Um estudo da McMaster University, em Hamilton, no Canadá, descobriu que treinos curtos de alta intensidade podem ser mais eficazes para melhorar o condicionamento físico de pessoas que sofreram um acidente vascular cerebral (AVC) do que exercícios de intensidade moderada e duração de 20 a 30 minutos.
O resultado foi publicado na revista científica Stroke, na última semana. Foram analisadas 82 pessoas, entre setembro de 2018 e março de 2024. Todas haviam passado por um AVC entre seis meses e cinco anos antes do início do estudo e eram capazes de andar 10 metros sem assistência de outra pessoa (bengalas e andadores eram permitidos).
“Fomos motivados por estudos iniciais promissores que sugeriam que exercícios mais intensos poderiam ser melhores, mas não sabíamos até que ponto poderíamos exigir, com segurança, que pessoas com AVC se exercitassem”, disse a professora Ada Tang, coautora da pesquisa.
Uma parte do grupo realizou exercícios intervalados de alta intensidade (HIIT). A cada um minuto desse tipo de atividade, os voluntários intercalavam um minuto de exercícios de baixa intensidade, totalizando 19 minutos de atividade física, três dias na semana. A outra metade treinava de 20 a 30 minutos de forma ininterrupta, em intensidade moderada, também três dias na semana.
Os pesquisadores compararam os níveis de condicionamento físico, fatores de risco cardiovascular, como pressão arterial e rigidez dos vasos sanguíneos, velocidades de caminhada e distâncias entre os dois grupos. Todas as avaliações foram feitas no começo do estudo, no final, e repetidas uma última vez após 8 semanas dos exercícios, para avaliar se as mudanças foram sustentadas ao longo do tempo.
Os dois grupos, independentemente do treinamento, obtiveram melhora na resistência à caminhada, medida pela distância percorrida em 6 minutos. No início, todos conseguiam caminhar, em média, cerca de 355 metros nesse tempo. Após 12 semanas de exercício, ambos aumentaram sua distância de caminhada em 8 metros e, após 20 semanas, em 18 metros.
A maior diferença entre os dois grupos foi o nível de aptidão cardiorrespiratória, em outras palavras, a quantidade de oxigênio consumida no pico do exercício. Os pacientes do HIIT melhoraram seu consumo em aproximadamente 3,5 mililitros de oxigênio em um minuto, por quilo de peso corporal, contra 1,7 dos demais.
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Como mostramos nesta reportagem, o consumo de oxigênio durante o exercício é um indicativo da aptidão aeróbica, correlacionada com longevidade e níveis mais baixos de doenças cardiovasculares. “O mais importante é que as melhorias no grupo de alta intensidade indicavam um menor risco de AVC ou outras hospitalizações. Eles também mantiveram seus níveis de condicionamento físico 8 semanas após o término do programa”, acrescentou a cientista.
Tang salientou ainda que muito se fala em treinos de alta intensidade para atletas, mas pessoas normais também podem precisar de picos de intensidade no dia a dia. “Há um rápido esforço para atravessar a rua quando o sinal de trânsito está mudando, para pegar um ônibus que pode partir em breve ou para correr atrás de uma criança ativa”, exemplificou.
AVC
Conforme o educador físico Bruno Rodrigues, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a diferença entre um treino intenso ou mais leve varia de acordo com o paciente. “Com base em um teste ergométrico, descobrimos a frequência cardíaca de reserva de cada um”, explicou o profissional. Caso essa reserva esteja próxima ou abaixo de 40%, o exercício é considerado leve. Por volta de 60%, é moderado e, acima dessa porcentagem, é considerado de alta intensidade.
Ele reforçou que, seja leve ou intensa, a atividade física auxilia na regulação da pressão arterial, na redução dos níveis de gordura no sangue e no controle do diabetes. Isso contribui para a prevenção de problemas cardiovasculares, incluindo o AVC.
Além disso, como contou o cardiologista Fabrício Braga, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), os exercícios são uma maneira de ajudar na recuperação de quem já teve um AVC. “Exercícios aeróbicos, como caminhada ou natação, promovem a recuperação da função neuromotora, ajudando o cérebro a se reconfigurar e compensar as áreas afetadas”, disse.
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“O AVC ocorre quando o fluxo de sangue para parte do cérebro é interrompido. No AVC isquêmico, o bloqueio de um vaso sanguíneo impede o fluxo de sangue, enquanto no AVC hemorrágico, um vaso sanguíneo se rompe, causando sangramento no cérebro”, explicou Braga.
Os principais sinais de alerta listados pelo Ministério da Saúde como indicativos de AVC são: fraqueza ou formigamento na face, no braço ou na perna, especialmente em um lado do corpo; confusão mental; alteração da fala ou compreensão; alteração na visão (em um ou ambos os olhos); alteração do equilíbrio, coordenação, tontura ou alteração no andar; e dor de cabeça súbita, intensa, sem causa aparente.
Em 2021, houve 7,44 milhões de mortes atribuídas a acidentes vasculares cerebrais em todo o mundo, de acordo com a American Heart Association.
Cuidados
Apesar dos dados revelados no estudo, todo e qualquer treinamento físico após um AVC deve ser discutido com um profissional de saúde, orientou Rodrigo Bougleux, chefe de cardiologia do esporte do Instituto Dante Pazzanese.
“Diversos pacientes ficam acamados após o AVC e não podem começar exercícios de alta intensidade. O estudo procurou apenas as pessoas ‘mais fortes’, que já andavam sem ajuda, por exemplo”, ressaltou.