Em tratamento para insuficiência cardíaca desde 2020, o apresentador Fausto Silva, o Faustão, está internado no Hospital Israelita Albert Einstein desde o dia 5 de agosto e foi incluído na fila do transplante para receber um novo coração. Segundo o último relatório da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), com dados até março deste ano, 369 pessoas esperam um coração no País. Se considerada a fila para todos os tipos de órgão, o número salta para 55.386.
Quem sabe bem como é essa espera é o aposentado septuagenário César Fernandes. Desde o último dia 5 de abril, bate em seu peito um coração de 39 anos. Cerca de um mês antes do seu aniversário de 70 anos, ele recebeu a notícia de que tinham encontrado um coração compatível para um transplante.
Fernandes é carioca, mora na Bahia há 30 anos e precisou se mudar para Recife para passar pela cirurgia. O cardiologista que o acompanhava explicou que, atualmente, alguns dos locais mais preparados para fazer cirurgia cardíaca eram Recife ou São Paulo.
“Eu não tinha como ir para lugar nenhum, era dali para a morte, então escolhi Recife e me mudei para lá”, lembra. A lista de transplantes é nacional, mas o processo de retirada do órgão do doador e transplante no receptor tem que ser feita rapidamente, em até quatro horas. Por isso, os pacientes que estão na fila de transplantes precisam estar sempre preparados para se submeterem de imediato à cirurgia.
Assim, ele alugou uma casa em Pernambuco e se mudou para lá no dia 3 de abril, com sua esposa Isadora e o filho Leandro, de 12 anos, e teve a sorte de ser chamado para o transplante apenas dois dias depois. Hoje, ele diz que essa preparação anterior de já viajar antes de ser chamado fez a diferença: “Se eu não tivesse me adiantado, não receberia aquele coração”, acredita.
A entrega do coração e de outros órgãos foi noticiada na imprensa local: um jovem de 39 faleceu em Caruaru (PE) e a família aceitou doar todos os seus órgãos. A distância entre a cidade do interior e a capital é de cerca de 140 quilômetros, mas, com ajuda do helicóptero da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em 27 minutos o órgão saiu do Hospital Regional do Agreste para o Instituto de Medicina Integrada Professor Fernando Figueira (IMIP), onde Fernandes estava internado.
O doador teve um traumatismo craniano após uma queda e, como teve morte encefálica confirmada, todos os órgãos puderam ser reaproveitados. O fígado hoje habita o corpo de uma mulher de 74 anos e os rins e as córneas foram para pessoas não divulgadas.
Coração cansado
César Fernandes teve um enfarte com cerca de 45 anos. Como bebe pouco e adora se exercitar, ele acredita que os problemas no coração têm origem hereditária: alguns anos depois desse ocorrido, um irmão morreu após um ataque no coração. Outro, sofrendo do mesmo mal, precisou colocar duas pontes de safena para ajudar no bombeamento do sangue.
Após o susto, o aposentado continuou levando a vida tranquilamente, até perceber que estava ficando mais cansado do que o habitual. “Eu não conseguia andar nem dez metros, não subia uma escada de cinco degraus sem parar. Em Recife mesmo, após uns três meses do transplante, eu já fazia caminhada”, lembra.
O cansaço era fruto daquele enfarto sofrido há anos. O coração, debilitado, precisou aumentar de tamanho para suprir a demanda sanguínea – porém, depois de muito esforço, já apresentava sinais de falência.
Numa consulta, o cardiologista que o atendia explicou que a única saída seria ‘trocar a máquina’, brincando com a operação. “Eu nem me desesperei, pensei ‘tá bom, é o que temos’, e poucos dias depois voltei ao consultório falando ‘me bota nessa lista aí pra gente trocar a máquina’”, relembra.
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Seus 69 anos na época poderiam ser um empecilho: no Estado da Bahia, onde vivia, esse tipo de operação não costuma acontecer após os 70 anos. Porém, conforme uma pesquisa que o aposentado fez na época, o IMIP já tinha feito em pessoas com 72 anos.
O carioca conta que a cirurgia ocorreu sem complicações e que ele, anestesiado, não lembra de dor. O único susto foi ao perceber que, como o novo coração era menor do que o antigo, a cavidade começou a se encher de líquidos para suprir o espaço “vazio”, o que poderia demandar outra cirurgia. Porém, o problema já foi superado com o uso de remédios.
Agora, depois de passar o aniversário de 70 com a família e o Dia dos Pais com o filho, Fernandes acredita que o transplante que o apresentador Faustão necessita gere, de alguma forma, algo positivo: “Espero que as pessoas se sensibilizem e passem a doar órgãos, pois isso salva vidas. Os meus já não estão bons, mas meu filho, minha esposa e toda a nossa família é de doadores”, pontua.