BRASÍLIA - Diante das baixas coberturas, sobretudo entre gestantes e crianças com menos de cinco anos, o Ministério da Saúde prorrogou até o dia 22 de junho a campanha de vacinação contra a gripe. Desde 23 de abril, quando a iniciativa teve início, foi imunizada o equivalente a 77,6% da população prioritária. O número de mortes em decorrência de infecções por gripe dobrou.
A expectativa da pasta é que, com a prorrogação, mais 11,8 milhões de pessoas sejam vacinadas. A meta do governo é atingir uma cobertura de, pelo menos, 90% de integrantes de grupos considerados de maior risco: gestantes, idosos a partir de 60 anos, crianças maiores de seis meses e menores de cinco anos, trabalhadores de saúde, professores da rede pública e privada, povos indígenas, mulheres até 45 dias depois do parto e pessoas privadas de liberdade.
Terminado o prazo, a partir de 25 de julho, caso haja disponibilidade, a vacina poderá ser tomada por pessoas de 50 a 59 anos e crianças de cinco a nove anos. "Nossa maior preocupação é com a heterogeneidade. Há alguns grupos que já ultrapassaram a meta. Mas outros ainda estão suscetíveis, com indicadores bem abaixo do que seria considerado ideal", afirmou a coordenadora do Programa de Imunização do Ministério da Saúde, Carla Domingues.
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O ministro da Saúde, Gilberto Occhi, também criticou as diferenças. "O que explica o fato de um Estado, na mesma região, apresentar uma boa cobertura e outro não?", questionou.
O governo tem pressa em reforçar as medidas de prevenção. Estatísticas já apontam um aumento do número de casos de gripe e de óbitos em decorrência das complicações da infecção. O País registrou até agora 446 mortes provocadas pela doença, mais do que o dobro registrado em 2017 (204 óbitos). A expansão também fica evidente no número de casos. Até agora são 2.715, bem mais do que o registrado no mesmo período do ano passado: 1.227.
A maior parte dos óbitos por complicação de gripe está associada ao tipo de vírus H1N1. Foram 284. Em seguida, vem o H3N2, subtipo de vírus que provocou um aumento importante de casos da doença no hemisfério norte no último inverno. Ao todo, foram 563 casos e 87 mortes.
A baixa adesão da vacinação de crianças é mais preocupante no Sudeste. Menos de 50% foram imunizadas. "O ideal é que tenhamos 100% desse público alvo. Trabalhamos para isso", disse Carla. Em outras regiões, o desempenho também não é animador. No Norte, por exemplo, 61,62% dos menores de cinco anos estão protegidos. No Sul, são 62,12% e no Nordeste, 72,12%. O maior índice está no Centro-Oeste, 76,29%.
Occhi afirmou ser necessário fazer uma avaliação das experiências bem sucedidas no País de vacinação e colocá-las em prática. Entre as propostas citadas por ele está a adoção de campanhas de vacinação em creches, onde a regra é vacinar todos. Isso já é feito em municípios do País, afirma o presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde, Mauro Junqueira. Pais que não desejam que seus filhos sejam imunizados ali precisam fazer um comunicado. Uma das hipóteses em avaliação é incentivar esse tipo de prática.
Ao falar sobre a baixa adesão à campanha de vacinação, o ministro citou as dificuldade das famílias em ir aos postos de saúde, no período da greve dos caminhoneiros. Mas o problema vai muito além dessa dificuldade temporária, reconhece a pasta. Há tempos o Ministério da Saúde nota uma redução expressiva nas adesões às campanhas.
"Isso em parte é fruto do próprio sucesso do programa de imunização. Com a melhora histórica das coberturas, doenças que podem ser prevenidas se tornam menos comuns e pais podem imaginar que o perigo já passou", afirma Carla.
Adesões maciças ocorrem somente quando há notícias de aumentos de casos ou de mortes. Foi o que ocorreu, por exemplo, em 2016. Na ocasião, mesmo quem não era de grupos de risco buscava a imunização. Carla reconheceu ainda haver um movimento contrário a vacinas no País. Mas, em sua avaliação, ele é bem menos expressivo do que ocorre em outros países. "Pode contribuir de alguma forma, mas não é o mais relevante", disse.