Um dos ensinamentos da pandemia é que as alianças entre os setores público e privado precisam ser mais bem cuidadas. O valor do Sistema Único de Saúde (SUS) foi comprovado nacionalmente, a exemplo da extensa campanha de vacinação, e trouxe reflexões sobre parcerias necessárias para melhorar a gestão do sistema como um todo.
Daniel Greca, diretor de Saúde Populacional do Hospital Sírio-Libanês, considera que um dos pontos de melhoria está relacionado à estratégia assistencial – ações que acompanham o paciente em toda sua jornada de cuidado e cujos resultados se observam em diversos momentos da vida. “É necessário um acompanhamento de início, meio e fim, para saber onde alocar o paciente no momento certo, com o custo correto e sem desperdícios. Não basta falar sobre o Outubro Rosa; isso tem de fazer parte de um modelo assistencial e o paciente precisa entendê-lo como tal.”
De acordo com Ana Paula Pinho, diretora do Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz, as parcerias público-privadas são um caminho. “A pandemia deixou muito nítido que realmente o sistema é único, então, todos têm um papel efetivo na execução dos serviços de saúde. Podemos pensar na ampliação do acesso estabelecendo parcerias comprometidas.”
Nesse sentido, Pinho acredita no potencial do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi), que estabelece uma rede de parceria entre seis hospitais privados de excelência e o Ministério da Saúde para garantir, por exemplo, projetos de capacitação, pesquisa e adesão de novas tecnologias. O próprio Oswaldo Cruz participa da iniciativa, bem como os hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein.
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Ainda que as coalizões sejam importantes, Nésio Fernandes Junior, presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais da Saúde (Conass), acredita que não há como garantir um sistema público de excelência se a verba destinada pela União não passar por reavaliação. “Independentemente do debate sobre a organização do sistema, se tivéssemos de incluir todas as pessoas que dependem de assistência farmacêutica, tratamento de doenças raras, atendimento hospitalar, cirurgias eletivas (não urgentes) e outros serviços, não teríamos capacidade para absorver todas as demandas”, diz ele. “O financiamento do SUS, portanto, precisa ocupar a centralidade do debate.”
Para lembrar - A mudança no rol de procedimentos da ANS
A decisão que envolve o novo rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar suscita opiniões divergentes. O rol taxativo da ANS inclui métodos de diagnóstico e tratamento de doenças para orientar os beneficiários de planos de saúde sobre procedimentos que são cobertos a nível nacional. A inclusão de novas tecnologias sempre foi feita, historicamente, a cada dois anos, por meio de atualizações na lista da ANS.
Em setembro, foi sancionada uma lei que obriga operadoras a cobrirem itens fora da lista. Na prática, é como se, agora, o rol fosse exemplificativo, servindo apenas como referência. A medida foi comemorada por representações de pacientes, mas criticada por atores da saúde suplementar, que alegam que os planos podem ficar mais caros.