Esclerose múltipla: Tratamento que Cláudia Rodrigues quer fazer não tem comprovação científica


Atriz afirmou que está vendendo imóveis para custear terapia experimental feita por médico brasileiro nos Estados Unidos; Academia Brasileira de Neurologia divulga alerta

Por Roberta Jansen, Giovanna Castro e Renata Okumura
Atualização:

A atriz Cláudia Rodrigues, de 52 anos, que sofre de esclerose múltipla, está vendendo imóveis para pagar por um tratamento médico milionário sem nenhum respaldo científico, alertam especialistas. Segundo o gestor da atriz, Marcelo Calone, ela está tentando reunir R$ 5 milhões para se submeter a uma terapia experimental contra a doença neurodegenerativa para a qual não há cura conhecida.

“Tivemos que colocar à venda a cobertura da Claudinha, que fica no Rio, para que possamos custear esse programa”, afirmou Calone. “A doença da Cláudia ainda não tem cura, mas acreditamos na regeneração das sequelas, dando à atriz uma qualidade de vida e longevidade. Nossa missão é fazer com que ela volte a fazer o que mais ama na vida… atuar”, acrescentou.

O tratamento experimental foi desenvolvido pelo médico e neurocientista Marc Abreu, um brasileiro radicado nos Estados Unidos. Um aparelho criado por Abreu originalmente para monitorar a temperatura do cérebro é usado em um “tratamento de hipotermia avançada guiada pelo cérebro”, onde estímulos de frio e calor são enviados para o cérebro do paciente. O equipamento tem aprovação da Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador norte-americano semelhante à Anvisa, para a medição da temperatura.

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Procurado pelo Estadão, Abreu explicou que o tratamento que deve ser feito em Cláudia Rodrigues – que ainda está em processo de avaliação – causa hipotermia (excesso de frio) no cérebro, o que “ajuda a ativar células que produzem mielina (estrutura cerebral que facilita a rápida comunicação entre os neurônios)”.

Dessa forma, segundo ele, seria possível restaurar e preservar os nervos em processo de desmielinização, mantendo sua capacidade de conduzir por impulsos elétricos, um dos principais sintomas nos casos de esclerose múltipla. “O tratamento de hipotermia é seguido pela hipertermia, com indução de proteína de choque térmico para restaurar as partes do cérebro lesado pela doença”, finaliza.

De acordo com o médico, o tratamento seria eficaz não só contra a esclerose múltipla, mas também para esclerose lateral amiotrófica, Alzheimer, Parkinson e alguns tipos de câncer. “Os tratamentos são realizados com exclusividade nos Estados Unidos”, afirmou.

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SUS

“Existem mais de dez medicamentos no mercado de eficácia comprovada para o tratamento da esclerose múltipla. Os planos de saúde pagam por todos e o SUS (Sistema Único de Saúde) fornece a maioria deles”, explicou a neurologista Claudia Vasconcelos, coordenadora do Centro de Tratamento de Esclerose Múltipla do Hospital Gaffrée Guinle, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

“Essa máquina (do médico Marc Abreu) foi desenvolvida para outros usos e não há comprovação científica de que seja eficaz contra esclerose múltipla ou outra doença. Mas há pacientes em busca de tratamentos milagrosos”, completa.

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A Academia Brasileira de Neurologia divulgou nota fazendo um alerta sobre o método, lembrando que não há sustentação científica para a sua adoção.

“Diante de notícias veiculadas recentemente em alguns órgãos de mídia, enfatizamos a todos os cidadãos e, em especial, aos pacientes acometidos e seus familiares, aos médicos de todas as áreas, aos nossos colegas neurologistas e associados da ABN, que a técnica não tem qualquer sustentação científica”, diz a nota.

E conclui: “Em não havendo evidências de efetividade à luz da ciência, a adoção é estranha aos postulados da medicina. Assim, configura infração ética, inclusive por expor pacientes a riscos e/ou perdas econômicas, dependendo de cada caso. Promessas de melhora ou cura em episódios de doenças tão graves sem sólida base científica são um ardil em geral e, especialmente, em episódios de saúde tão graves que, não raramente, fragilizam pacientes e seus familiares”.

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A esclerose múltipla é uma doença autoimune que provoca uma desordem no sistema imunológico, que começa a produzir anticorpos contra a mielina – a bainha que reveste as fibras nervosas no cérebro e na medula.

Os remédios disponíveis no mercado conseguem modular essa resposta imunológica em 90% dos casos, sendo capazes de controlar a doença. Apenas 10% dos pacientes não respondem a nenhum tratamento.

10% dos pacientes não respondem a nenhum tratamento contra esclerose múltipla. Foto: Caitlin Ochs/Reuters
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Entenda mais sobre a doença:

O que é esclerose múltipla?

Conforme a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, é uma doença neurológica, crônica e autoimune, ou seja, as células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais e medulares.

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Embora a doença ainda seja de causas desconhecidas, a esclerose múltipla tem sido foco de muitos estudos no mundo todo, o que tem possibilitado constante e significativa evolução na qualidade de vida dos pacientes, geralmente jovens adultos, principalmente mulheres entre 20 e 40 anos. A esclerose é até três vezes mais comuns em mulheres do que homens.

Por que a doença se manifesta?

De acordo com a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, a perda de mielina (substância cuja função é fazer com que o impulso nervoso percorra os neurônios) leva à interferência na transmissão dos impulsos elétricos e isto produz os diversos sintomas da doença.

“É uma doença na qual ocorre um ataque do nosso sistema imunológico de defesa, a bainha de mielina, uma camada protetora que a gente tem que envolve os axônios, que são parte dos nossos neurônios. Esse ataque a essa bainha de mielina atrapalha na comunicação entre os neurônios, entre os neurônios e os músculos, os nervos propriamente ditos”, explica Gabriel Bienes, coordenador do serviço de Neurologia Clínica do Hospital Leforte Liberdade.

Com a desmielinização, ocorre um processo inflamatório que culmina, no decorrer do tempo, no acúmulo de incapacitações neurológicas. Os pontos de inflamação evoluem para resolução com formação de cicatriz (esclerose significa cicatriz).

Como é o diagnóstico da doença?

É importante que, em caso de suspeita, a pessoa procure um neurologista, que é o especialista indicado para tratar da doença, o quanto antes. Ele levará em conta alguns critérios, como evidência de múltiplas lesões no sistema nervoso central, assim como solicitará a realização de exames.

Não há exames específicos para esclerose múltipla. O diagnóstico depende da exclusão de outras patologias que podem produzir sinais e sintomas semelhantes de outras doenças neurológicas.

Assim, é importante o médico avaliar o paciente, realizar exame neurológico e ver seu histórico. O exame de ressonância magnética do crânio pode ajudar a confirmar o diagnóstico.

“O sintoma mais comum, de longe, é a fadiga. Por exemplo, é uma fadiga crônica e depois chama a atenção em relação as alterações da fala, da deglutição, sintomas de equilíbrio e alterações visuais”, afirma o neurologista Mauricio Hoshino.

Na prática, o diagnóstico da esclerose múltipla pode demorar anos pela falta de conhecimento sobre a patologia, por seus sintomas serem inespecíficos no começo.

Quais são os sintomas mais comuns?

A esclerose múltipla pode se manifestar por diversos sintomas. “São bem variáveis porque dependem do local do sistema nervoso central onde teve a lesão, o ataque a bainha de mielina. Podem ser desde formigamento, que acontece nos braços ou nas pernas, região do tórax e em geral, duram mais de 24 horas. Até sintomas como fraqueza de um braço ou uma perna. Pode provocar também dificuldade visual, com visão embaçada de um dos olhos, prejuízo que dura alguns dias, assim como visão dupla, que seria causada pela dificuldade de fixar o olhar”, acrescenta Bienes.

Em caso onde há lesão na medula espinhal, pode ocorrer alteração urinária, de incontinência até retenção urinária, assim como sintomas nas duas pernas ao mesmo tempo.

“Muitos pacientes também relatam em fase inicial dores musculares pelo corpo (com rigidez e fraqueza sem relação com atividade física), cansaço (fadiga crônica, desproporcional à atividade) e dificuldades em andar. Alguns relatam dificuldade com equilíbrio e balanço corporal. Em outros pacientes, pode haver sintomas com dificuldade de memória, concentração”, acrescenta Marcus Pai, fisiatra e médico acupunturista e diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

Confira a seguir uma lista com sintomas:

Fadiga - cansaço intenso e momentaneamente incapacitante.

Alterações fonoaudiológicas - palavras arrastadas, voz trêmula, alteração da voz ou dificuldade para engolir.

Transtornos visuais - visão embaçada ou visão dupla.

Problemas de equilíbrio e de coordenação - perda de equilíbrio, instabilidade ao caminhar e falta de coordenação.

Espasticidade - rigidez de um membro ao movimentar-se e acomete principalmente os membros inferiores.

Transtornos cognitivos - dificuldade para memorizar e executar tarefas.

Transtornos emocionais - sintomas de depressão, de ansiedade e de humor.

Sexualidade - disfunção erétil nos homens e diminuição de lubrificação vaginal nas mulheres.

A atriz Cláudia Rodrigues, de 52 anos, que sofre de esclerose múltipla, está vendendo imóveis para pagar por um tratamento médico milionário sem nenhum respaldo científico, alertam especialistas. Segundo o gestor da atriz, Marcelo Calone, ela está tentando reunir R$ 5 milhões para se submeter a uma terapia experimental contra a doença neurodegenerativa para a qual não há cura conhecida.

“Tivemos que colocar à venda a cobertura da Claudinha, que fica no Rio, para que possamos custear esse programa”, afirmou Calone. “A doença da Cláudia ainda não tem cura, mas acreditamos na regeneração das sequelas, dando à atriz uma qualidade de vida e longevidade. Nossa missão é fazer com que ela volte a fazer o que mais ama na vida… atuar”, acrescentou.

O tratamento experimental foi desenvolvido pelo médico e neurocientista Marc Abreu, um brasileiro radicado nos Estados Unidos. Um aparelho criado por Abreu originalmente para monitorar a temperatura do cérebro é usado em um “tratamento de hipotermia avançada guiada pelo cérebro”, onde estímulos de frio e calor são enviados para o cérebro do paciente. O equipamento tem aprovação da Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador norte-americano semelhante à Anvisa, para a medição da temperatura.

Procurado pelo Estadão, Abreu explicou que o tratamento que deve ser feito em Cláudia Rodrigues – que ainda está em processo de avaliação – causa hipotermia (excesso de frio) no cérebro, o que “ajuda a ativar células que produzem mielina (estrutura cerebral que facilita a rápida comunicação entre os neurônios)”.

Dessa forma, segundo ele, seria possível restaurar e preservar os nervos em processo de desmielinização, mantendo sua capacidade de conduzir por impulsos elétricos, um dos principais sintomas nos casos de esclerose múltipla. “O tratamento de hipotermia é seguido pela hipertermia, com indução de proteína de choque térmico para restaurar as partes do cérebro lesado pela doença”, finaliza.

De acordo com o médico, o tratamento seria eficaz não só contra a esclerose múltipla, mas também para esclerose lateral amiotrófica, Alzheimer, Parkinson e alguns tipos de câncer. “Os tratamentos são realizados com exclusividade nos Estados Unidos”, afirmou.

SUS

“Existem mais de dez medicamentos no mercado de eficácia comprovada para o tratamento da esclerose múltipla. Os planos de saúde pagam por todos e o SUS (Sistema Único de Saúde) fornece a maioria deles”, explicou a neurologista Claudia Vasconcelos, coordenadora do Centro de Tratamento de Esclerose Múltipla do Hospital Gaffrée Guinle, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

“Essa máquina (do médico Marc Abreu) foi desenvolvida para outros usos e não há comprovação científica de que seja eficaz contra esclerose múltipla ou outra doença. Mas há pacientes em busca de tratamentos milagrosos”, completa.

A Academia Brasileira de Neurologia divulgou nota fazendo um alerta sobre o método, lembrando que não há sustentação científica para a sua adoção.

“Diante de notícias veiculadas recentemente em alguns órgãos de mídia, enfatizamos a todos os cidadãos e, em especial, aos pacientes acometidos e seus familiares, aos médicos de todas as áreas, aos nossos colegas neurologistas e associados da ABN, que a técnica não tem qualquer sustentação científica”, diz a nota.

E conclui: “Em não havendo evidências de efetividade à luz da ciência, a adoção é estranha aos postulados da medicina. Assim, configura infração ética, inclusive por expor pacientes a riscos e/ou perdas econômicas, dependendo de cada caso. Promessas de melhora ou cura em episódios de doenças tão graves sem sólida base científica são um ardil em geral e, especialmente, em episódios de saúde tão graves que, não raramente, fragilizam pacientes e seus familiares”.

A esclerose múltipla é uma doença autoimune que provoca uma desordem no sistema imunológico, que começa a produzir anticorpos contra a mielina – a bainha que reveste as fibras nervosas no cérebro e na medula.

Os remédios disponíveis no mercado conseguem modular essa resposta imunológica em 90% dos casos, sendo capazes de controlar a doença. Apenas 10% dos pacientes não respondem a nenhum tratamento.

10% dos pacientes não respondem a nenhum tratamento contra esclerose múltipla. Foto: Caitlin Ochs/Reuters

Entenda mais sobre a doença:

O que é esclerose múltipla?

Conforme a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, é uma doença neurológica, crônica e autoimune, ou seja, as células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais e medulares.

Embora a doença ainda seja de causas desconhecidas, a esclerose múltipla tem sido foco de muitos estudos no mundo todo, o que tem possibilitado constante e significativa evolução na qualidade de vida dos pacientes, geralmente jovens adultos, principalmente mulheres entre 20 e 40 anos. A esclerose é até três vezes mais comuns em mulheres do que homens.

Por que a doença se manifesta?

De acordo com a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, a perda de mielina (substância cuja função é fazer com que o impulso nervoso percorra os neurônios) leva à interferência na transmissão dos impulsos elétricos e isto produz os diversos sintomas da doença.

“É uma doença na qual ocorre um ataque do nosso sistema imunológico de defesa, a bainha de mielina, uma camada protetora que a gente tem que envolve os axônios, que são parte dos nossos neurônios. Esse ataque a essa bainha de mielina atrapalha na comunicação entre os neurônios, entre os neurônios e os músculos, os nervos propriamente ditos”, explica Gabriel Bienes, coordenador do serviço de Neurologia Clínica do Hospital Leforte Liberdade.

Com a desmielinização, ocorre um processo inflamatório que culmina, no decorrer do tempo, no acúmulo de incapacitações neurológicas. Os pontos de inflamação evoluem para resolução com formação de cicatriz (esclerose significa cicatriz).

Como é o diagnóstico da doença?

É importante que, em caso de suspeita, a pessoa procure um neurologista, que é o especialista indicado para tratar da doença, o quanto antes. Ele levará em conta alguns critérios, como evidência de múltiplas lesões no sistema nervoso central, assim como solicitará a realização de exames.

Não há exames específicos para esclerose múltipla. O diagnóstico depende da exclusão de outras patologias que podem produzir sinais e sintomas semelhantes de outras doenças neurológicas.

Assim, é importante o médico avaliar o paciente, realizar exame neurológico e ver seu histórico. O exame de ressonância magnética do crânio pode ajudar a confirmar o diagnóstico.

“O sintoma mais comum, de longe, é a fadiga. Por exemplo, é uma fadiga crônica e depois chama a atenção em relação as alterações da fala, da deglutição, sintomas de equilíbrio e alterações visuais”, afirma o neurologista Mauricio Hoshino.

Na prática, o diagnóstico da esclerose múltipla pode demorar anos pela falta de conhecimento sobre a patologia, por seus sintomas serem inespecíficos no começo.

Quais são os sintomas mais comuns?

A esclerose múltipla pode se manifestar por diversos sintomas. “São bem variáveis porque dependem do local do sistema nervoso central onde teve a lesão, o ataque a bainha de mielina. Podem ser desde formigamento, que acontece nos braços ou nas pernas, região do tórax e em geral, duram mais de 24 horas. Até sintomas como fraqueza de um braço ou uma perna. Pode provocar também dificuldade visual, com visão embaçada de um dos olhos, prejuízo que dura alguns dias, assim como visão dupla, que seria causada pela dificuldade de fixar o olhar”, acrescenta Bienes.

Em caso onde há lesão na medula espinhal, pode ocorrer alteração urinária, de incontinência até retenção urinária, assim como sintomas nas duas pernas ao mesmo tempo.

“Muitos pacientes também relatam em fase inicial dores musculares pelo corpo (com rigidez e fraqueza sem relação com atividade física), cansaço (fadiga crônica, desproporcional à atividade) e dificuldades em andar. Alguns relatam dificuldade com equilíbrio e balanço corporal. Em outros pacientes, pode haver sintomas com dificuldade de memória, concentração”, acrescenta Marcus Pai, fisiatra e médico acupunturista e diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

Confira a seguir uma lista com sintomas:

Fadiga - cansaço intenso e momentaneamente incapacitante.

Alterações fonoaudiológicas - palavras arrastadas, voz trêmula, alteração da voz ou dificuldade para engolir.

Transtornos visuais - visão embaçada ou visão dupla.

Problemas de equilíbrio e de coordenação - perda de equilíbrio, instabilidade ao caminhar e falta de coordenação.

Espasticidade - rigidez de um membro ao movimentar-se e acomete principalmente os membros inferiores.

Transtornos cognitivos - dificuldade para memorizar e executar tarefas.

Transtornos emocionais - sintomas de depressão, de ansiedade e de humor.

Sexualidade - disfunção erétil nos homens e diminuição de lubrificação vaginal nas mulheres.

A atriz Cláudia Rodrigues, de 52 anos, que sofre de esclerose múltipla, está vendendo imóveis para pagar por um tratamento médico milionário sem nenhum respaldo científico, alertam especialistas. Segundo o gestor da atriz, Marcelo Calone, ela está tentando reunir R$ 5 milhões para se submeter a uma terapia experimental contra a doença neurodegenerativa para a qual não há cura conhecida.

“Tivemos que colocar à venda a cobertura da Claudinha, que fica no Rio, para que possamos custear esse programa”, afirmou Calone. “A doença da Cláudia ainda não tem cura, mas acreditamos na regeneração das sequelas, dando à atriz uma qualidade de vida e longevidade. Nossa missão é fazer com que ela volte a fazer o que mais ama na vida… atuar”, acrescentou.

O tratamento experimental foi desenvolvido pelo médico e neurocientista Marc Abreu, um brasileiro radicado nos Estados Unidos. Um aparelho criado por Abreu originalmente para monitorar a temperatura do cérebro é usado em um “tratamento de hipotermia avançada guiada pelo cérebro”, onde estímulos de frio e calor são enviados para o cérebro do paciente. O equipamento tem aprovação da Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador norte-americano semelhante à Anvisa, para a medição da temperatura.

Procurado pelo Estadão, Abreu explicou que o tratamento que deve ser feito em Cláudia Rodrigues – que ainda está em processo de avaliação – causa hipotermia (excesso de frio) no cérebro, o que “ajuda a ativar células que produzem mielina (estrutura cerebral que facilita a rápida comunicação entre os neurônios)”.

Dessa forma, segundo ele, seria possível restaurar e preservar os nervos em processo de desmielinização, mantendo sua capacidade de conduzir por impulsos elétricos, um dos principais sintomas nos casos de esclerose múltipla. “O tratamento de hipotermia é seguido pela hipertermia, com indução de proteína de choque térmico para restaurar as partes do cérebro lesado pela doença”, finaliza.

De acordo com o médico, o tratamento seria eficaz não só contra a esclerose múltipla, mas também para esclerose lateral amiotrófica, Alzheimer, Parkinson e alguns tipos de câncer. “Os tratamentos são realizados com exclusividade nos Estados Unidos”, afirmou.

SUS

“Existem mais de dez medicamentos no mercado de eficácia comprovada para o tratamento da esclerose múltipla. Os planos de saúde pagam por todos e o SUS (Sistema Único de Saúde) fornece a maioria deles”, explicou a neurologista Claudia Vasconcelos, coordenadora do Centro de Tratamento de Esclerose Múltipla do Hospital Gaffrée Guinle, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

“Essa máquina (do médico Marc Abreu) foi desenvolvida para outros usos e não há comprovação científica de que seja eficaz contra esclerose múltipla ou outra doença. Mas há pacientes em busca de tratamentos milagrosos”, completa.

A Academia Brasileira de Neurologia divulgou nota fazendo um alerta sobre o método, lembrando que não há sustentação científica para a sua adoção.

“Diante de notícias veiculadas recentemente em alguns órgãos de mídia, enfatizamos a todos os cidadãos e, em especial, aos pacientes acometidos e seus familiares, aos médicos de todas as áreas, aos nossos colegas neurologistas e associados da ABN, que a técnica não tem qualquer sustentação científica”, diz a nota.

E conclui: “Em não havendo evidências de efetividade à luz da ciência, a adoção é estranha aos postulados da medicina. Assim, configura infração ética, inclusive por expor pacientes a riscos e/ou perdas econômicas, dependendo de cada caso. Promessas de melhora ou cura em episódios de doenças tão graves sem sólida base científica são um ardil em geral e, especialmente, em episódios de saúde tão graves que, não raramente, fragilizam pacientes e seus familiares”.

A esclerose múltipla é uma doença autoimune que provoca uma desordem no sistema imunológico, que começa a produzir anticorpos contra a mielina – a bainha que reveste as fibras nervosas no cérebro e na medula.

Os remédios disponíveis no mercado conseguem modular essa resposta imunológica em 90% dos casos, sendo capazes de controlar a doença. Apenas 10% dos pacientes não respondem a nenhum tratamento.

10% dos pacientes não respondem a nenhum tratamento contra esclerose múltipla. Foto: Caitlin Ochs/Reuters

Entenda mais sobre a doença:

O que é esclerose múltipla?

Conforme a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, é uma doença neurológica, crônica e autoimune, ou seja, as células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais e medulares.

Embora a doença ainda seja de causas desconhecidas, a esclerose múltipla tem sido foco de muitos estudos no mundo todo, o que tem possibilitado constante e significativa evolução na qualidade de vida dos pacientes, geralmente jovens adultos, principalmente mulheres entre 20 e 40 anos. A esclerose é até três vezes mais comuns em mulheres do que homens.

Por que a doença se manifesta?

De acordo com a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, a perda de mielina (substância cuja função é fazer com que o impulso nervoso percorra os neurônios) leva à interferência na transmissão dos impulsos elétricos e isto produz os diversos sintomas da doença.

“É uma doença na qual ocorre um ataque do nosso sistema imunológico de defesa, a bainha de mielina, uma camada protetora que a gente tem que envolve os axônios, que são parte dos nossos neurônios. Esse ataque a essa bainha de mielina atrapalha na comunicação entre os neurônios, entre os neurônios e os músculos, os nervos propriamente ditos”, explica Gabriel Bienes, coordenador do serviço de Neurologia Clínica do Hospital Leforte Liberdade.

Com a desmielinização, ocorre um processo inflamatório que culmina, no decorrer do tempo, no acúmulo de incapacitações neurológicas. Os pontos de inflamação evoluem para resolução com formação de cicatriz (esclerose significa cicatriz).

Como é o diagnóstico da doença?

É importante que, em caso de suspeita, a pessoa procure um neurologista, que é o especialista indicado para tratar da doença, o quanto antes. Ele levará em conta alguns critérios, como evidência de múltiplas lesões no sistema nervoso central, assim como solicitará a realização de exames.

Não há exames específicos para esclerose múltipla. O diagnóstico depende da exclusão de outras patologias que podem produzir sinais e sintomas semelhantes de outras doenças neurológicas.

Assim, é importante o médico avaliar o paciente, realizar exame neurológico e ver seu histórico. O exame de ressonância magnética do crânio pode ajudar a confirmar o diagnóstico.

“O sintoma mais comum, de longe, é a fadiga. Por exemplo, é uma fadiga crônica e depois chama a atenção em relação as alterações da fala, da deglutição, sintomas de equilíbrio e alterações visuais”, afirma o neurologista Mauricio Hoshino.

Na prática, o diagnóstico da esclerose múltipla pode demorar anos pela falta de conhecimento sobre a patologia, por seus sintomas serem inespecíficos no começo.

Quais são os sintomas mais comuns?

A esclerose múltipla pode se manifestar por diversos sintomas. “São bem variáveis porque dependem do local do sistema nervoso central onde teve a lesão, o ataque a bainha de mielina. Podem ser desde formigamento, que acontece nos braços ou nas pernas, região do tórax e em geral, duram mais de 24 horas. Até sintomas como fraqueza de um braço ou uma perna. Pode provocar também dificuldade visual, com visão embaçada de um dos olhos, prejuízo que dura alguns dias, assim como visão dupla, que seria causada pela dificuldade de fixar o olhar”, acrescenta Bienes.

Em caso onde há lesão na medula espinhal, pode ocorrer alteração urinária, de incontinência até retenção urinária, assim como sintomas nas duas pernas ao mesmo tempo.

“Muitos pacientes também relatam em fase inicial dores musculares pelo corpo (com rigidez e fraqueza sem relação com atividade física), cansaço (fadiga crônica, desproporcional à atividade) e dificuldades em andar. Alguns relatam dificuldade com equilíbrio e balanço corporal. Em outros pacientes, pode haver sintomas com dificuldade de memória, concentração”, acrescenta Marcus Pai, fisiatra e médico acupunturista e diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

Confira a seguir uma lista com sintomas:

Fadiga - cansaço intenso e momentaneamente incapacitante.

Alterações fonoaudiológicas - palavras arrastadas, voz trêmula, alteração da voz ou dificuldade para engolir.

Transtornos visuais - visão embaçada ou visão dupla.

Problemas de equilíbrio e de coordenação - perda de equilíbrio, instabilidade ao caminhar e falta de coordenação.

Espasticidade - rigidez de um membro ao movimentar-se e acomete principalmente os membros inferiores.

Transtornos cognitivos - dificuldade para memorizar e executar tarefas.

Transtornos emocionais - sintomas de depressão, de ansiedade e de humor.

Sexualidade - disfunção erétil nos homens e diminuição de lubrificação vaginal nas mulheres.

A atriz Cláudia Rodrigues, de 52 anos, que sofre de esclerose múltipla, está vendendo imóveis para pagar por um tratamento médico milionário sem nenhum respaldo científico, alertam especialistas. Segundo o gestor da atriz, Marcelo Calone, ela está tentando reunir R$ 5 milhões para se submeter a uma terapia experimental contra a doença neurodegenerativa para a qual não há cura conhecida.

“Tivemos que colocar à venda a cobertura da Claudinha, que fica no Rio, para que possamos custear esse programa”, afirmou Calone. “A doença da Cláudia ainda não tem cura, mas acreditamos na regeneração das sequelas, dando à atriz uma qualidade de vida e longevidade. Nossa missão é fazer com que ela volte a fazer o que mais ama na vida… atuar”, acrescentou.

O tratamento experimental foi desenvolvido pelo médico e neurocientista Marc Abreu, um brasileiro radicado nos Estados Unidos. Um aparelho criado por Abreu originalmente para monitorar a temperatura do cérebro é usado em um “tratamento de hipotermia avançada guiada pelo cérebro”, onde estímulos de frio e calor são enviados para o cérebro do paciente. O equipamento tem aprovação da Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador norte-americano semelhante à Anvisa, para a medição da temperatura.

Procurado pelo Estadão, Abreu explicou que o tratamento que deve ser feito em Cláudia Rodrigues – que ainda está em processo de avaliação – causa hipotermia (excesso de frio) no cérebro, o que “ajuda a ativar células que produzem mielina (estrutura cerebral que facilita a rápida comunicação entre os neurônios)”.

Dessa forma, segundo ele, seria possível restaurar e preservar os nervos em processo de desmielinização, mantendo sua capacidade de conduzir por impulsos elétricos, um dos principais sintomas nos casos de esclerose múltipla. “O tratamento de hipotermia é seguido pela hipertermia, com indução de proteína de choque térmico para restaurar as partes do cérebro lesado pela doença”, finaliza.

De acordo com o médico, o tratamento seria eficaz não só contra a esclerose múltipla, mas também para esclerose lateral amiotrófica, Alzheimer, Parkinson e alguns tipos de câncer. “Os tratamentos são realizados com exclusividade nos Estados Unidos”, afirmou.

SUS

“Existem mais de dez medicamentos no mercado de eficácia comprovada para o tratamento da esclerose múltipla. Os planos de saúde pagam por todos e o SUS (Sistema Único de Saúde) fornece a maioria deles”, explicou a neurologista Claudia Vasconcelos, coordenadora do Centro de Tratamento de Esclerose Múltipla do Hospital Gaffrée Guinle, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

“Essa máquina (do médico Marc Abreu) foi desenvolvida para outros usos e não há comprovação científica de que seja eficaz contra esclerose múltipla ou outra doença. Mas há pacientes em busca de tratamentos milagrosos”, completa.

A Academia Brasileira de Neurologia divulgou nota fazendo um alerta sobre o método, lembrando que não há sustentação científica para a sua adoção.

“Diante de notícias veiculadas recentemente em alguns órgãos de mídia, enfatizamos a todos os cidadãos e, em especial, aos pacientes acometidos e seus familiares, aos médicos de todas as áreas, aos nossos colegas neurologistas e associados da ABN, que a técnica não tem qualquer sustentação científica”, diz a nota.

E conclui: “Em não havendo evidências de efetividade à luz da ciência, a adoção é estranha aos postulados da medicina. Assim, configura infração ética, inclusive por expor pacientes a riscos e/ou perdas econômicas, dependendo de cada caso. Promessas de melhora ou cura em episódios de doenças tão graves sem sólida base científica são um ardil em geral e, especialmente, em episódios de saúde tão graves que, não raramente, fragilizam pacientes e seus familiares”.

A esclerose múltipla é uma doença autoimune que provoca uma desordem no sistema imunológico, que começa a produzir anticorpos contra a mielina – a bainha que reveste as fibras nervosas no cérebro e na medula.

Os remédios disponíveis no mercado conseguem modular essa resposta imunológica em 90% dos casos, sendo capazes de controlar a doença. Apenas 10% dos pacientes não respondem a nenhum tratamento.

10% dos pacientes não respondem a nenhum tratamento contra esclerose múltipla. Foto: Caitlin Ochs/Reuters

Entenda mais sobre a doença:

O que é esclerose múltipla?

Conforme a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, é uma doença neurológica, crônica e autoimune, ou seja, as células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais e medulares.

Embora a doença ainda seja de causas desconhecidas, a esclerose múltipla tem sido foco de muitos estudos no mundo todo, o que tem possibilitado constante e significativa evolução na qualidade de vida dos pacientes, geralmente jovens adultos, principalmente mulheres entre 20 e 40 anos. A esclerose é até três vezes mais comuns em mulheres do que homens.

Por que a doença se manifesta?

De acordo com a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, a perda de mielina (substância cuja função é fazer com que o impulso nervoso percorra os neurônios) leva à interferência na transmissão dos impulsos elétricos e isto produz os diversos sintomas da doença.

“É uma doença na qual ocorre um ataque do nosso sistema imunológico de defesa, a bainha de mielina, uma camada protetora que a gente tem que envolve os axônios, que são parte dos nossos neurônios. Esse ataque a essa bainha de mielina atrapalha na comunicação entre os neurônios, entre os neurônios e os músculos, os nervos propriamente ditos”, explica Gabriel Bienes, coordenador do serviço de Neurologia Clínica do Hospital Leforte Liberdade.

Com a desmielinização, ocorre um processo inflamatório que culmina, no decorrer do tempo, no acúmulo de incapacitações neurológicas. Os pontos de inflamação evoluem para resolução com formação de cicatriz (esclerose significa cicatriz).

Como é o diagnóstico da doença?

É importante que, em caso de suspeita, a pessoa procure um neurologista, que é o especialista indicado para tratar da doença, o quanto antes. Ele levará em conta alguns critérios, como evidência de múltiplas lesões no sistema nervoso central, assim como solicitará a realização de exames.

Não há exames específicos para esclerose múltipla. O diagnóstico depende da exclusão de outras patologias que podem produzir sinais e sintomas semelhantes de outras doenças neurológicas.

Assim, é importante o médico avaliar o paciente, realizar exame neurológico e ver seu histórico. O exame de ressonância magnética do crânio pode ajudar a confirmar o diagnóstico.

“O sintoma mais comum, de longe, é a fadiga. Por exemplo, é uma fadiga crônica e depois chama a atenção em relação as alterações da fala, da deglutição, sintomas de equilíbrio e alterações visuais”, afirma o neurologista Mauricio Hoshino.

Na prática, o diagnóstico da esclerose múltipla pode demorar anos pela falta de conhecimento sobre a patologia, por seus sintomas serem inespecíficos no começo.

Quais são os sintomas mais comuns?

A esclerose múltipla pode se manifestar por diversos sintomas. “São bem variáveis porque dependem do local do sistema nervoso central onde teve a lesão, o ataque a bainha de mielina. Podem ser desde formigamento, que acontece nos braços ou nas pernas, região do tórax e em geral, duram mais de 24 horas. Até sintomas como fraqueza de um braço ou uma perna. Pode provocar também dificuldade visual, com visão embaçada de um dos olhos, prejuízo que dura alguns dias, assim como visão dupla, que seria causada pela dificuldade de fixar o olhar”, acrescenta Bienes.

Em caso onde há lesão na medula espinhal, pode ocorrer alteração urinária, de incontinência até retenção urinária, assim como sintomas nas duas pernas ao mesmo tempo.

“Muitos pacientes também relatam em fase inicial dores musculares pelo corpo (com rigidez e fraqueza sem relação com atividade física), cansaço (fadiga crônica, desproporcional à atividade) e dificuldades em andar. Alguns relatam dificuldade com equilíbrio e balanço corporal. Em outros pacientes, pode haver sintomas com dificuldade de memória, concentração”, acrescenta Marcus Pai, fisiatra e médico acupunturista e diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

Confira a seguir uma lista com sintomas:

Fadiga - cansaço intenso e momentaneamente incapacitante.

Alterações fonoaudiológicas - palavras arrastadas, voz trêmula, alteração da voz ou dificuldade para engolir.

Transtornos visuais - visão embaçada ou visão dupla.

Problemas de equilíbrio e de coordenação - perda de equilíbrio, instabilidade ao caminhar e falta de coordenação.

Espasticidade - rigidez de um membro ao movimentar-se e acomete principalmente os membros inferiores.

Transtornos cognitivos - dificuldade para memorizar e executar tarefas.

Transtornos emocionais - sintomas de depressão, de ansiedade e de humor.

Sexualidade - disfunção erétil nos homens e diminuição de lubrificação vaginal nas mulheres.

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