RIO - O número de mortes dentro das casas, sem assistência médica, voltou a aumentar na cidade do Rio de Janeiro. Subiu também acima da média o número geral de mortes no município. Os dados divulgados na tarde desta terça-feira, 1º, pelo MonitoraCovid19, da Fiocruz, indicam que o sistema de saúde da cidade pode estar à beira de um colapso, em meio ao avanço da pandemia da covid-19. Nota da UFRJ divulgada na véspera já alertava para o problema.
O município teve um excesso de óbitos de 27 mil desde abril, comparado à média dos anos anteriores no mesmo período - sendo 13 mil causados pela covid-19 e outros 14 mil ligados a outras doenças, como câncer e diabetes, confirmando a precariedade do atendimento em geral.
O aumento “expressivo” de óbitos ocorridos em domicílio (de dez mil no mesmo período do ano passado para 14 mil este ano), sem assistência médica e por causas mal definidas, revela, segundo a nota técnica da Fiocruz, “um quadro de desassistência geral, que não se restringe aos hospitais, mas também à rede de atenção básica e ao sistema de vigilância em saúde”.
Mesmo as mortes por covid-19 que ocorreram dentro dos hospitais foram, em grande maioria, fora de UTIs, o que demonstra, segundo a nota, a incapacidade de atender com propriedade os casos mais graves da doença.“Estes números mostram que o sistema de saúde da cidade do Rio voltou a apresentar sinais de colapso”, conclui a nota técnica.
“O conjunto desses indicadores aponta fortemente para a incapacidade do sistema municipal de Saúde de atender casos graves da doença”, avaliou o coordenador do MonitoraCovid19, Christovam Barcellos. “Indicam ainda que podemos estar perto de um novo colapso do sistema, pois os novos casos, que irão gerar uma demanda ainda maior de atendimento, estão aumentando rapidamente e de forma preocupante.”
Nota divulgada na véspera pelo grupo da UFRJ vai na mesma linha, alertando para o aumento acelerado de casos de covid-19 no Rio. De acordo com o Grupo de Trabalho Multidisciplinar para o Enfrentamento da Covid-19 da UFRJ, o crescimento acontece sem que a primeira onda da infecção tenha sido propriamente encerrada, o que “torna o problema ainda mais grave e complexo”, segundo especialistas.
“Estamos diante de um quadro muito preocupante no município do Rio”, diz a nota. “O aumento dos casos já está provocando grande estresse no sistema de assistência à saúde (...). A média móvel de sete dias do percentual de ocupação de leitos do Sistema Único de Saúde (UTI adulto) dedicados à covid-19 na região metropolitana I está em 93,5%. Já a média móvel de sete dias do percentual de ocupação de leitos de suporte à vida da rede SUS no município está em 102,1%. Ou seja, não há vagas para internação.”
Coordenador do grupo da UFRJ, o infectologista Roberto Medronho diz que, falando exclusivamente do ponto de vista técnico, o ideal seria um novo lockdown na cidade.
“Achamos que essa recomendação ia cair no vazio, então sugerimos algumas medidas de fechamento de eventos sociais e culturais, como praias e shows”, disse Medronho. “A questão do transporte público também precisa ser revista, bem como o escalonamento dos horários de funcionamento de bares e restaurantes. Ou seja, há medidas a serem tomadas, que não sejam o lockdown, que podem ter um impacto significativo na curva.”
Especialistas temem que as festas de fim de ano agravem ainda mais o problema, por conta das festas com muitas pessoas e das viagens. “Eu também queria passar o Natal com a minha mãe, de 88 anos, como faço todos os anos”, disse Medronho. “Mas infelizmente, isso não é possível este ano.”