Entidade europeia define nova forma de diagnóstico da obesidade, com menor protagonismo para o IMC


Consenso europeu publicado nesta sexta lista aspectos como a proporção cintura/altura e impactos físicos e psíquicos; no Brasil, documento também propõe substituir IMC por outros indicadores

Por Stefhanie Piovezan
Atualização:

A Associação Europeia para o Estudo da Obesidade (Easo, em inglês) apresentou nesta sexta-feira, 5, na revista científica Nature Medicine, um novo consenso sobre obesidade. Pela proposta, o famoso Índice de Massa Corporal (IMC) deixa de ser considerado isoladamente no diagnóstico e estadiamento da doença em adultos europeus e passa a dividir o protagonismo com aspectos como circunferência abdominal e impacto funcional e psicológico do peso.

O novo documento reforça o que outras entidades já indicaram: uma fórmula simples (dividir o peso pela altura ao quadrado) não basta para avaliar a obesidade, atualmente compreendida como uma enfermidade crônica, multifatorial e caracterizada pelo acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal.

Pelo texto, um IMC igual ou superior a 30 kg/m2 continua sendo indicativo de obesidade para adultos, mas não só. “De acordo com o texto, pessoas com IMC acima de 25, hoje com diagnóstico de sobrepeso, podem ser diagnosticadas com obesidade caso tenham uma relação cintura/quadril alterada”, compara Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).

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Medida da circunferência abdominal também é indicador a ser considerado no diagnóstico e avaliação da obesidade Foto: Maya Kruchancova/Adobe Stock

O mesmo ocorre com aqueles que, com IMC acima de 25, têm uma proporção cintura/altura maior do que 0,5 e qualquer deficiência ou complicação médica, funcional ou psicológica. Um exemplo: um homem de 1,80 m, com 95 cm de cintura, 85 kg e colesterol alto, atualmente diagnosticado com sobrepeso, passa a ser considerado um paciente com obesidade na Europa.

Outros pontos de destaque entre as recomendações sobre diagnóstico e estadiamento para os médicos europeus são considerar pontos de corte específicos por etnia para o IMC; realizar avaliações sistemáticas do estado médico, funcional e psicológico; e avaliar sintomas depressivos e transtornos do comportamento alimentar.

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As recomendações foram formuladas após três rodadas de votação. Um comitê da Easo criou a primeira versão com 30 indicações e enviou o material a um grupo de 29 especialistas convidados. Estes apontaram, em uma escala de 1 a 5, o quanto concordavam ou discordavam de cada afirmação e fizeram comentários explicando seu voto. A partir dos retornos, novas propostas foram redigidas e submetidas aos avaliadores.

Ao final, 25 recomendações alcançaram consenso (75% ou mais de concordância) e outras três permaneceram na lista mesmo sem chegar ao patamar. Veja aqui o documento completo.

Exames e acompanhamento prolongado

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Para especialistas, o consenso também avança ao defender que qualquer pessoa com obesidade possa realizar exames regulares para cânceres relacionados à doença e ter acompanhamento prolongado nos casos de pessoas submetidas à cirurgia bariátrica, avalia Márcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

No Brasil, como comparação, pessoas submetidas à cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde têm preconizados apenas dois anos de atendimento multidisciplinar, explica Mancini, e são frequentes relatos de pacientes com obesidade que têm suas queixas menosprezadas ao procurar atendimento.

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“Uma pessoa com dor nas costas vai ao médico e ele pede exames. Uma pessoa com obesidade e com dor nas costas vai ao médico e ele fala que a dor é decorrente do peso, dá um analgésico e manda embora”, exemplifica Mancini. “Então, estabelecer com todas as letras a necessidade de realizar exames para cânceres relacionados à obesidade, como cólon, mama e endométrio, é interessante”.

O pesquisador destaca ainda a nomenclatura escolhida pelos autores no início do documento, “doença crônica baseada na adiposidade” (ABCD, em inglês), e não obesidade, e a orientação para que outros profissionais de outras especialidades considerem a doença em seus atendimentos e prescrições.

Segundo Mancini, o termo ABCD, usado em documentos anteriores, auxilia a caracterizar a enfermidade e livrá-la de estigmas. Já a recomendação para que especialistas de todas as áreas considerem a doença em suas condutas pode reduzir as prescrições de medicamentos que provoquem aumento do peso. Nesta terça-feira, 2, um estudo da Universidade Harvard, por exemplo, mostrou que os antidepressivos escitalopram, paroxetina e duloxetina estão associados a alterações na balança.

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O que muda no Brasil?

Não há expectativa de que o consenso europeu gere qualquer mudança instantânea na forma como os profissionais brasileiros diagnosticam e tratam a obesidade. Há, contudo, a esperança de que ele possa inspirar condutas futuras e, principalmente, que ajude a reforçar o movimento já abraçado por especialistas brasileiros de minimizar a importância do IMC e individualizar as metas de tratamento para a doença.

O Brasil conta inclusive com um documento publicado em 2022 pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e pela SBEM que propõe classificar a obesidade a partir do histórico de peso, reforçando seu caráter crônico e de acompanhamento permanente.

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“A classificação proposta pela Abeso-Sbem leva em conta a trajetória do paciente, o peso máximo atingido e o quanto foi perdido e, junto a isso, demonstra que depois de perder 10% do peso, esse paciente já tem benefícios significativos à saúde, como redução do risco de cânceres, diabetes e problemas renais”, afirma Bruno Halpern, presidente da Abeso e primeiro autor do documento brasileiro.

“A ideia de individualizar metas de tratamento, tendo como objetivo não normalizar o IMC, mas melhorar a saúde e a qualidade de vida, é algo que está presente nos dois documentos. Isso pode ser feito com perdas que são eventualmente menores do que o necessário para normalizar o IMC.”

A Associação Europeia para o Estudo da Obesidade (Easo, em inglês) apresentou nesta sexta-feira, 5, na revista científica Nature Medicine, um novo consenso sobre obesidade. Pela proposta, o famoso Índice de Massa Corporal (IMC) deixa de ser considerado isoladamente no diagnóstico e estadiamento da doença em adultos europeus e passa a dividir o protagonismo com aspectos como circunferência abdominal e impacto funcional e psicológico do peso.

O novo documento reforça o que outras entidades já indicaram: uma fórmula simples (dividir o peso pela altura ao quadrado) não basta para avaliar a obesidade, atualmente compreendida como uma enfermidade crônica, multifatorial e caracterizada pelo acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal.

Pelo texto, um IMC igual ou superior a 30 kg/m2 continua sendo indicativo de obesidade para adultos, mas não só. “De acordo com o texto, pessoas com IMC acima de 25, hoje com diagnóstico de sobrepeso, podem ser diagnosticadas com obesidade caso tenham uma relação cintura/quadril alterada”, compara Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).

Medida da circunferência abdominal também é indicador a ser considerado no diagnóstico e avaliação da obesidade Foto: Maya Kruchancova/Adobe Stock

O mesmo ocorre com aqueles que, com IMC acima de 25, têm uma proporção cintura/altura maior do que 0,5 e qualquer deficiência ou complicação médica, funcional ou psicológica. Um exemplo: um homem de 1,80 m, com 95 cm de cintura, 85 kg e colesterol alto, atualmente diagnosticado com sobrepeso, passa a ser considerado um paciente com obesidade na Europa.

Outros pontos de destaque entre as recomendações sobre diagnóstico e estadiamento para os médicos europeus são considerar pontos de corte específicos por etnia para o IMC; realizar avaliações sistemáticas do estado médico, funcional e psicológico; e avaliar sintomas depressivos e transtornos do comportamento alimentar.

As recomendações foram formuladas após três rodadas de votação. Um comitê da Easo criou a primeira versão com 30 indicações e enviou o material a um grupo de 29 especialistas convidados. Estes apontaram, em uma escala de 1 a 5, o quanto concordavam ou discordavam de cada afirmação e fizeram comentários explicando seu voto. A partir dos retornos, novas propostas foram redigidas e submetidas aos avaliadores.

Ao final, 25 recomendações alcançaram consenso (75% ou mais de concordância) e outras três permaneceram na lista mesmo sem chegar ao patamar. Veja aqui o documento completo.

Exames e acompanhamento prolongado

Para especialistas, o consenso também avança ao defender que qualquer pessoa com obesidade possa realizar exames regulares para cânceres relacionados à doença e ter acompanhamento prolongado nos casos de pessoas submetidas à cirurgia bariátrica, avalia Márcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

No Brasil, como comparação, pessoas submetidas à cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde têm preconizados apenas dois anos de atendimento multidisciplinar, explica Mancini, e são frequentes relatos de pacientes com obesidade que têm suas queixas menosprezadas ao procurar atendimento.

“Uma pessoa com dor nas costas vai ao médico e ele pede exames. Uma pessoa com obesidade e com dor nas costas vai ao médico e ele fala que a dor é decorrente do peso, dá um analgésico e manda embora”, exemplifica Mancini. “Então, estabelecer com todas as letras a necessidade de realizar exames para cânceres relacionados à obesidade, como cólon, mama e endométrio, é interessante”.

O pesquisador destaca ainda a nomenclatura escolhida pelos autores no início do documento, “doença crônica baseada na adiposidade” (ABCD, em inglês), e não obesidade, e a orientação para que outros profissionais de outras especialidades considerem a doença em seus atendimentos e prescrições.

Segundo Mancini, o termo ABCD, usado em documentos anteriores, auxilia a caracterizar a enfermidade e livrá-la de estigmas. Já a recomendação para que especialistas de todas as áreas considerem a doença em suas condutas pode reduzir as prescrições de medicamentos que provoquem aumento do peso. Nesta terça-feira, 2, um estudo da Universidade Harvard, por exemplo, mostrou que os antidepressivos escitalopram, paroxetina e duloxetina estão associados a alterações na balança.

O que muda no Brasil?

Não há expectativa de que o consenso europeu gere qualquer mudança instantânea na forma como os profissionais brasileiros diagnosticam e tratam a obesidade. Há, contudo, a esperança de que ele possa inspirar condutas futuras e, principalmente, que ajude a reforçar o movimento já abraçado por especialistas brasileiros de minimizar a importância do IMC e individualizar as metas de tratamento para a doença.

O Brasil conta inclusive com um documento publicado em 2022 pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e pela SBEM que propõe classificar a obesidade a partir do histórico de peso, reforçando seu caráter crônico e de acompanhamento permanente.

“A classificação proposta pela Abeso-Sbem leva em conta a trajetória do paciente, o peso máximo atingido e o quanto foi perdido e, junto a isso, demonstra que depois de perder 10% do peso, esse paciente já tem benefícios significativos à saúde, como redução do risco de cânceres, diabetes e problemas renais”, afirma Bruno Halpern, presidente da Abeso e primeiro autor do documento brasileiro.

“A ideia de individualizar metas de tratamento, tendo como objetivo não normalizar o IMC, mas melhorar a saúde e a qualidade de vida, é algo que está presente nos dois documentos. Isso pode ser feito com perdas que são eventualmente menores do que o necessário para normalizar o IMC.”

A Associação Europeia para o Estudo da Obesidade (Easo, em inglês) apresentou nesta sexta-feira, 5, na revista científica Nature Medicine, um novo consenso sobre obesidade. Pela proposta, o famoso Índice de Massa Corporal (IMC) deixa de ser considerado isoladamente no diagnóstico e estadiamento da doença em adultos europeus e passa a dividir o protagonismo com aspectos como circunferência abdominal e impacto funcional e psicológico do peso.

O novo documento reforça o que outras entidades já indicaram: uma fórmula simples (dividir o peso pela altura ao quadrado) não basta para avaliar a obesidade, atualmente compreendida como uma enfermidade crônica, multifatorial e caracterizada pelo acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal.

Pelo texto, um IMC igual ou superior a 30 kg/m2 continua sendo indicativo de obesidade para adultos, mas não só. “De acordo com o texto, pessoas com IMC acima de 25, hoje com diagnóstico de sobrepeso, podem ser diagnosticadas com obesidade caso tenham uma relação cintura/quadril alterada”, compara Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).

Medida da circunferência abdominal também é indicador a ser considerado no diagnóstico e avaliação da obesidade Foto: Maya Kruchancova/Adobe Stock

O mesmo ocorre com aqueles que, com IMC acima de 25, têm uma proporção cintura/altura maior do que 0,5 e qualquer deficiência ou complicação médica, funcional ou psicológica. Um exemplo: um homem de 1,80 m, com 95 cm de cintura, 85 kg e colesterol alto, atualmente diagnosticado com sobrepeso, passa a ser considerado um paciente com obesidade na Europa.

Outros pontos de destaque entre as recomendações sobre diagnóstico e estadiamento para os médicos europeus são considerar pontos de corte específicos por etnia para o IMC; realizar avaliações sistemáticas do estado médico, funcional e psicológico; e avaliar sintomas depressivos e transtornos do comportamento alimentar.

As recomendações foram formuladas após três rodadas de votação. Um comitê da Easo criou a primeira versão com 30 indicações e enviou o material a um grupo de 29 especialistas convidados. Estes apontaram, em uma escala de 1 a 5, o quanto concordavam ou discordavam de cada afirmação e fizeram comentários explicando seu voto. A partir dos retornos, novas propostas foram redigidas e submetidas aos avaliadores.

Ao final, 25 recomendações alcançaram consenso (75% ou mais de concordância) e outras três permaneceram na lista mesmo sem chegar ao patamar. Veja aqui o documento completo.

Exames e acompanhamento prolongado

Para especialistas, o consenso também avança ao defender que qualquer pessoa com obesidade possa realizar exames regulares para cânceres relacionados à doença e ter acompanhamento prolongado nos casos de pessoas submetidas à cirurgia bariátrica, avalia Márcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

No Brasil, como comparação, pessoas submetidas à cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde têm preconizados apenas dois anos de atendimento multidisciplinar, explica Mancini, e são frequentes relatos de pacientes com obesidade que têm suas queixas menosprezadas ao procurar atendimento.

“Uma pessoa com dor nas costas vai ao médico e ele pede exames. Uma pessoa com obesidade e com dor nas costas vai ao médico e ele fala que a dor é decorrente do peso, dá um analgésico e manda embora”, exemplifica Mancini. “Então, estabelecer com todas as letras a necessidade de realizar exames para cânceres relacionados à obesidade, como cólon, mama e endométrio, é interessante”.

O pesquisador destaca ainda a nomenclatura escolhida pelos autores no início do documento, “doença crônica baseada na adiposidade” (ABCD, em inglês), e não obesidade, e a orientação para que outros profissionais de outras especialidades considerem a doença em seus atendimentos e prescrições.

Segundo Mancini, o termo ABCD, usado em documentos anteriores, auxilia a caracterizar a enfermidade e livrá-la de estigmas. Já a recomendação para que especialistas de todas as áreas considerem a doença em suas condutas pode reduzir as prescrições de medicamentos que provoquem aumento do peso. Nesta terça-feira, 2, um estudo da Universidade Harvard, por exemplo, mostrou que os antidepressivos escitalopram, paroxetina e duloxetina estão associados a alterações na balança.

O que muda no Brasil?

Não há expectativa de que o consenso europeu gere qualquer mudança instantânea na forma como os profissionais brasileiros diagnosticam e tratam a obesidade. Há, contudo, a esperança de que ele possa inspirar condutas futuras e, principalmente, que ajude a reforçar o movimento já abraçado por especialistas brasileiros de minimizar a importância do IMC e individualizar as metas de tratamento para a doença.

O Brasil conta inclusive com um documento publicado em 2022 pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e pela SBEM que propõe classificar a obesidade a partir do histórico de peso, reforçando seu caráter crônico e de acompanhamento permanente.

“A classificação proposta pela Abeso-Sbem leva em conta a trajetória do paciente, o peso máximo atingido e o quanto foi perdido e, junto a isso, demonstra que depois de perder 10% do peso, esse paciente já tem benefícios significativos à saúde, como redução do risco de cânceres, diabetes e problemas renais”, afirma Bruno Halpern, presidente da Abeso e primeiro autor do documento brasileiro.

“A ideia de individualizar metas de tratamento, tendo como objetivo não normalizar o IMC, mas melhorar a saúde e a qualidade de vida, é algo que está presente nos dois documentos. Isso pode ser feito com perdas que são eventualmente menores do que o necessário para normalizar o IMC.”

A Associação Europeia para o Estudo da Obesidade (Easo, em inglês) apresentou nesta sexta-feira, 5, na revista científica Nature Medicine, um novo consenso sobre obesidade. Pela proposta, o famoso Índice de Massa Corporal (IMC) deixa de ser considerado isoladamente no diagnóstico e estadiamento da doença em adultos europeus e passa a dividir o protagonismo com aspectos como circunferência abdominal e impacto funcional e psicológico do peso.

O novo documento reforça o que outras entidades já indicaram: uma fórmula simples (dividir o peso pela altura ao quadrado) não basta para avaliar a obesidade, atualmente compreendida como uma enfermidade crônica, multifatorial e caracterizada pelo acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal.

Pelo texto, um IMC igual ou superior a 30 kg/m2 continua sendo indicativo de obesidade para adultos, mas não só. “De acordo com o texto, pessoas com IMC acima de 25, hoje com diagnóstico de sobrepeso, podem ser diagnosticadas com obesidade caso tenham uma relação cintura/quadril alterada”, compara Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).

Medida da circunferência abdominal também é indicador a ser considerado no diagnóstico e avaliação da obesidade Foto: Maya Kruchancova/Adobe Stock

O mesmo ocorre com aqueles que, com IMC acima de 25, têm uma proporção cintura/altura maior do que 0,5 e qualquer deficiência ou complicação médica, funcional ou psicológica. Um exemplo: um homem de 1,80 m, com 95 cm de cintura, 85 kg e colesterol alto, atualmente diagnosticado com sobrepeso, passa a ser considerado um paciente com obesidade na Europa.

Outros pontos de destaque entre as recomendações sobre diagnóstico e estadiamento para os médicos europeus são considerar pontos de corte específicos por etnia para o IMC; realizar avaliações sistemáticas do estado médico, funcional e psicológico; e avaliar sintomas depressivos e transtornos do comportamento alimentar.

As recomendações foram formuladas após três rodadas de votação. Um comitê da Easo criou a primeira versão com 30 indicações e enviou o material a um grupo de 29 especialistas convidados. Estes apontaram, em uma escala de 1 a 5, o quanto concordavam ou discordavam de cada afirmação e fizeram comentários explicando seu voto. A partir dos retornos, novas propostas foram redigidas e submetidas aos avaliadores.

Ao final, 25 recomendações alcançaram consenso (75% ou mais de concordância) e outras três permaneceram na lista mesmo sem chegar ao patamar. Veja aqui o documento completo.

Exames e acompanhamento prolongado

Para especialistas, o consenso também avança ao defender que qualquer pessoa com obesidade possa realizar exames regulares para cânceres relacionados à doença e ter acompanhamento prolongado nos casos de pessoas submetidas à cirurgia bariátrica, avalia Márcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

No Brasil, como comparação, pessoas submetidas à cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde têm preconizados apenas dois anos de atendimento multidisciplinar, explica Mancini, e são frequentes relatos de pacientes com obesidade que têm suas queixas menosprezadas ao procurar atendimento.

“Uma pessoa com dor nas costas vai ao médico e ele pede exames. Uma pessoa com obesidade e com dor nas costas vai ao médico e ele fala que a dor é decorrente do peso, dá um analgésico e manda embora”, exemplifica Mancini. “Então, estabelecer com todas as letras a necessidade de realizar exames para cânceres relacionados à obesidade, como cólon, mama e endométrio, é interessante”.

O pesquisador destaca ainda a nomenclatura escolhida pelos autores no início do documento, “doença crônica baseada na adiposidade” (ABCD, em inglês), e não obesidade, e a orientação para que outros profissionais de outras especialidades considerem a doença em seus atendimentos e prescrições.

Segundo Mancini, o termo ABCD, usado em documentos anteriores, auxilia a caracterizar a enfermidade e livrá-la de estigmas. Já a recomendação para que especialistas de todas as áreas considerem a doença em suas condutas pode reduzir as prescrições de medicamentos que provoquem aumento do peso. Nesta terça-feira, 2, um estudo da Universidade Harvard, por exemplo, mostrou que os antidepressivos escitalopram, paroxetina e duloxetina estão associados a alterações na balança.

O que muda no Brasil?

Não há expectativa de que o consenso europeu gere qualquer mudança instantânea na forma como os profissionais brasileiros diagnosticam e tratam a obesidade. Há, contudo, a esperança de que ele possa inspirar condutas futuras e, principalmente, que ajude a reforçar o movimento já abraçado por especialistas brasileiros de minimizar a importância do IMC e individualizar as metas de tratamento para a doença.

O Brasil conta inclusive com um documento publicado em 2022 pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e pela SBEM que propõe classificar a obesidade a partir do histórico de peso, reforçando seu caráter crônico e de acompanhamento permanente.

“A classificação proposta pela Abeso-Sbem leva em conta a trajetória do paciente, o peso máximo atingido e o quanto foi perdido e, junto a isso, demonstra que depois de perder 10% do peso, esse paciente já tem benefícios significativos à saúde, como redução do risco de cânceres, diabetes e problemas renais”, afirma Bruno Halpern, presidente da Abeso e primeiro autor do documento brasileiro.

“A ideia de individualizar metas de tratamento, tendo como objetivo não normalizar o IMC, mas melhorar a saúde e a qualidade de vida, é algo que está presente nos dois documentos. Isso pode ser feito com perdas que são eventualmente menores do que o necessário para normalizar o IMC.”

A Associação Europeia para o Estudo da Obesidade (Easo, em inglês) apresentou nesta sexta-feira, 5, na revista científica Nature Medicine, um novo consenso sobre obesidade. Pela proposta, o famoso Índice de Massa Corporal (IMC) deixa de ser considerado isoladamente no diagnóstico e estadiamento da doença em adultos europeus e passa a dividir o protagonismo com aspectos como circunferência abdominal e impacto funcional e psicológico do peso.

O novo documento reforça o que outras entidades já indicaram: uma fórmula simples (dividir o peso pela altura ao quadrado) não basta para avaliar a obesidade, atualmente compreendida como uma enfermidade crônica, multifatorial e caracterizada pelo acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal.

Pelo texto, um IMC igual ou superior a 30 kg/m2 continua sendo indicativo de obesidade para adultos, mas não só. “De acordo com o texto, pessoas com IMC acima de 25, hoje com diagnóstico de sobrepeso, podem ser diagnosticadas com obesidade caso tenham uma relação cintura/quadril alterada”, compara Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).

Medida da circunferência abdominal também é indicador a ser considerado no diagnóstico e avaliação da obesidade Foto: Maya Kruchancova/Adobe Stock

O mesmo ocorre com aqueles que, com IMC acima de 25, têm uma proporção cintura/altura maior do que 0,5 e qualquer deficiência ou complicação médica, funcional ou psicológica. Um exemplo: um homem de 1,80 m, com 95 cm de cintura, 85 kg e colesterol alto, atualmente diagnosticado com sobrepeso, passa a ser considerado um paciente com obesidade na Europa.

Outros pontos de destaque entre as recomendações sobre diagnóstico e estadiamento para os médicos europeus são considerar pontos de corte específicos por etnia para o IMC; realizar avaliações sistemáticas do estado médico, funcional e psicológico; e avaliar sintomas depressivos e transtornos do comportamento alimentar.

As recomendações foram formuladas após três rodadas de votação. Um comitê da Easo criou a primeira versão com 30 indicações e enviou o material a um grupo de 29 especialistas convidados. Estes apontaram, em uma escala de 1 a 5, o quanto concordavam ou discordavam de cada afirmação e fizeram comentários explicando seu voto. A partir dos retornos, novas propostas foram redigidas e submetidas aos avaliadores.

Ao final, 25 recomendações alcançaram consenso (75% ou mais de concordância) e outras três permaneceram na lista mesmo sem chegar ao patamar. Veja aqui o documento completo.

Exames e acompanhamento prolongado

Para especialistas, o consenso também avança ao defender que qualquer pessoa com obesidade possa realizar exames regulares para cânceres relacionados à doença e ter acompanhamento prolongado nos casos de pessoas submetidas à cirurgia bariátrica, avalia Márcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

No Brasil, como comparação, pessoas submetidas à cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde têm preconizados apenas dois anos de atendimento multidisciplinar, explica Mancini, e são frequentes relatos de pacientes com obesidade que têm suas queixas menosprezadas ao procurar atendimento.

“Uma pessoa com dor nas costas vai ao médico e ele pede exames. Uma pessoa com obesidade e com dor nas costas vai ao médico e ele fala que a dor é decorrente do peso, dá um analgésico e manda embora”, exemplifica Mancini. “Então, estabelecer com todas as letras a necessidade de realizar exames para cânceres relacionados à obesidade, como cólon, mama e endométrio, é interessante”.

O pesquisador destaca ainda a nomenclatura escolhida pelos autores no início do documento, “doença crônica baseada na adiposidade” (ABCD, em inglês), e não obesidade, e a orientação para que outros profissionais de outras especialidades considerem a doença em seus atendimentos e prescrições.

Segundo Mancini, o termo ABCD, usado em documentos anteriores, auxilia a caracterizar a enfermidade e livrá-la de estigmas. Já a recomendação para que especialistas de todas as áreas considerem a doença em suas condutas pode reduzir as prescrições de medicamentos que provoquem aumento do peso. Nesta terça-feira, 2, um estudo da Universidade Harvard, por exemplo, mostrou que os antidepressivos escitalopram, paroxetina e duloxetina estão associados a alterações na balança.

O que muda no Brasil?

Não há expectativa de que o consenso europeu gere qualquer mudança instantânea na forma como os profissionais brasileiros diagnosticam e tratam a obesidade. Há, contudo, a esperança de que ele possa inspirar condutas futuras e, principalmente, que ajude a reforçar o movimento já abraçado por especialistas brasileiros de minimizar a importância do IMC e individualizar as metas de tratamento para a doença.

O Brasil conta inclusive com um documento publicado em 2022 pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e pela SBEM que propõe classificar a obesidade a partir do histórico de peso, reforçando seu caráter crônico e de acompanhamento permanente.

“A classificação proposta pela Abeso-Sbem leva em conta a trajetória do paciente, o peso máximo atingido e o quanto foi perdido e, junto a isso, demonstra que depois de perder 10% do peso, esse paciente já tem benefícios significativos à saúde, como redução do risco de cânceres, diabetes e problemas renais”, afirma Bruno Halpern, presidente da Abeso e primeiro autor do documento brasileiro.

“A ideia de individualizar metas de tratamento, tendo como objetivo não normalizar o IMC, mas melhorar a saúde e a qualidade de vida, é algo que está presente nos dois documentos. Isso pode ser feito com perdas que são eventualmente menores do que o necessário para normalizar o IMC.”

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