Energético faz mal? Saiba os cuidados e os riscos à saúde


Segundo especialistas, o consumo exagerado das bebidas energéticas - consideradas por muitos uma aliada para ter mais energia no dia a dia - pode trazer riscos, especialmente para os mais jovens

Por Sofia Lungui

Seja na balada ou para dar mais energia em uma longa jornada de trabalho, os brasileiros tomam cada vez mais energéticos. Em uma década, o consumo mais que dobrou – foi de 400 ml por habitante ao ano para 870 ml, considerando o período entre 2011 e 2021. Mais de 185 mil litros dessas bebidas foram produzidos no País em 2021, representando aumento de 23% em relação ao ano anterior. Os dados são da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir).

Quem bebe procura mais foco nas atividades cotidianas ou mais energia para curtir a noite na balada. Mas especialistas demonstram preocupação com o uso indiscriminado, apontando os riscos de problemas cardiovasculares e os perigos de abrir portas para exageros quando consumidos com bebidas alcoólicas.

Lucas Azevedo Furlan, de 21 anos, toma energético todos os dias para ajudar na concentração e na produtividade. Morador de Guarulhos, na Grande São Paulo, e formado em Cinema e Audiovisual, ele vai todo dia à capital para o curso técnico em atuação.

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“Tomo de manhã, normalmente. Estudar longe de casa sempre foi uma realidade. Comecei a tomar no ano passado, quando tive de conciliar o trabalho de conclusão de curso com um estágio. Eu passava 15 horas por dia longe de casa, acordava cedo e chegava tarde, era uma rotina puxada”, conta. O estudante sabe dos riscos de tomar a bebida em excesso e bebe uma lata por dia, mas diz que nunca sentiu nenhum desconforto físico por causa do consumo.

Qual o impacto dos energéticos na saúde?

Segundo a Abir, atualmente existem no Brasil mais de 100 marcas de energéticos, como Red Bull, Monster, Fusion, Vulcano, Burn, Flying Horse e Elev. A bebida surgiu na década de 1980, na Áustria, e ano a ano novas marcas chegam ao mercado.

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Lucas Azevendo, de 21 anos, mora em Guarulhos e estuda em São Paulo - ele bebe energético diariamente para ter mais disposição Foto: Taba Benedicto/Estadão

As bebidas energéticas de fato podem trazer benefícios nas funções cognitivas, por conta do efeito da cafeína. Segundo a Abir, elas promovem o aumento da capacidade de concentração e velocidade de reação, a melhora do estado de alerta e o retardamento de fadiga e cansaço, melhorando o rendimento. Mas a instituição alerta que, assim como outros alimentos, a bebida deve ser consumida com moderação. Para crianças, gestantes, mulheres no puerpério, idosos e no caso de algumas enfermidades, é recomendado consultar o médico antes do consumo.

Segundo Maria Lúcia Oliveira de Souza Formigoni, professora de Psicobiologia da Unifesp, que conduz estudo sobre a relação dos energéticos com a alta do consumo de álcool entre jovens, a cafeína de fato contribui para aumentar a concentração e diminuir a sensação de sono. Quando o produto é misturado com álcool, esse efeito pode ser uma falsa impressão, já que o etanol segue agindo no corpo, comprometendo a coordenação motora e a cognição, embora seu efeito fique mascarado. Porém, a bebida energética pura é capaz de contribuir para garantir mais foco por algumas horas.

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Por conta da sensação de estímulo que provocam no corpo, os energéticos são capazes de levar a problemas cardiovasculares. Se a pessoa já possui fatores de risco, como arritmia ou pressão alta, a propensão é maior, especialmente se consome a bebida em doses mais altas. É o que diz Fátima Dumas Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas e professora de Pós-Graduação em Cardiologia da Unifesp.

“O consumo agudo é perigoso, porque aumenta muito a frequência cardíaca e a pressão arterial a curto prazo, por conta da ação adrenérgica da cafeína, que atua no sistema nervoso simpático (ligado às sensações de estresse, medo, ansiedade etc). Indivíduos mais jovens são mais suscetíveis a desenvolver esses problemas, como crianças e adolescentes, que não tiveram tanta exposição à cafeína em grande quantidade.”

Palpitação, aceleração repentina dos batimentos cardíacos, dor no peito, desmaios, tonturas e falta de ar são alguns dos principais sinais de alerta. Em casos mais graves, o excesso de cafeína pode levar a eventos como arritmias ventriculares, responsáveis pela morte cardíaca súbita, ou até ao enfarte agudo do miocárdio. O consumo excessivo também pode desencadear distúrbios e má qualidade de sono.

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De acordo com Fátima, é muito comum acontecer um círculo vicioso, em que a pessoa toma muito energético em um dia, tem problemas para dormir à noite, porque o corpo segue em alerta, e sente a necessidade de tomar mais no outro dia. E assim sucessivamente, o que prejudica a rotina de sono. “Dormir pouco também prejudica o sistema cardiovascular a longo prazo. Uma coisa é o efeito agudo, por exemplo, uma crise convulsiva após um dia de consumo excessivo de energéticos combinados com álcool, por exemplo. Outra questão é a prática contínua do consumo, que pode levar a eventos crônicos. Má qualidade de sono, probabilidade de desenvolver hipertensão e AVC são algumas das consequências que podem surgir a longo prazo”, explica.

Outra questão é a ansiedade. É sabido que ataques de ansiedade causam sintomas como taquicardia, tremores e palpitação. Para quem já sofre com esse problema, os energéticos podem potencializar os efeitos, tornando as crises mais intensas e frequentes. Foi o que ocorreu com Amanda Kovalski Racovski, de 31 anos. Há sete anos, ela teve de cortar o consumo de bebidas energéticas, quando descobriu que tinha ansiedade, mesmo bebendo só energéticos puros, sem misturar com destilados.

“Um dia fui a um churrasco, tomei muito energético e passei mal, tive pontadas no coração. Nesse período eu comecei a ter crises de ansiedade, e sentia que o energético piorava. Nunca mais tomei”, relata. A empresária faz tratamento para ansiedade com medicamentos e acompanhamento psiquiátrico.

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Ela também tem arritmia, em grau leve. Parar de tomar energético foi uma recomendação de seu cardiologista, embora ela tivesse deixado de tomar por conta própria. Atualmente, Amanda bebe café descafeinado – e com moderação.

Também é necessário monitorar o consumo de bebidas energéticas por conta do alto nível de açúcar que contêm. Para Fátima, os padrões de alimentação relacionados à longevidade normalmente são dietas pobres em açúcar, substância que pode aumentar o risco de desenvolver diabete e hipertensão.

Qual a quantidade de energético segura para o organismo?

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Não há recomendação exata de consumo de energéticos que seja segura, porque isso varia conforme o organismo e os indicadores de saúde de cada pessoa. Para a professora Maria Lúcia, falta conscientização sobre o assunto, especialmente sobre os perigos da mistura com álcool. “Na maioria das latinhas está escrito que a mistura com bebida alcoólica não é indicada, mas isso não adianta. Precisamos pensar em educação e prevenção, para que as pessoas tenham mais consciência sobre as escolhas que estão fazendo e os riscos aos quais estão se expondo”, afirma a professora da Unifesp.

Amanda Kovalski parou de tomar energético por causa da ansiedade - hoje, só bebe café descafeinado Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Segundo ela, caso a pessoa não tenha nenhum tipo de contraindicação ou questão prévia relacionada à cafeína, provavelmente não terá problemas com o consumo do produto; basta não exagerar. No Brasil, as bebidas energéticas são regulamentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da Resolução RDC 719/22 (antiga RDC 273/05), que versa sobre Compostos Líquidos Prontos para o Consumo.

A quantidade de cada substância varia conforme a marca, mas a resolução prevê que as bebidas energéticas não podem conter quantidades superiores a 35mg/100ml de cafeína e 400mg/100 ml de taurina. Nesse sentido, uma lata regular de 250 ml de bebida energética contém 80 mg de cafeína, semelhante à quantidade presente em uma xícara de café expresso. No caso dos energéticos em cápsula, como os extratos de guaraná e de outras plantas, também é preciso estar atento às quantidades de cafeína descritas nas embalagens.

Crianças e adolescentes podem tomar energéticos?

Recentemente, foi publicado na revista científica BMC Public Health um estudo sobre a relação entre indicadores de saúde negativos e a frequência de consumo de energéticos por adolescentes de 13 a 15 anos. O trabalho foi conduzido na Finlândia, utilizando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) referentes ao país europeu. Em entrevista ao Estadão, Maija Puupponen, a autora da pesquisa, comentou sobre sua preocupação com a falta de fiscalização da venda de energéticos para menores de idade, especialmente.

“Crianças e adolescentes são considerados grupos sensíveis porque mesmo as pequenas quantidades de cafeína podem causar sintomas. Esses grupos apresentam risco mais elevado de desenvolver respostas negativas à cafeína porque o seu tamanho corporal é menor do que o dos adultos, além de estarem em período de desenvolvimento”, explica a pesquisadora finlandesa, que integra o braço finlandês do grupo de estudos Health Behaviour in School-aged Children, da OM.

O estudo constatou que mesmo aqueles que consomem energéticos de forma não regular, ou seja, menos de uma vez por semana, apresentam mais possibilidades de desenvolver indicadores negativos. Má qualidade de sono, baixa autoestima e múltiplas queixas de saúde são alguns dos fatores citados.

Energéticos ajudam na prática de exercícios físicos?

Para quem busca tomar energético para melhorar o desempenho físico, como esportistas e pessoas que praticam atividade física intensa, é necessário tomar alguns cuidados. De acordo com Fátima Dumas Cintra, não há muito risco quando a pessoa está engajada em uma prática de exercícios mais recreativa. O problema é quando se trata de uma prática esportiva competitiva, como no caso de atletas profissionais.

“Quando existe competição, a gente acaba ultrapassando o limite de segurança cardiovascular. Por isso, é essencial que seja realizada uma avaliação pré-participação esportiva, para identificar possíveis fragilidades no coração. Assim, o profissional de saúde poderá definir a dosagem máxima de substâncias que a pessoa pode usar para essa finalidade”, ressalta a médica cardiologista.

Segundo ela, vários estudos comprovam os malefícios da cafeína em excesso antes de atividades físicas intensas. Contudo, há pouca pesquisa sobre benefícios dessa substância para aumento de desempenho. O jogador de futebol Pedro Tecolo, de 20 anos, bebia com frequência energéticos em drinques alcoólicos, geralmente uísque e vodca, e começou a sentir uma aceleração de batimentos cardíacos.

“Meus batimentos estavam muito acelerados. Fui fazer exame e realmente houve alteração. O médico disse que se continuasse com aquele hábito poderia ter uma parada cardíaca jogando bola”, conta. Com isso, Pedro parou de consumir a mistura – e eliminou os energéticos. Ele acredita que o problema foi causado pela rotina intensa de treinos, associada ao uso da mistura.

Seja na balada ou para dar mais energia em uma longa jornada de trabalho, os brasileiros tomam cada vez mais energéticos. Em uma década, o consumo mais que dobrou – foi de 400 ml por habitante ao ano para 870 ml, considerando o período entre 2011 e 2021. Mais de 185 mil litros dessas bebidas foram produzidos no País em 2021, representando aumento de 23% em relação ao ano anterior. Os dados são da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir).

Quem bebe procura mais foco nas atividades cotidianas ou mais energia para curtir a noite na balada. Mas especialistas demonstram preocupação com o uso indiscriminado, apontando os riscos de problemas cardiovasculares e os perigos de abrir portas para exageros quando consumidos com bebidas alcoólicas.

Lucas Azevedo Furlan, de 21 anos, toma energético todos os dias para ajudar na concentração e na produtividade. Morador de Guarulhos, na Grande São Paulo, e formado em Cinema e Audiovisual, ele vai todo dia à capital para o curso técnico em atuação.

“Tomo de manhã, normalmente. Estudar longe de casa sempre foi uma realidade. Comecei a tomar no ano passado, quando tive de conciliar o trabalho de conclusão de curso com um estágio. Eu passava 15 horas por dia longe de casa, acordava cedo e chegava tarde, era uma rotina puxada”, conta. O estudante sabe dos riscos de tomar a bebida em excesso e bebe uma lata por dia, mas diz que nunca sentiu nenhum desconforto físico por causa do consumo.

Qual o impacto dos energéticos na saúde?

Segundo a Abir, atualmente existem no Brasil mais de 100 marcas de energéticos, como Red Bull, Monster, Fusion, Vulcano, Burn, Flying Horse e Elev. A bebida surgiu na década de 1980, na Áustria, e ano a ano novas marcas chegam ao mercado.

Lucas Azevendo, de 21 anos, mora em Guarulhos e estuda em São Paulo - ele bebe energético diariamente para ter mais disposição Foto: Taba Benedicto/Estadão

As bebidas energéticas de fato podem trazer benefícios nas funções cognitivas, por conta do efeito da cafeína. Segundo a Abir, elas promovem o aumento da capacidade de concentração e velocidade de reação, a melhora do estado de alerta e o retardamento de fadiga e cansaço, melhorando o rendimento. Mas a instituição alerta que, assim como outros alimentos, a bebida deve ser consumida com moderação. Para crianças, gestantes, mulheres no puerpério, idosos e no caso de algumas enfermidades, é recomendado consultar o médico antes do consumo.

Segundo Maria Lúcia Oliveira de Souza Formigoni, professora de Psicobiologia da Unifesp, que conduz estudo sobre a relação dos energéticos com a alta do consumo de álcool entre jovens, a cafeína de fato contribui para aumentar a concentração e diminuir a sensação de sono. Quando o produto é misturado com álcool, esse efeito pode ser uma falsa impressão, já que o etanol segue agindo no corpo, comprometendo a coordenação motora e a cognição, embora seu efeito fique mascarado. Porém, a bebida energética pura é capaz de contribuir para garantir mais foco por algumas horas.

Por conta da sensação de estímulo que provocam no corpo, os energéticos são capazes de levar a problemas cardiovasculares. Se a pessoa já possui fatores de risco, como arritmia ou pressão alta, a propensão é maior, especialmente se consome a bebida em doses mais altas. É o que diz Fátima Dumas Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas e professora de Pós-Graduação em Cardiologia da Unifesp.

“O consumo agudo é perigoso, porque aumenta muito a frequência cardíaca e a pressão arterial a curto prazo, por conta da ação adrenérgica da cafeína, que atua no sistema nervoso simpático (ligado às sensações de estresse, medo, ansiedade etc). Indivíduos mais jovens são mais suscetíveis a desenvolver esses problemas, como crianças e adolescentes, que não tiveram tanta exposição à cafeína em grande quantidade.”

Palpitação, aceleração repentina dos batimentos cardíacos, dor no peito, desmaios, tonturas e falta de ar são alguns dos principais sinais de alerta. Em casos mais graves, o excesso de cafeína pode levar a eventos como arritmias ventriculares, responsáveis pela morte cardíaca súbita, ou até ao enfarte agudo do miocárdio. O consumo excessivo também pode desencadear distúrbios e má qualidade de sono.

De acordo com Fátima, é muito comum acontecer um círculo vicioso, em que a pessoa toma muito energético em um dia, tem problemas para dormir à noite, porque o corpo segue em alerta, e sente a necessidade de tomar mais no outro dia. E assim sucessivamente, o que prejudica a rotina de sono. “Dormir pouco também prejudica o sistema cardiovascular a longo prazo. Uma coisa é o efeito agudo, por exemplo, uma crise convulsiva após um dia de consumo excessivo de energéticos combinados com álcool, por exemplo. Outra questão é a prática contínua do consumo, que pode levar a eventos crônicos. Má qualidade de sono, probabilidade de desenvolver hipertensão e AVC são algumas das consequências que podem surgir a longo prazo”, explica.

Outra questão é a ansiedade. É sabido que ataques de ansiedade causam sintomas como taquicardia, tremores e palpitação. Para quem já sofre com esse problema, os energéticos podem potencializar os efeitos, tornando as crises mais intensas e frequentes. Foi o que ocorreu com Amanda Kovalski Racovski, de 31 anos. Há sete anos, ela teve de cortar o consumo de bebidas energéticas, quando descobriu que tinha ansiedade, mesmo bebendo só energéticos puros, sem misturar com destilados.

“Um dia fui a um churrasco, tomei muito energético e passei mal, tive pontadas no coração. Nesse período eu comecei a ter crises de ansiedade, e sentia que o energético piorava. Nunca mais tomei”, relata. A empresária faz tratamento para ansiedade com medicamentos e acompanhamento psiquiátrico.

Ela também tem arritmia, em grau leve. Parar de tomar energético foi uma recomendação de seu cardiologista, embora ela tivesse deixado de tomar por conta própria. Atualmente, Amanda bebe café descafeinado – e com moderação.

Também é necessário monitorar o consumo de bebidas energéticas por conta do alto nível de açúcar que contêm. Para Fátima, os padrões de alimentação relacionados à longevidade normalmente são dietas pobres em açúcar, substância que pode aumentar o risco de desenvolver diabete e hipertensão.

Qual a quantidade de energético segura para o organismo?

Não há recomendação exata de consumo de energéticos que seja segura, porque isso varia conforme o organismo e os indicadores de saúde de cada pessoa. Para a professora Maria Lúcia, falta conscientização sobre o assunto, especialmente sobre os perigos da mistura com álcool. “Na maioria das latinhas está escrito que a mistura com bebida alcoólica não é indicada, mas isso não adianta. Precisamos pensar em educação e prevenção, para que as pessoas tenham mais consciência sobre as escolhas que estão fazendo e os riscos aos quais estão se expondo”, afirma a professora da Unifesp.

Amanda Kovalski parou de tomar energético por causa da ansiedade - hoje, só bebe café descafeinado Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Segundo ela, caso a pessoa não tenha nenhum tipo de contraindicação ou questão prévia relacionada à cafeína, provavelmente não terá problemas com o consumo do produto; basta não exagerar. No Brasil, as bebidas energéticas são regulamentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da Resolução RDC 719/22 (antiga RDC 273/05), que versa sobre Compostos Líquidos Prontos para o Consumo.

A quantidade de cada substância varia conforme a marca, mas a resolução prevê que as bebidas energéticas não podem conter quantidades superiores a 35mg/100ml de cafeína e 400mg/100 ml de taurina. Nesse sentido, uma lata regular de 250 ml de bebida energética contém 80 mg de cafeína, semelhante à quantidade presente em uma xícara de café expresso. No caso dos energéticos em cápsula, como os extratos de guaraná e de outras plantas, também é preciso estar atento às quantidades de cafeína descritas nas embalagens.

Crianças e adolescentes podem tomar energéticos?

Recentemente, foi publicado na revista científica BMC Public Health um estudo sobre a relação entre indicadores de saúde negativos e a frequência de consumo de energéticos por adolescentes de 13 a 15 anos. O trabalho foi conduzido na Finlândia, utilizando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) referentes ao país europeu. Em entrevista ao Estadão, Maija Puupponen, a autora da pesquisa, comentou sobre sua preocupação com a falta de fiscalização da venda de energéticos para menores de idade, especialmente.

“Crianças e adolescentes são considerados grupos sensíveis porque mesmo as pequenas quantidades de cafeína podem causar sintomas. Esses grupos apresentam risco mais elevado de desenvolver respostas negativas à cafeína porque o seu tamanho corporal é menor do que o dos adultos, além de estarem em período de desenvolvimento”, explica a pesquisadora finlandesa, que integra o braço finlandês do grupo de estudos Health Behaviour in School-aged Children, da OM.

O estudo constatou que mesmo aqueles que consomem energéticos de forma não regular, ou seja, menos de uma vez por semana, apresentam mais possibilidades de desenvolver indicadores negativos. Má qualidade de sono, baixa autoestima e múltiplas queixas de saúde são alguns dos fatores citados.

Energéticos ajudam na prática de exercícios físicos?

Para quem busca tomar energético para melhorar o desempenho físico, como esportistas e pessoas que praticam atividade física intensa, é necessário tomar alguns cuidados. De acordo com Fátima Dumas Cintra, não há muito risco quando a pessoa está engajada em uma prática de exercícios mais recreativa. O problema é quando se trata de uma prática esportiva competitiva, como no caso de atletas profissionais.

“Quando existe competição, a gente acaba ultrapassando o limite de segurança cardiovascular. Por isso, é essencial que seja realizada uma avaliação pré-participação esportiva, para identificar possíveis fragilidades no coração. Assim, o profissional de saúde poderá definir a dosagem máxima de substâncias que a pessoa pode usar para essa finalidade”, ressalta a médica cardiologista.

Segundo ela, vários estudos comprovam os malefícios da cafeína em excesso antes de atividades físicas intensas. Contudo, há pouca pesquisa sobre benefícios dessa substância para aumento de desempenho. O jogador de futebol Pedro Tecolo, de 20 anos, bebia com frequência energéticos em drinques alcoólicos, geralmente uísque e vodca, e começou a sentir uma aceleração de batimentos cardíacos.

“Meus batimentos estavam muito acelerados. Fui fazer exame e realmente houve alteração. O médico disse que se continuasse com aquele hábito poderia ter uma parada cardíaca jogando bola”, conta. Com isso, Pedro parou de consumir a mistura – e eliminou os energéticos. Ele acredita que o problema foi causado pela rotina intensa de treinos, associada ao uso da mistura.

Seja na balada ou para dar mais energia em uma longa jornada de trabalho, os brasileiros tomam cada vez mais energéticos. Em uma década, o consumo mais que dobrou – foi de 400 ml por habitante ao ano para 870 ml, considerando o período entre 2011 e 2021. Mais de 185 mil litros dessas bebidas foram produzidos no País em 2021, representando aumento de 23% em relação ao ano anterior. Os dados são da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir).

Quem bebe procura mais foco nas atividades cotidianas ou mais energia para curtir a noite na balada. Mas especialistas demonstram preocupação com o uso indiscriminado, apontando os riscos de problemas cardiovasculares e os perigos de abrir portas para exageros quando consumidos com bebidas alcoólicas.

Lucas Azevedo Furlan, de 21 anos, toma energético todos os dias para ajudar na concentração e na produtividade. Morador de Guarulhos, na Grande São Paulo, e formado em Cinema e Audiovisual, ele vai todo dia à capital para o curso técnico em atuação.

“Tomo de manhã, normalmente. Estudar longe de casa sempre foi uma realidade. Comecei a tomar no ano passado, quando tive de conciliar o trabalho de conclusão de curso com um estágio. Eu passava 15 horas por dia longe de casa, acordava cedo e chegava tarde, era uma rotina puxada”, conta. O estudante sabe dos riscos de tomar a bebida em excesso e bebe uma lata por dia, mas diz que nunca sentiu nenhum desconforto físico por causa do consumo.

Qual o impacto dos energéticos na saúde?

Segundo a Abir, atualmente existem no Brasil mais de 100 marcas de energéticos, como Red Bull, Monster, Fusion, Vulcano, Burn, Flying Horse e Elev. A bebida surgiu na década de 1980, na Áustria, e ano a ano novas marcas chegam ao mercado.

Lucas Azevendo, de 21 anos, mora em Guarulhos e estuda em São Paulo - ele bebe energético diariamente para ter mais disposição Foto: Taba Benedicto/Estadão

As bebidas energéticas de fato podem trazer benefícios nas funções cognitivas, por conta do efeito da cafeína. Segundo a Abir, elas promovem o aumento da capacidade de concentração e velocidade de reação, a melhora do estado de alerta e o retardamento de fadiga e cansaço, melhorando o rendimento. Mas a instituição alerta que, assim como outros alimentos, a bebida deve ser consumida com moderação. Para crianças, gestantes, mulheres no puerpério, idosos e no caso de algumas enfermidades, é recomendado consultar o médico antes do consumo.

Segundo Maria Lúcia Oliveira de Souza Formigoni, professora de Psicobiologia da Unifesp, que conduz estudo sobre a relação dos energéticos com a alta do consumo de álcool entre jovens, a cafeína de fato contribui para aumentar a concentração e diminuir a sensação de sono. Quando o produto é misturado com álcool, esse efeito pode ser uma falsa impressão, já que o etanol segue agindo no corpo, comprometendo a coordenação motora e a cognição, embora seu efeito fique mascarado. Porém, a bebida energética pura é capaz de contribuir para garantir mais foco por algumas horas.

Por conta da sensação de estímulo que provocam no corpo, os energéticos são capazes de levar a problemas cardiovasculares. Se a pessoa já possui fatores de risco, como arritmia ou pressão alta, a propensão é maior, especialmente se consome a bebida em doses mais altas. É o que diz Fátima Dumas Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas e professora de Pós-Graduação em Cardiologia da Unifesp.

“O consumo agudo é perigoso, porque aumenta muito a frequência cardíaca e a pressão arterial a curto prazo, por conta da ação adrenérgica da cafeína, que atua no sistema nervoso simpático (ligado às sensações de estresse, medo, ansiedade etc). Indivíduos mais jovens são mais suscetíveis a desenvolver esses problemas, como crianças e adolescentes, que não tiveram tanta exposição à cafeína em grande quantidade.”

Palpitação, aceleração repentina dos batimentos cardíacos, dor no peito, desmaios, tonturas e falta de ar são alguns dos principais sinais de alerta. Em casos mais graves, o excesso de cafeína pode levar a eventos como arritmias ventriculares, responsáveis pela morte cardíaca súbita, ou até ao enfarte agudo do miocárdio. O consumo excessivo também pode desencadear distúrbios e má qualidade de sono.

De acordo com Fátima, é muito comum acontecer um círculo vicioso, em que a pessoa toma muito energético em um dia, tem problemas para dormir à noite, porque o corpo segue em alerta, e sente a necessidade de tomar mais no outro dia. E assim sucessivamente, o que prejudica a rotina de sono. “Dormir pouco também prejudica o sistema cardiovascular a longo prazo. Uma coisa é o efeito agudo, por exemplo, uma crise convulsiva após um dia de consumo excessivo de energéticos combinados com álcool, por exemplo. Outra questão é a prática contínua do consumo, que pode levar a eventos crônicos. Má qualidade de sono, probabilidade de desenvolver hipertensão e AVC são algumas das consequências que podem surgir a longo prazo”, explica.

Outra questão é a ansiedade. É sabido que ataques de ansiedade causam sintomas como taquicardia, tremores e palpitação. Para quem já sofre com esse problema, os energéticos podem potencializar os efeitos, tornando as crises mais intensas e frequentes. Foi o que ocorreu com Amanda Kovalski Racovski, de 31 anos. Há sete anos, ela teve de cortar o consumo de bebidas energéticas, quando descobriu que tinha ansiedade, mesmo bebendo só energéticos puros, sem misturar com destilados.

“Um dia fui a um churrasco, tomei muito energético e passei mal, tive pontadas no coração. Nesse período eu comecei a ter crises de ansiedade, e sentia que o energético piorava. Nunca mais tomei”, relata. A empresária faz tratamento para ansiedade com medicamentos e acompanhamento psiquiátrico.

Ela também tem arritmia, em grau leve. Parar de tomar energético foi uma recomendação de seu cardiologista, embora ela tivesse deixado de tomar por conta própria. Atualmente, Amanda bebe café descafeinado – e com moderação.

Também é necessário monitorar o consumo de bebidas energéticas por conta do alto nível de açúcar que contêm. Para Fátima, os padrões de alimentação relacionados à longevidade normalmente são dietas pobres em açúcar, substância que pode aumentar o risco de desenvolver diabete e hipertensão.

Qual a quantidade de energético segura para o organismo?

Não há recomendação exata de consumo de energéticos que seja segura, porque isso varia conforme o organismo e os indicadores de saúde de cada pessoa. Para a professora Maria Lúcia, falta conscientização sobre o assunto, especialmente sobre os perigos da mistura com álcool. “Na maioria das latinhas está escrito que a mistura com bebida alcoólica não é indicada, mas isso não adianta. Precisamos pensar em educação e prevenção, para que as pessoas tenham mais consciência sobre as escolhas que estão fazendo e os riscos aos quais estão se expondo”, afirma a professora da Unifesp.

Amanda Kovalski parou de tomar energético por causa da ansiedade - hoje, só bebe café descafeinado Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Segundo ela, caso a pessoa não tenha nenhum tipo de contraindicação ou questão prévia relacionada à cafeína, provavelmente não terá problemas com o consumo do produto; basta não exagerar. No Brasil, as bebidas energéticas são regulamentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da Resolução RDC 719/22 (antiga RDC 273/05), que versa sobre Compostos Líquidos Prontos para o Consumo.

A quantidade de cada substância varia conforme a marca, mas a resolução prevê que as bebidas energéticas não podem conter quantidades superiores a 35mg/100ml de cafeína e 400mg/100 ml de taurina. Nesse sentido, uma lata regular de 250 ml de bebida energética contém 80 mg de cafeína, semelhante à quantidade presente em uma xícara de café expresso. No caso dos energéticos em cápsula, como os extratos de guaraná e de outras plantas, também é preciso estar atento às quantidades de cafeína descritas nas embalagens.

Crianças e adolescentes podem tomar energéticos?

Recentemente, foi publicado na revista científica BMC Public Health um estudo sobre a relação entre indicadores de saúde negativos e a frequência de consumo de energéticos por adolescentes de 13 a 15 anos. O trabalho foi conduzido na Finlândia, utilizando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) referentes ao país europeu. Em entrevista ao Estadão, Maija Puupponen, a autora da pesquisa, comentou sobre sua preocupação com a falta de fiscalização da venda de energéticos para menores de idade, especialmente.

“Crianças e adolescentes são considerados grupos sensíveis porque mesmo as pequenas quantidades de cafeína podem causar sintomas. Esses grupos apresentam risco mais elevado de desenvolver respostas negativas à cafeína porque o seu tamanho corporal é menor do que o dos adultos, além de estarem em período de desenvolvimento”, explica a pesquisadora finlandesa, que integra o braço finlandês do grupo de estudos Health Behaviour in School-aged Children, da OM.

O estudo constatou que mesmo aqueles que consomem energéticos de forma não regular, ou seja, menos de uma vez por semana, apresentam mais possibilidades de desenvolver indicadores negativos. Má qualidade de sono, baixa autoestima e múltiplas queixas de saúde são alguns dos fatores citados.

Energéticos ajudam na prática de exercícios físicos?

Para quem busca tomar energético para melhorar o desempenho físico, como esportistas e pessoas que praticam atividade física intensa, é necessário tomar alguns cuidados. De acordo com Fátima Dumas Cintra, não há muito risco quando a pessoa está engajada em uma prática de exercícios mais recreativa. O problema é quando se trata de uma prática esportiva competitiva, como no caso de atletas profissionais.

“Quando existe competição, a gente acaba ultrapassando o limite de segurança cardiovascular. Por isso, é essencial que seja realizada uma avaliação pré-participação esportiva, para identificar possíveis fragilidades no coração. Assim, o profissional de saúde poderá definir a dosagem máxima de substâncias que a pessoa pode usar para essa finalidade”, ressalta a médica cardiologista.

Segundo ela, vários estudos comprovam os malefícios da cafeína em excesso antes de atividades físicas intensas. Contudo, há pouca pesquisa sobre benefícios dessa substância para aumento de desempenho. O jogador de futebol Pedro Tecolo, de 20 anos, bebia com frequência energéticos em drinques alcoólicos, geralmente uísque e vodca, e começou a sentir uma aceleração de batimentos cardíacos.

“Meus batimentos estavam muito acelerados. Fui fazer exame e realmente houve alteração. O médico disse que se continuasse com aquele hábito poderia ter uma parada cardíaca jogando bola”, conta. Com isso, Pedro parou de consumir a mistura – e eliminou os energéticos. Ele acredita que o problema foi causado pela rotina intensa de treinos, associada ao uso da mistura.

Seja na balada ou para dar mais energia em uma longa jornada de trabalho, os brasileiros tomam cada vez mais energéticos. Em uma década, o consumo mais que dobrou – foi de 400 ml por habitante ao ano para 870 ml, considerando o período entre 2011 e 2021. Mais de 185 mil litros dessas bebidas foram produzidos no País em 2021, representando aumento de 23% em relação ao ano anterior. Os dados são da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir).

Quem bebe procura mais foco nas atividades cotidianas ou mais energia para curtir a noite na balada. Mas especialistas demonstram preocupação com o uso indiscriminado, apontando os riscos de problemas cardiovasculares e os perigos de abrir portas para exageros quando consumidos com bebidas alcoólicas.

Lucas Azevedo Furlan, de 21 anos, toma energético todos os dias para ajudar na concentração e na produtividade. Morador de Guarulhos, na Grande São Paulo, e formado em Cinema e Audiovisual, ele vai todo dia à capital para o curso técnico em atuação.

“Tomo de manhã, normalmente. Estudar longe de casa sempre foi uma realidade. Comecei a tomar no ano passado, quando tive de conciliar o trabalho de conclusão de curso com um estágio. Eu passava 15 horas por dia longe de casa, acordava cedo e chegava tarde, era uma rotina puxada”, conta. O estudante sabe dos riscos de tomar a bebida em excesso e bebe uma lata por dia, mas diz que nunca sentiu nenhum desconforto físico por causa do consumo.

Qual o impacto dos energéticos na saúde?

Segundo a Abir, atualmente existem no Brasil mais de 100 marcas de energéticos, como Red Bull, Monster, Fusion, Vulcano, Burn, Flying Horse e Elev. A bebida surgiu na década de 1980, na Áustria, e ano a ano novas marcas chegam ao mercado.

Lucas Azevendo, de 21 anos, mora em Guarulhos e estuda em São Paulo - ele bebe energético diariamente para ter mais disposição Foto: Taba Benedicto/Estadão

As bebidas energéticas de fato podem trazer benefícios nas funções cognitivas, por conta do efeito da cafeína. Segundo a Abir, elas promovem o aumento da capacidade de concentração e velocidade de reação, a melhora do estado de alerta e o retardamento de fadiga e cansaço, melhorando o rendimento. Mas a instituição alerta que, assim como outros alimentos, a bebida deve ser consumida com moderação. Para crianças, gestantes, mulheres no puerpério, idosos e no caso de algumas enfermidades, é recomendado consultar o médico antes do consumo.

Segundo Maria Lúcia Oliveira de Souza Formigoni, professora de Psicobiologia da Unifesp, que conduz estudo sobre a relação dos energéticos com a alta do consumo de álcool entre jovens, a cafeína de fato contribui para aumentar a concentração e diminuir a sensação de sono. Quando o produto é misturado com álcool, esse efeito pode ser uma falsa impressão, já que o etanol segue agindo no corpo, comprometendo a coordenação motora e a cognição, embora seu efeito fique mascarado. Porém, a bebida energética pura é capaz de contribuir para garantir mais foco por algumas horas.

Por conta da sensação de estímulo que provocam no corpo, os energéticos são capazes de levar a problemas cardiovasculares. Se a pessoa já possui fatores de risco, como arritmia ou pressão alta, a propensão é maior, especialmente se consome a bebida em doses mais altas. É o que diz Fátima Dumas Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas e professora de Pós-Graduação em Cardiologia da Unifesp.

“O consumo agudo é perigoso, porque aumenta muito a frequência cardíaca e a pressão arterial a curto prazo, por conta da ação adrenérgica da cafeína, que atua no sistema nervoso simpático (ligado às sensações de estresse, medo, ansiedade etc). Indivíduos mais jovens são mais suscetíveis a desenvolver esses problemas, como crianças e adolescentes, que não tiveram tanta exposição à cafeína em grande quantidade.”

Palpitação, aceleração repentina dos batimentos cardíacos, dor no peito, desmaios, tonturas e falta de ar são alguns dos principais sinais de alerta. Em casos mais graves, o excesso de cafeína pode levar a eventos como arritmias ventriculares, responsáveis pela morte cardíaca súbita, ou até ao enfarte agudo do miocárdio. O consumo excessivo também pode desencadear distúrbios e má qualidade de sono.

De acordo com Fátima, é muito comum acontecer um círculo vicioso, em que a pessoa toma muito energético em um dia, tem problemas para dormir à noite, porque o corpo segue em alerta, e sente a necessidade de tomar mais no outro dia. E assim sucessivamente, o que prejudica a rotina de sono. “Dormir pouco também prejudica o sistema cardiovascular a longo prazo. Uma coisa é o efeito agudo, por exemplo, uma crise convulsiva após um dia de consumo excessivo de energéticos combinados com álcool, por exemplo. Outra questão é a prática contínua do consumo, que pode levar a eventos crônicos. Má qualidade de sono, probabilidade de desenvolver hipertensão e AVC são algumas das consequências que podem surgir a longo prazo”, explica.

Outra questão é a ansiedade. É sabido que ataques de ansiedade causam sintomas como taquicardia, tremores e palpitação. Para quem já sofre com esse problema, os energéticos podem potencializar os efeitos, tornando as crises mais intensas e frequentes. Foi o que ocorreu com Amanda Kovalski Racovski, de 31 anos. Há sete anos, ela teve de cortar o consumo de bebidas energéticas, quando descobriu que tinha ansiedade, mesmo bebendo só energéticos puros, sem misturar com destilados.

“Um dia fui a um churrasco, tomei muito energético e passei mal, tive pontadas no coração. Nesse período eu comecei a ter crises de ansiedade, e sentia que o energético piorava. Nunca mais tomei”, relata. A empresária faz tratamento para ansiedade com medicamentos e acompanhamento psiquiátrico.

Ela também tem arritmia, em grau leve. Parar de tomar energético foi uma recomendação de seu cardiologista, embora ela tivesse deixado de tomar por conta própria. Atualmente, Amanda bebe café descafeinado – e com moderação.

Também é necessário monitorar o consumo de bebidas energéticas por conta do alto nível de açúcar que contêm. Para Fátima, os padrões de alimentação relacionados à longevidade normalmente são dietas pobres em açúcar, substância que pode aumentar o risco de desenvolver diabete e hipertensão.

Qual a quantidade de energético segura para o organismo?

Não há recomendação exata de consumo de energéticos que seja segura, porque isso varia conforme o organismo e os indicadores de saúde de cada pessoa. Para a professora Maria Lúcia, falta conscientização sobre o assunto, especialmente sobre os perigos da mistura com álcool. “Na maioria das latinhas está escrito que a mistura com bebida alcoólica não é indicada, mas isso não adianta. Precisamos pensar em educação e prevenção, para que as pessoas tenham mais consciência sobre as escolhas que estão fazendo e os riscos aos quais estão se expondo”, afirma a professora da Unifesp.

Amanda Kovalski parou de tomar energético por causa da ansiedade - hoje, só bebe café descafeinado Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Segundo ela, caso a pessoa não tenha nenhum tipo de contraindicação ou questão prévia relacionada à cafeína, provavelmente não terá problemas com o consumo do produto; basta não exagerar. No Brasil, as bebidas energéticas são regulamentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da Resolução RDC 719/22 (antiga RDC 273/05), que versa sobre Compostos Líquidos Prontos para o Consumo.

A quantidade de cada substância varia conforme a marca, mas a resolução prevê que as bebidas energéticas não podem conter quantidades superiores a 35mg/100ml de cafeína e 400mg/100 ml de taurina. Nesse sentido, uma lata regular de 250 ml de bebida energética contém 80 mg de cafeína, semelhante à quantidade presente em uma xícara de café expresso. No caso dos energéticos em cápsula, como os extratos de guaraná e de outras plantas, também é preciso estar atento às quantidades de cafeína descritas nas embalagens.

Crianças e adolescentes podem tomar energéticos?

Recentemente, foi publicado na revista científica BMC Public Health um estudo sobre a relação entre indicadores de saúde negativos e a frequência de consumo de energéticos por adolescentes de 13 a 15 anos. O trabalho foi conduzido na Finlândia, utilizando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) referentes ao país europeu. Em entrevista ao Estadão, Maija Puupponen, a autora da pesquisa, comentou sobre sua preocupação com a falta de fiscalização da venda de energéticos para menores de idade, especialmente.

“Crianças e adolescentes são considerados grupos sensíveis porque mesmo as pequenas quantidades de cafeína podem causar sintomas. Esses grupos apresentam risco mais elevado de desenvolver respostas negativas à cafeína porque o seu tamanho corporal é menor do que o dos adultos, além de estarem em período de desenvolvimento”, explica a pesquisadora finlandesa, que integra o braço finlandês do grupo de estudos Health Behaviour in School-aged Children, da OM.

O estudo constatou que mesmo aqueles que consomem energéticos de forma não regular, ou seja, menos de uma vez por semana, apresentam mais possibilidades de desenvolver indicadores negativos. Má qualidade de sono, baixa autoestima e múltiplas queixas de saúde são alguns dos fatores citados.

Energéticos ajudam na prática de exercícios físicos?

Para quem busca tomar energético para melhorar o desempenho físico, como esportistas e pessoas que praticam atividade física intensa, é necessário tomar alguns cuidados. De acordo com Fátima Dumas Cintra, não há muito risco quando a pessoa está engajada em uma prática de exercícios mais recreativa. O problema é quando se trata de uma prática esportiva competitiva, como no caso de atletas profissionais.

“Quando existe competição, a gente acaba ultrapassando o limite de segurança cardiovascular. Por isso, é essencial que seja realizada uma avaliação pré-participação esportiva, para identificar possíveis fragilidades no coração. Assim, o profissional de saúde poderá definir a dosagem máxima de substâncias que a pessoa pode usar para essa finalidade”, ressalta a médica cardiologista.

Segundo ela, vários estudos comprovam os malefícios da cafeína em excesso antes de atividades físicas intensas. Contudo, há pouca pesquisa sobre benefícios dessa substância para aumento de desempenho. O jogador de futebol Pedro Tecolo, de 20 anos, bebia com frequência energéticos em drinques alcoólicos, geralmente uísque e vodca, e começou a sentir uma aceleração de batimentos cardíacos.

“Meus batimentos estavam muito acelerados. Fui fazer exame e realmente houve alteração. O médico disse que se continuasse com aquele hábito poderia ter uma parada cardíaca jogando bola”, conta. Com isso, Pedro parou de consumir a mistura – e eliminou os energéticos. Ele acredita que o problema foi causado pela rotina intensa de treinos, associada ao uso da mistura.

Seja na balada ou para dar mais energia em uma longa jornada de trabalho, os brasileiros tomam cada vez mais energéticos. Em uma década, o consumo mais que dobrou – foi de 400 ml por habitante ao ano para 870 ml, considerando o período entre 2011 e 2021. Mais de 185 mil litros dessas bebidas foram produzidos no País em 2021, representando aumento de 23% em relação ao ano anterior. Os dados são da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir).

Quem bebe procura mais foco nas atividades cotidianas ou mais energia para curtir a noite na balada. Mas especialistas demonstram preocupação com o uso indiscriminado, apontando os riscos de problemas cardiovasculares e os perigos de abrir portas para exageros quando consumidos com bebidas alcoólicas.

Lucas Azevedo Furlan, de 21 anos, toma energético todos os dias para ajudar na concentração e na produtividade. Morador de Guarulhos, na Grande São Paulo, e formado em Cinema e Audiovisual, ele vai todo dia à capital para o curso técnico em atuação.

“Tomo de manhã, normalmente. Estudar longe de casa sempre foi uma realidade. Comecei a tomar no ano passado, quando tive de conciliar o trabalho de conclusão de curso com um estágio. Eu passava 15 horas por dia longe de casa, acordava cedo e chegava tarde, era uma rotina puxada”, conta. O estudante sabe dos riscos de tomar a bebida em excesso e bebe uma lata por dia, mas diz que nunca sentiu nenhum desconforto físico por causa do consumo.

Qual o impacto dos energéticos na saúde?

Segundo a Abir, atualmente existem no Brasil mais de 100 marcas de energéticos, como Red Bull, Monster, Fusion, Vulcano, Burn, Flying Horse e Elev. A bebida surgiu na década de 1980, na Áustria, e ano a ano novas marcas chegam ao mercado.

Lucas Azevendo, de 21 anos, mora em Guarulhos e estuda em São Paulo - ele bebe energético diariamente para ter mais disposição Foto: Taba Benedicto/Estadão

As bebidas energéticas de fato podem trazer benefícios nas funções cognitivas, por conta do efeito da cafeína. Segundo a Abir, elas promovem o aumento da capacidade de concentração e velocidade de reação, a melhora do estado de alerta e o retardamento de fadiga e cansaço, melhorando o rendimento. Mas a instituição alerta que, assim como outros alimentos, a bebida deve ser consumida com moderação. Para crianças, gestantes, mulheres no puerpério, idosos e no caso de algumas enfermidades, é recomendado consultar o médico antes do consumo.

Segundo Maria Lúcia Oliveira de Souza Formigoni, professora de Psicobiologia da Unifesp, que conduz estudo sobre a relação dos energéticos com a alta do consumo de álcool entre jovens, a cafeína de fato contribui para aumentar a concentração e diminuir a sensação de sono. Quando o produto é misturado com álcool, esse efeito pode ser uma falsa impressão, já que o etanol segue agindo no corpo, comprometendo a coordenação motora e a cognição, embora seu efeito fique mascarado. Porém, a bebida energética pura é capaz de contribuir para garantir mais foco por algumas horas.

Por conta da sensação de estímulo que provocam no corpo, os energéticos são capazes de levar a problemas cardiovasculares. Se a pessoa já possui fatores de risco, como arritmia ou pressão alta, a propensão é maior, especialmente se consome a bebida em doses mais altas. É o que diz Fátima Dumas Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas e professora de Pós-Graduação em Cardiologia da Unifesp.

“O consumo agudo é perigoso, porque aumenta muito a frequência cardíaca e a pressão arterial a curto prazo, por conta da ação adrenérgica da cafeína, que atua no sistema nervoso simpático (ligado às sensações de estresse, medo, ansiedade etc). Indivíduos mais jovens são mais suscetíveis a desenvolver esses problemas, como crianças e adolescentes, que não tiveram tanta exposição à cafeína em grande quantidade.”

Palpitação, aceleração repentina dos batimentos cardíacos, dor no peito, desmaios, tonturas e falta de ar são alguns dos principais sinais de alerta. Em casos mais graves, o excesso de cafeína pode levar a eventos como arritmias ventriculares, responsáveis pela morte cardíaca súbita, ou até ao enfarte agudo do miocárdio. O consumo excessivo também pode desencadear distúrbios e má qualidade de sono.

De acordo com Fátima, é muito comum acontecer um círculo vicioso, em que a pessoa toma muito energético em um dia, tem problemas para dormir à noite, porque o corpo segue em alerta, e sente a necessidade de tomar mais no outro dia. E assim sucessivamente, o que prejudica a rotina de sono. “Dormir pouco também prejudica o sistema cardiovascular a longo prazo. Uma coisa é o efeito agudo, por exemplo, uma crise convulsiva após um dia de consumo excessivo de energéticos combinados com álcool, por exemplo. Outra questão é a prática contínua do consumo, que pode levar a eventos crônicos. Má qualidade de sono, probabilidade de desenvolver hipertensão e AVC são algumas das consequências que podem surgir a longo prazo”, explica.

Outra questão é a ansiedade. É sabido que ataques de ansiedade causam sintomas como taquicardia, tremores e palpitação. Para quem já sofre com esse problema, os energéticos podem potencializar os efeitos, tornando as crises mais intensas e frequentes. Foi o que ocorreu com Amanda Kovalski Racovski, de 31 anos. Há sete anos, ela teve de cortar o consumo de bebidas energéticas, quando descobriu que tinha ansiedade, mesmo bebendo só energéticos puros, sem misturar com destilados.

“Um dia fui a um churrasco, tomei muito energético e passei mal, tive pontadas no coração. Nesse período eu comecei a ter crises de ansiedade, e sentia que o energético piorava. Nunca mais tomei”, relata. A empresária faz tratamento para ansiedade com medicamentos e acompanhamento psiquiátrico.

Ela também tem arritmia, em grau leve. Parar de tomar energético foi uma recomendação de seu cardiologista, embora ela tivesse deixado de tomar por conta própria. Atualmente, Amanda bebe café descafeinado – e com moderação.

Também é necessário monitorar o consumo de bebidas energéticas por conta do alto nível de açúcar que contêm. Para Fátima, os padrões de alimentação relacionados à longevidade normalmente são dietas pobres em açúcar, substância que pode aumentar o risco de desenvolver diabete e hipertensão.

Qual a quantidade de energético segura para o organismo?

Não há recomendação exata de consumo de energéticos que seja segura, porque isso varia conforme o organismo e os indicadores de saúde de cada pessoa. Para a professora Maria Lúcia, falta conscientização sobre o assunto, especialmente sobre os perigos da mistura com álcool. “Na maioria das latinhas está escrito que a mistura com bebida alcoólica não é indicada, mas isso não adianta. Precisamos pensar em educação e prevenção, para que as pessoas tenham mais consciência sobre as escolhas que estão fazendo e os riscos aos quais estão se expondo”, afirma a professora da Unifesp.

Amanda Kovalski parou de tomar energético por causa da ansiedade - hoje, só bebe café descafeinado Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Segundo ela, caso a pessoa não tenha nenhum tipo de contraindicação ou questão prévia relacionada à cafeína, provavelmente não terá problemas com o consumo do produto; basta não exagerar. No Brasil, as bebidas energéticas são regulamentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da Resolução RDC 719/22 (antiga RDC 273/05), que versa sobre Compostos Líquidos Prontos para o Consumo.

A quantidade de cada substância varia conforme a marca, mas a resolução prevê que as bebidas energéticas não podem conter quantidades superiores a 35mg/100ml de cafeína e 400mg/100 ml de taurina. Nesse sentido, uma lata regular de 250 ml de bebida energética contém 80 mg de cafeína, semelhante à quantidade presente em uma xícara de café expresso. No caso dos energéticos em cápsula, como os extratos de guaraná e de outras plantas, também é preciso estar atento às quantidades de cafeína descritas nas embalagens.

Crianças e adolescentes podem tomar energéticos?

Recentemente, foi publicado na revista científica BMC Public Health um estudo sobre a relação entre indicadores de saúde negativos e a frequência de consumo de energéticos por adolescentes de 13 a 15 anos. O trabalho foi conduzido na Finlândia, utilizando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) referentes ao país europeu. Em entrevista ao Estadão, Maija Puupponen, a autora da pesquisa, comentou sobre sua preocupação com a falta de fiscalização da venda de energéticos para menores de idade, especialmente.

“Crianças e adolescentes são considerados grupos sensíveis porque mesmo as pequenas quantidades de cafeína podem causar sintomas. Esses grupos apresentam risco mais elevado de desenvolver respostas negativas à cafeína porque o seu tamanho corporal é menor do que o dos adultos, além de estarem em período de desenvolvimento”, explica a pesquisadora finlandesa, que integra o braço finlandês do grupo de estudos Health Behaviour in School-aged Children, da OM.

O estudo constatou que mesmo aqueles que consomem energéticos de forma não regular, ou seja, menos de uma vez por semana, apresentam mais possibilidades de desenvolver indicadores negativos. Má qualidade de sono, baixa autoestima e múltiplas queixas de saúde são alguns dos fatores citados.

Energéticos ajudam na prática de exercícios físicos?

Para quem busca tomar energético para melhorar o desempenho físico, como esportistas e pessoas que praticam atividade física intensa, é necessário tomar alguns cuidados. De acordo com Fátima Dumas Cintra, não há muito risco quando a pessoa está engajada em uma prática de exercícios mais recreativa. O problema é quando se trata de uma prática esportiva competitiva, como no caso de atletas profissionais.

“Quando existe competição, a gente acaba ultrapassando o limite de segurança cardiovascular. Por isso, é essencial que seja realizada uma avaliação pré-participação esportiva, para identificar possíveis fragilidades no coração. Assim, o profissional de saúde poderá definir a dosagem máxima de substâncias que a pessoa pode usar para essa finalidade”, ressalta a médica cardiologista.

Segundo ela, vários estudos comprovam os malefícios da cafeína em excesso antes de atividades físicas intensas. Contudo, há pouca pesquisa sobre benefícios dessa substância para aumento de desempenho. O jogador de futebol Pedro Tecolo, de 20 anos, bebia com frequência energéticos em drinques alcoólicos, geralmente uísque e vodca, e começou a sentir uma aceleração de batimentos cardíacos.

“Meus batimentos estavam muito acelerados. Fui fazer exame e realmente houve alteração. O médico disse que se continuasse com aquele hábito poderia ter uma parada cardíaca jogando bola”, conta. Com isso, Pedro parou de consumir a mistura – e eliminou os energéticos. Ele acredita que o problema foi causado pela rotina intensa de treinos, associada ao uso da mistura.

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