SOROCABA – Donos de bares e restaurantes de Joaquim Egídio, o distrito de Campinas que está no centro do surto de febre maculosa que já causou três mortes confirmadas e uma suspeita este mês, temem o que chamam de “efeito carrapato”. Assustadas com o risco de contrair a doença, muitas pessoas estão cancelando reservas. O distrito, de apenas 2,2 mil habitantes, é procurado por turistas pelas belezas naturais e principalmente por sua gastronomia. São mais de 15 restaurantes que aliam o cardápio variado à música e cultura.
Dono do restaurante Armazém da Estação, o empresário Luiz Felipe Bulgarelli não esconde a preocupação. “Quando teve um surto de febre amarela no distrito, fomos bem afetados, os restaurantes ficaram um bom tempo vazios. O receio é de que aconteça de novo”, disse.
O restaurante só abre nos fins de semana e não trabalha com reservas. “Ainda vamos sentir, mas estou com um pé atrás”, disse. Bulgarelli se preocupa porque tem um espaço arborizado no local. “As pessoas acabam confundindo, acham que todo mato tem carrapato.”
Já o proprietário do restaurante Estação Marupiara, Marcel Moraes, disse que tem um evento gastronômico e cultural agendado para a noite desta quinta-feira, 15, e que as reservas ainda estão mantidas. “É um jantar com cine-madrugada, em que exibimos um filme e acompanhado de pratos temáticos. Estávamos receosos, mas até o momento não houve cancelamentos”, disse. Ele acredita que pode haver prejuízo já neste fim de semana. “As pessoas muitas vezes não sabem que 90% dos estabelecimentos estão em área urbana. Em 17 anos, nunca me deparei com uma capivara por aqui.”
A dona de um restaurante que falou sob a condição de não ser identificada disse que está perdendo clientes por medo do carrapato. “Tive uma reserva grande cancelada e as pessoas disseram que estão com medo, mas o carrapato não vai chegar voando e grudar na pessoa. Aqui é tudo limpo, organizado e dedetizado, o cliente não precisa entrar no mato.” Segundo ela, a grande repercussão causada pelas mortes gerou um clima de pânico. “Até pessoas conhecidas, da família não querem vir para o distrito.”
O presidente da Associação dos Dirigentes de Estabelecimentos de Gastronomia de Sousas e Joaquim Egídio (Adegas), Jaime Marcelino Pissolato, prevê queda no turismo e na ocupação dos restaurantes. “Estamos trabalhando junto com a Secretaria de Cultura e Turismo para reduzir o impacto. A maioria dos restaurantes está em área urbana, onde a capivara não chega, mas muitas pessoas não entendem isso. É preocupante, infelizmente algum impacto vai ter, mas vamos fazer o que for preciso para reverter isso”, disse.
Segundo ele, já existem placas no distrito informando sobre o risco de febre amarela em determinadas áreas. “Essa sinalização vai ser reforçada e vamos também distribuir um manual sobre as medidas de prevenção da doença. As pessoas serão orientadas a não adentrar as áreas de risco.”
De acordo com o dirigente, que também é dono de restaurante, os principais eventos estão mantidos, entre eles o Festival Gastronômico da Primavera, que deve acontecer em outubro. O Festival de Inverno, que seria realizado este mês, foi cancelado, mas devido a outras causas.
Vizinho ao distrito de Sousas, o Joaquim Egídio fica a 15 km do centro de Campinas e já foi mapeado como área de risco para a febre maculosa. O distrito abriga a Fazenda Santa Margarida, onde cinco pessoas podem ter se contaminado com a bactéria que causa a doença, entre elas os três óbitos com causa já confirmada. Pacato, o local se tornou ponto disputado pelos turistas devido às belezas naturais e gastronomia. Em fins de semana, visitantes da capital, de outras cidades do interior e do próprio município fazem fila em bares e restaurantes locais, movimento que agora está ameaçado.
Nesta quarta-feira, 14, o prefeito de Campinas, Dario Saadi (Republicanos) fez uma reunião de emergência com o primeiro escalão do governo e representantes de instituições de saúde, no qual o turismo foi abordado. Ficou definido que todos os eventos em áreas de risco serão precedidos de informações sobre a febre maculosa, medida que vale também para os restaurantes de Joaquim Egídio. “Vamos investir na informação e na capacitação dos profissionais da saúde, mas não podemos fechar a cidade”, disse o prefeito.
A Secretaria de Estado da Saúde fez um alerta nesta quarta-feira para que as pessoas que estiveram na Fazenda Santa Margarida, no período de 27 de maio a 11 de junho, e apresentarem febre e dor pelo corpo, dor cabeça ou manchas avermelhadas pelo corpo, procure atendimento médico imediatamente e informe ao médico que esteve na região. Dos 12 casos confirmados da doença neste ano no Estado, três foram de pessoas que estiveram nos eventos realizados no local.