Gerações Y e Z são as mais ansiosas, alerta psicóloga americana em livro: ‘Sensação de afogamento’


Em ‘Geração Ansiosa’, Lauren Cook admite que o transtorno não tem cura, mas reforça que há controle; segundo ela, jovens se sentem mais sozinhos e isolados do que nunca

Por André Bernardo
Foto: Leah Huebner
Entrevista comLauren Cookpsicóloga e autora de 'Geração Ansiosa – Um Guia Para Se Manter Em Atividade Em Um Mundo Instável'

Quando chamou o nome de seu novo paciente, um jovem mexicano chamado Luís, na sala de espera de sua clínica em Pasadena, na Califórnia, Lauren Cook encontrou um homem nervoso, constrangido e envergonhado. Luís sofria de transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e, entre outras manias, lavava as mãos incontáveis vezes ao dia – a ponto de elas ficarem feridas ou começarem a sangrar. “Outros pacientes já haviam descrito o TOC como se o cérebro estivesse ‘pegando fogo’ e você não tivesse um extintor por perto para apagar o incêndio”, relata a psicóloga.

Luís é apenas um dos onze pacientes que tiveram seus casos relatados em Geração Ansiosa – Um guia para se manter em atividade em um mundo instável (Rocco, 2023). Cada capítulo é dedicado a um paciente diferente. O de Luís é o quarto: Seguindo mesmo quando seu oceano é frio e assustador. Não à toa, a autora compara uma crise de ansiedade à sensação de afogamento. Ela própria, que sofre de emetofobia (pavor a vômito) desde pequena, já teve inúmeras crises. “Há vários paralelos entre nossa mente e o mar: suas águas são desconhecidas e há tubarões à nossa volta”, adverte.

No livro, você compara crise de ansiedade à sensação de afogamento. Por que as gerações Y (nascidos entre 1981 e 1996) e Z (entre 1997 e 2010) são as mais propensas a “morrer afogadas”?

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Sim, comparo o ataque de pânico à sensação de afogamento porque é algo muito assustador. Muitas pessoas têm a sensação de que estão morrendo quando sofrem um ataque de pânico. As gerações Y e Z estão experimentando altas taxas de ansiedade por uma série de razões. Muitos deles se sentem inseguros, enfrentam dificuldades financeiras e são inundados pelas redes sociais. Embora vejam pessoas online constantemente, se sentem mais sozinhos e isolados do que nunca.

Para psicóloga americana, gerações Y e Z são as que se sentem mais sozinhas, isoladas e ansiosas Foto: Julia/Adobe Stock

Você diria que as gerações Y e Z são mais ansiosas do que as anteriores, Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964) e X (entre 1965 e 1980)? Por quê? Quanto mais tecnologia, mais ansiedade?

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Ao que parece, essas duas gerações apresentam níveis mais altos de ansiedades em comparação com as anteriores. Isso se deve ao fato de que, em suas curtas vidas, suportaram convulsões políticas, onda de violência (hoje em dia, qualquer um pode ser vítima de um tiroteio) e se sentem menos esperançosas quanto ao futuro – tanto do ponto de vista financeiro quanto no que diz respeito ao aquecimento global. A tecnologia também desempenha um papel importante. Embora tenhamos hoje mais acesso à informação do que nunca, há também uma grande desvantagem nisso: somos constantemente bombardeados por acontecimentos preocupantes, não só nos Estados Unidos, como no mundo inteiro. Além de nos sentirmos excluídos socialmente, também sentimos que os outros estão se saindo melhor do que nós. Afinal, vemos apenas seus “melhores momentos” nas redes sociais.

Em geral, de onde vem a ansiedade? Ela é genética (já nascemos ansiosos) ou ambiental (aprendemos a ser)?

É uma mistura dos dois: genes e ambiente. Embora alguns sejam mais ativados do que outros (e isso se deve ao centro do medo em nosso cérebro, a amígdala, que varia em termos de tamanho e de nível de resposta), muitos de nós sofreram traumas ou outros eventos estressores que nos levam à ansiedade.

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Em outros casos, podemos ter sido criados em famílias onde fomos educados a nos preocupar excessivamente com o futuro. Estava arraigado em nós que a preocupação era algo essencial para que pudéssemos evitar possíveis armadilhas. Infelizmente, ao aprendermos a estar constantemente ansiosos, não aprendemos também que éramos pessoas resilientes e que, por essa razão, poderíamos superar desafios aparentemente insuperáveis.

Ansiedade tem um lado bom, positivo e saudável? Ou todos são ruins, negativos e doentios?

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A ansiedade pode ser útil, sim, porque pode nos ajudar a nos preparar para algo e a planejar com antecedência. A lei de Yerkes-Dodson (desenvolvida em 1908 pelos psicólogos Robert Yerkes e John Dodson) fala exatamente sobre isso: precisamos de uma quantidade saudável de estresse para alcançar o melhor resultado. A ansiedade também pode nos deixar gratos porque nos lembra das bênçãos que temos em nossas vidas. Afinal, muitas vezes, nos preocupamos em perder algo e, para sentir a dor de perder algo, precisamos, em primeiro lugar, amar muito algo.

De uns tempos para cá, muita gente passou a confundir inquietação com ansiedade. Como se diagnostica o transtorno de ansiedade? Não há uma banalização?

O diagnóstico de ansiedade tem algumas características essenciais: insônia, nervosismo, inquietação, tensão muscular, dificuldade de concentração... Note que a inquietação é apenas um dos componentes da ansiedade. Por si só, não atende aos critérios de diagnóstico. É preciso que haja preocupação com o fato de parecer algo fora do controle.

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Eu diria que não se trata de uma banalização do diagnóstico, mas, sim, de uma simplificação do transtorno. As pessoas podem simplesmente sentir um sintoma desconfortável e achar que se trata de ansiedade. No entanto, o principal aspecto é: o quão angustiante é a ansiedade para você? E em segundo lugar: a ansiedade está impactando sua vida negativamente? Se ambos os componentes acima estiverem contribuindo para como você se sente, então, são dois dos pré-requisitos mais importantes para o diagnóstico de transtorno de ansiedade.

No livro, você confessa que, desde pequena, tem emetofobia (medo de vomitar). Fobia e ansiedade são sinônimos? Ou são coisas diferentes?

As fobias estão sob o guarda-chuva dos transtornos de ansiedade. São o diagnóstico mais comum de qualquer diagnóstico de saúde mental e, embora sejam uma forma de ansiedade, não são sinônimos.

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De tudo que você pesquisou para escrever Geração Ansiosa, o que mais chamou sua atenção? Qual teria sido sua descoberta mais desconcertante?

Fiquei surpresa ao descobrir como somos afetados pela ansiedade em termos geracionais. Quando você observa como nossos genes são fisicamente alterados e transmitidos de geração em geração por causa de traumas que sofremos ou de estresses que enfrentamos, nos faz pensar não apenas sobre o que vivenciamos, mas sobre o que nossos pais e avós vivenciaram. Não significa que devemos encarar a situação como se já estivéssemos condenados. Também vimos, através de pesquisas, como diferentes mudanças em nosso estilo de vida podem mudar nossos genes. Isso nos motiva a viver bem não só para nós próprios, mas também para nossos filhos e netos.

O que fazer em caso de crise de ansiedade? Respirar fundo, contar até dez, rezar? Qual é a sua dica infalível?

Em primeiro lugar, procure descobrir, quando se trata de um ataque de pânico, que tipo de pessoa você é. As pessoas normalmente precisam de uma coisa ou de outra: ou ficar sozinha ou de conseguir ajuda de outras pessoas. Se você é do tipo que, durante um ataque de pânico, precisa ficar sozinha, coloque uma música suave e se concentre em sua respiração. Se, ao contrário, é do tipo que precisa estar com outras pessoas, procure se distrair conversando com elas ou, então, diga a quem estiver ao seu lado que você precisa de ajuda.

No livro, você relata os casos de muitos pacientes ansiosos. Qual deles mais impressionou você? A que ponto a ansiedade pode chegar?

A história do Luís (nome fictício) foi comovente. Sempre tive um carinho especial pelos pacientes que ainda não conseguiram ajuda para o TOC porque eles sentem muita vergonha disso. Se sentem partidos, nojentos ou estranhos por terem os pensamentos que têm quando, na verdade, isso é apenas uma manifestação de seu TOC. Conversar sobre o diagnóstico e normalizar sua experiência costuma mudar suas vidas. Mas, sem ajuda, o TOC e outros transtornos de ansiedade podem ser extremamente dolorosos. Muitas pessoas dizem que é como se o cérebro delas estivesse “pegando fogo”, mas elas têm vergonha de pedir ajuda aos outros.

Em 2023, você teve “dois filhos”: Derek em maio e Geração Ansiosa em setembro. Em algum momento, teve crise de ansiedade? Como conseguiu superar?

Tive muitos ataques de pânico ao longo da vida. Mas nunca com tanta frequência como tive durante a pandemia. Para controlar meus ataques de pânico, fiz de tudo: de terapia cognitivo comportamental (TCC) a cerapia de exposição e prevenção de resposta (EPR). Também me consultei com um médico naturopata. Tudo isso fez uma grande diferença em minha vida. Eu me sinto feliz por poder dizer que trabalhei não apenas meus gatilhos, mas aprendi a lidar com a situação quando me sinto ansiosa. Hoje, me sinto uma pessoa diferente.

Há cura para a ansiedade? Quero dizer: você aprende realmente a nadar ou vai precisar de colete para o resto da vida?

Não existe “cura” para a ansiedade. Essa, aliás, é a mensagem do meu livro: aceitação empoderada! Temos que aceitar que, às vezes, podemos nos sentir ansiosos e ok, está tudo bem. Quando não nos sentirmos mais ameaçados, recuperaremos nosso poder. Também precisamos ser capacitados em nossa abordagem. Precisamos estar dispostos a criar mudanças positivas e precisamos saber que ainda podemos viver vidas realmente significativas, mesmo que, às vezes ou o tempo todo, nos sintamos ansiosos ou assustados.

Este mês, Derek completa um ano de vida. Ele faz parte da geração Alfa (nascida a partir de 2010). Que cuidados você toma para evitar que, quando crescer, ele seja uma pessoa ansiosa?

Tento estimular sua coragem. Às vezes, vejo pais tentando evitar que seus filhos levem tombos ou se machuquem. Mas, se embrulharmos nossos filhos em plástico-bolha, nunca aprenderão que não há problema algum em cair e, depois, se levantar novamente. Quando Derek cai e fica bem, tento não ter uma grande reação e o encorajo a continuar. Claro, o mundo não é um lugar seguro, mas não quero que Derek seja educado pelo medo. Quero que ele aprenda que é capaz e resiliente – e, às vezes, você só aprende isso quando se sente seguro o suficiente para cair.

Quando chamou o nome de seu novo paciente, um jovem mexicano chamado Luís, na sala de espera de sua clínica em Pasadena, na Califórnia, Lauren Cook encontrou um homem nervoso, constrangido e envergonhado. Luís sofria de transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e, entre outras manias, lavava as mãos incontáveis vezes ao dia – a ponto de elas ficarem feridas ou começarem a sangrar. “Outros pacientes já haviam descrito o TOC como se o cérebro estivesse ‘pegando fogo’ e você não tivesse um extintor por perto para apagar o incêndio”, relata a psicóloga.

Luís é apenas um dos onze pacientes que tiveram seus casos relatados em Geração Ansiosa – Um guia para se manter em atividade em um mundo instável (Rocco, 2023). Cada capítulo é dedicado a um paciente diferente. O de Luís é o quarto: Seguindo mesmo quando seu oceano é frio e assustador. Não à toa, a autora compara uma crise de ansiedade à sensação de afogamento. Ela própria, que sofre de emetofobia (pavor a vômito) desde pequena, já teve inúmeras crises. “Há vários paralelos entre nossa mente e o mar: suas águas são desconhecidas e há tubarões à nossa volta”, adverte.

No livro, você compara crise de ansiedade à sensação de afogamento. Por que as gerações Y (nascidos entre 1981 e 1996) e Z (entre 1997 e 2010) são as mais propensas a “morrer afogadas”?

Sim, comparo o ataque de pânico à sensação de afogamento porque é algo muito assustador. Muitas pessoas têm a sensação de que estão morrendo quando sofrem um ataque de pânico. As gerações Y e Z estão experimentando altas taxas de ansiedade por uma série de razões. Muitos deles se sentem inseguros, enfrentam dificuldades financeiras e são inundados pelas redes sociais. Embora vejam pessoas online constantemente, se sentem mais sozinhos e isolados do que nunca.

Para psicóloga americana, gerações Y e Z são as que se sentem mais sozinhas, isoladas e ansiosas Foto: Julia/Adobe Stock

Você diria que as gerações Y e Z são mais ansiosas do que as anteriores, Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964) e X (entre 1965 e 1980)? Por quê? Quanto mais tecnologia, mais ansiedade?

Ao que parece, essas duas gerações apresentam níveis mais altos de ansiedades em comparação com as anteriores. Isso se deve ao fato de que, em suas curtas vidas, suportaram convulsões políticas, onda de violência (hoje em dia, qualquer um pode ser vítima de um tiroteio) e se sentem menos esperançosas quanto ao futuro – tanto do ponto de vista financeiro quanto no que diz respeito ao aquecimento global. A tecnologia também desempenha um papel importante. Embora tenhamos hoje mais acesso à informação do que nunca, há também uma grande desvantagem nisso: somos constantemente bombardeados por acontecimentos preocupantes, não só nos Estados Unidos, como no mundo inteiro. Além de nos sentirmos excluídos socialmente, também sentimos que os outros estão se saindo melhor do que nós. Afinal, vemos apenas seus “melhores momentos” nas redes sociais.

Em geral, de onde vem a ansiedade? Ela é genética (já nascemos ansiosos) ou ambiental (aprendemos a ser)?

É uma mistura dos dois: genes e ambiente. Embora alguns sejam mais ativados do que outros (e isso se deve ao centro do medo em nosso cérebro, a amígdala, que varia em termos de tamanho e de nível de resposta), muitos de nós sofreram traumas ou outros eventos estressores que nos levam à ansiedade.

Em outros casos, podemos ter sido criados em famílias onde fomos educados a nos preocupar excessivamente com o futuro. Estava arraigado em nós que a preocupação era algo essencial para que pudéssemos evitar possíveis armadilhas. Infelizmente, ao aprendermos a estar constantemente ansiosos, não aprendemos também que éramos pessoas resilientes e que, por essa razão, poderíamos superar desafios aparentemente insuperáveis.

Ansiedade tem um lado bom, positivo e saudável? Ou todos são ruins, negativos e doentios?

A ansiedade pode ser útil, sim, porque pode nos ajudar a nos preparar para algo e a planejar com antecedência. A lei de Yerkes-Dodson (desenvolvida em 1908 pelos psicólogos Robert Yerkes e John Dodson) fala exatamente sobre isso: precisamos de uma quantidade saudável de estresse para alcançar o melhor resultado. A ansiedade também pode nos deixar gratos porque nos lembra das bênçãos que temos em nossas vidas. Afinal, muitas vezes, nos preocupamos em perder algo e, para sentir a dor de perder algo, precisamos, em primeiro lugar, amar muito algo.

De uns tempos para cá, muita gente passou a confundir inquietação com ansiedade. Como se diagnostica o transtorno de ansiedade? Não há uma banalização?

O diagnóstico de ansiedade tem algumas características essenciais: insônia, nervosismo, inquietação, tensão muscular, dificuldade de concentração... Note que a inquietação é apenas um dos componentes da ansiedade. Por si só, não atende aos critérios de diagnóstico. É preciso que haja preocupação com o fato de parecer algo fora do controle.

Eu diria que não se trata de uma banalização do diagnóstico, mas, sim, de uma simplificação do transtorno. As pessoas podem simplesmente sentir um sintoma desconfortável e achar que se trata de ansiedade. No entanto, o principal aspecto é: o quão angustiante é a ansiedade para você? E em segundo lugar: a ansiedade está impactando sua vida negativamente? Se ambos os componentes acima estiverem contribuindo para como você se sente, então, são dois dos pré-requisitos mais importantes para o diagnóstico de transtorno de ansiedade.

No livro, você confessa que, desde pequena, tem emetofobia (medo de vomitar). Fobia e ansiedade são sinônimos? Ou são coisas diferentes?

As fobias estão sob o guarda-chuva dos transtornos de ansiedade. São o diagnóstico mais comum de qualquer diagnóstico de saúde mental e, embora sejam uma forma de ansiedade, não são sinônimos.

De tudo que você pesquisou para escrever Geração Ansiosa, o que mais chamou sua atenção? Qual teria sido sua descoberta mais desconcertante?

Fiquei surpresa ao descobrir como somos afetados pela ansiedade em termos geracionais. Quando você observa como nossos genes são fisicamente alterados e transmitidos de geração em geração por causa de traumas que sofremos ou de estresses que enfrentamos, nos faz pensar não apenas sobre o que vivenciamos, mas sobre o que nossos pais e avós vivenciaram. Não significa que devemos encarar a situação como se já estivéssemos condenados. Também vimos, através de pesquisas, como diferentes mudanças em nosso estilo de vida podem mudar nossos genes. Isso nos motiva a viver bem não só para nós próprios, mas também para nossos filhos e netos.

O que fazer em caso de crise de ansiedade? Respirar fundo, contar até dez, rezar? Qual é a sua dica infalível?

Em primeiro lugar, procure descobrir, quando se trata de um ataque de pânico, que tipo de pessoa você é. As pessoas normalmente precisam de uma coisa ou de outra: ou ficar sozinha ou de conseguir ajuda de outras pessoas. Se você é do tipo que, durante um ataque de pânico, precisa ficar sozinha, coloque uma música suave e se concentre em sua respiração. Se, ao contrário, é do tipo que precisa estar com outras pessoas, procure se distrair conversando com elas ou, então, diga a quem estiver ao seu lado que você precisa de ajuda.

No livro, você relata os casos de muitos pacientes ansiosos. Qual deles mais impressionou você? A que ponto a ansiedade pode chegar?

A história do Luís (nome fictício) foi comovente. Sempre tive um carinho especial pelos pacientes que ainda não conseguiram ajuda para o TOC porque eles sentem muita vergonha disso. Se sentem partidos, nojentos ou estranhos por terem os pensamentos que têm quando, na verdade, isso é apenas uma manifestação de seu TOC. Conversar sobre o diagnóstico e normalizar sua experiência costuma mudar suas vidas. Mas, sem ajuda, o TOC e outros transtornos de ansiedade podem ser extremamente dolorosos. Muitas pessoas dizem que é como se o cérebro delas estivesse “pegando fogo”, mas elas têm vergonha de pedir ajuda aos outros.

Em 2023, você teve “dois filhos”: Derek em maio e Geração Ansiosa em setembro. Em algum momento, teve crise de ansiedade? Como conseguiu superar?

Tive muitos ataques de pânico ao longo da vida. Mas nunca com tanta frequência como tive durante a pandemia. Para controlar meus ataques de pânico, fiz de tudo: de terapia cognitivo comportamental (TCC) a cerapia de exposição e prevenção de resposta (EPR). Também me consultei com um médico naturopata. Tudo isso fez uma grande diferença em minha vida. Eu me sinto feliz por poder dizer que trabalhei não apenas meus gatilhos, mas aprendi a lidar com a situação quando me sinto ansiosa. Hoje, me sinto uma pessoa diferente.

Há cura para a ansiedade? Quero dizer: você aprende realmente a nadar ou vai precisar de colete para o resto da vida?

Não existe “cura” para a ansiedade. Essa, aliás, é a mensagem do meu livro: aceitação empoderada! Temos que aceitar que, às vezes, podemos nos sentir ansiosos e ok, está tudo bem. Quando não nos sentirmos mais ameaçados, recuperaremos nosso poder. Também precisamos ser capacitados em nossa abordagem. Precisamos estar dispostos a criar mudanças positivas e precisamos saber que ainda podemos viver vidas realmente significativas, mesmo que, às vezes ou o tempo todo, nos sintamos ansiosos ou assustados.

Este mês, Derek completa um ano de vida. Ele faz parte da geração Alfa (nascida a partir de 2010). Que cuidados você toma para evitar que, quando crescer, ele seja uma pessoa ansiosa?

Tento estimular sua coragem. Às vezes, vejo pais tentando evitar que seus filhos levem tombos ou se machuquem. Mas, se embrulharmos nossos filhos em plástico-bolha, nunca aprenderão que não há problema algum em cair e, depois, se levantar novamente. Quando Derek cai e fica bem, tento não ter uma grande reação e o encorajo a continuar. Claro, o mundo não é um lugar seguro, mas não quero que Derek seja educado pelo medo. Quero que ele aprenda que é capaz e resiliente – e, às vezes, você só aprende isso quando se sente seguro o suficiente para cair.

Quando chamou o nome de seu novo paciente, um jovem mexicano chamado Luís, na sala de espera de sua clínica em Pasadena, na Califórnia, Lauren Cook encontrou um homem nervoso, constrangido e envergonhado. Luís sofria de transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e, entre outras manias, lavava as mãos incontáveis vezes ao dia – a ponto de elas ficarem feridas ou começarem a sangrar. “Outros pacientes já haviam descrito o TOC como se o cérebro estivesse ‘pegando fogo’ e você não tivesse um extintor por perto para apagar o incêndio”, relata a psicóloga.

Luís é apenas um dos onze pacientes que tiveram seus casos relatados em Geração Ansiosa – Um guia para se manter em atividade em um mundo instável (Rocco, 2023). Cada capítulo é dedicado a um paciente diferente. O de Luís é o quarto: Seguindo mesmo quando seu oceano é frio e assustador. Não à toa, a autora compara uma crise de ansiedade à sensação de afogamento. Ela própria, que sofre de emetofobia (pavor a vômito) desde pequena, já teve inúmeras crises. “Há vários paralelos entre nossa mente e o mar: suas águas são desconhecidas e há tubarões à nossa volta”, adverte.

No livro, você compara crise de ansiedade à sensação de afogamento. Por que as gerações Y (nascidos entre 1981 e 1996) e Z (entre 1997 e 2010) são as mais propensas a “morrer afogadas”?

Sim, comparo o ataque de pânico à sensação de afogamento porque é algo muito assustador. Muitas pessoas têm a sensação de que estão morrendo quando sofrem um ataque de pânico. As gerações Y e Z estão experimentando altas taxas de ansiedade por uma série de razões. Muitos deles se sentem inseguros, enfrentam dificuldades financeiras e são inundados pelas redes sociais. Embora vejam pessoas online constantemente, se sentem mais sozinhos e isolados do que nunca.

Para psicóloga americana, gerações Y e Z são as que se sentem mais sozinhas, isoladas e ansiosas Foto: Julia/Adobe Stock

Você diria que as gerações Y e Z são mais ansiosas do que as anteriores, Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964) e X (entre 1965 e 1980)? Por quê? Quanto mais tecnologia, mais ansiedade?

Ao que parece, essas duas gerações apresentam níveis mais altos de ansiedades em comparação com as anteriores. Isso se deve ao fato de que, em suas curtas vidas, suportaram convulsões políticas, onda de violência (hoje em dia, qualquer um pode ser vítima de um tiroteio) e se sentem menos esperançosas quanto ao futuro – tanto do ponto de vista financeiro quanto no que diz respeito ao aquecimento global. A tecnologia também desempenha um papel importante. Embora tenhamos hoje mais acesso à informação do que nunca, há também uma grande desvantagem nisso: somos constantemente bombardeados por acontecimentos preocupantes, não só nos Estados Unidos, como no mundo inteiro. Além de nos sentirmos excluídos socialmente, também sentimos que os outros estão se saindo melhor do que nós. Afinal, vemos apenas seus “melhores momentos” nas redes sociais.

Em geral, de onde vem a ansiedade? Ela é genética (já nascemos ansiosos) ou ambiental (aprendemos a ser)?

É uma mistura dos dois: genes e ambiente. Embora alguns sejam mais ativados do que outros (e isso se deve ao centro do medo em nosso cérebro, a amígdala, que varia em termos de tamanho e de nível de resposta), muitos de nós sofreram traumas ou outros eventos estressores que nos levam à ansiedade.

Em outros casos, podemos ter sido criados em famílias onde fomos educados a nos preocupar excessivamente com o futuro. Estava arraigado em nós que a preocupação era algo essencial para que pudéssemos evitar possíveis armadilhas. Infelizmente, ao aprendermos a estar constantemente ansiosos, não aprendemos também que éramos pessoas resilientes e que, por essa razão, poderíamos superar desafios aparentemente insuperáveis.

Ansiedade tem um lado bom, positivo e saudável? Ou todos são ruins, negativos e doentios?

A ansiedade pode ser útil, sim, porque pode nos ajudar a nos preparar para algo e a planejar com antecedência. A lei de Yerkes-Dodson (desenvolvida em 1908 pelos psicólogos Robert Yerkes e John Dodson) fala exatamente sobre isso: precisamos de uma quantidade saudável de estresse para alcançar o melhor resultado. A ansiedade também pode nos deixar gratos porque nos lembra das bênçãos que temos em nossas vidas. Afinal, muitas vezes, nos preocupamos em perder algo e, para sentir a dor de perder algo, precisamos, em primeiro lugar, amar muito algo.

De uns tempos para cá, muita gente passou a confundir inquietação com ansiedade. Como se diagnostica o transtorno de ansiedade? Não há uma banalização?

O diagnóstico de ansiedade tem algumas características essenciais: insônia, nervosismo, inquietação, tensão muscular, dificuldade de concentração... Note que a inquietação é apenas um dos componentes da ansiedade. Por si só, não atende aos critérios de diagnóstico. É preciso que haja preocupação com o fato de parecer algo fora do controle.

Eu diria que não se trata de uma banalização do diagnóstico, mas, sim, de uma simplificação do transtorno. As pessoas podem simplesmente sentir um sintoma desconfortável e achar que se trata de ansiedade. No entanto, o principal aspecto é: o quão angustiante é a ansiedade para você? E em segundo lugar: a ansiedade está impactando sua vida negativamente? Se ambos os componentes acima estiverem contribuindo para como você se sente, então, são dois dos pré-requisitos mais importantes para o diagnóstico de transtorno de ansiedade.

No livro, você confessa que, desde pequena, tem emetofobia (medo de vomitar). Fobia e ansiedade são sinônimos? Ou são coisas diferentes?

As fobias estão sob o guarda-chuva dos transtornos de ansiedade. São o diagnóstico mais comum de qualquer diagnóstico de saúde mental e, embora sejam uma forma de ansiedade, não são sinônimos.

De tudo que você pesquisou para escrever Geração Ansiosa, o que mais chamou sua atenção? Qual teria sido sua descoberta mais desconcertante?

Fiquei surpresa ao descobrir como somos afetados pela ansiedade em termos geracionais. Quando você observa como nossos genes são fisicamente alterados e transmitidos de geração em geração por causa de traumas que sofremos ou de estresses que enfrentamos, nos faz pensar não apenas sobre o que vivenciamos, mas sobre o que nossos pais e avós vivenciaram. Não significa que devemos encarar a situação como se já estivéssemos condenados. Também vimos, através de pesquisas, como diferentes mudanças em nosso estilo de vida podem mudar nossos genes. Isso nos motiva a viver bem não só para nós próprios, mas também para nossos filhos e netos.

O que fazer em caso de crise de ansiedade? Respirar fundo, contar até dez, rezar? Qual é a sua dica infalível?

Em primeiro lugar, procure descobrir, quando se trata de um ataque de pânico, que tipo de pessoa você é. As pessoas normalmente precisam de uma coisa ou de outra: ou ficar sozinha ou de conseguir ajuda de outras pessoas. Se você é do tipo que, durante um ataque de pânico, precisa ficar sozinha, coloque uma música suave e se concentre em sua respiração. Se, ao contrário, é do tipo que precisa estar com outras pessoas, procure se distrair conversando com elas ou, então, diga a quem estiver ao seu lado que você precisa de ajuda.

No livro, você relata os casos de muitos pacientes ansiosos. Qual deles mais impressionou você? A que ponto a ansiedade pode chegar?

A história do Luís (nome fictício) foi comovente. Sempre tive um carinho especial pelos pacientes que ainda não conseguiram ajuda para o TOC porque eles sentem muita vergonha disso. Se sentem partidos, nojentos ou estranhos por terem os pensamentos que têm quando, na verdade, isso é apenas uma manifestação de seu TOC. Conversar sobre o diagnóstico e normalizar sua experiência costuma mudar suas vidas. Mas, sem ajuda, o TOC e outros transtornos de ansiedade podem ser extremamente dolorosos. Muitas pessoas dizem que é como se o cérebro delas estivesse “pegando fogo”, mas elas têm vergonha de pedir ajuda aos outros.

Em 2023, você teve “dois filhos”: Derek em maio e Geração Ansiosa em setembro. Em algum momento, teve crise de ansiedade? Como conseguiu superar?

Tive muitos ataques de pânico ao longo da vida. Mas nunca com tanta frequência como tive durante a pandemia. Para controlar meus ataques de pânico, fiz de tudo: de terapia cognitivo comportamental (TCC) a cerapia de exposição e prevenção de resposta (EPR). Também me consultei com um médico naturopata. Tudo isso fez uma grande diferença em minha vida. Eu me sinto feliz por poder dizer que trabalhei não apenas meus gatilhos, mas aprendi a lidar com a situação quando me sinto ansiosa. Hoje, me sinto uma pessoa diferente.

Há cura para a ansiedade? Quero dizer: você aprende realmente a nadar ou vai precisar de colete para o resto da vida?

Não existe “cura” para a ansiedade. Essa, aliás, é a mensagem do meu livro: aceitação empoderada! Temos que aceitar que, às vezes, podemos nos sentir ansiosos e ok, está tudo bem. Quando não nos sentirmos mais ameaçados, recuperaremos nosso poder. Também precisamos ser capacitados em nossa abordagem. Precisamos estar dispostos a criar mudanças positivas e precisamos saber que ainda podemos viver vidas realmente significativas, mesmo que, às vezes ou o tempo todo, nos sintamos ansiosos ou assustados.

Este mês, Derek completa um ano de vida. Ele faz parte da geração Alfa (nascida a partir de 2010). Que cuidados você toma para evitar que, quando crescer, ele seja uma pessoa ansiosa?

Tento estimular sua coragem. Às vezes, vejo pais tentando evitar que seus filhos levem tombos ou se machuquem. Mas, se embrulharmos nossos filhos em plástico-bolha, nunca aprenderão que não há problema algum em cair e, depois, se levantar novamente. Quando Derek cai e fica bem, tento não ter uma grande reação e o encorajo a continuar. Claro, o mundo não é um lugar seguro, mas não quero que Derek seja educado pelo medo. Quero que ele aprenda que é capaz e resiliente – e, às vezes, você só aprende isso quando se sente seguro o suficiente para cair.

Quando chamou o nome de seu novo paciente, um jovem mexicano chamado Luís, na sala de espera de sua clínica em Pasadena, na Califórnia, Lauren Cook encontrou um homem nervoso, constrangido e envergonhado. Luís sofria de transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e, entre outras manias, lavava as mãos incontáveis vezes ao dia – a ponto de elas ficarem feridas ou começarem a sangrar. “Outros pacientes já haviam descrito o TOC como se o cérebro estivesse ‘pegando fogo’ e você não tivesse um extintor por perto para apagar o incêndio”, relata a psicóloga.

Luís é apenas um dos onze pacientes que tiveram seus casos relatados em Geração Ansiosa – Um guia para se manter em atividade em um mundo instável (Rocco, 2023). Cada capítulo é dedicado a um paciente diferente. O de Luís é o quarto: Seguindo mesmo quando seu oceano é frio e assustador. Não à toa, a autora compara uma crise de ansiedade à sensação de afogamento. Ela própria, que sofre de emetofobia (pavor a vômito) desde pequena, já teve inúmeras crises. “Há vários paralelos entre nossa mente e o mar: suas águas são desconhecidas e há tubarões à nossa volta”, adverte.

No livro, você compara crise de ansiedade à sensação de afogamento. Por que as gerações Y (nascidos entre 1981 e 1996) e Z (entre 1997 e 2010) são as mais propensas a “morrer afogadas”?

Sim, comparo o ataque de pânico à sensação de afogamento porque é algo muito assustador. Muitas pessoas têm a sensação de que estão morrendo quando sofrem um ataque de pânico. As gerações Y e Z estão experimentando altas taxas de ansiedade por uma série de razões. Muitos deles se sentem inseguros, enfrentam dificuldades financeiras e são inundados pelas redes sociais. Embora vejam pessoas online constantemente, se sentem mais sozinhos e isolados do que nunca.

Para psicóloga americana, gerações Y e Z são as que se sentem mais sozinhas, isoladas e ansiosas Foto: Julia/Adobe Stock

Você diria que as gerações Y e Z são mais ansiosas do que as anteriores, Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964) e X (entre 1965 e 1980)? Por quê? Quanto mais tecnologia, mais ansiedade?

Ao que parece, essas duas gerações apresentam níveis mais altos de ansiedades em comparação com as anteriores. Isso se deve ao fato de que, em suas curtas vidas, suportaram convulsões políticas, onda de violência (hoje em dia, qualquer um pode ser vítima de um tiroteio) e se sentem menos esperançosas quanto ao futuro – tanto do ponto de vista financeiro quanto no que diz respeito ao aquecimento global. A tecnologia também desempenha um papel importante. Embora tenhamos hoje mais acesso à informação do que nunca, há também uma grande desvantagem nisso: somos constantemente bombardeados por acontecimentos preocupantes, não só nos Estados Unidos, como no mundo inteiro. Além de nos sentirmos excluídos socialmente, também sentimos que os outros estão se saindo melhor do que nós. Afinal, vemos apenas seus “melhores momentos” nas redes sociais.

Em geral, de onde vem a ansiedade? Ela é genética (já nascemos ansiosos) ou ambiental (aprendemos a ser)?

É uma mistura dos dois: genes e ambiente. Embora alguns sejam mais ativados do que outros (e isso se deve ao centro do medo em nosso cérebro, a amígdala, que varia em termos de tamanho e de nível de resposta), muitos de nós sofreram traumas ou outros eventos estressores que nos levam à ansiedade.

Em outros casos, podemos ter sido criados em famílias onde fomos educados a nos preocupar excessivamente com o futuro. Estava arraigado em nós que a preocupação era algo essencial para que pudéssemos evitar possíveis armadilhas. Infelizmente, ao aprendermos a estar constantemente ansiosos, não aprendemos também que éramos pessoas resilientes e que, por essa razão, poderíamos superar desafios aparentemente insuperáveis.

Ansiedade tem um lado bom, positivo e saudável? Ou todos são ruins, negativos e doentios?

A ansiedade pode ser útil, sim, porque pode nos ajudar a nos preparar para algo e a planejar com antecedência. A lei de Yerkes-Dodson (desenvolvida em 1908 pelos psicólogos Robert Yerkes e John Dodson) fala exatamente sobre isso: precisamos de uma quantidade saudável de estresse para alcançar o melhor resultado. A ansiedade também pode nos deixar gratos porque nos lembra das bênçãos que temos em nossas vidas. Afinal, muitas vezes, nos preocupamos em perder algo e, para sentir a dor de perder algo, precisamos, em primeiro lugar, amar muito algo.

De uns tempos para cá, muita gente passou a confundir inquietação com ansiedade. Como se diagnostica o transtorno de ansiedade? Não há uma banalização?

O diagnóstico de ansiedade tem algumas características essenciais: insônia, nervosismo, inquietação, tensão muscular, dificuldade de concentração... Note que a inquietação é apenas um dos componentes da ansiedade. Por si só, não atende aos critérios de diagnóstico. É preciso que haja preocupação com o fato de parecer algo fora do controle.

Eu diria que não se trata de uma banalização do diagnóstico, mas, sim, de uma simplificação do transtorno. As pessoas podem simplesmente sentir um sintoma desconfortável e achar que se trata de ansiedade. No entanto, o principal aspecto é: o quão angustiante é a ansiedade para você? E em segundo lugar: a ansiedade está impactando sua vida negativamente? Se ambos os componentes acima estiverem contribuindo para como você se sente, então, são dois dos pré-requisitos mais importantes para o diagnóstico de transtorno de ansiedade.

No livro, você confessa que, desde pequena, tem emetofobia (medo de vomitar). Fobia e ansiedade são sinônimos? Ou são coisas diferentes?

As fobias estão sob o guarda-chuva dos transtornos de ansiedade. São o diagnóstico mais comum de qualquer diagnóstico de saúde mental e, embora sejam uma forma de ansiedade, não são sinônimos.

De tudo que você pesquisou para escrever Geração Ansiosa, o que mais chamou sua atenção? Qual teria sido sua descoberta mais desconcertante?

Fiquei surpresa ao descobrir como somos afetados pela ansiedade em termos geracionais. Quando você observa como nossos genes são fisicamente alterados e transmitidos de geração em geração por causa de traumas que sofremos ou de estresses que enfrentamos, nos faz pensar não apenas sobre o que vivenciamos, mas sobre o que nossos pais e avós vivenciaram. Não significa que devemos encarar a situação como se já estivéssemos condenados. Também vimos, através de pesquisas, como diferentes mudanças em nosso estilo de vida podem mudar nossos genes. Isso nos motiva a viver bem não só para nós próprios, mas também para nossos filhos e netos.

O que fazer em caso de crise de ansiedade? Respirar fundo, contar até dez, rezar? Qual é a sua dica infalível?

Em primeiro lugar, procure descobrir, quando se trata de um ataque de pânico, que tipo de pessoa você é. As pessoas normalmente precisam de uma coisa ou de outra: ou ficar sozinha ou de conseguir ajuda de outras pessoas. Se você é do tipo que, durante um ataque de pânico, precisa ficar sozinha, coloque uma música suave e se concentre em sua respiração. Se, ao contrário, é do tipo que precisa estar com outras pessoas, procure se distrair conversando com elas ou, então, diga a quem estiver ao seu lado que você precisa de ajuda.

No livro, você relata os casos de muitos pacientes ansiosos. Qual deles mais impressionou você? A que ponto a ansiedade pode chegar?

A história do Luís (nome fictício) foi comovente. Sempre tive um carinho especial pelos pacientes que ainda não conseguiram ajuda para o TOC porque eles sentem muita vergonha disso. Se sentem partidos, nojentos ou estranhos por terem os pensamentos que têm quando, na verdade, isso é apenas uma manifestação de seu TOC. Conversar sobre o diagnóstico e normalizar sua experiência costuma mudar suas vidas. Mas, sem ajuda, o TOC e outros transtornos de ansiedade podem ser extremamente dolorosos. Muitas pessoas dizem que é como se o cérebro delas estivesse “pegando fogo”, mas elas têm vergonha de pedir ajuda aos outros.

Em 2023, você teve “dois filhos”: Derek em maio e Geração Ansiosa em setembro. Em algum momento, teve crise de ansiedade? Como conseguiu superar?

Tive muitos ataques de pânico ao longo da vida. Mas nunca com tanta frequência como tive durante a pandemia. Para controlar meus ataques de pânico, fiz de tudo: de terapia cognitivo comportamental (TCC) a cerapia de exposição e prevenção de resposta (EPR). Também me consultei com um médico naturopata. Tudo isso fez uma grande diferença em minha vida. Eu me sinto feliz por poder dizer que trabalhei não apenas meus gatilhos, mas aprendi a lidar com a situação quando me sinto ansiosa. Hoje, me sinto uma pessoa diferente.

Há cura para a ansiedade? Quero dizer: você aprende realmente a nadar ou vai precisar de colete para o resto da vida?

Não existe “cura” para a ansiedade. Essa, aliás, é a mensagem do meu livro: aceitação empoderada! Temos que aceitar que, às vezes, podemos nos sentir ansiosos e ok, está tudo bem. Quando não nos sentirmos mais ameaçados, recuperaremos nosso poder. Também precisamos ser capacitados em nossa abordagem. Precisamos estar dispostos a criar mudanças positivas e precisamos saber que ainda podemos viver vidas realmente significativas, mesmo que, às vezes ou o tempo todo, nos sintamos ansiosos ou assustados.

Este mês, Derek completa um ano de vida. Ele faz parte da geração Alfa (nascida a partir de 2010). Que cuidados você toma para evitar que, quando crescer, ele seja uma pessoa ansiosa?

Tento estimular sua coragem. Às vezes, vejo pais tentando evitar que seus filhos levem tombos ou se machuquem. Mas, se embrulharmos nossos filhos em plástico-bolha, nunca aprenderão que não há problema algum em cair e, depois, se levantar novamente. Quando Derek cai e fica bem, tento não ter uma grande reação e o encorajo a continuar. Claro, o mundo não é um lugar seguro, mas não quero que Derek seja educado pelo medo. Quero que ele aprenda que é capaz e resiliente – e, às vezes, você só aprende isso quando se sente seguro o suficiente para cair.

Entrevista por André Bernardo

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