BRASÍLIA E SÃO PAULO - O governo Jair Bolsonaro decidiu enviar um avião para repatriar os brasileiros que se encontram na cidade de Wuhan, província de Hubei, na China, epicentro do surto do novo coronavírus. A informação foi divulgada na tarde deste domingo, 2, em nota oficial do Ministério de Relações Exteriores e do Ministério da Defesa. A doença já causou 305 mortes e mais de 14 mil casos pelo mundo. Outros países, como Estados Unidos e Japão, resgataram seus cidadãos.
A nota oficial informa que os brasileiros que vierem de Wuhan serão submetidos à quarentena assim que chegarem ao País, conforme procedimentos internacionais, sob a orientação do Ministério da Saúde. O Estado apurou que eles ficarão isolados em uma base militar, em local que ainda está sendo mantido em sigilo.
Na semana passada, Bolsonaro havia descartado a possibilidade da repatriação, alegando o alto custo e o risco aos demais cidadãos brasileiros. "Desde o começo, estamos olhando com toda atenção o caso dos brasileiros. Não é propriamente que mudou. É que fomos vendo que havia essa possibilidade de repatriação", disse ao Estado o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. "Mas, originalmente, o governo chinês estava dizendo que não era possível tirar cidadãos de lá. No entanto, outros países conseguiram, e isso foi alterando o quadro."
O governo ainda não definiu o lugar em que eles deverão cumprir quarentena após serem repatriados. Ele ressaltou que este tipo de isolamento “é absolutamente necessário, pelos padrões internacionais” e ainda não há data definida para o voo. "A Embaixada de Pequim já está em contato. Tem uma burocracia normal. Vamos respeitar e cumprir todos os procedimentos chineses, evidentemente. Mas estamos fazendo este contato constante e temos expectativa de que seja autorizado em breve." Conforme Araújo, “a principal alternativa para trazer os brasileiros é em aeronave civil, paga pelo governo brasileiro”. Ele não soube precisar quanto isso custaria. O plano de voo deve ser feito pela Força Aérea Brasileira (FAB).
Por causa da distância, o voo de retorno dos brasileiros exigirá uma parada. Segundo ele, um país já se ofereceu para servir de escala, mas o chanceler afirmou que não pode revelar qual é a pedido do governo desse país. Até agora, os voospara retirada de estrangeiros da China foram feitos sem escala até o local de quarentena. No caso dos Estados Unidos, por exemplo, o grupo foi enviado para uma base no Alasca.
Segundo a nota do governo, duas brasileiras que se encontravam em Wuhan e que também possuíam nacionalidade portuguesa já embarcaram em um voo que transportou cidadãos da União Europeia. Elas cumprirão quarentena em Portugal.
A angústia estava forte, diz pai de estudante isolada
"Independentemente de qualquer coisa, é um alívio. A angústia estava forte. E no meu caso, além da angústia, a decepção de ser brasileiro", disse ao Estado Rubens Santos, de 59 anos, pai da estudante da Economia Indira Santos, de 34 anos, que mora há um ano em Wuhan para um doutorado. É a segunda vez que ela mora no país asiático para estudar. "Precisamos, como população se manifestar pela repatriação dos nossos."
Um grupo de brasileiros gravou um vídeo, publicado neste domingo, 2, na plataforma Youtube, pedindo ajuda ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. "Escrevemos-lhes esta carta para solicitar o auxílio do governo brasileiro no retorno ao nosso país", fala um deles na carta.
Entre homens, mulheres, adultos e crianças, cerca de 15 brasileiros aparecem no vídeo lendo trechos de uma espécie de carta-aberta, na qual eles lembram as operações de evacuação já feitas por outros países. Wuhan, com 11 milhões de habitantes, foi a primeira cidade isolada pelas autoridades chinesas. Autoridades locais estimam, no entanto, que cerca de 5 milhões de moradores deixaram o município antes da quarentena. No total, mais de 50 milhões de chineses estão isolados por causa do surto.