Exame de sangue detecta Alzheimer com mais precisão do que diagnóstico apenas clínico


Teste acertou em 91% dos casos, contra 71% entre especialistas; para médicos, resultado é um avanço na detecção, mas faltam mais pesquisas

Por Leon Ferrari

Um exame de sangue é capaz de detectar a doença de Alzheimer com precisão de 91%, superando as avaliações tradicionais de médicos da atenção primária e de especialistas em demência, mostrou um estudo publicado na respeitada revista científica The Journal of the American Medical Association (Jama).

O teste utilizado é o americano PrecivityAD2, comercializado pela C₂N Diagnostics, uma startup da Universidade de Washington. No Brasil, ele é oferecido pelo Grupo Fleury e custa R$ 3,6 mil — por ora, não há cobertura dos convênios e ele não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

Exames de sangue não podem ser usados isoladamente para diagnosticar a doença, reforçam os cientistas Foto: angellodeco/Adobe Stock
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“Testes de sangue, uma vez que sejam confirmados em grandes populações como sendo mais de 90% precisos e se tornem mais amplamente disponíveis, são uma promessa para melhorar, e possivelmente redefinir, o processo de recrutamento para ensaios clínicos e a investigação diagnóstica do Alzheimer”, declarou Maria Carrillo, diretora científica e líder de assuntos médicos da Alzheimer’s Association, em um comunicado à imprensa. Os resultados do estudo foram divulgados em primeira mão no congresso da associação que ocorre na Filadélfia, nos Estados Unidos.

“Vemos isso como um grande passo em direção à implementação clínica global de um exame de sangue para Alzheimer. Os próximos passos incluem estabelecer diretrizes claras sobre como um exame de sangue pode ser usado na prática clínica, de preferência implementando esses testes primeiro em cuidados especializados e depois em cuidados primários. Esse trabalho está em andamento”, disse o autor sênior do estudo, Oskar Hansson, no congresso.

A pesquisa foi realizada como uma colaboração entre a Universidade de Lund, na Suécia, e a C₂N, que não financiou ou apresentou compensações aos pesquisadores. A empresa também informou que não teve envolvimento na análise estatística dos resultados.

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Por que o resultado é importante? Há limitações?

Para Marco Túlio Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a pesquisa é importante. “Esse exame já está disponível no Brasil, e ainda faltava validação, ou seja, estudos que mostrassem a eficácia com relação ao padrão ouro.”

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Claudia Kimie Suemoto, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), destaca que o estudo é um avanço na validação do exame de sangue em uma grande amostra clínica. “É um próximo passo da validação”, afirma.

Mas ainda é preciso mais para ele ser difundido na rotina dos médicos. Segundo Suemoto, há bastante informação sobre testes de sangue, porém majoritariamente com amostras dos Estados Unidos e da Europa — os resultados do estudo em questão são de testes com cerca de 1,2 mil pacientes da Suécia.

“Precisamos expandir e fazer isso em amostras da América Latina, da África, da Ásia e ver se são válidos para todos os locais”, ressalta a professora. Ela lembra ainda que, mesmo aplicado por aqui, o teste para Alzheimer não tem uma validação específica que considere dados da população brasileira.

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Além da necessidade de mais estudos com populações diversas, há outras limitações. Os exames de sangue não podem ser usados isoladamente para diagnosticar a doença, frisam os cientistas no artigo.

O PrecivityAD2 também não diagnostica a demência, mas sim uma de suas possíveis causas, e deve ser aplicado em pacientes que já apresentem sinais e sintomas de declínio cognitivo.

Como é feito o diagnóstico de Alzheimer?

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O diagnóstico de Alzheimer não é simples. O passo inicial depende da reclamação do paciente (ou de quem convive com ele) sobre sintomas como falhas na memória. A partir daí, o médico pede testes neuropsicológicos para determinar se há declínio cognitivo (prejuízos na capacidade de processar pensamentos) em comparação com indivíduos de mesma idade e escolaridade. Com isso, é possível dizer se a pessoas tem ou não demência.

O próximo passo é descobrir a causa da demência. Nessa fase, o médico pode pedir exames laboratoriais e de imagem para descartar outras causas e fechar um diagnóstico presuntivo de Alzheimer. Ele pode ainda solicitar exames de biomarcadores – elementos presentes no organismo que sugerem a ocorrência de determinada doença. Os mais utilizados são o PET amiloide (um exame de imagem) e a biópsia do líquor.

O primeiro, além de custar cerca de R$ 9 mil, é oferecido por poucos centros médicos no Brasil. O segundo é um procedimento considerado invasivo, pois depende de punção na lombar — uma agulha é usada para coletar o líquido da medula espinhal — e custa aproximadamente R$ 3,5 mil.

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Na pesquisa, os médicos especialistas em demência tiveram uma precisão de 71% sem utilizar o PET ou a biópsia do líquor, e a taxa aumentou para 73% quando eles foram realizados. Em ambos os cenários, o exame de sangue apresentou uma precisão um pouco maior do que 90%.

“A precisão diagnóstica dos testes de sangue está no mesmo nível dos biomarcadores do líquido cefalorraquidiano aprovados pela FDA (órgão americano semelhante à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa), e como os testes de sangue são mais eficazes em termos de tempo, custo-efetivos e convenientes para o paciente, eles também podem potencialmente substituir os testes do líquido cefalorraquidiano e PET”, sugeriram os pesquisadores.

Como funciona o exame de sangue para Alzheimer?

A causa do Alzheimer ainda não é clara, mas já se sabe que a doença se instala quando o processamento de certas proteínas começa a dar errado. Surgem fragmentos de proteínas mal cortadas e tóxicas dentro dos neurônios e nos espaços entre eles, formando placas (lesões). Como nosso corpo falha em eliminá-las, elas se acumulam no cérebro.

Duas proteínas são marca da enfermidade: a beta-amiloide e a tau. Segundo os especialistas, a beta-amiloide parece se acumular primeiro na forma de lesões extracelulares, em volta dos neurônios. Com o progredir da doença, ela desencadearia a deposição da proteína tau em lesões intracelulares, levando à morte neuronal.

Na época do lançamento do teste no Brasil, Aurélio Pimenta Dutra, neurologista do Fleury, explicou que o PrecivityAD2 é capaz de captar alterações na tau e também na tau fosforilada.

“Esse exame é uma análise de proteínas que estão relacionadas à doença de Alzheimer: a beta-amiloide, tau e tau fosforilada. É feito no plasma (do sangue) com uma técnica mais recente, que chamamos de espectrometria de massa, e é capaz de detectar mínimas variações nessas proteínas”, afirmou.

Um exame de sangue é capaz de detectar a doença de Alzheimer com precisão de 91%, superando as avaliações tradicionais de médicos da atenção primária e de especialistas em demência, mostrou um estudo publicado na respeitada revista científica The Journal of the American Medical Association (Jama).

O teste utilizado é o americano PrecivityAD2, comercializado pela C₂N Diagnostics, uma startup da Universidade de Washington. No Brasil, ele é oferecido pelo Grupo Fleury e custa R$ 3,6 mil — por ora, não há cobertura dos convênios e ele não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

Exames de sangue não podem ser usados isoladamente para diagnosticar a doença, reforçam os cientistas Foto: angellodeco/Adobe Stock

“Testes de sangue, uma vez que sejam confirmados em grandes populações como sendo mais de 90% precisos e se tornem mais amplamente disponíveis, são uma promessa para melhorar, e possivelmente redefinir, o processo de recrutamento para ensaios clínicos e a investigação diagnóstica do Alzheimer”, declarou Maria Carrillo, diretora científica e líder de assuntos médicos da Alzheimer’s Association, em um comunicado à imprensa. Os resultados do estudo foram divulgados em primeira mão no congresso da associação que ocorre na Filadélfia, nos Estados Unidos.

“Vemos isso como um grande passo em direção à implementação clínica global de um exame de sangue para Alzheimer. Os próximos passos incluem estabelecer diretrizes claras sobre como um exame de sangue pode ser usado na prática clínica, de preferência implementando esses testes primeiro em cuidados especializados e depois em cuidados primários. Esse trabalho está em andamento”, disse o autor sênior do estudo, Oskar Hansson, no congresso.

A pesquisa foi realizada como uma colaboração entre a Universidade de Lund, na Suécia, e a C₂N, que não financiou ou apresentou compensações aos pesquisadores. A empresa também informou que não teve envolvimento na análise estatística dos resultados.

Por que o resultado é importante? Há limitações?

Para Marco Túlio Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a pesquisa é importante. “Esse exame já está disponível no Brasil, e ainda faltava validação, ou seja, estudos que mostrassem a eficácia com relação ao padrão ouro.”

Claudia Kimie Suemoto, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), destaca que o estudo é um avanço na validação do exame de sangue em uma grande amostra clínica. “É um próximo passo da validação”, afirma.

Mas ainda é preciso mais para ele ser difundido na rotina dos médicos. Segundo Suemoto, há bastante informação sobre testes de sangue, porém majoritariamente com amostras dos Estados Unidos e da Europa — os resultados do estudo em questão são de testes com cerca de 1,2 mil pacientes da Suécia.

“Precisamos expandir e fazer isso em amostras da América Latina, da África, da Ásia e ver se são válidos para todos os locais”, ressalta a professora. Ela lembra ainda que, mesmo aplicado por aqui, o teste para Alzheimer não tem uma validação específica que considere dados da população brasileira.

Além da necessidade de mais estudos com populações diversas, há outras limitações. Os exames de sangue não podem ser usados isoladamente para diagnosticar a doença, frisam os cientistas no artigo.

O PrecivityAD2 também não diagnostica a demência, mas sim uma de suas possíveis causas, e deve ser aplicado em pacientes que já apresentem sinais e sintomas de declínio cognitivo.

Como é feito o diagnóstico de Alzheimer?

O diagnóstico de Alzheimer não é simples. O passo inicial depende da reclamação do paciente (ou de quem convive com ele) sobre sintomas como falhas na memória. A partir daí, o médico pede testes neuropsicológicos para determinar se há declínio cognitivo (prejuízos na capacidade de processar pensamentos) em comparação com indivíduos de mesma idade e escolaridade. Com isso, é possível dizer se a pessoas tem ou não demência.

O próximo passo é descobrir a causa da demência. Nessa fase, o médico pode pedir exames laboratoriais e de imagem para descartar outras causas e fechar um diagnóstico presuntivo de Alzheimer. Ele pode ainda solicitar exames de biomarcadores – elementos presentes no organismo que sugerem a ocorrência de determinada doença. Os mais utilizados são o PET amiloide (um exame de imagem) e a biópsia do líquor.

O primeiro, além de custar cerca de R$ 9 mil, é oferecido por poucos centros médicos no Brasil. O segundo é um procedimento considerado invasivo, pois depende de punção na lombar — uma agulha é usada para coletar o líquido da medula espinhal — e custa aproximadamente R$ 3,5 mil.

Na pesquisa, os médicos especialistas em demência tiveram uma precisão de 71% sem utilizar o PET ou a biópsia do líquor, e a taxa aumentou para 73% quando eles foram realizados. Em ambos os cenários, o exame de sangue apresentou uma precisão um pouco maior do que 90%.

“A precisão diagnóstica dos testes de sangue está no mesmo nível dos biomarcadores do líquido cefalorraquidiano aprovados pela FDA (órgão americano semelhante à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa), e como os testes de sangue são mais eficazes em termos de tempo, custo-efetivos e convenientes para o paciente, eles também podem potencialmente substituir os testes do líquido cefalorraquidiano e PET”, sugeriram os pesquisadores.

Como funciona o exame de sangue para Alzheimer?

A causa do Alzheimer ainda não é clara, mas já se sabe que a doença se instala quando o processamento de certas proteínas começa a dar errado. Surgem fragmentos de proteínas mal cortadas e tóxicas dentro dos neurônios e nos espaços entre eles, formando placas (lesões). Como nosso corpo falha em eliminá-las, elas se acumulam no cérebro.

Duas proteínas são marca da enfermidade: a beta-amiloide e a tau. Segundo os especialistas, a beta-amiloide parece se acumular primeiro na forma de lesões extracelulares, em volta dos neurônios. Com o progredir da doença, ela desencadearia a deposição da proteína tau em lesões intracelulares, levando à morte neuronal.

Na época do lançamento do teste no Brasil, Aurélio Pimenta Dutra, neurologista do Fleury, explicou que o PrecivityAD2 é capaz de captar alterações na tau e também na tau fosforilada.

“Esse exame é uma análise de proteínas que estão relacionadas à doença de Alzheimer: a beta-amiloide, tau e tau fosforilada. É feito no plasma (do sangue) com uma técnica mais recente, que chamamos de espectrometria de massa, e é capaz de detectar mínimas variações nessas proteínas”, afirmou.

Um exame de sangue é capaz de detectar a doença de Alzheimer com precisão de 91%, superando as avaliações tradicionais de médicos da atenção primária e de especialistas em demência, mostrou um estudo publicado na respeitada revista científica The Journal of the American Medical Association (Jama).

O teste utilizado é o americano PrecivityAD2, comercializado pela C₂N Diagnostics, uma startup da Universidade de Washington. No Brasil, ele é oferecido pelo Grupo Fleury e custa R$ 3,6 mil — por ora, não há cobertura dos convênios e ele não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

Exames de sangue não podem ser usados isoladamente para diagnosticar a doença, reforçam os cientistas Foto: angellodeco/Adobe Stock

“Testes de sangue, uma vez que sejam confirmados em grandes populações como sendo mais de 90% precisos e se tornem mais amplamente disponíveis, são uma promessa para melhorar, e possivelmente redefinir, o processo de recrutamento para ensaios clínicos e a investigação diagnóstica do Alzheimer”, declarou Maria Carrillo, diretora científica e líder de assuntos médicos da Alzheimer’s Association, em um comunicado à imprensa. Os resultados do estudo foram divulgados em primeira mão no congresso da associação que ocorre na Filadélfia, nos Estados Unidos.

“Vemos isso como um grande passo em direção à implementação clínica global de um exame de sangue para Alzheimer. Os próximos passos incluem estabelecer diretrizes claras sobre como um exame de sangue pode ser usado na prática clínica, de preferência implementando esses testes primeiro em cuidados especializados e depois em cuidados primários. Esse trabalho está em andamento”, disse o autor sênior do estudo, Oskar Hansson, no congresso.

A pesquisa foi realizada como uma colaboração entre a Universidade de Lund, na Suécia, e a C₂N, que não financiou ou apresentou compensações aos pesquisadores. A empresa também informou que não teve envolvimento na análise estatística dos resultados.

Por que o resultado é importante? Há limitações?

Para Marco Túlio Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a pesquisa é importante. “Esse exame já está disponível no Brasil, e ainda faltava validação, ou seja, estudos que mostrassem a eficácia com relação ao padrão ouro.”

Claudia Kimie Suemoto, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), destaca que o estudo é um avanço na validação do exame de sangue em uma grande amostra clínica. “É um próximo passo da validação”, afirma.

Mas ainda é preciso mais para ele ser difundido na rotina dos médicos. Segundo Suemoto, há bastante informação sobre testes de sangue, porém majoritariamente com amostras dos Estados Unidos e da Europa — os resultados do estudo em questão são de testes com cerca de 1,2 mil pacientes da Suécia.

“Precisamos expandir e fazer isso em amostras da América Latina, da África, da Ásia e ver se são válidos para todos os locais”, ressalta a professora. Ela lembra ainda que, mesmo aplicado por aqui, o teste para Alzheimer não tem uma validação específica que considere dados da população brasileira.

Além da necessidade de mais estudos com populações diversas, há outras limitações. Os exames de sangue não podem ser usados isoladamente para diagnosticar a doença, frisam os cientistas no artigo.

O PrecivityAD2 também não diagnostica a demência, mas sim uma de suas possíveis causas, e deve ser aplicado em pacientes que já apresentem sinais e sintomas de declínio cognitivo.

Como é feito o diagnóstico de Alzheimer?

O diagnóstico de Alzheimer não é simples. O passo inicial depende da reclamação do paciente (ou de quem convive com ele) sobre sintomas como falhas na memória. A partir daí, o médico pede testes neuropsicológicos para determinar se há declínio cognitivo (prejuízos na capacidade de processar pensamentos) em comparação com indivíduos de mesma idade e escolaridade. Com isso, é possível dizer se a pessoas tem ou não demência.

O próximo passo é descobrir a causa da demência. Nessa fase, o médico pode pedir exames laboratoriais e de imagem para descartar outras causas e fechar um diagnóstico presuntivo de Alzheimer. Ele pode ainda solicitar exames de biomarcadores – elementos presentes no organismo que sugerem a ocorrência de determinada doença. Os mais utilizados são o PET amiloide (um exame de imagem) e a biópsia do líquor.

O primeiro, além de custar cerca de R$ 9 mil, é oferecido por poucos centros médicos no Brasil. O segundo é um procedimento considerado invasivo, pois depende de punção na lombar — uma agulha é usada para coletar o líquido da medula espinhal — e custa aproximadamente R$ 3,5 mil.

Na pesquisa, os médicos especialistas em demência tiveram uma precisão de 71% sem utilizar o PET ou a biópsia do líquor, e a taxa aumentou para 73% quando eles foram realizados. Em ambos os cenários, o exame de sangue apresentou uma precisão um pouco maior do que 90%.

“A precisão diagnóstica dos testes de sangue está no mesmo nível dos biomarcadores do líquido cefalorraquidiano aprovados pela FDA (órgão americano semelhante à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa), e como os testes de sangue são mais eficazes em termos de tempo, custo-efetivos e convenientes para o paciente, eles também podem potencialmente substituir os testes do líquido cefalorraquidiano e PET”, sugeriram os pesquisadores.

Como funciona o exame de sangue para Alzheimer?

A causa do Alzheimer ainda não é clara, mas já se sabe que a doença se instala quando o processamento de certas proteínas começa a dar errado. Surgem fragmentos de proteínas mal cortadas e tóxicas dentro dos neurônios e nos espaços entre eles, formando placas (lesões). Como nosso corpo falha em eliminá-las, elas se acumulam no cérebro.

Duas proteínas são marca da enfermidade: a beta-amiloide e a tau. Segundo os especialistas, a beta-amiloide parece se acumular primeiro na forma de lesões extracelulares, em volta dos neurônios. Com o progredir da doença, ela desencadearia a deposição da proteína tau em lesões intracelulares, levando à morte neuronal.

Na época do lançamento do teste no Brasil, Aurélio Pimenta Dutra, neurologista do Fleury, explicou que o PrecivityAD2 é capaz de captar alterações na tau e também na tau fosforilada.

“Esse exame é uma análise de proteínas que estão relacionadas à doença de Alzheimer: a beta-amiloide, tau e tau fosforilada. É feito no plasma (do sangue) com uma técnica mais recente, que chamamos de espectrometria de massa, e é capaz de detectar mínimas variações nessas proteínas”, afirmou.

Um exame de sangue é capaz de detectar a doença de Alzheimer com precisão de 91%, superando as avaliações tradicionais de médicos da atenção primária e de especialistas em demência, mostrou um estudo publicado na respeitada revista científica The Journal of the American Medical Association (Jama).

O teste utilizado é o americano PrecivityAD2, comercializado pela C₂N Diagnostics, uma startup da Universidade de Washington. No Brasil, ele é oferecido pelo Grupo Fleury e custa R$ 3,6 mil — por ora, não há cobertura dos convênios e ele não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

Exames de sangue não podem ser usados isoladamente para diagnosticar a doença, reforçam os cientistas Foto: angellodeco/Adobe Stock

“Testes de sangue, uma vez que sejam confirmados em grandes populações como sendo mais de 90% precisos e se tornem mais amplamente disponíveis, são uma promessa para melhorar, e possivelmente redefinir, o processo de recrutamento para ensaios clínicos e a investigação diagnóstica do Alzheimer”, declarou Maria Carrillo, diretora científica e líder de assuntos médicos da Alzheimer’s Association, em um comunicado à imprensa. Os resultados do estudo foram divulgados em primeira mão no congresso da associação que ocorre na Filadélfia, nos Estados Unidos.

“Vemos isso como um grande passo em direção à implementação clínica global de um exame de sangue para Alzheimer. Os próximos passos incluem estabelecer diretrizes claras sobre como um exame de sangue pode ser usado na prática clínica, de preferência implementando esses testes primeiro em cuidados especializados e depois em cuidados primários. Esse trabalho está em andamento”, disse o autor sênior do estudo, Oskar Hansson, no congresso.

A pesquisa foi realizada como uma colaboração entre a Universidade de Lund, na Suécia, e a C₂N, que não financiou ou apresentou compensações aos pesquisadores. A empresa também informou que não teve envolvimento na análise estatística dos resultados.

Por que o resultado é importante? Há limitações?

Para Marco Túlio Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a pesquisa é importante. “Esse exame já está disponível no Brasil, e ainda faltava validação, ou seja, estudos que mostrassem a eficácia com relação ao padrão ouro.”

Claudia Kimie Suemoto, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), destaca que o estudo é um avanço na validação do exame de sangue em uma grande amostra clínica. “É um próximo passo da validação”, afirma.

Mas ainda é preciso mais para ele ser difundido na rotina dos médicos. Segundo Suemoto, há bastante informação sobre testes de sangue, porém majoritariamente com amostras dos Estados Unidos e da Europa — os resultados do estudo em questão são de testes com cerca de 1,2 mil pacientes da Suécia.

“Precisamos expandir e fazer isso em amostras da América Latina, da África, da Ásia e ver se são válidos para todos os locais”, ressalta a professora. Ela lembra ainda que, mesmo aplicado por aqui, o teste para Alzheimer não tem uma validação específica que considere dados da população brasileira.

Além da necessidade de mais estudos com populações diversas, há outras limitações. Os exames de sangue não podem ser usados isoladamente para diagnosticar a doença, frisam os cientistas no artigo.

O PrecivityAD2 também não diagnostica a demência, mas sim uma de suas possíveis causas, e deve ser aplicado em pacientes que já apresentem sinais e sintomas de declínio cognitivo.

Como é feito o diagnóstico de Alzheimer?

O diagnóstico de Alzheimer não é simples. O passo inicial depende da reclamação do paciente (ou de quem convive com ele) sobre sintomas como falhas na memória. A partir daí, o médico pede testes neuropsicológicos para determinar se há declínio cognitivo (prejuízos na capacidade de processar pensamentos) em comparação com indivíduos de mesma idade e escolaridade. Com isso, é possível dizer se a pessoas tem ou não demência.

O próximo passo é descobrir a causa da demência. Nessa fase, o médico pode pedir exames laboratoriais e de imagem para descartar outras causas e fechar um diagnóstico presuntivo de Alzheimer. Ele pode ainda solicitar exames de biomarcadores – elementos presentes no organismo que sugerem a ocorrência de determinada doença. Os mais utilizados são o PET amiloide (um exame de imagem) e a biópsia do líquor.

O primeiro, além de custar cerca de R$ 9 mil, é oferecido por poucos centros médicos no Brasil. O segundo é um procedimento considerado invasivo, pois depende de punção na lombar — uma agulha é usada para coletar o líquido da medula espinhal — e custa aproximadamente R$ 3,5 mil.

Na pesquisa, os médicos especialistas em demência tiveram uma precisão de 71% sem utilizar o PET ou a biópsia do líquor, e a taxa aumentou para 73% quando eles foram realizados. Em ambos os cenários, o exame de sangue apresentou uma precisão um pouco maior do que 90%.

“A precisão diagnóstica dos testes de sangue está no mesmo nível dos biomarcadores do líquido cefalorraquidiano aprovados pela FDA (órgão americano semelhante à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa), e como os testes de sangue são mais eficazes em termos de tempo, custo-efetivos e convenientes para o paciente, eles também podem potencialmente substituir os testes do líquido cefalorraquidiano e PET”, sugeriram os pesquisadores.

Como funciona o exame de sangue para Alzheimer?

A causa do Alzheimer ainda não é clara, mas já se sabe que a doença se instala quando o processamento de certas proteínas começa a dar errado. Surgem fragmentos de proteínas mal cortadas e tóxicas dentro dos neurônios e nos espaços entre eles, formando placas (lesões). Como nosso corpo falha em eliminá-las, elas se acumulam no cérebro.

Duas proteínas são marca da enfermidade: a beta-amiloide e a tau. Segundo os especialistas, a beta-amiloide parece se acumular primeiro na forma de lesões extracelulares, em volta dos neurônios. Com o progredir da doença, ela desencadearia a deposição da proteína tau em lesões intracelulares, levando à morte neuronal.

Na época do lançamento do teste no Brasil, Aurélio Pimenta Dutra, neurologista do Fleury, explicou que o PrecivityAD2 é capaz de captar alterações na tau e também na tau fosforilada.

“Esse exame é uma análise de proteínas que estão relacionadas à doença de Alzheimer: a beta-amiloide, tau e tau fosforilada. É feito no plasma (do sangue) com uma técnica mais recente, que chamamos de espectrometria de massa, e é capaz de detectar mínimas variações nessas proteínas”, afirmou.

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