Entenda a relação entre sono ruim e demência e avalie seu risco a partir dos hábitos de descanso


Dormir pouco na terceira idade está associado a um risco maior de desenvolver a doença de Alzheimer. Mas, paradoxalmente, dormir demais também

Por Dana G. Smith
Atualização:

Embora os cientistas estejam confiantes de que existe uma conexão entre o sono e a demência, a natureza dessa conexão é complicada. Pode ser que poucas horas de sono por noite desencadeiem alterações no cérebro que causam a demência. Ou que o sono das pessoas pode ser interrompido devido a algum problema de saúde subjacente que também afeta a saúde do cérebro. E as alterações nos padrões de sono podem ser um sinal precoce da demência em si.

Confira como os especialistas estão pensando sobre essas várias conexões e como avaliar seu risco a partir de seus hábitos de sono.

Pesquisas têm indicado que garantir um sono adequado pode ter papel na prevenção de demência. Foto: thebigland45/Adobe Stock
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Sono de menos

O sono age como um banho noturno para o cérebro, lavando os resíduos celulares que se acumulam ao longo do dia. Durante esse processo, o fluido que envolve as células cerebrais elimina o lixo molecular e o transfere para a corrente sanguínea, onde é filtrado pelo fígado e pelos rins e expelido do corpo.

Esse lixo inclui a proteína amiloide, que, segundo se acredita, tem um papel fundamental na doença de Alzheimer. Todo cérebro produz amiloide durante o dia, mas podem surgir problemas quando a proteína se acumula em aglomerados pegajosos, chamados placas. Quanto mais tempo a pessoa fica acordada, mais amiloide se acumula e menos tempo o cérebro tem para removê-la.

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Os cientistas não sabem se o hábito de dormir pouco – normalmente menos de seis horas por noite – é o suficiente para desencadear o acúmulo de amiloide por si só. Mas pesquisas descobriram que, entre adultos de 65 a 85 anos que já têm placas no cérebro, quanto menos eles dormiam, mais amiloide se acumulava e pior era sua cognição.

“A falta de sono é suficiente para causar demência? Provavelmente não por si só”, diz Sudha Seshadri, diretora fundadora do Instituto Glenn Biggs para Alzheimer e Doenças Neurodegenerativas no Centro de Ciência em Saúde da Universidade do Texas, em San Antonio. “Mas parece ser definitivamente um fator que aumenta o risco de demência e talvez também a velocidade do declínio”.

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Pessoas com a doença de Alzheimer muitas vezes começam a desenvolver sintomas na faixa dos 60 ou 70 anos, mas a amiloide pode começar a se acumular até duas décadas antes. É por isso que é importante priorizar o sono e tentar dormir de sete a nove horas por noite desde a faixa dos 40 ou 50 anos, se não antes, orienta Joe Winer, pós-doutorando em neurologia e ciências neurológicas no Centro de Ciências do Sono e Circadianas da Universidade de Stanford.

“Não temos uma resposta muito boa para confirmar se seu sono aos vinte e poucos anos impacta seu risco na terceira idade”, comenta Winer. “Mas acho que os sinais apontam para a meia-idade. E, conforme você se aproxima dos 60 e 70 anos, seu sono vai ser mais importante”.

Alguns distúrbios do sono, mais notavelmente a apneia do sono, também estão associados a um risco aumentado de demência. Isso pode acontecer porque a apneia interrompe o sono das pessoas, ou porque ela tende a ocorrer em pessoas com sobrepeso ou diabetes, fatores que também estão ligados à demência.

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Mas mesmo quando se remove o efeito desses outros problemas, a apneia do sono parece conferir seu próprio risco de demência, diz Diego Carvalho, professor assistente de neurologia no Centro de Medicina do Sono da Clínica Mayo. Isso pode acontecer porque a apneia do sono limita a quantidade de oxigênio que chega ao cérebro, o que pode aumentar a inflamação cerebral e danificar os vasos sanguíneos e as células.

Sono de mais

Na outra ponta do espectro, dormir demais também parece estar ligado a um risco aumentado de demência, ainda que, talvez, de forma indireta.

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Se uma pessoa tem o hábito de ficar na cama por mais de nove horas por noite, ou tira vários cochilos durante o dia, talvez seja sinal de que ela está dormindo muito mal, o que pode aumentar o risco de doença de Alzheimer devido aos motivos listados acima.

Alternativamente, a necessidade excessiva de sono pode estar relacionada a algum problema físico ou mental. Problemas de saúde mental, como depressão, e de saúde física, como diabetes ou doenças cardiovasculares, estão associados a um risco maior de demência, assim como inatividade física, solidão e isolamento.

“Neste ponto, não há uma relação causal muito clara entre dormir demais e demência”, pondera Carvalho. “Talvez seja mais o sintoma de algum problema subjacente do que a causa do problema”.

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Um sintoma precoce?

Algumas das primeiras áreas do cérebro afetadas pelo Alzheimer são aquelas que ajudam a regular o sono e os ritmos circadianos. Como resultado, as pessoas que desenvolvem a doença podem ter problemas de sono antes mesmo de apresentarem sinais de perda de memória ou outros sintomas.

Junto com a amiloide, a outra proteína que, segundo se acredita, causa a doença de Alzheimer é chamada tau. Assim como a amiloide, a tau também se acumula no cérebro, danificando células cerebrais. Um dos primeiros lugares em que o acúmulo de tau aparece “são essas áreas do tronco cerebral importantes para regular o sono e a vigília”, explica Winer. “Então, achamos que o aparecimento precoce da tau nessas áreas atrapalha os ciclos de sono-vigília das pessoas”.

Problemas de sono também podem ser um sinal precoce de outros tipos comuns de demência. Na demência por corpos de Lewy e na demência da doença de Parkinson, por exemplo, o sono de movimento rápido dos olhos (REM, na sigla em inglês) às vezes é interrompido, fazendo com que as pessoas se mexam de acordo com o que acontece nos seus sonhos – algo que a pessoa com quem você dorme pode notar, informa Seshadri.

“Normalmente, o sono de movimento rápido dos olhos é o momento em que o tônus muscular do corpo cai quase a zero, e então os músculos não se movem”, explicou ela. “No transtorno comportamental do sono REM, essa supressão do tônus muscular não acontece, então os músculos realmente se movem de acordo com o que você faz nos seus sonhos”.

Especialistas dizem que é normal que os idosos durmam um pouco mais ou um pouco menos após a aposentadoria, ou que acordem e se deitem um pouco mais cedo ou mais tarde do que costumavam. Mas se houve alguma mudança drástica, considere consultar seu médico ou um especialista em sono.

“Se alguém está acordando às duas ou três da manhã, ou está dormindo por três horas durante o dia, isso é motivo de preocupação”, resume Seshadri. “Agora, se alguém está acordando uma hora mais cedo do que costumava e tirando um cochilo de 30 a 60 minutos durante o dia, é muito mais provável que seja apenas envelhecimento normal”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times.

Embora os cientistas estejam confiantes de que existe uma conexão entre o sono e a demência, a natureza dessa conexão é complicada. Pode ser que poucas horas de sono por noite desencadeiem alterações no cérebro que causam a demência. Ou que o sono das pessoas pode ser interrompido devido a algum problema de saúde subjacente que também afeta a saúde do cérebro. E as alterações nos padrões de sono podem ser um sinal precoce da demência em si.

Confira como os especialistas estão pensando sobre essas várias conexões e como avaliar seu risco a partir de seus hábitos de sono.

Pesquisas têm indicado que garantir um sono adequado pode ter papel na prevenção de demência. Foto: thebigland45/Adobe Stock

Sono de menos

O sono age como um banho noturno para o cérebro, lavando os resíduos celulares que se acumulam ao longo do dia. Durante esse processo, o fluido que envolve as células cerebrais elimina o lixo molecular e o transfere para a corrente sanguínea, onde é filtrado pelo fígado e pelos rins e expelido do corpo.

Esse lixo inclui a proteína amiloide, que, segundo se acredita, tem um papel fundamental na doença de Alzheimer. Todo cérebro produz amiloide durante o dia, mas podem surgir problemas quando a proteína se acumula em aglomerados pegajosos, chamados placas. Quanto mais tempo a pessoa fica acordada, mais amiloide se acumula e menos tempo o cérebro tem para removê-la.

Os cientistas não sabem se o hábito de dormir pouco – normalmente menos de seis horas por noite – é o suficiente para desencadear o acúmulo de amiloide por si só. Mas pesquisas descobriram que, entre adultos de 65 a 85 anos que já têm placas no cérebro, quanto menos eles dormiam, mais amiloide se acumulava e pior era sua cognição.

“A falta de sono é suficiente para causar demência? Provavelmente não por si só”, diz Sudha Seshadri, diretora fundadora do Instituto Glenn Biggs para Alzheimer e Doenças Neurodegenerativas no Centro de Ciência em Saúde da Universidade do Texas, em San Antonio. “Mas parece ser definitivamente um fator que aumenta o risco de demência e talvez também a velocidade do declínio”.

Pessoas com a doença de Alzheimer muitas vezes começam a desenvolver sintomas na faixa dos 60 ou 70 anos, mas a amiloide pode começar a se acumular até duas décadas antes. É por isso que é importante priorizar o sono e tentar dormir de sete a nove horas por noite desde a faixa dos 40 ou 50 anos, se não antes, orienta Joe Winer, pós-doutorando em neurologia e ciências neurológicas no Centro de Ciências do Sono e Circadianas da Universidade de Stanford.

“Não temos uma resposta muito boa para confirmar se seu sono aos vinte e poucos anos impacta seu risco na terceira idade”, comenta Winer. “Mas acho que os sinais apontam para a meia-idade. E, conforme você se aproxima dos 60 e 70 anos, seu sono vai ser mais importante”.

Alguns distúrbios do sono, mais notavelmente a apneia do sono, também estão associados a um risco aumentado de demência. Isso pode acontecer porque a apneia interrompe o sono das pessoas, ou porque ela tende a ocorrer em pessoas com sobrepeso ou diabetes, fatores que também estão ligados à demência.

Mas mesmo quando se remove o efeito desses outros problemas, a apneia do sono parece conferir seu próprio risco de demência, diz Diego Carvalho, professor assistente de neurologia no Centro de Medicina do Sono da Clínica Mayo. Isso pode acontecer porque a apneia do sono limita a quantidade de oxigênio que chega ao cérebro, o que pode aumentar a inflamação cerebral e danificar os vasos sanguíneos e as células.

Sono de mais

Na outra ponta do espectro, dormir demais também parece estar ligado a um risco aumentado de demência, ainda que, talvez, de forma indireta.

Se uma pessoa tem o hábito de ficar na cama por mais de nove horas por noite, ou tira vários cochilos durante o dia, talvez seja sinal de que ela está dormindo muito mal, o que pode aumentar o risco de doença de Alzheimer devido aos motivos listados acima.

Alternativamente, a necessidade excessiva de sono pode estar relacionada a algum problema físico ou mental. Problemas de saúde mental, como depressão, e de saúde física, como diabetes ou doenças cardiovasculares, estão associados a um risco maior de demência, assim como inatividade física, solidão e isolamento.

“Neste ponto, não há uma relação causal muito clara entre dormir demais e demência”, pondera Carvalho. “Talvez seja mais o sintoma de algum problema subjacente do que a causa do problema”.

Um sintoma precoce?

Algumas das primeiras áreas do cérebro afetadas pelo Alzheimer são aquelas que ajudam a regular o sono e os ritmos circadianos. Como resultado, as pessoas que desenvolvem a doença podem ter problemas de sono antes mesmo de apresentarem sinais de perda de memória ou outros sintomas.

Junto com a amiloide, a outra proteína que, segundo se acredita, causa a doença de Alzheimer é chamada tau. Assim como a amiloide, a tau também se acumula no cérebro, danificando células cerebrais. Um dos primeiros lugares em que o acúmulo de tau aparece “são essas áreas do tronco cerebral importantes para regular o sono e a vigília”, explica Winer. “Então, achamos que o aparecimento precoce da tau nessas áreas atrapalha os ciclos de sono-vigília das pessoas”.

Problemas de sono também podem ser um sinal precoce de outros tipos comuns de demência. Na demência por corpos de Lewy e na demência da doença de Parkinson, por exemplo, o sono de movimento rápido dos olhos (REM, na sigla em inglês) às vezes é interrompido, fazendo com que as pessoas se mexam de acordo com o que acontece nos seus sonhos – algo que a pessoa com quem você dorme pode notar, informa Seshadri.

“Normalmente, o sono de movimento rápido dos olhos é o momento em que o tônus muscular do corpo cai quase a zero, e então os músculos não se movem”, explicou ela. “No transtorno comportamental do sono REM, essa supressão do tônus muscular não acontece, então os músculos realmente se movem de acordo com o que você faz nos seus sonhos”.

Especialistas dizem que é normal que os idosos durmam um pouco mais ou um pouco menos após a aposentadoria, ou que acordem e se deitem um pouco mais cedo ou mais tarde do que costumavam. Mas se houve alguma mudança drástica, considere consultar seu médico ou um especialista em sono.

“Se alguém está acordando às duas ou três da manhã, ou está dormindo por três horas durante o dia, isso é motivo de preocupação”, resume Seshadri. “Agora, se alguém está acordando uma hora mais cedo do que costumava e tirando um cochilo de 30 a 60 minutos durante o dia, é muito mais provável que seja apenas envelhecimento normal”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times.

Embora os cientistas estejam confiantes de que existe uma conexão entre o sono e a demência, a natureza dessa conexão é complicada. Pode ser que poucas horas de sono por noite desencadeiem alterações no cérebro que causam a demência. Ou que o sono das pessoas pode ser interrompido devido a algum problema de saúde subjacente que também afeta a saúde do cérebro. E as alterações nos padrões de sono podem ser um sinal precoce da demência em si.

Confira como os especialistas estão pensando sobre essas várias conexões e como avaliar seu risco a partir de seus hábitos de sono.

Pesquisas têm indicado que garantir um sono adequado pode ter papel na prevenção de demência. Foto: thebigland45/Adobe Stock

Sono de menos

O sono age como um banho noturno para o cérebro, lavando os resíduos celulares que se acumulam ao longo do dia. Durante esse processo, o fluido que envolve as células cerebrais elimina o lixo molecular e o transfere para a corrente sanguínea, onde é filtrado pelo fígado e pelos rins e expelido do corpo.

Esse lixo inclui a proteína amiloide, que, segundo se acredita, tem um papel fundamental na doença de Alzheimer. Todo cérebro produz amiloide durante o dia, mas podem surgir problemas quando a proteína se acumula em aglomerados pegajosos, chamados placas. Quanto mais tempo a pessoa fica acordada, mais amiloide se acumula e menos tempo o cérebro tem para removê-la.

Os cientistas não sabem se o hábito de dormir pouco – normalmente menos de seis horas por noite – é o suficiente para desencadear o acúmulo de amiloide por si só. Mas pesquisas descobriram que, entre adultos de 65 a 85 anos que já têm placas no cérebro, quanto menos eles dormiam, mais amiloide se acumulava e pior era sua cognição.

“A falta de sono é suficiente para causar demência? Provavelmente não por si só”, diz Sudha Seshadri, diretora fundadora do Instituto Glenn Biggs para Alzheimer e Doenças Neurodegenerativas no Centro de Ciência em Saúde da Universidade do Texas, em San Antonio. “Mas parece ser definitivamente um fator que aumenta o risco de demência e talvez também a velocidade do declínio”.

Pessoas com a doença de Alzheimer muitas vezes começam a desenvolver sintomas na faixa dos 60 ou 70 anos, mas a amiloide pode começar a se acumular até duas décadas antes. É por isso que é importante priorizar o sono e tentar dormir de sete a nove horas por noite desde a faixa dos 40 ou 50 anos, se não antes, orienta Joe Winer, pós-doutorando em neurologia e ciências neurológicas no Centro de Ciências do Sono e Circadianas da Universidade de Stanford.

“Não temos uma resposta muito boa para confirmar se seu sono aos vinte e poucos anos impacta seu risco na terceira idade”, comenta Winer. “Mas acho que os sinais apontam para a meia-idade. E, conforme você se aproxima dos 60 e 70 anos, seu sono vai ser mais importante”.

Alguns distúrbios do sono, mais notavelmente a apneia do sono, também estão associados a um risco aumentado de demência. Isso pode acontecer porque a apneia interrompe o sono das pessoas, ou porque ela tende a ocorrer em pessoas com sobrepeso ou diabetes, fatores que também estão ligados à demência.

Mas mesmo quando se remove o efeito desses outros problemas, a apneia do sono parece conferir seu próprio risco de demência, diz Diego Carvalho, professor assistente de neurologia no Centro de Medicina do Sono da Clínica Mayo. Isso pode acontecer porque a apneia do sono limita a quantidade de oxigênio que chega ao cérebro, o que pode aumentar a inflamação cerebral e danificar os vasos sanguíneos e as células.

Sono de mais

Na outra ponta do espectro, dormir demais também parece estar ligado a um risco aumentado de demência, ainda que, talvez, de forma indireta.

Se uma pessoa tem o hábito de ficar na cama por mais de nove horas por noite, ou tira vários cochilos durante o dia, talvez seja sinal de que ela está dormindo muito mal, o que pode aumentar o risco de doença de Alzheimer devido aos motivos listados acima.

Alternativamente, a necessidade excessiva de sono pode estar relacionada a algum problema físico ou mental. Problemas de saúde mental, como depressão, e de saúde física, como diabetes ou doenças cardiovasculares, estão associados a um risco maior de demência, assim como inatividade física, solidão e isolamento.

“Neste ponto, não há uma relação causal muito clara entre dormir demais e demência”, pondera Carvalho. “Talvez seja mais o sintoma de algum problema subjacente do que a causa do problema”.

Um sintoma precoce?

Algumas das primeiras áreas do cérebro afetadas pelo Alzheimer são aquelas que ajudam a regular o sono e os ritmos circadianos. Como resultado, as pessoas que desenvolvem a doença podem ter problemas de sono antes mesmo de apresentarem sinais de perda de memória ou outros sintomas.

Junto com a amiloide, a outra proteína que, segundo se acredita, causa a doença de Alzheimer é chamada tau. Assim como a amiloide, a tau também se acumula no cérebro, danificando células cerebrais. Um dos primeiros lugares em que o acúmulo de tau aparece “são essas áreas do tronco cerebral importantes para regular o sono e a vigília”, explica Winer. “Então, achamos que o aparecimento precoce da tau nessas áreas atrapalha os ciclos de sono-vigília das pessoas”.

Problemas de sono também podem ser um sinal precoce de outros tipos comuns de demência. Na demência por corpos de Lewy e na demência da doença de Parkinson, por exemplo, o sono de movimento rápido dos olhos (REM, na sigla em inglês) às vezes é interrompido, fazendo com que as pessoas se mexam de acordo com o que acontece nos seus sonhos – algo que a pessoa com quem você dorme pode notar, informa Seshadri.

“Normalmente, o sono de movimento rápido dos olhos é o momento em que o tônus muscular do corpo cai quase a zero, e então os músculos não se movem”, explicou ela. “No transtorno comportamental do sono REM, essa supressão do tônus muscular não acontece, então os músculos realmente se movem de acordo com o que você faz nos seus sonhos”.

Especialistas dizem que é normal que os idosos durmam um pouco mais ou um pouco menos após a aposentadoria, ou que acordem e se deitem um pouco mais cedo ou mais tarde do que costumavam. Mas se houve alguma mudança drástica, considere consultar seu médico ou um especialista em sono.

“Se alguém está acordando às duas ou três da manhã, ou está dormindo por três horas durante o dia, isso é motivo de preocupação”, resume Seshadri. “Agora, se alguém está acordando uma hora mais cedo do que costumava e tirando um cochilo de 30 a 60 minutos durante o dia, é muito mais provável que seja apenas envelhecimento normal”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times.

Embora os cientistas estejam confiantes de que existe uma conexão entre o sono e a demência, a natureza dessa conexão é complicada. Pode ser que poucas horas de sono por noite desencadeiem alterações no cérebro que causam a demência. Ou que o sono das pessoas pode ser interrompido devido a algum problema de saúde subjacente que também afeta a saúde do cérebro. E as alterações nos padrões de sono podem ser um sinal precoce da demência em si.

Confira como os especialistas estão pensando sobre essas várias conexões e como avaliar seu risco a partir de seus hábitos de sono.

Pesquisas têm indicado que garantir um sono adequado pode ter papel na prevenção de demência. Foto: thebigland45/Adobe Stock

Sono de menos

O sono age como um banho noturno para o cérebro, lavando os resíduos celulares que se acumulam ao longo do dia. Durante esse processo, o fluido que envolve as células cerebrais elimina o lixo molecular e o transfere para a corrente sanguínea, onde é filtrado pelo fígado e pelos rins e expelido do corpo.

Esse lixo inclui a proteína amiloide, que, segundo se acredita, tem um papel fundamental na doença de Alzheimer. Todo cérebro produz amiloide durante o dia, mas podem surgir problemas quando a proteína se acumula em aglomerados pegajosos, chamados placas. Quanto mais tempo a pessoa fica acordada, mais amiloide se acumula e menos tempo o cérebro tem para removê-la.

Os cientistas não sabem se o hábito de dormir pouco – normalmente menos de seis horas por noite – é o suficiente para desencadear o acúmulo de amiloide por si só. Mas pesquisas descobriram que, entre adultos de 65 a 85 anos que já têm placas no cérebro, quanto menos eles dormiam, mais amiloide se acumulava e pior era sua cognição.

“A falta de sono é suficiente para causar demência? Provavelmente não por si só”, diz Sudha Seshadri, diretora fundadora do Instituto Glenn Biggs para Alzheimer e Doenças Neurodegenerativas no Centro de Ciência em Saúde da Universidade do Texas, em San Antonio. “Mas parece ser definitivamente um fator que aumenta o risco de demência e talvez também a velocidade do declínio”.

Pessoas com a doença de Alzheimer muitas vezes começam a desenvolver sintomas na faixa dos 60 ou 70 anos, mas a amiloide pode começar a se acumular até duas décadas antes. É por isso que é importante priorizar o sono e tentar dormir de sete a nove horas por noite desde a faixa dos 40 ou 50 anos, se não antes, orienta Joe Winer, pós-doutorando em neurologia e ciências neurológicas no Centro de Ciências do Sono e Circadianas da Universidade de Stanford.

“Não temos uma resposta muito boa para confirmar se seu sono aos vinte e poucos anos impacta seu risco na terceira idade”, comenta Winer. “Mas acho que os sinais apontam para a meia-idade. E, conforme você se aproxima dos 60 e 70 anos, seu sono vai ser mais importante”.

Alguns distúrbios do sono, mais notavelmente a apneia do sono, também estão associados a um risco aumentado de demência. Isso pode acontecer porque a apneia interrompe o sono das pessoas, ou porque ela tende a ocorrer em pessoas com sobrepeso ou diabetes, fatores que também estão ligados à demência.

Mas mesmo quando se remove o efeito desses outros problemas, a apneia do sono parece conferir seu próprio risco de demência, diz Diego Carvalho, professor assistente de neurologia no Centro de Medicina do Sono da Clínica Mayo. Isso pode acontecer porque a apneia do sono limita a quantidade de oxigênio que chega ao cérebro, o que pode aumentar a inflamação cerebral e danificar os vasos sanguíneos e as células.

Sono de mais

Na outra ponta do espectro, dormir demais também parece estar ligado a um risco aumentado de demência, ainda que, talvez, de forma indireta.

Se uma pessoa tem o hábito de ficar na cama por mais de nove horas por noite, ou tira vários cochilos durante o dia, talvez seja sinal de que ela está dormindo muito mal, o que pode aumentar o risco de doença de Alzheimer devido aos motivos listados acima.

Alternativamente, a necessidade excessiva de sono pode estar relacionada a algum problema físico ou mental. Problemas de saúde mental, como depressão, e de saúde física, como diabetes ou doenças cardiovasculares, estão associados a um risco maior de demência, assim como inatividade física, solidão e isolamento.

“Neste ponto, não há uma relação causal muito clara entre dormir demais e demência”, pondera Carvalho. “Talvez seja mais o sintoma de algum problema subjacente do que a causa do problema”.

Um sintoma precoce?

Algumas das primeiras áreas do cérebro afetadas pelo Alzheimer são aquelas que ajudam a regular o sono e os ritmos circadianos. Como resultado, as pessoas que desenvolvem a doença podem ter problemas de sono antes mesmo de apresentarem sinais de perda de memória ou outros sintomas.

Junto com a amiloide, a outra proteína que, segundo se acredita, causa a doença de Alzheimer é chamada tau. Assim como a amiloide, a tau também se acumula no cérebro, danificando células cerebrais. Um dos primeiros lugares em que o acúmulo de tau aparece “são essas áreas do tronco cerebral importantes para regular o sono e a vigília”, explica Winer. “Então, achamos que o aparecimento precoce da tau nessas áreas atrapalha os ciclos de sono-vigília das pessoas”.

Problemas de sono também podem ser um sinal precoce de outros tipos comuns de demência. Na demência por corpos de Lewy e na demência da doença de Parkinson, por exemplo, o sono de movimento rápido dos olhos (REM, na sigla em inglês) às vezes é interrompido, fazendo com que as pessoas se mexam de acordo com o que acontece nos seus sonhos – algo que a pessoa com quem você dorme pode notar, informa Seshadri.

“Normalmente, o sono de movimento rápido dos olhos é o momento em que o tônus muscular do corpo cai quase a zero, e então os músculos não se movem”, explicou ela. “No transtorno comportamental do sono REM, essa supressão do tônus muscular não acontece, então os músculos realmente se movem de acordo com o que você faz nos seus sonhos”.

Especialistas dizem que é normal que os idosos durmam um pouco mais ou um pouco menos após a aposentadoria, ou que acordem e se deitem um pouco mais cedo ou mais tarde do que costumavam. Mas se houve alguma mudança drástica, considere consultar seu médico ou um especialista em sono.

“Se alguém está acordando às duas ou três da manhã, ou está dormindo por três horas durante o dia, isso é motivo de preocupação”, resume Seshadri. “Agora, se alguém está acordando uma hora mais cedo do que costumava e tirando um cochilo de 30 a 60 minutos durante o dia, é muito mais provável que seja apenas envelhecimento normal”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times.

Embora os cientistas estejam confiantes de que existe uma conexão entre o sono e a demência, a natureza dessa conexão é complicada. Pode ser que poucas horas de sono por noite desencadeiem alterações no cérebro que causam a demência. Ou que o sono das pessoas pode ser interrompido devido a algum problema de saúde subjacente que também afeta a saúde do cérebro. E as alterações nos padrões de sono podem ser um sinal precoce da demência em si.

Confira como os especialistas estão pensando sobre essas várias conexões e como avaliar seu risco a partir de seus hábitos de sono.

Pesquisas têm indicado que garantir um sono adequado pode ter papel na prevenção de demência. Foto: thebigland45/Adobe Stock

Sono de menos

O sono age como um banho noturno para o cérebro, lavando os resíduos celulares que se acumulam ao longo do dia. Durante esse processo, o fluido que envolve as células cerebrais elimina o lixo molecular e o transfere para a corrente sanguínea, onde é filtrado pelo fígado e pelos rins e expelido do corpo.

Esse lixo inclui a proteína amiloide, que, segundo se acredita, tem um papel fundamental na doença de Alzheimer. Todo cérebro produz amiloide durante o dia, mas podem surgir problemas quando a proteína se acumula em aglomerados pegajosos, chamados placas. Quanto mais tempo a pessoa fica acordada, mais amiloide se acumula e menos tempo o cérebro tem para removê-la.

Os cientistas não sabem se o hábito de dormir pouco – normalmente menos de seis horas por noite – é o suficiente para desencadear o acúmulo de amiloide por si só. Mas pesquisas descobriram que, entre adultos de 65 a 85 anos que já têm placas no cérebro, quanto menos eles dormiam, mais amiloide se acumulava e pior era sua cognição.

“A falta de sono é suficiente para causar demência? Provavelmente não por si só”, diz Sudha Seshadri, diretora fundadora do Instituto Glenn Biggs para Alzheimer e Doenças Neurodegenerativas no Centro de Ciência em Saúde da Universidade do Texas, em San Antonio. “Mas parece ser definitivamente um fator que aumenta o risco de demência e talvez também a velocidade do declínio”.

Pessoas com a doença de Alzheimer muitas vezes começam a desenvolver sintomas na faixa dos 60 ou 70 anos, mas a amiloide pode começar a se acumular até duas décadas antes. É por isso que é importante priorizar o sono e tentar dormir de sete a nove horas por noite desde a faixa dos 40 ou 50 anos, se não antes, orienta Joe Winer, pós-doutorando em neurologia e ciências neurológicas no Centro de Ciências do Sono e Circadianas da Universidade de Stanford.

“Não temos uma resposta muito boa para confirmar se seu sono aos vinte e poucos anos impacta seu risco na terceira idade”, comenta Winer. “Mas acho que os sinais apontam para a meia-idade. E, conforme você se aproxima dos 60 e 70 anos, seu sono vai ser mais importante”.

Alguns distúrbios do sono, mais notavelmente a apneia do sono, também estão associados a um risco aumentado de demência. Isso pode acontecer porque a apneia interrompe o sono das pessoas, ou porque ela tende a ocorrer em pessoas com sobrepeso ou diabetes, fatores que também estão ligados à demência.

Mas mesmo quando se remove o efeito desses outros problemas, a apneia do sono parece conferir seu próprio risco de demência, diz Diego Carvalho, professor assistente de neurologia no Centro de Medicina do Sono da Clínica Mayo. Isso pode acontecer porque a apneia do sono limita a quantidade de oxigênio que chega ao cérebro, o que pode aumentar a inflamação cerebral e danificar os vasos sanguíneos e as células.

Sono de mais

Na outra ponta do espectro, dormir demais também parece estar ligado a um risco aumentado de demência, ainda que, talvez, de forma indireta.

Se uma pessoa tem o hábito de ficar na cama por mais de nove horas por noite, ou tira vários cochilos durante o dia, talvez seja sinal de que ela está dormindo muito mal, o que pode aumentar o risco de doença de Alzheimer devido aos motivos listados acima.

Alternativamente, a necessidade excessiva de sono pode estar relacionada a algum problema físico ou mental. Problemas de saúde mental, como depressão, e de saúde física, como diabetes ou doenças cardiovasculares, estão associados a um risco maior de demência, assim como inatividade física, solidão e isolamento.

“Neste ponto, não há uma relação causal muito clara entre dormir demais e demência”, pondera Carvalho. “Talvez seja mais o sintoma de algum problema subjacente do que a causa do problema”.

Um sintoma precoce?

Algumas das primeiras áreas do cérebro afetadas pelo Alzheimer são aquelas que ajudam a regular o sono e os ritmos circadianos. Como resultado, as pessoas que desenvolvem a doença podem ter problemas de sono antes mesmo de apresentarem sinais de perda de memória ou outros sintomas.

Junto com a amiloide, a outra proteína que, segundo se acredita, causa a doença de Alzheimer é chamada tau. Assim como a amiloide, a tau também se acumula no cérebro, danificando células cerebrais. Um dos primeiros lugares em que o acúmulo de tau aparece “são essas áreas do tronco cerebral importantes para regular o sono e a vigília”, explica Winer. “Então, achamos que o aparecimento precoce da tau nessas áreas atrapalha os ciclos de sono-vigília das pessoas”.

Problemas de sono também podem ser um sinal precoce de outros tipos comuns de demência. Na demência por corpos de Lewy e na demência da doença de Parkinson, por exemplo, o sono de movimento rápido dos olhos (REM, na sigla em inglês) às vezes é interrompido, fazendo com que as pessoas se mexam de acordo com o que acontece nos seus sonhos – algo que a pessoa com quem você dorme pode notar, informa Seshadri.

“Normalmente, o sono de movimento rápido dos olhos é o momento em que o tônus muscular do corpo cai quase a zero, e então os músculos não se movem”, explicou ela. “No transtorno comportamental do sono REM, essa supressão do tônus muscular não acontece, então os músculos realmente se movem de acordo com o que você faz nos seus sonhos”.

Especialistas dizem que é normal que os idosos durmam um pouco mais ou um pouco menos após a aposentadoria, ou que acordem e se deitem um pouco mais cedo ou mais tarde do que costumavam. Mas se houve alguma mudança drástica, considere consultar seu médico ou um especialista em sono.

“Se alguém está acordando às duas ou três da manhã, ou está dormindo por três horas durante o dia, isso é motivo de preocupação”, resume Seshadri. “Agora, se alguém está acordando uma hora mais cedo do que costumava e tirando um cochilo de 30 a 60 minutos durante o dia, é muito mais provável que seja apenas envelhecimento normal”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Este artigo foi originalmente publicado no New York Times.

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