Adobe Stock

Muito apreciada como petisco, a castanha enriquece as mais diversas sobremesas, biscoitos e pratos salgados, caso de risotos e farofas. Ela aparece ainda como acompanhamento de pescados, carnes, aves e o que mais a imaginação do cozinheiro criar.

“Mas, antes de tudo, precisa passar por um processo térmico, de torra ou de fervura, para a exclusão de compostos tóxicos”, diz Andrea. Só depois é que vai estar prontinha para o consumo.

“Existe uma classificação internacional para essas amêndoas extraídas do caju”, revela. Há desde as maiores e mais claras até as quebradinhas, chamadas de xerém, passando por grânulos e até farinhas.

Uma preciosidade é o maturi, que é a castanha ainda verde, processada de modo artesanal em poucos locais no nordeste, e estrela em um prato que junta camarões, tomates, cebolas e coentro.

São inúmeras qualidades atreladas ao caju e que costumam se acentuar agora, quando o vegetal está em plena temporada. “O alimento da safra tende a ser ainda mais saboroso, nutritivo e barato”, elogia Maisa. Não tem mais desculpa, portanto, para não conhecer essa delícia.

Além de desfilar sua beleza nas bancadas de feiras, hortifrútis e supermercados, já que é temporada, ultimamente o caju está bombando nas redes sociais. Tornou-se celebridade depois de surgir pendurado numa amoreira, de ponta-cabeça, em um comercial de cosméticos.

Não é de hoje, entretanto, que está envolvido em confusão. Até mesmo o poeta Vinícius de Moraes (1913-1980), em seu Soneto ao Caju comentou um dos mais recorrentes enganos: “O único fruto – não fruta – brasileiro” .

É que, afora botânicos, agrônomos e outros experts, pouca gente sabe que aquela estrutura de casca brilhosa, avermelhada, com polpa doce, refrescante, perfumada e que “amarra” a boca, chama-se pedúnculo e é definida como pseudofruto. “O verdadeiro fruto do cajueiro é a castanha, diz a nutricionista Andréa Esquivel, presidente da Associação Paulista de Fitoterapia (APFIT).

Existem diversos tipos de cajueiro pelo Brasil  Foto: saiko3p/Adobe Stock

É do Brasil

Detalhes anatômicos à parte, o fato é que o alimento merece ser reconhecido integralmente. “Precisamos valorizar o que é nosso, muitas vezes buscamos o que vem de fora e nem conhecemos a riqueza da biodiversidade brasileira”, comenta a nutricionista Maísa Mota Antunes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Existem dezenas de espécies de cajueiros originários da Caatinga, do Cerrado e da Amazônia e o mais popular é o de nome científico Anacardium occidental. Alguns apresentam um tronco tortuoso e inclinado, com ramos que alcançam facilmente o solo e se esparramam em novos troncos, estendendo-se por áreas enormes. Há exemplares assim nos estados do Piauí e do Rio Grande do Norte e que ultrapassam inacreditáveis 8 mil metros quadrados. Transformarem-se em atrações turísticas.

“Do nordeste também vem uma receita que ficou ainda mais famosa ao se tornar uma belíssima canção de Caetano Veloso, a cajuína”, conta a professora. A bebida cristalina, inclusive, é Patrimônio Cultural Brasileiro, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Para prepará-la, o primeiro ingrediente é a paciência, já que requer cocção da polpa e filtragem para a retirada dos taninos – os responsáveis por trancar a boca. O trabalho compensa porque resulta em um líquido dourado, saboroso e sem nenhum tipo de aditivo.

Andréa menciona outro preparado nordestino, o mel de caju que, como o nome indica, é um tipo de xarope bem doce, usado para incrementar tapiocas, bolos e muitas gostosuras.

Mix de nutrientes

Para a nutricionista Vanderlí Marchiori, conselheira da Associação Brasileira de Fitoterapia (ABFIT), o consumo do pseudofruto in natura é uma excelente maneira de incorporar diversos nutrientes ao cardápio. “Cerca de 10% da polpa é uma mistura de fibras solúveis e insolúveis”, afirma. Inclusive o tipo solúvel tem sido associado, em estudos, à proteção cardiovascular.

Aquela-que-não-é-fruta esbanja vitamina C. “Por isso, quando for degustar em forma de suco, a dica é beber imediatamente após o preparo para assegurar ao máximo essa substância”, ensina Vanderlí.

Além da festejada vitamina, a polpa concentra outros antioxidantes, caso dos carotenoides e dos compostos fenólicos, numa mistura perfeita para fortalecer o sistema imune e resguardar a pele e os cabelos.

Também chamada carne de caju tem feito bonito em pratos veganos. “Oferece nutrientes e confere textura em receitas como a moqueca”, elogia Maisa.

Ainda na tendência “plant based”, o bagaço, resultante da extração do sumo, e que era descartado pela indústria até pouco tempo, agora pode ser transformado em produtos que imitam hambúrgueres, por exemplo.

Aliás, a castanha é mais uma que tem se destacado nesse novo mercado, já que tem sido utilizada em bebidas vegetais análogas ao leite. “As empresas costumam incluir minerais como o cálcio e outros nutrientes nessas formulações, daí a importância de comparar os rótulos”, sugere a professora.

Fruto legítimo

A verdadeira fruta, ou seja, aquela noz que fica na parte de baixo – e não no topo – do vegetal, é rica em uma classe de gorduras benéficas, as mono e as poli-insaturadas e oferta vitamina E, num combo que protege as artérias. Para completar o time de aliados do coração, há os fitosterois, substâncias que ajudam a equilibrar os níveis de colesterol na circulação sanguínea.

Vanderli acrescenta à lista o zinco, mineral indispensável para a produção de hormônios. E não acabou. Vale destacar um aminoácido – pedacinho de proteína – chamado arginina. “Auxilia na recuperação muscular, daí ser bem-vindo ao cardápio de praticantes de atividade física”, diz a nutricionista que também é da Associação Brasileira de Nutrição Esportiva.

A castanha é o verdadeiro fruto do caju. Ela concentra uma série de nutrientes bem-vindos à saúde Foto: Victoria/Adobe Stock

Muito apreciada como petisco, a castanha enriquece as mais diversas sobremesas, biscoitos e pratos salgados, caso de risotos e farofas. Ela aparece ainda como acompanhamento de pescados, carnes, aves e o que mais a imaginação do cozinheiro criar.

“Mas, antes de tudo, precisa passar por um processo térmico, de torra ou de fervura, para a exclusão de compostos tóxicos”, diz Andrea. Só depois é que vai estar prontinha para o consumo.

“Existe uma classificação internacional para essas amêndoas extraídas do caju”, revela. Há desde as maiores e mais claras até as quebradinhas, chamadas de xerém, passando por grânulos e até farinhas.

Uma preciosidade é o maturi, que é a castanha ainda verde, processada de modo artesanal em poucos locais no nordeste, e estrela em um prato que junta camarões, tomates, cebolas e coentro.

São inúmeras qualidades atreladas ao caju e que costumam se acentuar agora, quando o vegetal está em plena temporada. “O alimento da safra tende a ser ainda mais saboroso, nutritivo e barato”, elogia Maisa. Não tem mais desculpa, portanto, para não conhecer essa delícia.

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