Empatia se ensina e faz bem à saúde


Cursos de Medicina promovem escuta e fala cuidadosas para qualificar o atendimento

Por Redação
Atualização:

Enquanto o paciente espera ser ouvido e tocado, o médico preenche o prontuário, pede exames, fala pouco. Situações de falta de empatia e de dificuldade de comunicação estão entre as principais queixas dos pacientes, seja em hospitais ou consultórios. E também despertam a atenção da comunidade médica, que vem criando soluções para reduzir essa distância e sugerindo adaptações no ensino da profissão. 

Mãos dadas. Unidade de Saúde Básica (UBS) no bairro Costa e Silva, em Porto Alegre (RS) Foto: Mayara Floss/Divulgação

“Empatia e comunicação são fundamentais na formação dos médicos”, acredita o urologista Fábio Leme Ortega, que participou do painel sobre o tema no Estadão Summit Saúde 2019. “No Brasil, formamos bons profissionais em algumas faculdades, mas acredito que não há foco específico nessas áreas, até porque é muito difícil ensinar empatia.” 

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Ortega explica que, cada vez mais, os novos profissionais aprendem a entender o diagnóstico, mas não a pessoa, que não quer ser tratada como um número ou um prontuário. Para ele, um dos caminhos é trabalhar o que chama de “currículo oculto” dos cursos de Medicina: o aprendizado das boas práticas médicas, por observação. Significa dizer que o estudante replica o que aprende com seus professores e mentores, que o mostram como lidar com um paciente. 

A tecnologia pode desempenhar um papel importante nesse cenário, como mostra o Canal Doutor Ajuda, um dos exemplos apresentados no Summit. Presente nas redes sociais, a <IP>plataforma dissemina informações de saúde pública e tira dúvidas. A aproximação com o público é feita usando linguagem cotidiana e acessível, como conta Ortega, um dos criadores do Doutor Ajuda. 

Navegar pela doença

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“Não dá para apagar o ‘dr. Google’, ferramenta que as pessoas usam para se informar e chegar à consulta mais bem preparadas”, diz Orestes Pullin, presidente da Unimed Brasil, que também esteve no evento. “Mas, muitas vezes, o paciente chega ao consultório com informações erradas e é neste momento que o médico precisa entender seu papel: ele não está em posição de afrontar o paciente, mas ao lado dele.” Pullin acredita que o médico precisa olhar para o paciente, conversar com ele e modificar sua forma de trabalhar.

A médica Graziela Moreto, que escreveu uma tese de doutorado sobre empatia na Medicina, crê que a formação de novos profissionais em saúde precisa corrigir a “erosão da empatia” identificada durante a fase de residência médica. “Quando o aluno é exposto à dor e ao sofrimento, isso cria emoções que, quando não trabalhadas pelo professor, podem levar ao distanciamento do paciente. Esse comportamento acaba se perpetuando durante a vida profissional”, argumenta.

Para o diretor do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da USP, Paulo Andrade Lotufo, a empatia pode ser ensinada no formato narrativo e, principalmente, nas discussões sobre as condutas médicas. “O tema é pouco mencionado, não somente entre estudantes de Medicina, mas no ensino em geral”, critica. 

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Segundo Lotufo, o desafio é quebrar a mentalidade ensinada a profissionais durante a formação, que faz os universitários pensarem e agirem como se estivessem “do lado oposto do balcão”. “Ou seja, como ver o mundo sob a ótica do próximo, do outro e, não somente a sua, como indivíduo ou corporação.” A comunicação empática é capaz de complementar e aperfeiçoar um diagnóstico. 

Vera Valente, diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) Foto: Felipe Rau/Estadão

Três perguntas para Vera Valente

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Diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Vera fez parte do painel que encerrou o Summit Saúde 2019, sobre os modelos de remuneração de prestadores de serviço.

1. Quais os desafios da saúde na era digital?

Falando em tecnologia de forma mais ampla, por um lado há muitas tecnologias que podem ajudar no acesso e na redução de custos. Mas é importante colocar telemedicina e inteligência artificial no contexto da saúde. Não tem nada que você possa usar em todas as situações. O foco sempre deve ser em melhorar a atenção ao paciente: as possibilidades de inovação são infinitas, mas os recursos são finitos.

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2. Como o Brasil deve enfrentá-los?

Saúde no Brasil é um desafio enorme. Você tem uma parcela de pessoas na saúde suplementar e uma parcela grande dependente do Sistema Único de Saúde. Esses dois sistemas têm de coexistir. O SUS tem um problema sério de subfinanciamento e é importante que quem possa estar no sistema privado de saúde, esteja. É muito bom que as pessoas vivam mais, mas há um preço. É preciso discutir o que precisa ou deve ser feito.

3. O que levou do evento?

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Participei do painel “Medicina baseada em valor: como avançar nos novos modelos de remuneração”. Hoje, o sistema funciona assim: o médico faz uma consulta, cobra; faz um exame, cobra; faz uma internação, cobra. Não há controle nenhum da qualidade do serviço prestado e nem se sabe se tudo que foi feito era realmente necessário. O modelo fee-for-service (pagamento pelo serviço) é algo perverso: quanto mais se usa, mais se ganha. Embora inicial, o debate ganha fôlego no mundo todo e o Estadão Summit Saúde 2019 trouxe discussões de altíssimo nível

Enquanto o paciente espera ser ouvido e tocado, o médico preenche o prontuário, pede exames, fala pouco. Situações de falta de empatia e de dificuldade de comunicação estão entre as principais queixas dos pacientes, seja em hospitais ou consultórios. E também despertam a atenção da comunidade médica, que vem criando soluções para reduzir essa distância e sugerindo adaptações no ensino da profissão. 

Mãos dadas. Unidade de Saúde Básica (UBS) no bairro Costa e Silva, em Porto Alegre (RS) Foto: Mayara Floss/Divulgação

“Empatia e comunicação são fundamentais na formação dos médicos”, acredita o urologista Fábio Leme Ortega, que participou do painel sobre o tema no Estadão Summit Saúde 2019. “No Brasil, formamos bons profissionais em algumas faculdades, mas acredito que não há foco específico nessas áreas, até porque é muito difícil ensinar empatia.” 

Ortega explica que, cada vez mais, os novos profissionais aprendem a entender o diagnóstico, mas não a pessoa, que não quer ser tratada como um número ou um prontuário. Para ele, um dos caminhos é trabalhar o que chama de “currículo oculto” dos cursos de Medicina: o aprendizado das boas práticas médicas, por observação. Significa dizer que o estudante replica o que aprende com seus professores e mentores, que o mostram como lidar com um paciente. 

A tecnologia pode desempenhar um papel importante nesse cenário, como mostra o Canal Doutor Ajuda, um dos exemplos apresentados no Summit. Presente nas redes sociais, a <IP>plataforma dissemina informações de saúde pública e tira dúvidas. A aproximação com o público é feita usando linguagem cotidiana e acessível, como conta Ortega, um dos criadores do Doutor Ajuda. 

Navegar pela doença

“Não dá para apagar o ‘dr. Google’, ferramenta que as pessoas usam para se informar e chegar à consulta mais bem preparadas”, diz Orestes Pullin, presidente da Unimed Brasil, que também esteve no evento. “Mas, muitas vezes, o paciente chega ao consultório com informações erradas e é neste momento que o médico precisa entender seu papel: ele não está em posição de afrontar o paciente, mas ao lado dele.” Pullin acredita que o médico precisa olhar para o paciente, conversar com ele e modificar sua forma de trabalhar.

A médica Graziela Moreto, que escreveu uma tese de doutorado sobre empatia na Medicina, crê que a formação de novos profissionais em saúde precisa corrigir a “erosão da empatia” identificada durante a fase de residência médica. “Quando o aluno é exposto à dor e ao sofrimento, isso cria emoções que, quando não trabalhadas pelo professor, podem levar ao distanciamento do paciente. Esse comportamento acaba se perpetuando durante a vida profissional”, argumenta.

Para o diretor do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da USP, Paulo Andrade Lotufo, a empatia pode ser ensinada no formato narrativo e, principalmente, nas discussões sobre as condutas médicas. “O tema é pouco mencionado, não somente entre estudantes de Medicina, mas no ensino em geral”, critica. 

Segundo Lotufo, o desafio é quebrar a mentalidade ensinada a profissionais durante a formação, que faz os universitários pensarem e agirem como se estivessem “do lado oposto do balcão”. “Ou seja, como ver o mundo sob a ótica do próximo, do outro e, não somente a sua, como indivíduo ou corporação.” A comunicação empática é capaz de complementar e aperfeiçoar um diagnóstico. 

Vera Valente, diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) Foto: Felipe Rau/Estadão

Três perguntas para Vera Valente

Diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Vera fez parte do painel que encerrou o Summit Saúde 2019, sobre os modelos de remuneração de prestadores de serviço.

1. Quais os desafios da saúde na era digital?

Falando em tecnologia de forma mais ampla, por um lado há muitas tecnologias que podem ajudar no acesso e na redução de custos. Mas é importante colocar telemedicina e inteligência artificial no contexto da saúde. Não tem nada que você possa usar em todas as situações. O foco sempre deve ser em melhorar a atenção ao paciente: as possibilidades de inovação são infinitas, mas os recursos são finitos.

2. Como o Brasil deve enfrentá-los?

Saúde no Brasil é um desafio enorme. Você tem uma parcela de pessoas na saúde suplementar e uma parcela grande dependente do Sistema Único de Saúde. Esses dois sistemas têm de coexistir. O SUS tem um problema sério de subfinanciamento e é importante que quem possa estar no sistema privado de saúde, esteja. É muito bom que as pessoas vivam mais, mas há um preço. É preciso discutir o que precisa ou deve ser feito.

3. O que levou do evento?

Participei do painel “Medicina baseada em valor: como avançar nos novos modelos de remuneração”. Hoje, o sistema funciona assim: o médico faz uma consulta, cobra; faz um exame, cobra; faz uma internação, cobra. Não há controle nenhum da qualidade do serviço prestado e nem se sabe se tudo que foi feito era realmente necessário. O modelo fee-for-service (pagamento pelo serviço) é algo perverso: quanto mais se usa, mais se ganha. Embora inicial, o debate ganha fôlego no mundo todo e o Estadão Summit Saúde 2019 trouxe discussões de altíssimo nível

Enquanto o paciente espera ser ouvido e tocado, o médico preenche o prontuário, pede exames, fala pouco. Situações de falta de empatia e de dificuldade de comunicação estão entre as principais queixas dos pacientes, seja em hospitais ou consultórios. E também despertam a atenção da comunidade médica, que vem criando soluções para reduzir essa distância e sugerindo adaptações no ensino da profissão. 

Mãos dadas. Unidade de Saúde Básica (UBS) no bairro Costa e Silva, em Porto Alegre (RS) Foto: Mayara Floss/Divulgação

“Empatia e comunicação são fundamentais na formação dos médicos”, acredita o urologista Fábio Leme Ortega, que participou do painel sobre o tema no Estadão Summit Saúde 2019. “No Brasil, formamos bons profissionais em algumas faculdades, mas acredito que não há foco específico nessas áreas, até porque é muito difícil ensinar empatia.” 

Ortega explica que, cada vez mais, os novos profissionais aprendem a entender o diagnóstico, mas não a pessoa, que não quer ser tratada como um número ou um prontuário. Para ele, um dos caminhos é trabalhar o que chama de “currículo oculto” dos cursos de Medicina: o aprendizado das boas práticas médicas, por observação. Significa dizer que o estudante replica o que aprende com seus professores e mentores, que o mostram como lidar com um paciente. 

A tecnologia pode desempenhar um papel importante nesse cenário, como mostra o Canal Doutor Ajuda, um dos exemplos apresentados no Summit. Presente nas redes sociais, a <IP>plataforma dissemina informações de saúde pública e tira dúvidas. A aproximação com o público é feita usando linguagem cotidiana e acessível, como conta Ortega, um dos criadores do Doutor Ajuda. 

Navegar pela doença

“Não dá para apagar o ‘dr. Google’, ferramenta que as pessoas usam para se informar e chegar à consulta mais bem preparadas”, diz Orestes Pullin, presidente da Unimed Brasil, que também esteve no evento. “Mas, muitas vezes, o paciente chega ao consultório com informações erradas e é neste momento que o médico precisa entender seu papel: ele não está em posição de afrontar o paciente, mas ao lado dele.” Pullin acredita que o médico precisa olhar para o paciente, conversar com ele e modificar sua forma de trabalhar.

A médica Graziela Moreto, que escreveu uma tese de doutorado sobre empatia na Medicina, crê que a formação de novos profissionais em saúde precisa corrigir a “erosão da empatia” identificada durante a fase de residência médica. “Quando o aluno é exposto à dor e ao sofrimento, isso cria emoções que, quando não trabalhadas pelo professor, podem levar ao distanciamento do paciente. Esse comportamento acaba se perpetuando durante a vida profissional”, argumenta.

Para o diretor do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da USP, Paulo Andrade Lotufo, a empatia pode ser ensinada no formato narrativo e, principalmente, nas discussões sobre as condutas médicas. “O tema é pouco mencionado, não somente entre estudantes de Medicina, mas no ensino em geral”, critica. 

Segundo Lotufo, o desafio é quebrar a mentalidade ensinada a profissionais durante a formação, que faz os universitários pensarem e agirem como se estivessem “do lado oposto do balcão”. “Ou seja, como ver o mundo sob a ótica do próximo, do outro e, não somente a sua, como indivíduo ou corporação.” A comunicação empática é capaz de complementar e aperfeiçoar um diagnóstico. 

Vera Valente, diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) Foto: Felipe Rau/Estadão

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Diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Vera fez parte do painel que encerrou o Summit Saúde 2019, sobre os modelos de remuneração de prestadores de serviço.

1. Quais os desafios da saúde na era digital?

Falando em tecnologia de forma mais ampla, por um lado há muitas tecnologias que podem ajudar no acesso e na redução de custos. Mas é importante colocar telemedicina e inteligência artificial no contexto da saúde. Não tem nada que você possa usar em todas as situações. O foco sempre deve ser em melhorar a atenção ao paciente: as possibilidades de inovação são infinitas, mas os recursos são finitos.

2. Como o Brasil deve enfrentá-los?

Saúde no Brasil é um desafio enorme. Você tem uma parcela de pessoas na saúde suplementar e uma parcela grande dependente do Sistema Único de Saúde. Esses dois sistemas têm de coexistir. O SUS tem um problema sério de subfinanciamento e é importante que quem possa estar no sistema privado de saúde, esteja. É muito bom que as pessoas vivam mais, mas há um preço. É preciso discutir o que precisa ou deve ser feito.

3. O que levou do evento?

Participei do painel “Medicina baseada em valor: como avançar nos novos modelos de remuneração”. Hoje, o sistema funciona assim: o médico faz uma consulta, cobra; faz um exame, cobra; faz uma internação, cobra. Não há controle nenhum da qualidade do serviço prestado e nem se sabe se tudo que foi feito era realmente necessário. O modelo fee-for-service (pagamento pelo serviço) é algo perverso: quanto mais se usa, mais se ganha. Embora inicial, o debate ganha fôlego no mundo todo e o Estadão Summit Saúde 2019 trouxe discussões de altíssimo nível

Enquanto o paciente espera ser ouvido e tocado, o médico preenche o prontuário, pede exames, fala pouco. Situações de falta de empatia e de dificuldade de comunicação estão entre as principais queixas dos pacientes, seja em hospitais ou consultórios. E também despertam a atenção da comunidade médica, que vem criando soluções para reduzir essa distância e sugerindo adaptações no ensino da profissão. 

Mãos dadas. Unidade de Saúde Básica (UBS) no bairro Costa e Silva, em Porto Alegre (RS) Foto: Mayara Floss/Divulgação

“Empatia e comunicação são fundamentais na formação dos médicos”, acredita o urologista Fábio Leme Ortega, que participou do painel sobre o tema no Estadão Summit Saúde 2019. “No Brasil, formamos bons profissionais em algumas faculdades, mas acredito que não há foco específico nessas áreas, até porque é muito difícil ensinar empatia.” 

Ortega explica que, cada vez mais, os novos profissionais aprendem a entender o diagnóstico, mas não a pessoa, que não quer ser tratada como um número ou um prontuário. Para ele, um dos caminhos é trabalhar o que chama de “currículo oculto” dos cursos de Medicina: o aprendizado das boas práticas médicas, por observação. Significa dizer que o estudante replica o que aprende com seus professores e mentores, que o mostram como lidar com um paciente. 

A tecnologia pode desempenhar um papel importante nesse cenário, como mostra o Canal Doutor Ajuda, um dos exemplos apresentados no Summit. Presente nas redes sociais, a <IP>plataforma dissemina informações de saúde pública e tira dúvidas. A aproximação com o público é feita usando linguagem cotidiana e acessível, como conta Ortega, um dos criadores do Doutor Ajuda. 

Navegar pela doença

“Não dá para apagar o ‘dr. Google’, ferramenta que as pessoas usam para se informar e chegar à consulta mais bem preparadas”, diz Orestes Pullin, presidente da Unimed Brasil, que também esteve no evento. “Mas, muitas vezes, o paciente chega ao consultório com informações erradas e é neste momento que o médico precisa entender seu papel: ele não está em posição de afrontar o paciente, mas ao lado dele.” Pullin acredita que o médico precisa olhar para o paciente, conversar com ele e modificar sua forma de trabalhar.

A médica Graziela Moreto, que escreveu uma tese de doutorado sobre empatia na Medicina, crê que a formação de novos profissionais em saúde precisa corrigir a “erosão da empatia” identificada durante a fase de residência médica. “Quando o aluno é exposto à dor e ao sofrimento, isso cria emoções que, quando não trabalhadas pelo professor, podem levar ao distanciamento do paciente. Esse comportamento acaba se perpetuando durante a vida profissional”, argumenta.

Para o diretor do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da USP, Paulo Andrade Lotufo, a empatia pode ser ensinada no formato narrativo e, principalmente, nas discussões sobre as condutas médicas. “O tema é pouco mencionado, não somente entre estudantes de Medicina, mas no ensino em geral”, critica. 

Segundo Lotufo, o desafio é quebrar a mentalidade ensinada a profissionais durante a formação, que faz os universitários pensarem e agirem como se estivessem “do lado oposto do balcão”. “Ou seja, como ver o mundo sob a ótica do próximo, do outro e, não somente a sua, como indivíduo ou corporação.” A comunicação empática é capaz de complementar e aperfeiçoar um diagnóstico. 

Vera Valente, diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) Foto: Felipe Rau/Estadão

Três perguntas para Vera Valente

Diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Vera fez parte do painel que encerrou o Summit Saúde 2019, sobre os modelos de remuneração de prestadores de serviço.

1. Quais os desafios da saúde na era digital?

Falando em tecnologia de forma mais ampla, por um lado há muitas tecnologias que podem ajudar no acesso e na redução de custos. Mas é importante colocar telemedicina e inteligência artificial no contexto da saúde. Não tem nada que você possa usar em todas as situações. O foco sempre deve ser em melhorar a atenção ao paciente: as possibilidades de inovação são infinitas, mas os recursos são finitos.

2. Como o Brasil deve enfrentá-los?

Saúde no Brasil é um desafio enorme. Você tem uma parcela de pessoas na saúde suplementar e uma parcela grande dependente do Sistema Único de Saúde. Esses dois sistemas têm de coexistir. O SUS tem um problema sério de subfinanciamento e é importante que quem possa estar no sistema privado de saúde, esteja. É muito bom que as pessoas vivam mais, mas há um preço. É preciso discutir o que precisa ou deve ser feito.

3. O que levou do evento?

Participei do painel “Medicina baseada em valor: como avançar nos novos modelos de remuneração”. Hoje, o sistema funciona assim: o médico faz uma consulta, cobra; faz um exame, cobra; faz uma internação, cobra. Não há controle nenhum da qualidade do serviço prestado e nem se sabe se tudo que foi feito era realmente necessário. O modelo fee-for-service (pagamento pelo serviço) é algo perverso: quanto mais se usa, mais se ganha. Embora inicial, o debate ganha fôlego no mundo todo e o Estadão Summit Saúde 2019 trouxe discussões de altíssimo nível

Enquanto o paciente espera ser ouvido e tocado, o médico preenche o prontuário, pede exames, fala pouco. Situações de falta de empatia e de dificuldade de comunicação estão entre as principais queixas dos pacientes, seja em hospitais ou consultórios. E também despertam a atenção da comunidade médica, que vem criando soluções para reduzir essa distância e sugerindo adaptações no ensino da profissão. 

Mãos dadas. Unidade de Saúde Básica (UBS) no bairro Costa e Silva, em Porto Alegre (RS) Foto: Mayara Floss/Divulgação

“Empatia e comunicação são fundamentais na formação dos médicos”, acredita o urologista Fábio Leme Ortega, que participou do painel sobre o tema no Estadão Summit Saúde 2019. “No Brasil, formamos bons profissionais em algumas faculdades, mas acredito que não há foco específico nessas áreas, até porque é muito difícil ensinar empatia.” 

Ortega explica que, cada vez mais, os novos profissionais aprendem a entender o diagnóstico, mas não a pessoa, que não quer ser tratada como um número ou um prontuário. Para ele, um dos caminhos é trabalhar o que chama de “currículo oculto” dos cursos de Medicina: o aprendizado das boas práticas médicas, por observação. Significa dizer que o estudante replica o que aprende com seus professores e mentores, que o mostram como lidar com um paciente. 

A tecnologia pode desempenhar um papel importante nesse cenário, como mostra o Canal Doutor Ajuda, um dos exemplos apresentados no Summit. Presente nas redes sociais, a <IP>plataforma dissemina informações de saúde pública e tira dúvidas. A aproximação com o público é feita usando linguagem cotidiana e acessível, como conta Ortega, um dos criadores do Doutor Ajuda. 

Navegar pela doença

“Não dá para apagar o ‘dr. Google’, ferramenta que as pessoas usam para se informar e chegar à consulta mais bem preparadas”, diz Orestes Pullin, presidente da Unimed Brasil, que também esteve no evento. “Mas, muitas vezes, o paciente chega ao consultório com informações erradas e é neste momento que o médico precisa entender seu papel: ele não está em posição de afrontar o paciente, mas ao lado dele.” Pullin acredita que o médico precisa olhar para o paciente, conversar com ele e modificar sua forma de trabalhar.

A médica Graziela Moreto, que escreveu uma tese de doutorado sobre empatia na Medicina, crê que a formação de novos profissionais em saúde precisa corrigir a “erosão da empatia” identificada durante a fase de residência médica. “Quando o aluno é exposto à dor e ao sofrimento, isso cria emoções que, quando não trabalhadas pelo professor, podem levar ao distanciamento do paciente. Esse comportamento acaba se perpetuando durante a vida profissional”, argumenta.

Para o diretor do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da USP, Paulo Andrade Lotufo, a empatia pode ser ensinada no formato narrativo e, principalmente, nas discussões sobre as condutas médicas. “O tema é pouco mencionado, não somente entre estudantes de Medicina, mas no ensino em geral”, critica. 

Segundo Lotufo, o desafio é quebrar a mentalidade ensinada a profissionais durante a formação, que faz os universitários pensarem e agirem como se estivessem “do lado oposto do balcão”. “Ou seja, como ver o mundo sob a ótica do próximo, do outro e, não somente a sua, como indivíduo ou corporação.” A comunicação empática é capaz de complementar e aperfeiçoar um diagnóstico. 

Vera Valente, diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) Foto: Felipe Rau/Estadão

Três perguntas para Vera Valente

Diretora executiva da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Vera fez parte do painel que encerrou o Summit Saúde 2019, sobre os modelos de remuneração de prestadores de serviço.

1. Quais os desafios da saúde na era digital?

Falando em tecnologia de forma mais ampla, por um lado há muitas tecnologias que podem ajudar no acesso e na redução de custos. Mas é importante colocar telemedicina e inteligência artificial no contexto da saúde. Não tem nada que você possa usar em todas as situações. O foco sempre deve ser em melhorar a atenção ao paciente: as possibilidades de inovação são infinitas, mas os recursos são finitos.

2. Como o Brasil deve enfrentá-los?

Saúde no Brasil é um desafio enorme. Você tem uma parcela de pessoas na saúde suplementar e uma parcela grande dependente do Sistema Único de Saúde. Esses dois sistemas têm de coexistir. O SUS tem um problema sério de subfinanciamento e é importante que quem possa estar no sistema privado de saúde, esteja. É muito bom que as pessoas vivam mais, mas há um preço. É preciso discutir o que precisa ou deve ser feito.

3. O que levou do evento?

Participei do painel “Medicina baseada em valor: como avançar nos novos modelos de remuneração”. Hoje, o sistema funciona assim: o médico faz uma consulta, cobra; faz um exame, cobra; faz uma internação, cobra. Não há controle nenhum da qualidade do serviço prestado e nem se sabe se tudo que foi feito era realmente necessário. O modelo fee-for-service (pagamento pelo serviço) é algo perverso: quanto mais se usa, mais se ganha. Embora inicial, o debate ganha fôlego no mundo todo e o Estadão Summit Saúde 2019 trouxe discussões de altíssimo nível

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