Existe vício em açúcar? Veja análise de nutricionista e dicas para não exagerar


O ingrediente é constantemente ligado a uma situação de dependência; especialista discute se é certo falar em vício

Por Desire Coelho
Atualização:

O açúcar é barato, altamente palatável, de fácil acesso e ainda fornece energia de forma rápida e potente. Para uma parcela da população, daria para dizer ainda que o ingrediente causa vício. Essa é uma afirmação comum, mas será que está correta?

Vale ressaltar que, embora muito se fale sobre dependência ao ingrediente, na literatura científica essa é uma discussão complexa, que envolve aspectos fisiológicos, emocionais, bioquímicos, genéticos e sociais.

Mas vamos a um exemplo simples para mostrar por que há uma visão errada sobre o tema: apesar de muitas pessoas se definirem como “viciadas em açúcar”, você conhece alguém que o coma direto do pote quando não tem um doce disponível? Em minha experiência clínica, esses casos são raros. E se o açúcar fosse tão viciante como dizem, nada surtiria mais efeito do que consumi-lo na sua forma mais pura, certo? Sem contar que seria a opção mais prática e barata.

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Existe uma visão errada sobre vício em açúcar Foto: Pixel-Shot/Adobe Stock

Um estudo chegou a elencar os alimentos com maior potencial viciante. Foram eles:

• Chocolate

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• Sorvete

• Bolos

• Brownie

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• Cookies

• Hambúrguer

• Pizza

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• Batata-frita

Repare que esses alimentos não são ricos apenas em açúcar (ou carboidratos de rápida absorção), mas também em gordura e sal. Em vez de culpar o açúcar isoladamente, é com esse combo que você precisa se preocupar.

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Por que isso acontece?

Desejar esses nutrientes – açúcar, gordura e sal – é um traço evolutivo e que, no decorrer de centenas de milhares anos, garantiu a sobrevivência da nossa espécie. Geralmente, nosso corpo sabe lidar muito bem com eles de modo isolado.

Quer fazer um teste? Da próxima vez que sentir fissura por doce, vá até o pote de açúcar, pegue uma colherada de uma vez e coloque na boca. Quantas colheradas você acha que tolera? Uma, duas, chegaria na terceira? Isso também vale para o mel (o alimento in natura mais rico em açúcar).

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O problema começa quando combinamos o açúcar, a gordura e o sal. Quanto você acha que conseguiria comer de um pão com manteiga e geleia, um brownie ou um sorvete? Certamente muito mais que duas colheradas! Essa mistura torna o alimento hiperpalatável, aumentando a tolerância e as chances de exagero.

Alimentos hiperpalatáveis, como o chocolate, não são feitos só de açúcar. Em geral, itens que favorecem o exagero ainda levam gordura e sódio. Ou seja, o problema não é um nutriente isolado Foto: Felipe Rau | Estadão

Vale lembrar que não existe um alimento na natureza que seja rico nesses três nutriente ao mesmo tempo. Essa combinação é uma invenção dos tempos modernos e nosso cérebro tem muita dificuldade em lidar com ela. É como se ele “entrasse em transe” durante o consumo.

Esse combo explosivo está presente em grande parte dos chamados alimentos ultraprocessados, obtidos de forma industrial. O alto consumo desses itens, que são muito acessíveis atualmente, está diretamente relacionado a um aumento no risco de doenças crônicas, como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, depressão e até alguns tipos de câncer.

Se esse tipo de produto pode gerar vício é uma pergunta complexa – muitos estudos defendem que sim. Mas, definitivamente o açúcar, de forma isolada, não é o culpado.

O que fazer?

O primeiro passo é investir em autoconhecimento. Identificar qual a combinação mais irresistível para você – adocicada, salgada ou gordurosa – já é meio caminho para não se colocar em situação de risco. Outra estratégia importantíssima é não esperar o extremo da fome para comer. Quanto mais famintos estamos, mais o nosso cérebro primitivo ganha espaço e procura por essa combinação. Aí, fica difícil passar ileso pelo pastel do restaurante ou por aquele doce que, no fim das contas, nem estava saboroso. A fome intensa e voraz diminui nossa habilidade de fazer escolhas acertadas. Quem nunca fez mercado com fome e lotou o carrinho de guloseimas?

É importante ter a consciência de que nossa preferência evolutiva por alimentos hiperpalatáveis tornou injusta a concorrência dos ultraprocessados com os alimentos in natura, frescos. As últimas décadas têm nos mostrado que ainda há um caminho longo de aprendizado e que precisamos mais do que força de vontade para superar um traço evolutivo tão forte.

De olho nisso, é essencial antecipar nossas decisões, não ter esses alimentos tão à mão e, em paralelo, nos organizar para facilitar as escolhas que sabemos serem as melhores. Para isso, programe a sua rotina de refeições e lanches com antecedência e sempre dê preferência a alimentos mais naturais.

*Desire Coelho é nutricionista e bacharel em esporte, doutora e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em Transtornos Alimentares e em Análise do Comportamento. É autora do livro “Por que não consigo emagrecer?” (Editora Fontanar) e coautora do livro “A Dieta Ideal” (Editora Paralela)

O açúcar é barato, altamente palatável, de fácil acesso e ainda fornece energia de forma rápida e potente. Para uma parcela da população, daria para dizer ainda que o ingrediente causa vício. Essa é uma afirmação comum, mas será que está correta?

Vale ressaltar que, embora muito se fale sobre dependência ao ingrediente, na literatura científica essa é uma discussão complexa, que envolve aspectos fisiológicos, emocionais, bioquímicos, genéticos e sociais.

Mas vamos a um exemplo simples para mostrar por que há uma visão errada sobre o tema: apesar de muitas pessoas se definirem como “viciadas em açúcar”, você conhece alguém que o coma direto do pote quando não tem um doce disponível? Em minha experiência clínica, esses casos são raros. E se o açúcar fosse tão viciante como dizem, nada surtiria mais efeito do que consumi-lo na sua forma mais pura, certo? Sem contar que seria a opção mais prática e barata.

Existe uma visão errada sobre vício em açúcar Foto: Pixel-Shot/Adobe Stock

Um estudo chegou a elencar os alimentos com maior potencial viciante. Foram eles:

• Chocolate

• Sorvete

• Bolos

• Brownie

• Cookies

• Hambúrguer

• Pizza

• Batata-frita

Repare que esses alimentos não são ricos apenas em açúcar (ou carboidratos de rápida absorção), mas também em gordura e sal. Em vez de culpar o açúcar isoladamente, é com esse combo que você precisa se preocupar.

Por que isso acontece?

Desejar esses nutrientes – açúcar, gordura e sal – é um traço evolutivo e que, no decorrer de centenas de milhares anos, garantiu a sobrevivência da nossa espécie. Geralmente, nosso corpo sabe lidar muito bem com eles de modo isolado.

Quer fazer um teste? Da próxima vez que sentir fissura por doce, vá até o pote de açúcar, pegue uma colherada de uma vez e coloque na boca. Quantas colheradas você acha que tolera? Uma, duas, chegaria na terceira? Isso também vale para o mel (o alimento in natura mais rico em açúcar).

O problema começa quando combinamos o açúcar, a gordura e o sal. Quanto você acha que conseguiria comer de um pão com manteiga e geleia, um brownie ou um sorvete? Certamente muito mais que duas colheradas! Essa mistura torna o alimento hiperpalatável, aumentando a tolerância e as chances de exagero.

Alimentos hiperpalatáveis, como o chocolate, não são feitos só de açúcar. Em geral, itens que favorecem o exagero ainda levam gordura e sódio. Ou seja, o problema não é um nutriente isolado Foto: Felipe Rau | Estadão

Vale lembrar que não existe um alimento na natureza que seja rico nesses três nutriente ao mesmo tempo. Essa combinação é uma invenção dos tempos modernos e nosso cérebro tem muita dificuldade em lidar com ela. É como se ele “entrasse em transe” durante o consumo.

Esse combo explosivo está presente em grande parte dos chamados alimentos ultraprocessados, obtidos de forma industrial. O alto consumo desses itens, que são muito acessíveis atualmente, está diretamente relacionado a um aumento no risco de doenças crônicas, como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, depressão e até alguns tipos de câncer.

Se esse tipo de produto pode gerar vício é uma pergunta complexa – muitos estudos defendem que sim. Mas, definitivamente o açúcar, de forma isolada, não é o culpado.

O que fazer?

O primeiro passo é investir em autoconhecimento. Identificar qual a combinação mais irresistível para você – adocicada, salgada ou gordurosa – já é meio caminho para não se colocar em situação de risco. Outra estratégia importantíssima é não esperar o extremo da fome para comer. Quanto mais famintos estamos, mais o nosso cérebro primitivo ganha espaço e procura por essa combinação. Aí, fica difícil passar ileso pelo pastel do restaurante ou por aquele doce que, no fim das contas, nem estava saboroso. A fome intensa e voraz diminui nossa habilidade de fazer escolhas acertadas. Quem nunca fez mercado com fome e lotou o carrinho de guloseimas?

É importante ter a consciência de que nossa preferência evolutiva por alimentos hiperpalatáveis tornou injusta a concorrência dos ultraprocessados com os alimentos in natura, frescos. As últimas décadas têm nos mostrado que ainda há um caminho longo de aprendizado e que precisamos mais do que força de vontade para superar um traço evolutivo tão forte.

De olho nisso, é essencial antecipar nossas decisões, não ter esses alimentos tão à mão e, em paralelo, nos organizar para facilitar as escolhas que sabemos serem as melhores. Para isso, programe a sua rotina de refeições e lanches com antecedência e sempre dê preferência a alimentos mais naturais.

*Desire Coelho é nutricionista e bacharel em esporte, doutora e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em Transtornos Alimentares e em Análise do Comportamento. É autora do livro “Por que não consigo emagrecer?” (Editora Fontanar) e coautora do livro “A Dieta Ideal” (Editora Paralela)

O açúcar é barato, altamente palatável, de fácil acesso e ainda fornece energia de forma rápida e potente. Para uma parcela da população, daria para dizer ainda que o ingrediente causa vício. Essa é uma afirmação comum, mas será que está correta?

Vale ressaltar que, embora muito se fale sobre dependência ao ingrediente, na literatura científica essa é uma discussão complexa, que envolve aspectos fisiológicos, emocionais, bioquímicos, genéticos e sociais.

Mas vamos a um exemplo simples para mostrar por que há uma visão errada sobre o tema: apesar de muitas pessoas se definirem como “viciadas em açúcar”, você conhece alguém que o coma direto do pote quando não tem um doce disponível? Em minha experiência clínica, esses casos são raros. E se o açúcar fosse tão viciante como dizem, nada surtiria mais efeito do que consumi-lo na sua forma mais pura, certo? Sem contar que seria a opção mais prática e barata.

Existe uma visão errada sobre vício em açúcar Foto: Pixel-Shot/Adobe Stock

Um estudo chegou a elencar os alimentos com maior potencial viciante. Foram eles:

• Chocolate

• Sorvete

• Bolos

• Brownie

• Cookies

• Hambúrguer

• Pizza

• Batata-frita

Repare que esses alimentos não são ricos apenas em açúcar (ou carboidratos de rápida absorção), mas também em gordura e sal. Em vez de culpar o açúcar isoladamente, é com esse combo que você precisa se preocupar.

Por que isso acontece?

Desejar esses nutrientes – açúcar, gordura e sal – é um traço evolutivo e que, no decorrer de centenas de milhares anos, garantiu a sobrevivência da nossa espécie. Geralmente, nosso corpo sabe lidar muito bem com eles de modo isolado.

Quer fazer um teste? Da próxima vez que sentir fissura por doce, vá até o pote de açúcar, pegue uma colherada de uma vez e coloque na boca. Quantas colheradas você acha que tolera? Uma, duas, chegaria na terceira? Isso também vale para o mel (o alimento in natura mais rico em açúcar).

O problema começa quando combinamos o açúcar, a gordura e o sal. Quanto você acha que conseguiria comer de um pão com manteiga e geleia, um brownie ou um sorvete? Certamente muito mais que duas colheradas! Essa mistura torna o alimento hiperpalatável, aumentando a tolerância e as chances de exagero.

Alimentos hiperpalatáveis, como o chocolate, não são feitos só de açúcar. Em geral, itens que favorecem o exagero ainda levam gordura e sódio. Ou seja, o problema não é um nutriente isolado Foto: Felipe Rau | Estadão

Vale lembrar que não existe um alimento na natureza que seja rico nesses três nutriente ao mesmo tempo. Essa combinação é uma invenção dos tempos modernos e nosso cérebro tem muita dificuldade em lidar com ela. É como se ele “entrasse em transe” durante o consumo.

Esse combo explosivo está presente em grande parte dos chamados alimentos ultraprocessados, obtidos de forma industrial. O alto consumo desses itens, que são muito acessíveis atualmente, está diretamente relacionado a um aumento no risco de doenças crônicas, como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, depressão e até alguns tipos de câncer.

Se esse tipo de produto pode gerar vício é uma pergunta complexa – muitos estudos defendem que sim. Mas, definitivamente o açúcar, de forma isolada, não é o culpado.

O que fazer?

O primeiro passo é investir em autoconhecimento. Identificar qual a combinação mais irresistível para você – adocicada, salgada ou gordurosa – já é meio caminho para não se colocar em situação de risco. Outra estratégia importantíssima é não esperar o extremo da fome para comer. Quanto mais famintos estamos, mais o nosso cérebro primitivo ganha espaço e procura por essa combinação. Aí, fica difícil passar ileso pelo pastel do restaurante ou por aquele doce que, no fim das contas, nem estava saboroso. A fome intensa e voraz diminui nossa habilidade de fazer escolhas acertadas. Quem nunca fez mercado com fome e lotou o carrinho de guloseimas?

É importante ter a consciência de que nossa preferência evolutiva por alimentos hiperpalatáveis tornou injusta a concorrência dos ultraprocessados com os alimentos in natura, frescos. As últimas décadas têm nos mostrado que ainda há um caminho longo de aprendizado e que precisamos mais do que força de vontade para superar um traço evolutivo tão forte.

De olho nisso, é essencial antecipar nossas decisões, não ter esses alimentos tão à mão e, em paralelo, nos organizar para facilitar as escolhas que sabemos serem as melhores. Para isso, programe a sua rotina de refeições e lanches com antecedência e sempre dê preferência a alimentos mais naturais.

*Desire Coelho é nutricionista e bacharel em esporte, doutora e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em Transtornos Alimentares e em Análise do Comportamento. É autora do livro “Por que não consigo emagrecer?” (Editora Fontanar) e coautora do livro “A Dieta Ideal” (Editora Paralela)

O açúcar é barato, altamente palatável, de fácil acesso e ainda fornece energia de forma rápida e potente. Para uma parcela da população, daria para dizer ainda que o ingrediente causa vício. Essa é uma afirmação comum, mas será que está correta?

Vale ressaltar que, embora muito se fale sobre dependência ao ingrediente, na literatura científica essa é uma discussão complexa, que envolve aspectos fisiológicos, emocionais, bioquímicos, genéticos e sociais.

Mas vamos a um exemplo simples para mostrar por que há uma visão errada sobre o tema: apesar de muitas pessoas se definirem como “viciadas em açúcar”, você conhece alguém que o coma direto do pote quando não tem um doce disponível? Em minha experiência clínica, esses casos são raros. E se o açúcar fosse tão viciante como dizem, nada surtiria mais efeito do que consumi-lo na sua forma mais pura, certo? Sem contar que seria a opção mais prática e barata.

Existe uma visão errada sobre vício em açúcar Foto: Pixel-Shot/Adobe Stock

Um estudo chegou a elencar os alimentos com maior potencial viciante. Foram eles:

• Chocolate

• Sorvete

• Bolos

• Brownie

• Cookies

• Hambúrguer

• Pizza

• Batata-frita

Repare que esses alimentos não são ricos apenas em açúcar (ou carboidratos de rápida absorção), mas também em gordura e sal. Em vez de culpar o açúcar isoladamente, é com esse combo que você precisa se preocupar.

Por que isso acontece?

Desejar esses nutrientes – açúcar, gordura e sal – é um traço evolutivo e que, no decorrer de centenas de milhares anos, garantiu a sobrevivência da nossa espécie. Geralmente, nosso corpo sabe lidar muito bem com eles de modo isolado.

Quer fazer um teste? Da próxima vez que sentir fissura por doce, vá até o pote de açúcar, pegue uma colherada de uma vez e coloque na boca. Quantas colheradas você acha que tolera? Uma, duas, chegaria na terceira? Isso também vale para o mel (o alimento in natura mais rico em açúcar).

O problema começa quando combinamos o açúcar, a gordura e o sal. Quanto você acha que conseguiria comer de um pão com manteiga e geleia, um brownie ou um sorvete? Certamente muito mais que duas colheradas! Essa mistura torna o alimento hiperpalatável, aumentando a tolerância e as chances de exagero.

Alimentos hiperpalatáveis, como o chocolate, não são feitos só de açúcar. Em geral, itens que favorecem o exagero ainda levam gordura e sódio. Ou seja, o problema não é um nutriente isolado Foto: Felipe Rau | Estadão

Vale lembrar que não existe um alimento na natureza que seja rico nesses três nutriente ao mesmo tempo. Essa combinação é uma invenção dos tempos modernos e nosso cérebro tem muita dificuldade em lidar com ela. É como se ele “entrasse em transe” durante o consumo.

Esse combo explosivo está presente em grande parte dos chamados alimentos ultraprocessados, obtidos de forma industrial. O alto consumo desses itens, que são muito acessíveis atualmente, está diretamente relacionado a um aumento no risco de doenças crônicas, como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, depressão e até alguns tipos de câncer.

Se esse tipo de produto pode gerar vício é uma pergunta complexa – muitos estudos defendem que sim. Mas, definitivamente o açúcar, de forma isolada, não é o culpado.

O que fazer?

O primeiro passo é investir em autoconhecimento. Identificar qual a combinação mais irresistível para você – adocicada, salgada ou gordurosa – já é meio caminho para não se colocar em situação de risco. Outra estratégia importantíssima é não esperar o extremo da fome para comer. Quanto mais famintos estamos, mais o nosso cérebro primitivo ganha espaço e procura por essa combinação. Aí, fica difícil passar ileso pelo pastel do restaurante ou por aquele doce que, no fim das contas, nem estava saboroso. A fome intensa e voraz diminui nossa habilidade de fazer escolhas acertadas. Quem nunca fez mercado com fome e lotou o carrinho de guloseimas?

É importante ter a consciência de que nossa preferência evolutiva por alimentos hiperpalatáveis tornou injusta a concorrência dos ultraprocessados com os alimentos in natura, frescos. As últimas décadas têm nos mostrado que ainda há um caminho longo de aprendizado e que precisamos mais do que força de vontade para superar um traço evolutivo tão forte.

De olho nisso, é essencial antecipar nossas decisões, não ter esses alimentos tão à mão e, em paralelo, nos organizar para facilitar as escolhas que sabemos serem as melhores. Para isso, programe a sua rotina de refeições e lanches com antecedência e sempre dê preferência a alimentos mais naturais.

*Desire Coelho é nutricionista e bacharel em esporte, doutora e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em Transtornos Alimentares e em Análise do Comportamento. É autora do livro “Por que não consigo emagrecer?” (Editora Fontanar) e coautora do livro “A Dieta Ideal” (Editora Paralela)

O açúcar é barato, altamente palatável, de fácil acesso e ainda fornece energia de forma rápida e potente. Para uma parcela da população, daria para dizer ainda que o ingrediente causa vício. Essa é uma afirmação comum, mas será que está correta?

Vale ressaltar que, embora muito se fale sobre dependência ao ingrediente, na literatura científica essa é uma discussão complexa, que envolve aspectos fisiológicos, emocionais, bioquímicos, genéticos e sociais.

Mas vamos a um exemplo simples para mostrar por que há uma visão errada sobre o tema: apesar de muitas pessoas se definirem como “viciadas em açúcar”, você conhece alguém que o coma direto do pote quando não tem um doce disponível? Em minha experiência clínica, esses casos são raros. E se o açúcar fosse tão viciante como dizem, nada surtiria mais efeito do que consumi-lo na sua forma mais pura, certo? Sem contar que seria a opção mais prática e barata.

Existe uma visão errada sobre vício em açúcar Foto: Pixel-Shot/Adobe Stock

Um estudo chegou a elencar os alimentos com maior potencial viciante. Foram eles:

• Chocolate

• Sorvete

• Bolos

• Brownie

• Cookies

• Hambúrguer

• Pizza

• Batata-frita

Repare que esses alimentos não são ricos apenas em açúcar (ou carboidratos de rápida absorção), mas também em gordura e sal. Em vez de culpar o açúcar isoladamente, é com esse combo que você precisa se preocupar.

Por que isso acontece?

Desejar esses nutrientes – açúcar, gordura e sal – é um traço evolutivo e que, no decorrer de centenas de milhares anos, garantiu a sobrevivência da nossa espécie. Geralmente, nosso corpo sabe lidar muito bem com eles de modo isolado.

Quer fazer um teste? Da próxima vez que sentir fissura por doce, vá até o pote de açúcar, pegue uma colherada de uma vez e coloque na boca. Quantas colheradas você acha que tolera? Uma, duas, chegaria na terceira? Isso também vale para o mel (o alimento in natura mais rico em açúcar).

O problema começa quando combinamos o açúcar, a gordura e o sal. Quanto você acha que conseguiria comer de um pão com manteiga e geleia, um brownie ou um sorvete? Certamente muito mais que duas colheradas! Essa mistura torna o alimento hiperpalatável, aumentando a tolerância e as chances de exagero.

Alimentos hiperpalatáveis, como o chocolate, não são feitos só de açúcar. Em geral, itens que favorecem o exagero ainda levam gordura e sódio. Ou seja, o problema não é um nutriente isolado Foto: Felipe Rau | Estadão

Vale lembrar que não existe um alimento na natureza que seja rico nesses três nutriente ao mesmo tempo. Essa combinação é uma invenção dos tempos modernos e nosso cérebro tem muita dificuldade em lidar com ela. É como se ele “entrasse em transe” durante o consumo.

Esse combo explosivo está presente em grande parte dos chamados alimentos ultraprocessados, obtidos de forma industrial. O alto consumo desses itens, que são muito acessíveis atualmente, está diretamente relacionado a um aumento no risco de doenças crônicas, como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, depressão e até alguns tipos de câncer.

Se esse tipo de produto pode gerar vício é uma pergunta complexa – muitos estudos defendem que sim. Mas, definitivamente o açúcar, de forma isolada, não é o culpado.

O que fazer?

O primeiro passo é investir em autoconhecimento. Identificar qual a combinação mais irresistível para você – adocicada, salgada ou gordurosa – já é meio caminho para não se colocar em situação de risco. Outra estratégia importantíssima é não esperar o extremo da fome para comer. Quanto mais famintos estamos, mais o nosso cérebro primitivo ganha espaço e procura por essa combinação. Aí, fica difícil passar ileso pelo pastel do restaurante ou por aquele doce que, no fim das contas, nem estava saboroso. A fome intensa e voraz diminui nossa habilidade de fazer escolhas acertadas. Quem nunca fez mercado com fome e lotou o carrinho de guloseimas?

É importante ter a consciência de que nossa preferência evolutiva por alimentos hiperpalatáveis tornou injusta a concorrência dos ultraprocessados com os alimentos in natura, frescos. As últimas décadas têm nos mostrado que ainda há um caminho longo de aprendizado e que precisamos mais do que força de vontade para superar um traço evolutivo tão forte.

De olho nisso, é essencial antecipar nossas decisões, não ter esses alimentos tão à mão e, em paralelo, nos organizar para facilitar as escolhas que sabemos serem as melhores. Para isso, programe a sua rotina de refeições e lanches com antecedência e sempre dê preferência a alimentos mais naturais.

*Desire Coelho é nutricionista e bacharel em esporte, doutora e mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em Transtornos Alimentares e em Análise do Comportamento. É autora do livro “Por que não consigo emagrecer?” (Editora Fontanar) e coautora do livro “A Dieta Ideal” (Editora Paralela)

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