Falha em protocolo do ministério abre brecha para subnotificação de casos de coronavírus


Formulário usado por hospitais para reportar casos suspeitos não teve critérios atualizados para situações de transmissão comunitária; governo promete revisão de protocolos

Por Fabiana Cambricoli e Giovana Girardi

SÃO PAULO - Uma falha no formulário do Ministério da Saúde para notificar casos suspeitos de coronavírus abriu uma brecha para que os registros prováveis da doença no País até agora ficassem subnotificados. O documento, que é o meio oficial indicado pelo governo federal para que os hospitais reportem as possíveis infecções, não foi atualizado para situações de transmissão comunitária, o que pode levar à defasagem nos números e falha no monitoramento de contatos próximos de pacientes com suspeita da doença. O ministério reconhece a defasagem e diz que fará revisão de protocolos.

A falha foi notada, por exemplo, no caso do primeiro brasileiro morto pela doença. Ele não constava sequer da lista de casos suspeitos e sua família não foi orientada a manter isolamento. Segundo a operadora de saúde que atendeu o paciente, a Prevent Senior, a notificação não foi feita porque o homem não tinha histórico de viagem nem relato de contato com caso suspeito ou confirmado e, por isso, a plataforma federal não permitia a notificação.

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Coronavírus são uma grande família de vírus da qual alguns são responsáveis por causar doenças em humanos Foto: Sebastian Kaulitzki/Shutterstock

O Estado consultou o formulário e confirmou a falha. No documento, o profissional de saúde precisa indicar se o doente tem histórico de viagem ou relato de contato com caso suspeito ou confirmado. Caso responda ‘não’ para as duas perguntas, o formulário classifica o caso automaticamente como excluído.

Quando uma região entra no estágio de transmissão comunitária, porém, nem sempre o infectado cumpre uma dessas exigências. Dessa forma, possíveis casos de covid-19 deixaram de ser reportados para as autoridades por causa do atraso na atualização desses critérios para áreas com transmissão comunitária. O documento deveria ter sido atualizado há pelo menos uma semana, quando o Estado de São Paulo confirmou que já estava nesse estágio. Também não foram atualizadas as definições de casos descritas no último boletim epidemiológico editado pelo ministério, datado de 14 de março.

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Formulário do Ministério da Saúde utilizado para que hospitais reportem casos suspeitos não considera critérios de áreas com transmissão comunitária Foto: Reprodução
Formulário traz perguntas considerando critérios apenas de locais com casos importados e transmissão local Foto: Reprodução
Se paciente não tem histórico de viagem nem contato próximo com pessoa com infecçãosuspeitaou confirmada, formulário classifica automaticamente caso como excluído Foto: Reprodução
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Funcionários de hospitais e especialistas ouvidos pelo Estado confirmam o problema e indicam que o monitoramento da epidemia pode ter sido prejudicado por causa da falha. De acordo com a médica Karla de Andrade Possendoro, diretora clínica do Hospital São Miguel, na zona leste, o problema fez com que vários pacientes com sintomas fossem descartados ou que a notificação demorasse mais.

“De fato, só podíamos notificar no formulário se cumprisse um desses critérios de viagem ou de contato com outro caso. A gente estava tendo uma dificuldade porque o formulário é engessado. Quando a gente achava que era um caso muito sugestivo de covid-19, mesmo sem cumprir os critérios, ligávamos para a vigilância epidemiológica da região para discutir a situação e fazíamos a notificação por telefone. Só hoje (ontem) recebemos um e-mail mudando o critério”, afirma ela, referindo-se a um aviso da vigilância municipal de passar a considerar para notificação somente casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave, independentemente de histórico de viagem.

A sanitarista Ana Freitas Ribeiro, do Instituto Emílio Ribas, afirma que a mudança veio com atraso. Ela diz que a decisão de notificar os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave deveria ter sido tomada desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez essa recomendação, em 27 de fevereiro.

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“Isso poderia ter refletido em uma maior detecção de casos já há mais tempo. Seria uma forma de detectar mais precocemente uma transmissão comunitária. A forma como estava antes, que considerava só os viajantes ou pessoas que tiveram contato com caso confirmado, não permitia saber se o vírus estava circulando na comunidade”, explica.

Segundo Ana, isso é importante para conhecer a real situação epidemiológica de cada local e ter medidas de intervenção mais adequadas. “Preciso saber quantos casos realmente tenho. Sabemos, com base em China e Itália, que se medidas de afastamento social são tomadas rápido, teremos menos casos. Mas se ocorrem quando o cenário já é de pico, vai demorar muito mais para terem impacto.”

Para Edimilson Migowski, infectologista da Universidade Federal do Rio (UFRJ), a falha causou prejuízo no controle da pandemia. “Ou você tem dados e fatos confiáveis para reunir esforços necessários para barrar o vírus ou não adianta.”

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Questionado sobre a desatualização do formulário, o Ministério da Saúde anunciou ontem que mudará a regra para os casos suspeitos. “Como já estamos enfrentando um número grande de pessoas que têm o resultado positivo mas que sequer foram colocados como suspeitos porque não preenchiam essas regras, estamos mudando a forma de apresentação dos dados”, disse João Gabbardo, secretário executivo do ministério. Ele afirmou que agora só os casos confirmados e óbitos serão divulgados.

SÃO PAULO - Uma falha no formulário do Ministério da Saúde para notificar casos suspeitos de coronavírus abriu uma brecha para que os registros prováveis da doença no País até agora ficassem subnotificados. O documento, que é o meio oficial indicado pelo governo federal para que os hospitais reportem as possíveis infecções, não foi atualizado para situações de transmissão comunitária, o que pode levar à defasagem nos números e falha no monitoramento de contatos próximos de pacientes com suspeita da doença. O ministério reconhece a defasagem e diz que fará revisão de protocolos.

A falha foi notada, por exemplo, no caso do primeiro brasileiro morto pela doença. Ele não constava sequer da lista de casos suspeitos e sua família não foi orientada a manter isolamento. Segundo a operadora de saúde que atendeu o paciente, a Prevent Senior, a notificação não foi feita porque o homem não tinha histórico de viagem nem relato de contato com caso suspeito ou confirmado e, por isso, a plataforma federal não permitia a notificação.

Coronavírus são uma grande família de vírus da qual alguns são responsáveis por causar doenças em humanos Foto: Sebastian Kaulitzki/Shutterstock

O Estado consultou o formulário e confirmou a falha. No documento, o profissional de saúde precisa indicar se o doente tem histórico de viagem ou relato de contato com caso suspeito ou confirmado. Caso responda ‘não’ para as duas perguntas, o formulário classifica o caso automaticamente como excluído.

Quando uma região entra no estágio de transmissão comunitária, porém, nem sempre o infectado cumpre uma dessas exigências. Dessa forma, possíveis casos de covid-19 deixaram de ser reportados para as autoridades por causa do atraso na atualização desses critérios para áreas com transmissão comunitária. O documento deveria ter sido atualizado há pelo menos uma semana, quando o Estado de São Paulo confirmou que já estava nesse estágio. Também não foram atualizadas as definições de casos descritas no último boletim epidemiológico editado pelo ministério, datado de 14 de março.

Formulário do Ministério da Saúde utilizado para que hospitais reportem casos suspeitos não considera critérios de áreas com transmissão comunitária Foto: Reprodução
Formulário traz perguntas considerando critérios apenas de locais com casos importados e transmissão local Foto: Reprodução
Se paciente não tem histórico de viagem nem contato próximo com pessoa com infecçãosuspeitaou confirmada, formulário classifica automaticamente caso como excluído Foto: Reprodução

Funcionários de hospitais e especialistas ouvidos pelo Estado confirmam o problema e indicam que o monitoramento da epidemia pode ter sido prejudicado por causa da falha. De acordo com a médica Karla de Andrade Possendoro, diretora clínica do Hospital São Miguel, na zona leste, o problema fez com que vários pacientes com sintomas fossem descartados ou que a notificação demorasse mais.

“De fato, só podíamos notificar no formulário se cumprisse um desses critérios de viagem ou de contato com outro caso. A gente estava tendo uma dificuldade porque o formulário é engessado. Quando a gente achava que era um caso muito sugestivo de covid-19, mesmo sem cumprir os critérios, ligávamos para a vigilância epidemiológica da região para discutir a situação e fazíamos a notificação por telefone. Só hoje (ontem) recebemos um e-mail mudando o critério”, afirma ela, referindo-se a um aviso da vigilância municipal de passar a considerar para notificação somente casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave, independentemente de histórico de viagem.

A sanitarista Ana Freitas Ribeiro, do Instituto Emílio Ribas, afirma que a mudança veio com atraso. Ela diz que a decisão de notificar os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave deveria ter sido tomada desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez essa recomendação, em 27 de fevereiro.

“Isso poderia ter refletido em uma maior detecção de casos já há mais tempo. Seria uma forma de detectar mais precocemente uma transmissão comunitária. A forma como estava antes, que considerava só os viajantes ou pessoas que tiveram contato com caso confirmado, não permitia saber se o vírus estava circulando na comunidade”, explica.

Segundo Ana, isso é importante para conhecer a real situação epidemiológica de cada local e ter medidas de intervenção mais adequadas. “Preciso saber quantos casos realmente tenho. Sabemos, com base em China e Itália, que se medidas de afastamento social são tomadas rápido, teremos menos casos. Mas se ocorrem quando o cenário já é de pico, vai demorar muito mais para terem impacto.”

Para Edimilson Migowski, infectologista da Universidade Federal do Rio (UFRJ), a falha causou prejuízo no controle da pandemia. “Ou você tem dados e fatos confiáveis para reunir esforços necessários para barrar o vírus ou não adianta.”

Questionado sobre a desatualização do formulário, o Ministério da Saúde anunciou ontem que mudará a regra para os casos suspeitos. “Como já estamos enfrentando um número grande de pessoas que têm o resultado positivo mas que sequer foram colocados como suspeitos porque não preenchiam essas regras, estamos mudando a forma de apresentação dos dados”, disse João Gabbardo, secretário executivo do ministério. Ele afirmou que agora só os casos confirmados e óbitos serão divulgados.

SÃO PAULO - Uma falha no formulário do Ministério da Saúde para notificar casos suspeitos de coronavírus abriu uma brecha para que os registros prováveis da doença no País até agora ficassem subnotificados. O documento, que é o meio oficial indicado pelo governo federal para que os hospitais reportem as possíveis infecções, não foi atualizado para situações de transmissão comunitária, o que pode levar à defasagem nos números e falha no monitoramento de contatos próximos de pacientes com suspeita da doença. O ministério reconhece a defasagem e diz que fará revisão de protocolos.

A falha foi notada, por exemplo, no caso do primeiro brasileiro morto pela doença. Ele não constava sequer da lista de casos suspeitos e sua família não foi orientada a manter isolamento. Segundo a operadora de saúde que atendeu o paciente, a Prevent Senior, a notificação não foi feita porque o homem não tinha histórico de viagem nem relato de contato com caso suspeito ou confirmado e, por isso, a plataforma federal não permitia a notificação.

Coronavírus são uma grande família de vírus da qual alguns são responsáveis por causar doenças em humanos Foto: Sebastian Kaulitzki/Shutterstock

O Estado consultou o formulário e confirmou a falha. No documento, o profissional de saúde precisa indicar se o doente tem histórico de viagem ou relato de contato com caso suspeito ou confirmado. Caso responda ‘não’ para as duas perguntas, o formulário classifica o caso automaticamente como excluído.

Quando uma região entra no estágio de transmissão comunitária, porém, nem sempre o infectado cumpre uma dessas exigências. Dessa forma, possíveis casos de covid-19 deixaram de ser reportados para as autoridades por causa do atraso na atualização desses critérios para áreas com transmissão comunitária. O documento deveria ter sido atualizado há pelo menos uma semana, quando o Estado de São Paulo confirmou que já estava nesse estágio. Também não foram atualizadas as definições de casos descritas no último boletim epidemiológico editado pelo ministério, datado de 14 de março.

Formulário do Ministério da Saúde utilizado para que hospitais reportem casos suspeitos não considera critérios de áreas com transmissão comunitária Foto: Reprodução
Formulário traz perguntas considerando critérios apenas de locais com casos importados e transmissão local Foto: Reprodução
Se paciente não tem histórico de viagem nem contato próximo com pessoa com infecçãosuspeitaou confirmada, formulário classifica automaticamente caso como excluído Foto: Reprodução

Funcionários de hospitais e especialistas ouvidos pelo Estado confirmam o problema e indicam que o monitoramento da epidemia pode ter sido prejudicado por causa da falha. De acordo com a médica Karla de Andrade Possendoro, diretora clínica do Hospital São Miguel, na zona leste, o problema fez com que vários pacientes com sintomas fossem descartados ou que a notificação demorasse mais.

“De fato, só podíamos notificar no formulário se cumprisse um desses critérios de viagem ou de contato com outro caso. A gente estava tendo uma dificuldade porque o formulário é engessado. Quando a gente achava que era um caso muito sugestivo de covid-19, mesmo sem cumprir os critérios, ligávamos para a vigilância epidemiológica da região para discutir a situação e fazíamos a notificação por telefone. Só hoje (ontem) recebemos um e-mail mudando o critério”, afirma ela, referindo-se a um aviso da vigilância municipal de passar a considerar para notificação somente casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave, independentemente de histórico de viagem.

A sanitarista Ana Freitas Ribeiro, do Instituto Emílio Ribas, afirma que a mudança veio com atraso. Ela diz que a decisão de notificar os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave deveria ter sido tomada desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez essa recomendação, em 27 de fevereiro.

“Isso poderia ter refletido em uma maior detecção de casos já há mais tempo. Seria uma forma de detectar mais precocemente uma transmissão comunitária. A forma como estava antes, que considerava só os viajantes ou pessoas que tiveram contato com caso confirmado, não permitia saber se o vírus estava circulando na comunidade”, explica.

Segundo Ana, isso é importante para conhecer a real situação epidemiológica de cada local e ter medidas de intervenção mais adequadas. “Preciso saber quantos casos realmente tenho. Sabemos, com base em China e Itália, que se medidas de afastamento social são tomadas rápido, teremos menos casos. Mas se ocorrem quando o cenário já é de pico, vai demorar muito mais para terem impacto.”

Para Edimilson Migowski, infectologista da Universidade Federal do Rio (UFRJ), a falha causou prejuízo no controle da pandemia. “Ou você tem dados e fatos confiáveis para reunir esforços necessários para barrar o vírus ou não adianta.”

Questionado sobre a desatualização do formulário, o Ministério da Saúde anunciou ontem que mudará a regra para os casos suspeitos. “Como já estamos enfrentando um número grande de pessoas que têm o resultado positivo mas que sequer foram colocados como suspeitos porque não preenchiam essas regras, estamos mudando a forma de apresentação dos dados”, disse João Gabbardo, secretário executivo do ministério. Ele afirmou que agora só os casos confirmados e óbitos serão divulgados.

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