Estigma barra tratamento adequado


No Brasil, 26% da população é obesa

Por Estadão Blue Studio
Atualização:

A situação é dramática: mais de 1 bilhão de pessoas – o equivalente a uma em cada sete – vivem com obesidade no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença crônica já causa uma epidemia global. E as estimativas mostram um horizonte ainda mais preocupante. Segundo cálculos da Federação Mundial de Obesidade (WOF), no ritmo atual, uma em cada quatro pessoas conviverá com obesidade no mundo em 2035. O recorte brasileiro, medido pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2020, indica que 26% da população tem obesidade.

“A obesidade é uma doença extremamente estigmatizada, sempre atribuída como culpa do paciente. A sociedade ainda acredita que a obesidade é falta de caráter e que as pessoas com a doença são preguiçosas, desmotivadas, indisciplinadas, desleixadas”, afirma o cirurgião bariátrico Ricardo Cohen, head do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e presidente mundial da Federação Internacional para a Cirurgia de Obesidade e Distúrbios Metabólicos (IFSO).

Divulgação Foto: Getty Images
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Os rótulos atrelados ao problema de peso são uma barreira para o tratamento adequado da doença. Em geral, o estigma surge por meio da rejeição, desvalorização social e moral das pessoas com obesidade. Sob olhar da sociedade, é um grupo do meio social que não cumpre as normas vigentes de peso e de forma corporal. A consequência emerge em vários campos. Desde a menor oferta de trabalho até o bullying.

Entre todos os casos da doença, segundo Cohen, 70% têm origem genética. E os 30% restantes estão associados a pessoas que vivem em um ambiente obesogênico, com alta carga de estresse, excesso de telas e comidas ultraprocessadas. “Isso leva a uma curva exponencial de incidência e prevalência de novos casos. Não dá para culpar o paciente.”

Opções de tratamento

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Historicamente e por muito tempo, a única opção realmente eficaz para o tratamento da obesidade era a cirurgia bariátrica, intervenção que gera uma perda de peso corporal média entre 25% e 35% (dependendo da técnica utilizada). Em termos comparativos, o tratamento clínico medicamentoso promove uma eficácia entre 5% e 10% de diminuição do peso. Enquanto dieta e exercícios, de forma isolada, apresentam resultados frustrantes: a média de perda de peso a longo prazo é de três a cinco quilos.

“Por muitos anos vivemos esse ‘gap’ muito grande. As opções para o tratamento clínico tinham uma eficácia média relativamente pequena, somada ao fato de que a pessoa precisava tomar remédio continuamente e não tinha grandes benefícios adicionais na redução de infarto, AVC ou outras doenças. Por isso, por muito tempo, a cirurgia era o único tratamento eficaz e com benefícios adicionais”, analisa o endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), membro do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e presidente eleito da World Obesity Federation.

Por causa da demanda, a indústria farmacêutica passou a pesquisar novas moléculas e surgiram medicamentos que podem ser usados a longo prazo e têm eficácia tão boa ou superior à da cirurgia bariátrica. O primeiro a entrar em cena foi a liraglutida, que pode proporcionar uma perda de 6% a 7% do peso corporal total. Em seguida, veio a semaglutida que, além de promover a sensação de saciedade, retarda o esvaziamento gástrico e melhora os índices glicêmicos. “A semaglutida foi o primeiro medicamento que rompeu a barreira de média de 15% de perda de peso corporal”, afirma Halpern.

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A evolução é contínua. A tirzepatida pode levar a perdas de peso acima de 20%, ou seja, muito próximas aos resultados da cirurgia bariátrica – esse medicamento, embora esteja aprovado no Brasil, ainda não está disponível. E, por último, há também uma medicação que é a associação dos antidepressivos naltrexona + bupropiona, que promove uma perda de peso entre 8% e 9%.

“Cada vez mais, as medicações estão se aproximando dos bons resultados da cirurgia bariátrica. Mas isso considerando que a pessoa vai usar cronicamente a medicação para manter o resultado sustentado. Se interromper o tratamento, o paciente vai recuperar o peso”, afirma Jaqueline Rizzolli, médica endocrinologista, coordenadora do departamento de Cirurgia Bariátrica da Abeso e membro da SBEM.

O custo das medicações também é um problema no médio e longo prazos – o tratamento anual com semaglutida na dosagem 1 mg, por exemplo, custa em média R$ 12 mil. Se for considerar a versão 2,4 mg, o custo praticamente dobra e chega aos R$ 24 mil.

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Segundo Halpern, para considerarmos que os novos medicamentos podem substituir a cirurgia, é preciso primeiro convencer a sociedade de que a obesidade é uma doença crônica e, depois, as pessoas com a doença terão de se convencer de que precisam usar o remédio a longo prazo. “Será que a nossa sociedade está madura para isso?”, indaga. Para o endocrinologista, ainda está longe o dia em que a cirurgia será substituída pelas medicações. “Se formos avaliar o preço das medicações que temos atualmente, a cirurgia ainda é muito mais custo-efetiva.”

A situação é dramática: mais de 1 bilhão de pessoas – o equivalente a uma em cada sete – vivem com obesidade no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença crônica já causa uma epidemia global. E as estimativas mostram um horizonte ainda mais preocupante. Segundo cálculos da Federação Mundial de Obesidade (WOF), no ritmo atual, uma em cada quatro pessoas conviverá com obesidade no mundo em 2035. O recorte brasileiro, medido pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2020, indica que 26% da população tem obesidade.

“A obesidade é uma doença extremamente estigmatizada, sempre atribuída como culpa do paciente. A sociedade ainda acredita que a obesidade é falta de caráter e que as pessoas com a doença são preguiçosas, desmotivadas, indisciplinadas, desleixadas”, afirma o cirurgião bariátrico Ricardo Cohen, head do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e presidente mundial da Federação Internacional para a Cirurgia de Obesidade e Distúrbios Metabólicos (IFSO).

Divulgação Foto: Getty Images

Os rótulos atrelados ao problema de peso são uma barreira para o tratamento adequado da doença. Em geral, o estigma surge por meio da rejeição, desvalorização social e moral das pessoas com obesidade. Sob olhar da sociedade, é um grupo do meio social que não cumpre as normas vigentes de peso e de forma corporal. A consequência emerge em vários campos. Desde a menor oferta de trabalho até o bullying.

Entre todos os casos da doença, segundo Cohen, 70% têm origem genética. E os 30% restantes estão associados a pessoas que vivem em um ambiente obesogênico, com alta carga de estresse, excesso de telas e comidas ultraprocessadas. “Isso leva a uma curva exponencial de incidência e prevalência de novos casos. Não dá para culpar o paciente.”

Opções de tratamento

Historicamente e por muito tempo, a única opção realmente eficaz para o tratamento da obesidade era a cirurgia bariátrica, intervenção que gera uma perda de peso corporal média entre 25% e 35% (dependendo da técnica utilizada). Em termos comparativos, o tratamento clínico medicamentoso promove uma eficácia entre 5% e 10% de diminuição do peso. Enquanto dieta e exercícios, de forma isolada, apresentam resultados frustrantes: a média de perda de peso a longo prazo é de três a cinco quilos.

“Por muitos anos vivemos esse ‘gap’ muito grande. As opções para o tratamento clínico tinham uma eficácia média relativamente pequena, somada ao fato de que a pessoa precisava tomar remédio continuamente e não tinha grandes benefícios adicionais na redução de infarto, AVC ou outras doenças. Por isso, por muito tempo, a cirurgia era o único tratamento eficaz e com benefícios adicionais”, analisa o endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), membro do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e presidente eleito da World Obesity Federation.

Por causa da demanda, a indústria farmacêutica passou a pesquisar novas moléculas e surgiram medicamentos que podem ser usados a longo prazo e têm eficácia tão boa ou superior à da cirurgia bariátrica. O primeiro a entrar em cena foi a liraglutida, que pode proporcionar uma perda de 6% a 7% do peso corporal total. Em seguida, veio a semaglutida que, além de promover a sensação de saciedade, retarda o esvaziamento gástrico e melhora os índices glicêmicos. “A semaglutida foi o primeiro medicamento que rompeu a barreira de média de 15% de perda de peso corporal”, afirma Halpern.

A evolução é contínua. A tirzepatida pode levar a perdas de peso acima de 20%, ou seja, muito próximas aos resultados da cirurgia bariátrica – esse medicamento, embora esteja aprovado no Brasil, ainda não está disponível. E, por último, há também uma medicação que é a associação dos antidepressivos naltrexona + bupropiona, que promove uma perda de peso entre 8% e 9%.

“Cada vez mais, as medicações estão se aproximando dos bons resultados da cirurgia bariátrica. Mas isso considerando que a pessoa vai usar cronicamente a medicação para manter o resultado sustentado. Se interromper o tratamento, o paciente vai recuperar o peso”, afirma Jaqueline Rizzolli, médica endocrinologista, coordenadora do departamento de Cirurgia Bariátrica da Abeso e membro da SBEM.

O custo das medicações também é um problema no médio e longo prazos – o tratamento anual com semaglutida na dosagem 1 mg, por exemplo, custa em média R$ 12 mil. Se for considerar a versão 2,4 mg, o custo praticamente dobra e chega aos R$ 24 mil.

Segundo Halpern, para considerarmos que os novos medicamentos podem substituir a cirurgia, é preciso primeiro convencer a sociedade de que a obesidade é uma doença crônica e, depois, as pessoas com a doença terão de se convencer de que precisam usar o remédio a longo prazo. “Será que a nossa sociedade está madura para isso?”, indaga. Para o endocrinologista, ainda está longe o dia em que a cirurgia será substituída pelas medicações. “Se formos avaliar o preço das medicações que temos atualmente, a cirurgia ainda é muito mais custo-efetiva.”

A situação é dramática: mais de 1 bilhão de pessoas – o equivalente a uma em cada sete – vivem com obesidade no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença crônica já causa uma epidemia global. E as estimativas mostram um horizonte ainda mais preocupante. Segundo cálculos da Federação Mundial de Obesidade (WOF), no ritmo atual, uma em cada quatro pessoas conviverá com obesidade no mundo em 2035. O recorte brasileiro, medido pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2020, indica que 26% da população tem obesidade.

“A obesidade é uma doença extremamente estigmatizada, sempre atribuída como culpa do paciente. A sociedade ainda acredita que a obesidade é falta de caráter e que as pessoas com a doença são preguiçosas, desmotivadas, indisciplinadas, desleixadas”, afirma o cirurgião bariátrico Ricardo Cohen, head do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e presidente mundial da Federação Internacional para a Cirurgia de Obesidade e Distúrbios Metabólicos (IFSO).

Divulgação Foto: Getty Images

Os rótulos atrelados ao problema de peso são uma barreira para o tratamento adequado da doença. Em geral, o estigma surge por meio da rejeição, desvalorização social e moral das pessoas com obesidade. Sob olhar da sociedade, é um grupo do meio social que não cumpre as normas vigentes de peso e de forma corporal. A consequência emerge em vários campos. Desde a menor oferta de trabalho até o bullying.

Entre todos os casos da doença, segundo Cohen, 70% têm origem genética. E os 30% restantes estão associados a pessoas que vivem em um ambiente obesogênico, com alta carga de estresse, excesso de telas e comidas ultraprocessadas. “Isso leva a uma curva exponencial de incidência e prevalência de novos casos. Não dá para culpar o paciente.”

Opções de tratamento

Historicamente e por muito tempo, a única opção realmente eficaz para o tratamento da obesidade era a cirurgia bariátrica, intervenção que gera uma perda de peso corporal média entre 25% e 35% (dependendo da técnica utilizada). Em termos comparativos, o tratamento clínico medicamentoso promove uma eficácia entre 5% e 10% de diminuição do peso. Enquanto dieta e exercícios, de forma isolada, apresentam resultados frustrantes: a média de perda de peso a longo prazo é de três a cinco quilos.

“Por muitos anos vivemos esse ‘gap’ muito grande. As opções para o tratamento clínico tinham uma eficácia média relativamente pequena, somada ao fato de que a pessoa precisava tomar remédio continuamente e não tinha grandes benefícios adicionais na redução de infarto, AVC ou outras doenças. Por isso, por muito tempo, a cirurgia era o único tratamento eficaz e com benefícios adicionais”, analisa o endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), membro do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e presidente eleito da World Obesity Federation.

Por causa da demanda, a indústria farmacêutica passou a pesquisar novas moléculas e surgiram medicamentos que podem ser usados a longo prazo e têm eficácia tão boa ou superior à da cirurgia bariátrica. O primeiro a entrar em cena foi a liraglutida, que pode proporcionar uma perda de 6% a 7% do peso corporal total. Em seguida, veio a semaglutida que, além de promover a sensação de saciedade, retarda o esvaziamento gástrico e melhora os índices glicêmicos. “A semaglutida foi o primeiro medicamento que rompeu a barreira de média de 15% de perda de peso corporal”, afirma Halpern.

A evolução é contínua. A tirzepatida pode levar a perdas de peso acima de 20%, ou seja, muito próximas aos resultados da cirurgia bariátrica – esse medicamento, embora esteja aprovado no Brasil, ainda não está disponível. E, por último, há também uma medicação que é a associação dos antidepressivos naltrexona + bupropiona, que promove uma perda de peso entre 8% e 9%.

“Cada vez mais, as medicações estão se aproximando dos bons resultados da cirurgia bariátrica. Mas isso considerando que a pessoa vai usar cronicamente a medicação para manter o resultado sustentado. Se interromper o tratamento, o paciente vai recuperar o peso”, afirma Jaqueline Rizzolli, médica endocrinologista, coordenadora do departamento de Cirurgia Bariátrica da Abeso e membro da SBEM.

O custo das medicações também é um problema no médio e longo prazos – o tratamento anual com semaglutida na dosagem 1 mg, por exemplo, custa em média R$ 12 mil. Se for considerar a versão 2,4 mg, o custo praticamente dobra e chega aos R$ 24 mil.

Segundo Halpern, para considerarmos que os novos medicamentos podem substituir a cirurgia, é preciso primeiro convencer a sociedade de que a obesidade é uma doença crônica e, depois, as pessoas com a doença terão de se convencer de que precisam usar o remédio a longo prazo. “Será que a nossa sociedade está madura para isso?”, indaga. Para o endocrinologista, ainda está longe o dia em que a cirurgia será substituída pelas medicações. “Se formos avaliar o preço das medicações que temos atualmente, a cirurgia ainda é muito mais custo-efetiva.”

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