SÃO PAULO – A média móvel de novas hospitalizações diárias por síndrome respiratória aguda grave (Srag) dobrou em um período de um mês no Estado de São Paulo. O indicador, que compreende pacientes tanto de covid-19 quanto de influenza, saltou de 280 no dia 4 de dezembro para 566 nesta terça-feira, 4, segundo dados disponíveis na plataforma Seade. O índice é apontado pelo governo paulista como um dos mais importantes para medir o avanço da pandemia e, mais recentemente, da gripe.
Ainda que o apagão dos dados oficiais do governo federal impossibilite uma leitura mais ampla do cenário pandêmico no País, a piora de índices como o de hospitalizações e a maior procura por remédios têm ligado o alerta quanto ao avanço da covid-19 em São Paulo. Em parte, porque esse fenômeno está acontecendo de forma paralela ao surto de gripe registrado nas últimas semanas, o que tem sobrecarregado os postos de saúde.
Coordenador-executivo do comitê científico que assessora o governo paulista, o médico João Gabbardo disse em coletiva realizada nesta quarta-feira, 5, que, embora esteja havendo aumento nas internações, o quadro não coloca em risco a capacidade do atendimento prestado a pacientes de síndrome respiratória aguda grave no Estado.
"Mesmo que a gente tenha percebido uma movimentação maior nas internações – de fato, nesta última semana tivemos aumento de 30% nas internações – estamos partindo de um patamar que está muito baixo", disse Gabbardo. "Percentualmente, é bastante significativo, mas em números absolutos não coloca em risco a capacidade de atendimento que a rede de hospitais de São Paulo pode oferecer à população."
Dados da gestão paulista apontam que atualmente a taxa de ocupação de leitos de unidade de terapia (UTI) no Estado é de 27,75%. Na Grande São Paulo, o indicador é de 34,81%. Os números seguem bem abaixo do pico da pandemia, quando houve sobrecarga da rede hospitalar, mas a reversão na tendência de queda destoa do que estava sendo observado de forma consistente desde junho do ano passado, quando a média móvel de novas internações começou a cair.
Prontos-socorros
O secretário da Saúde do Estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, apontou que de dezembro em diante houve aumento de atendimento de síndromes respiratórias especialmente em prontos-socorros, o que ele entende como um reflexo dos encontros de fim de ano.
"Esses quadros denotam claramente que as pessoas retiraram as máscaras, de uma forma muito abrupta, especialmente nos ambientes de confraternização, nos ambientes sociais... favorecendo, dessa forma, a transmissão", explicou. Esse novo compartamento, somado ao avanço da variante Ômicron no País, teria aumentado os atendimentos de síndromes respiratórias em estágios iniciais.
O secretário disse que as internações, no entanto, não estariam seguindo o mesmo ritmo da procura por atendimento em prontos-socorros. Entre as razões disso estar ocorrendo, Gorinchteyn destaca o avanço da vacinação contra o coronavírus, que evita que a covid evolua para quadros graves. Como parte da campanha de imunização, uma vez que as vacinas pediátricas forem distribuídas pelo governo federal, São Paulo anunciou que pretende vacinar as crianças de 5 a 11 em um período de três semanas.
Medidas como essa, reforça o governo paulista, são importantes para evitar o recrudescimento da pandemia no Estado mesmo com o avanço de casos leves. "A gente viu a presença de uma nova variante, a Ômicron, que hoje corresponde a 66% de todos os casos de covid detectados", disse o secretário. "Nós não tivemos nenhum incremento tão significativo a ponto de nos preocupar, mas estamos agindo."
Segundo Gorinchteyn, o Estado está desacelerando a desmobilização dos leitos de covid, aumentando o acesso ao tamiflu, remédio voltado ao tratamento de influenza, e ampliando a testagem para diferenciar os vírus. "Até dezembro, nós tínhamos disponibilizado aos 640 municípios 1,250 milhão testes. Desde ontem, mais 800 mil testes de antígeno para covid estão sendo distribuídos para que possamos fazer a detecção muito mais rápida", disse o secretário.
Conforme apontado pelo Estadão nesta quarta, os avanços da covid e da influenza fizeram com que as vendas de medicamentos antigripais nas farmácias disparassem nas últimas semanas. A procura por remédios para coriza, febre e dor de cabeça, muitos comercializados sem receita, triplicou em alguns estabelecimentos, na comparação com o mesmo período do ano passado.