‘Ghosting’ virou parte inevitável das relações? O que isso significa e quando ele é aceitável


Especialista falam sobre maneiras de enfrentar a situação e avaliam quando você pode desaparecer com a consciência tranquila

Por Catherine Pearson

Mais ou menos dez anos atrás, Brenna Holeman teve um primeiro encontro perfeito com um cara que ela havia conhecido no aplicativo de namoro: Londres, noite chuvosa, bar aconchegante. Antes mesmo de o encontro terminar – com um beijo – eles já haviam feito planos para o próximo.

“Ele até me mandou mensagem naquela noite, dizendo: ‘Não consigo parar de sorrir’”, lembrou Brenna, de 40 anos, escritora de viagens que hoje mora no Canadá. Ele também escreveu: “Mal posso esperar para ver você de novo”, acrescentou ela.

Mas, quando ela mandou mensagem para confirmar o horário do próximo encontro, tudo o que “ouviu” foi silêncio.

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Ghosting, termo popular que significa cortar toda e qualquer comunicação sem dar explicações, virou uma parte inescapável das relações modernas. E, segundo psicólogos e pesquisadores, ele pode ser ainda mais difícil de suportar do que a rejeição pura e simples, porque envolve incerteza.

Elizabeth Earnshaw, terapeuta licenciada em casamento e família, diz que as pessoas que tomam um ghost “começam a questionar a realidade”.

Ghosting pode levar a pessoa a questionar seus comportamentos e prejudicar a autoestima Foto: DimaBerlin/Adobe Stock
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“Elas olham para trás e dizem: ‘Será que eu não vi os sinais? Tem alguma coisa de errado comigo? Por que achei que tínhamos nos divertido tanto no nosso último encontro?”, afirma Elizabeth.

Ela já viu muitos clientes – de várias idades, gêneros e orientações sexuais – sofrendo com “crise de autoestima” depois de terem sido ignorados várias vezes seguidas. Mas, neste mundo acelerado de aplicativos de namoro e opções infinitas, será que às vezes é aceitável dar um ghost?

Terapeutas, pesquisadores e uma especialista em etiqueta falaram sobre maneiras de contornar essa situação – e quando você pode dar um ghost com a consciência tranquila.

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Medindo as consequências

Embora o ghosting ainda seja uma área de pesquisa relativamente nova, alguns dados estão começando a surgir. Em um estudo realizado em 2019, 25% dos participantes disseram ter tomado ghost de parceiros românticos, e pouco mais de 20% disseram ter dado ghost.

Outro estudo, que pesquisou especificamente usuários de aplicativos de namoro, descobriu que 85% deles já haviam tomado ghost em algum momento, o que levou muitos entrevistados a se sentirem tristes ou irritados e com baixa autoestima; alguns também se sentiram mais desconfiados em relação ao mundo.

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As pessoas que foram vítimas de ghosting têm a tendência de remoer os pensamentos, se perguntando: “O que está acontecendo? Por que essa pessoa não está me respondendo?”, diz Richard Slatcher, professor de psicologia da Universidade da Geórgia que estuda relacionamentos íntimos. “Junto com isso, vem uma verdadeira falta de encerramento para as pessoas”.

Terapeutas como Elizabeth têm visto as consequências do ghosting em seus consultórios há anos, principalmente porque as pessoas não aguentam mais os aplicativos de namoro. Você realmente não deve dar ghost se puder evitar, por causa da mágoa que isso pode causar, especialmente quando acontece várias vezes, diz ela.

A especialista conta que seus pacientes costumam perguntar: “Será que eu é que estou causando isso?” Alguns até se perguntam: “Como posso ser tão desprezível a ponto de alguém não se dar nem ao trabalho de dizer tchau?”

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Quando considerar o ghosting

Ainda assim, há momentos em que dar ghost é apropriado e até mesmo sensato, disseram os especialistas. Se a pessoa foi agressiva ou fez você sentir medo, é justificável que você se afaste sem dar explicações, disse Elizabeth. Ela também deu sinal verde se a pessoa não estiver respeitando seus limites.

“Se a pessoa simplesmente não estiver ouvindo o que você já expressou, acho que tudo bem”, afirma, acrescentando que hesita em classificar essa situação como ghosting.

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No estudo que constatou que a maioria dos usuários de aplicativos já foi vítima de ghosting, os motivos que as pessoas deram para desaparecer foram complexos: algumas o fizeram porque temiam comportamentos abusivos ou até mesmo perseguição; outras disseram que achavam que não deviam nada à pessoa com quem estavam conversando no aplicativo; e algumas explicaram que não queriam magoar a outra pessoa ao rejeitá-la verbalmente.

“Às vezes, para a pessoa que está desaparecendo, é mais fácil”, diz Rachel Sussman, psicoterapeuta em Nova York e autora de The Breakup Bible (algo como “A bíblia do término”, em tradução direta). “Ninguém gosta de dar más notícias”, acrescentou.

Elizabeth afirmou que uma pergunta útil para se fazer antes de dar ghost em alguém é: estou pensando em fazer isso simplesmente porque quero evitar uma conversa desagradável? Se a resposta for sim, é mais gentil oferecer um adeus e até mesmo uma breve explicação.

Uma abordagem melhor

Se você teve apenas um ou dois encontros, uma mensagem de texto encerrando o assunto geralmente é o bastante, recomenda Elaine Swann, especialista em etiqueta. Ela reconheceu que pode parecer um conselho surpreendente vindo de uma pessoa que preza pelos bons modos, mas disse que a etiqueta evolui.

Seja breve, ela recomendou, com algo do tipo: “Acho que não nos encaixamos bem, mas desejo o melhor para você e espero que encontre a conexão que está procurando”.

Mas se vocês tiveram mais do que um ou dois encontros ou ficaram fisicamente íntimos de alguma forma – “mesmo que só uns amassos!” – Elaine acredita que o rompimento deve ser feito pessoalmente ou com uma ligação telefônica (ou, se você não tiver estômago para isso, uma mensagem de voz pode funcionar). É importante que a outra pessoa ouça sua voz e seu tom, afirma ela. E não tente “consertar” a pessoa ao ir embora. “Você não precisa fazer disso um momento de aprendizado.”

Como lidar com o ghosting

Rachel disse que costuma dizer a seus clientes que, mesmo que tenham tido um encontro muito bom (ou vários), eles podem se proteger contra a turbulência emocional simplesmente dizendo a si mesmos, desde o início, que talvez não tenham mais notícias da pessoa.

Lembre-se de que, infelizmente, o ghosting agora é “normal” e “acontece com todo mundo”, diz ela, acrescentando que já ouviu essas histórias de clientes de todos os tipos.

“Até mesmo as supermodelos estão dizendo: ‘Ah, eu não deveria ter dito isso, ou não deveria ter usado aquilo’”, contou.

Mas pegue leve. Os dias e as semanas depois do ghosting são um bom momento para praticar o autocuidado emocional, segundo Elizabeth. Converse com amigos, escreva um diário, dedique-se a um hobby ou movimente o corpo, orienta ela.

Ao mesmo tempo, você pode diminuir os danos à sua autoestima simplesmente lembrando em voz alta – quantas vezes forem necessárias – que o problema provavelmente não era você, diz Rachel.

Depois de seu encontro perfeito em Londres, Brenna foi mais uma vez vítima de ghosting por alguém com quem estava saindo por meses. Ela escreveu sobre suas experiências quase uma década atrás, o que se tornou a publicação mais popular de seu blog, e os leitores compartilharam suas próprias histórias de ghosting.

Falar abertamente sobre as experiências foi catártico e revelador para ela na época em que se recuperava de sua “espiral de ansiedade”. Sua confusão e mágoa iniciais diminuíram, e ela percebeu que o silêncio às vezes é muito eloquente.

“Esse cara estava me mostrando quem era”, afirmou. “Estava me mostrando que era imaturo, que não tinha empatia e que não se deu ao trabalho nem mesmo de mandar uma mensagem rápida”.

Em seguida, ela acrescentou: “A maior conclusão para eu seguir em frente foi: ‘Ah, ficar sem resposta já é uma resposta”. /TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Este texto foi originalmente publicado no The New York Times

Mais ou menos dez anos atrás, Brenna Holeman teve um primeiro encontro perfeito com um cara que ela havia conhecido no aplicativo de namoro: Londres, noite chuvosa, bar aconchegante. Antes mesmo de o encontro terminar – com um beijo – eles já haviam feito planos para o próximo.

“Ele até me mandou mensagem naquela noite, dizendo: ‘Não consigo parar de sorrir’”, lembrou Brenna, de 40 anos, escritora de viagens que hoje mora no Canadá. Ele também escreveu: “Mal posso esperar para ver você de novo”, acrescentou ela.

Mas, quando ela mandou mensagem para confirmar o horário do próximo encontro, tudo o que “ouviu” foi silêncio.

Ghosting, termo popular que significa cortar toda e qualquer comunicação sem dar explicações, virou uma parte inescapável das relações modernas. E, segundo psicólogos e pesquisadores, ele pode ser ainda mais difícil de suportar do que a rejeição pura e simples, porque envolve incerteza.

Elizabeth Earnshaw, terapeuta licenciada em casamento e família, diz que as pessoas que tomam um ghost “começam a questionar a realidade”.

Ghosting pode levar a pessoa a questionar seus comportamentos e prejudicar a autoestima Foto: DimaBerlin/Adobe Stock

“Elas olham para trás e dizem: ‘Será que eu não vi os sinais? Tem alguma coisa de errado comigo? Por que achei que tínhamos nos divertido tanto no nosso último encontro?”, afirma Elizabeth.

Ela já viu muitos clientes – de várias idades, gêneros e orientações sexuais – sofrendo com “crise de autoestima” depois de terem sido ignorados várias vezes seguidas. Mas, neste mundo acelerado de aplicativos de namoro e opções infinitas, será que às vezes é aceitável dar um ghost?

Terapeutas, pesquisadores e uma especialista em etiqueta falaram sobre maneiras de contornar essa situação – e quando você pode dar um ghost com a consciência tranquila.

Medindo as consequências

Embora o ghosting ainda seja uma área de pesquisa relativamente nova, alguns dados estão começando a surgir. Em um estudo realizado em 2019, 25% dos participantes disseram ter tomado ghost de parceiros românticos, e pouco mais de 20% disseram ter dado ghost.

Outro estudo, que pesquisou especificamente usuários de aplicativos de namoro, descobriu que 85% deles já haviam tomado ghost em algum momento, o que levou muitos entrevistados a se sentirem tristes ou irritados e com baixa autoestima; alguns também se sentiram mais desconfiados em relação ao mundo.

As pessoas que foram vítimas de ghosting têm a tendência de remoer os pensamentos, se perguntando: “O que está acontecendo? Por que essa pessoa não está me respondendo?”, diz Richard Slatcher, professor de psicologia da Universidade da Geórgia que estuda relacionamentos íntimos. “Junto com isso, vem uma verdadeira falta de encerramento para as pessoas”.

Terapeutas como Elizabeth têm visto as consequências do ghosting em seus consultórios há anos, principalmente porque as pessoas não aguentam mais os aplicativos de namoro. Você realmente não deve dar ghost se puder evitar, por causa da mágoa que isso pode causar, especialmente quando acontece várias vezes, diz ela.

A especialista conta que seus pacientes costumam perguntar: “Será que eu é que estou causando isso?” Alguns até se perguntam: “Como posso ser tão desprezível a ponto de alguém não se dar nem ao trabalho de dizer tchau?”

Quando considerar o ghosting

Ainda assim, há momentos em que dar ghost é apropriado e até mesmo sensato, disseram os especialistas. Se a pessoa foi agressiva ou fez você sentir medo, é justificável que você se afaste sem dar explicações, disse Elizabeth. Ela também deu sinal verde se a pessoa não estiver respeitando seus limites.

“Se a pessoa simplesmente não estiver ouvindo o que você já expressou, acho que tudo bem”, afirma, acrescentando que hesita em classificar essa situação como ghosting.

No estudo que constatou que a maioria dos usuários de aplicativos já foi vítima de ghosting, os motivos que as pessoas deram para desaparecer foram complexos: algumas o fizeram porque temiam comportamentos abusivos ou até mesmo perseguição; outras disseram que achavam que não deviam nada à pessoa com quem estavam conversando no aplicativo; e algumas explicaram que não queriam magoar a outra pessoa ao rejeitá-la verbalmente.

“Às vezes, para a pessoa que está desaparecendo, é mais fácil”, diz Rachel Sussman, psicoterapeuta em Nova York e autora de The Breakup Bible (algo como “A bíblia do término”, em tradução direta). “Ninguém gosta de dar más notícias”, acrescentou.

Elizabeth afirmou que uma pergunta útil para se fazer antes de dar ghost em alguém é: estou pensando em fazer isso simplesmente porque quero evitar uma conversa desagradável? Se a resposta for sim, é mais gentil oferecer um adeus e até mesmo uma breve explicação.

Uma abordagem melhor

Se você teve apenas um ou dois encontros, uma mensagem de texto encerrando o assunto geralmente é o bastante, recomenda Elaine Swann, especialista em etiqueta. Ela reconheceu que pode parecer um conselho surpreendente vindo de uma pessoa que preza pelos bons modos, mas disse que a etiqueta evolui.

Seja breve, ela recomendou, com algo do tipo: “Acho que não nos encaixamos bem, mas desejo o melhor para você e espero que encontre a conexão que está procurando”.

Mas se vocês tiveram mais do que um ou dois encontros ou ficaram fisicamente íntimos de alguma forma – “mesmo que só uns amassos!” – Elaine acredita que o rompimento deve ser feito pessoalmente ou com uma ligação telefônica (ou, se você não tiver estômago para isso, uma mensagem de voz pode funcionar). É importante que a outra pessoa ouça sua voz e seu tom, afirma ela. E não tente “consertar” a pessoa ao ir embora. “Você não precisa fazer disso um momento de aprendizado.”

Como lidar com o ghosting

Rachel disse que costuma dizer a seus clientes que, mesmo que tenham tido um encontro muito bom (ou vários), eles podem se proteger contra a turbulência emocional simplesmente dizendo a si mesmos, desde o início, que talvez não tenham mais notícias da pessoa.

Lembre-se de que, infelizmente, o ghosting agora é “normal” e “acontece com todo mundo”, diz ela, acrescentando que já ouviu essas histórias de clientes de todos os tipos.

“Até mesmo as supermodelos estão dizendo: ‘Ah, eu não deveria ter dito isso, ou não deveria ter usado aquilo’”, contou.

Mas pegue leve. Os dias e as semanas depois do ghosting são um bom momento para praticar o autocuidado emocional, segundo Elizabeth. Converse com amigos, escreva um diário, dedique-se a um hobby ou movimente o corpo, orienta ela.

Ao mesmo tempo, você pode diminuir os danos à sua autoestima simplesmente lembrando em voz alta – quantas vezes forem necessárias – que o problema provavelmente não era você, diz Rachel.

Depois de seu encontro perfeito em Londres, Brenna foi mais uma vez vítima de ghosting por alguém com quem estava saindo por meses. Ela escreveu sobre suas experiências quase uma década atrás, o que se tornou a publicação mais popular de seu blog, e os leitores compartilharam suas próprias histórias de ghosting.

Falar abertamente sobre as experiências foi catártico e revelador para ela na época em que se recuperava de sua “espiral de ansiedade”. Sua confusão e mágoa iniciais diminuíram, e ela percebeu que o silêncio às vezes é muito eloquente.

“Esse cara estava me mostrando quem era”, afirmou. “Estava me mostrando que era imaturo, que não tinha empatia e que não se deu ao trabalho nem mesmo de mandar uma mensagem rápida”.

Em seguida, ela acrescentou: “A maior conclusão para eu seguir em frente foi: ‘Ah, ficar sem resposta já é uma resposta”. /TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Este texto foi originalmente publicado no The New York Times

Mais ou menos dez anos atrás, Brenna Holeman teve um primeiro encontro perfeito com um cara que ela havia conhecido no aplicativo de namoro: Londres, noite chuvosa, bar aconchegante. Antes mesmo de o encontro terminar – com um beijo – eles já haviam feito planos para o próximo.

“Ele até me mandou mensagem naquela noite, dizendo: ‘Não consigo parar de sorrir’”, lembrou Brenna, de 40 anos, escritora de viagens que hoje mora no Canadá. Ele também escreveu: “Mal posso esperar para ver você de novo”, acrescentou ela.

Mas, quando ela mandou mensagem para confirmar o horário do próximo encontro, tudo o que “ouviu” foi silêncio.

Ghosting, termo popular que significa cortar toda e qualquer comunicação sem dar explicações, virou uma parte inescapável das relações modernas. E, segundo psicólogos e pesquisadores, ele pode ser ainda mais difícil de suportar do que a rejeição pura e simples, porque envolve incerteza.

Elizabeth Earnshaw, terapeuta licenciada em casamento e família, diz que as pessoas que tomam um ghost “começam a questionar a realidade”.

Ghosting pode levar a pessoa a questionar seus comportamentos e prejudicar a autoestima Foto: DimaBerlin/Adobe Stock

“Elas olham para trás e dizem: ‘Será que eu não vi os sinais? Tem alguma coisa de errado comigo? Por que achei que tínhamos nos divertido tanto no nosso último encontro?”, afirma Elizabeth.

Ela já viu muitos clientes – de várias idades, gêneros e orientações sexuais – sofrendo com “crise de autoestima” depois de terem sido ignorados várias vezes seguidas. Mas, neste mundo acelerado de aplicativos de namoro e opções infinitas, será que às vezes é aceitável dar um ghost?

Terapeutas, pesquisadores e uma especialista em etiqueta falaram sobre maneiras de contornar essa situação – e quando você pode dar um ghost com a consciência tranquila.

Medindo as consequências

Embora o ghosting ainda seja uma área de pesquisa relativamente nova, alguns dados estão começando a surgir. Em um estudo realizado em 2019, 25% dos participantes disseram ter tomado ghost de parceiros românticos, e pouco mais de 20% disseram ter dado ghost.

Outro estudo, que pesquisou especificamente usuários de aplicativos de namoro, descobriu que 85% deles já haviam tomado ghost em algum momento, o que levou muitos entrevistados a se sentirem tristes ou irritados e com baixa autoestima; alguns também se sentiram mais desconfiados em relação ao mundo.

As pessoas que foram vítimas de ghosting têm a tendência de remoer os pensamentos, se perguntando: “O que está acontecendo? Por que essa pessoa não está me respondendo?”, diz Richard Slatcher, professor de psicologia da Universidade da Geórgia que estuda relacionamentos íntimos. “Junto com isso, vem uma verdadeira falta de encerramento para as pessoas”.

Terapeutas como Elizabeth têm visto as consequências do ghosting em seus consultórios há anos, principalmente porque as pessoas não aguentam mais os aplicativos de namoro. Você realmente não deve dar ghost se puder evitar, por causa da mágoa que isso pode causar, especialmente quando acontece várias vezes, diz ela.

A especialista conta que seus pacientes costumam perguntar: “Será que eu é que estou causando isso?” Alguns até se perguntam: “Como posso ser tão desprezível a ponto de alguém não se dar nem ao trabalho de dizer tchau?”

Quando considerar o ghosting

Ainda assim, há momentos em que dar ghost é apropriado e até mesmo sensato, disseram os especialistas. Se a pessoa foi agressiva ou fez você sentir medo, é justificável que você se afaste sem dar explicações, disse Elizabeth. Ela também deu sinal verde se a pessoa não estiver respeitando seus limites.

“Se a pessoa simplesmente não estiver ouvindo o que você já expressou, acho que tudo bem”, afirma, acrescentando que hesita em classificar essa situação como ghosting.

No estudo que constatou que a maioria dos usuários de aplicativos já foi vítima de ghosting, os motivos que as pessoas deram para desaparecer foram complexos: algumas o fizeram porque temiam comportamentos abusivos ou até mesmo perseguição; outras disseram que achavam que não deviam nada à pessoa com quem estavam conversando no aplicativo; e algumas explicaram que não queriam magoar a outra pessoa ao rejeitá-la verbalmente.

“Às vezes, para a pessoa que está desaparecendo, é mais fácil”, diz Rachel Sussman, psicoterapeuta em Nova York e autora de The Breakup Bible (algo como “A bíblia do término”, em tradução direta). “Ninguém gosta de dar más notícias”, acrescentou.

Elizabeth afirmou que uma pergunta útil para se fazer antes de dar ghost em alguém é: estou pensando em fazer isso simplesmente porque quero evitar uma conversa desagradável? Se a resposta for sim, é mais gentil oferecer um adeus e até mesmo uma breve explicação.

Uma abordagem melhor

Se você teve apenas um ou dois encontros, uma mensagem de texto encerrando o assunto geralmente é o bastante, recomenda Elaine Swann, especialista em etiqueta. Ela reconheceu que pode parecer um conselho surpreendente vindo de uma pessoa que preza pelos bons modos, mas disse que a etiqueta evolui.

Seja breve, ela recomendou, com algo do tipo: “Acho que não nos encaixamos bem, mas desejo o melhor para você e espero que encontre a conexão que está procurando”.

Mas se vocês tiveram mais do que um ou dois encontros ou ficaram fisicamente íntimos de alguma forma – “mesmo que só uns amassos!” – Elaine acredita que o rompimento deve ser feito pessoalmente ou com uma ligação telefônica (ou, se você não tiver estômago para isso, uma mensagem de voz pode funcionar). É importante que a outra pessoa ouça sua voz e seu tom, afirma ela. E não tente “consertar” a pessoa ao ir embora. “Você não precisa fazer disso um momento de aprendizado.”

Como lidar com o ghosting

Rachel disse que costuma dizer a seus clientes que, mesmo que tenham tido um encontro muito bom (ou vários), eles podem se proteger contra a turbulência emocional simplesmente dizendo a si mesmos, desde o início, que talvez não tenham mais notícias da pessoa.

Lembre-se de que, infelizmente, o ghosting agora é “normal” e “acontece com todo mundo”, diz ela, acrescentando que já ouviu essas histórias de clientes de todos os tipos.

“Até mesmo as supermodelos estão dizendo: ‘Ah, eu não deveria ter dito isso, ou não deveria ter usado aquilo’”, contou.

Mas pegue leve. Os dias e as semanas depois do ghosting são um bom momento para praticar o autocuidado emocional, segundo Elizabeth. Converse com amigos, escreva um diário, dedique-se a um hobby ou movimente o corpo, orienta ela.

Ao mesmo tempo, você pode diminuir os danos à sua autoestima simplesmente lembrando em voz alta – quantas vezes forem necessárias – que o problema provavelmente não era você, diz Rachel.

Depois de seu encontro perfeito em Londres, Brenna foi mais uma vez vítima de ghosting por alguém com quem estava saindo por meses. Ela escreveu sobre suas experiências quase uma década atrás, o que se tornou a publicação mais popular de seu blog, e os leitores compartilharam suas próprias histórias de ghosting.

Falar abertamente sobre as experiências foi catártico e revelador para ela na época em que se recuperava de sua “espiral de ansiedade”. Sua confusão e mágoa iniciais diminuíram, e ela percebeu que o silêncio às vezes é muito eloquente.

“Esse cara estava me mostrando quem era”, afirmou. “Estava me mostrando que era imaturo, que não tinha empatia e que não se deu ao trabalho nem mesmo de mandar uma mensagem rápida”.

Em seguida, ela acrescentou: “A maior conclusão para eu seguir em frente foi: ‘Ah, ficar sem resposta já é uma resposta”. /TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Este texto foi originalmente publicado no The New York Times

Mais ou menos dez anos atrás, Brenna Holeman teve um primeiro encontro perfeito com um cara que ela havia conhecido no aplicativo de namoro: Londres, noite chuvosa, bar aconchegante. Antes mesmo de o encontro terminar – com um beijo – eles já haviam feito planos para o próximo.

“Ele até me mandou mensagem naquela noite, dizendo: ‘Não consigo parar de sorrir’”, lembrou Brenna, de 40 anos, escritora de viagens que hoje mora no Canadá. Ele também escreveu: “Mal posso esperar para ver você de novo”, acrescentou ela.

Mas, quando ela mandou mensagem para confirmar o horário do próximo encontro, tudo o que “ouviu” foi silêncio.

Ghosting, termo popular que significa cortar toda e qualquer comunicação sem dar explicações, virou uma parte inescapável das relações modernas. E, segundo psicólogos e pesquisadores, ele pode ser ainda mais difícil de suportar do que a rejeição pura e simples, porque envolve incerteza.

Elizabeth Earnshaw, terapeuta licenciada em casamento e família, diz que as pessoas que tomam um ghost “começam a questionar a realidade”.

Ghosting pode levar a pessoa a questionar seus comportamentos e prejudicar a autoestima Foto: DimaBerlin/Adobe Stock

“Elas olham para trás e dizem: ‘Será que eu não vi os sinais? Tem alguma coisa de errado comigo? Por que achei que tínhamos nos divertido tanto no nosso último encontro?”, afirma Elizabeth.

Ela já viu muitos clientes – de várias idades, gêneros e orientações sexuais – sofrendo com “crise de autoestima” depois de terem sido ignorados várias vezes seguidas. Mas, neste mundo acelerado de aplicativos de namoro e opções infinitas, será que às vezes é aceitável dar um ghost?

Terapeutas, pesquisadores e uma especialista em etiqueta falaram sobre maneiras de contornar essa situação – e quando você pode dar um ghost com a consciência tranquila.

Medindo as consequências

Embora o ghosting ainda seja uma área de pesquisa relativamente nova, alguns dados estão começando a surgir. Em um estudo realizado em 2019, 25% dos participantes disseram ter tomado ghost de parceiros românticos, e pouco mais de 20% disseram ter dado ghost.

Outro estudo, que pesquisou especificamente usuários de aplicativos de namoro, descobriu que 85% deles já haviam tomado ghost em algum momento, o que levou muitos entrevistados a se sentirem tristes ou irritados e com baixa autoestima; alguns também se sentiram mais desconfiados em relação ao mundo.

As pessoas que foram vítimas de ghosting têm a tendência de remoer os pensamentos, se perguntando: “O que está acontecendo? Por que essa pessoa não está me respondendo?”, diz Richard Slatcher, professor de psicologia da Universidade da Geórgia que estuda relacionamentos íntimos. “Junto com isso, vem uma verdadeira falta de encerramento para as pessoas”.

Terapeutas como Elizabeth têm visto as consequências do ghosting em seus consultórios há anos, principalmente porque as pessoas não aguentam mais os aplicativos de namoro. Você realmente não deve dar ghost se puder evitar, por causa da mágoa que isso pode causar, especialmente quando acontece várias vezes, diz ela.

A especialista conta que seus pacientes costumam perguntar: “Será que eu é que estou causando isso?” Alguns até se perguntam: “Como posso ser tão desprezível a ponto de alguém não se dar nem ao trabalho de dizer tchau?”

Quando considerar o ghosting

Ainda assim, há momentos em que dar ghost é apropriado e até mesmo sensato, disseram os especialistas. Se a pessoa foi agressiva ou fez você sentir medo, é justificável que você se afaste sem dar explicações, disse Elizabeth. Ela também deu sinal verde se a pessoa não estiver respeitando seus limites.

“Se a pessoa simplesmente não estiver ouvindo o que você já expressou, acho que tudo bem”, afirma, acrescentando que hesita em classificar essa situação como ghosting.

No estudo que constatou que a maioria dos usuários de aplicativos já foi vítima de ghosting, os motivos que as pessoas deram para desaparecer foram complexos: algumas o fizeram porque temiam comportamentos abusivos ou até mesmo perseguição; outras disseram que achavam que não deviam nada à pessoa com quem estavam conversando no aplicativo; e algumas explicaram que não queriam magoar a outra pessoa ao rejeitá-la verbalmente.

“Às vezes, para a pessoa que está desaparecendo, é mais fácil”, diz Rachel Sussman, psicoterapeuta em Nova York e autora de The Breakup Bible (algo como “A bíblia do término”, em tradução direta). “Ninguém gosta de dar más notícias”, acrescentou.

Elizabeth afirmou que uma pergunta útil para se fazer antes de dar ghost em alguém é: estou pensando em fazer isso simplesmente porque quero evitar uma conversa desagradável? Se a resposta for sim, é mais gentil oferecer um adeus e até mesmo uma breve explicação.

Uma abordagem melhor

Se você teve apenas um ou dois encontros, uma mensagem de texto encerrando o assunto geralmente é o bastante, recomenda Elaine Swann, especialista em etiqueta. Ela reconheceu que pode parecer um conselho surpreendente vindo de uma pessoa que preza pelos bons modos, mas disse que a etiqueta evolui.

Seja breve, ela recomendou, com algo do tipo: “Acho que não nos encaixamos bem, mas desejo o melhor para você e espero que encontre a conexão que está procurando”.

Mas se vocês tiveram mais do que um ou dois encontros ou ficaram fisicamente íntimos de alguma forma – “mesmo que só uns amassos!” – Elaine acredita que o rompimento deve ser feito pessoalmente ou com uma ligação telefônica (ou, se você não tiver estômago para isso, uma mensagem de voz pode funcionar). É importante que a outra pessoa ouça sua voz e seu tom, afirma ela. E não tente “consertar” a pessoa ao ir embora. “Você não precisa fazer disso um momento de aprendizado.”

Como lidar com o ghosting

Rachel disse que costuma dizer a seus clientes que, mesmo que tenham tido um encontro muito bom (ou vários), eles podem se proteger contra a turbulência emocional simplesmente dizendo a si mesmos, desde o início, que talvez não tenham mais notícias da pessoa.

Lembre-se de que, infelizmente, o ghosting agora é “normal” e “acontece com todo mundo”, diz ela, acrescentando que já ouviu essas histórias de clientes de todos os tipos.

“Até mesmo as supermodelos estão dizendo: ‘Ah, eu não deveria ter dito isso, ou não deveria ter usado aquilo’”, contou.

Mas pegue leve. Os dias e as semanas depois do ghosting são um bom momento para praticar o autocuidado emocional, segundo Elizabeth. Converse com amigos, escreva um diário, dedique-se a um hobby ou movimente o corpo, orienta ela.

Ao mesmo tempo, você pode diminuir os danos à sua autoestima simplesmente lembrando em voz alta – quantas vezes forem necessárias – que o problema provavelmente não era você, diz Rachel.

Depois de seu encontro perfeito em Londres, Brenna foi mais uma vez vítima de ghosting por alguém com quem estava saindo por meses. Ela escreveu sobre suas experiências quase uma década atrás, o que se tornou a publicação mais popular de seu blog, e os leitores compartilharam suas próprias histórias de ghosting.

Falar abertamente sobre as experiências foi catártico e revelador para ela na época em que se recuperava de sua “espiral de ansiedade”. Sua confusão e mágoa iniciais diminuíram, e ela percebeu que o silêncio às vezes é muito eloquente.

“Esse cara estava me mostrando quem era”, afirmou. “Estava me mostrando que era imaturo, que não tinha empatia e que não se deu ao trabalho nem mesmo de mandar uma mensagem rápida”.

Em seguida, ela acrescentou: “A maior conclusão para eu seguir em frente foi: ‘Ah, ficar sem resposta já é uma resposta”. /TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Este texto foi originalmente publicado no The New York Times

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