Hipersexualidade entre pessoas com demência é comum; veja como agir


Em alguns casos, a desinibição sexual exagerada é inclusive o primeiro sintoma do quadro; especialistas explicam por que isso ocorre e quais medidas adotar para evitar situações constrangedoras

Por Mônica Manir

Em Meu Pai, filme estrelado por Anthony Hopkins, um idoso com demência se insinua para uma candidata a cuidadora que acaba de conhecer. Diz que a moça é bonita, serve-lhe uma dose de uísque, se faz de dançarino de sapateado (quando, na verdade, é engenheiro), chama-a de “querida”. O constrangimento de Anne, a filha dele, interpretada por Olivia Colman, é evidente, porém contido.

Como ela se sentiria se o pai se despisse na frente das visitas? Se passasse a mão na cuidadora ou fizesse uma piada vulgar em público, quando nunca foi dado a isso? Anne talvez fosse ríspida com o pai, não raro a reação mais comum entre aqueles que precisam lidar com um parente que age assim. Manifestação neuropsiquiátrica relativamente frequente em pessoas com demência, a chamada hipersexualidade pode deixar familiares e cuidadores perdidos com a falta de freio nessa área – por si só já cercada de pudores e preconceitos.

Por esse motivo, os especialistas tentam alocar esse comportamento dentro de um espectro de mudança. “A hipersexualidade é um aumento da expressão sexual assim definida quando representa uma alteração de padrão da pessoa, seja na qualidade ou na intensidade”, resume o psiquiatra Lucas Francisco Botequio Mella, diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer, regional São Paulo (ABRAz-SP).

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A hipersexualidade entre pessoas com demência é comum, e entender o processo pode ajudar a identificar maneiras de evitar situações difíceis para o paciente e os familiares. Foto: fizkes/Adobe Stock

“Uma pessoa muito reservada, por exemplo, pode ter um nível de desinibição sexual que nunca teve, contar piadas inapropriadas e, em estágios mais avançados da doença, até se masturbar na frente dos outros ou procurar ter relações sexuais de forma agressiva”, exemplifica.

Os casos mais graves são menos comuns. Mas isso não diminui a importância de se olhar para a hipersexualidade – mesmo porque ela pode ser um dos primeiros sinais de que a doença mental chegou. Em dois tipos de demência, a frontotemporal e a Late, essa desinibição exagerada muitas vezes aparece como sintoma inaugural.

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A demência frontotemporal (DFT) afeta o lobo frontal e, às vezes, também o lobo temporal do cérebro, causando alterações na personalidade, no comportamento e na linguagem. Ela ficou mais conhecida nos últimos tempos depois de diagnosticada no ator Bruce Willis e no jornalista Mauricio Kubrusly.

Já a Late, do inglês limbic-predominant age-related TDP-43 encefalopathy (encefalopatia TDP-43 límbica-predominante relacionada à idade), é desencadeada pela tal proteína TDP-43, cujo acúmulo no cérebro pode levar a alterações de humor, perda de memória e declínio cognitivo.

Enquanto a primeira aparece com mais frequência em pessoas com menos de 65 anos, a segunda costuma estar mais presente entre aqueles com mais de 80 anos.

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No meio do caminho está o Alzheimer, a mais incidente das demências, que representa até 75% dos casos e que também pode ser marcada por episódios de hipersexualidade. Daí a necessidade de entender o processo e propor alterações no dia a dia a fim de suprimir situações difíceis tanto para a pessoa com demência quanto para quem convive com ela.

Segundo Milton Crenitte, geriatra e diretor técnico do Centro Internacional da Longevidade Brasil, é importante identificar em primeiro lugar se há a presença de infecção urinária ou ginecológica. É que o quadro pode levar ao toque nos genitais em função de um desconforto local, que a pessoa com demência não consegue explanar.

Descartada essa hipótese clínica, algumas mudanças simples no ambiente em que o indivíduo vive e no jeito de tratá-lo tendem a fazer diferença no seu comportamento. Mella propõe evitar que essa pessoa com expressão sexual exagerada assista a mídias com cenas picantes, por exemplo. Crenitte sugere, por sua vez, uma massagem nos pés, que redireciona a atenção para outra parte do corpo. Também indica que o idoso use roupas que fecham atrás ou de outro modelo que dificulte se despir por conta própria.

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A depender do gênero que mais atrai a pessoa, ambos os médicos não descartam ainda contratar um cuidador do gênero oposto ou pedir a esse profissional que sempre use um uniforme ou um crachá, de tal forma que identifique essa condição para o paciente.

Afora isso, oferecer um local no qual o idoso possa se distrair e se divertir é condição sine qua non para atenuar (ou até prevenir) a hipersexualidade. “É fundamental enriquecer o ambiente com atividade física e estímulos cognitivos apropriados para o respectivo estágio da demência do paciente, como jogos lúdicos e atividades em grupo”, reforça Mella.

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Vale saber que a hipersexualidade, além de estar ligada ao processamento de redes neurais na região frontal do cérebro, tem relação estreita com a regulação da dopamina e operações cerebrais do chamado sistema de recompensa, circuito neuronal que influencia diretamente as emoções. “Além de perder o controle inibitório, a pessoa está com hiperativação da busca por compensação e, então, entra nesse comportamento sexual muitas vezes repetitivo, que pode ser atenuado com atividades prazerosas de outra natureza”, completa o diretor científico da ABRAz-SP.

Cuidado com a agressividade

Impor limites verbais e de postura está na cartilha dos especialistas para essa condição, desde que não venha respingado por agressividade. A pessoa com demência, afinal, pode estar se tocando despudoramente achando que está em casa, quando se encontra em uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI). Sintonizar, na medida do possível, o indivíduo com seu próprio espaço e acentuar diariamente – e passo a passo – as etapas de procedimentos como o banho e a troca de fraldas, por exemplo, podem ajudar nessa contenção natural, dependendo do estágio da doença.

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Caso todo esse manejo falhe e o comportamento sexual traga um risco iminente para a própria pessoa ou para outra que a cerca, os médicos sugerem a introdução de medicamentos como antidepressivos e/ou antipsicóticos. “Mas deve estar presente a prescrição geriátrica do start slow and go slow”, diz Mella. Ou seja, começar com baixas doses e ir subindo lentamente, sempre observando os potenciais riscos e benefícios das drogas escolhidas para essa condição de vulnerabilidade.

Para Crenitte, o uso de remédios se justifica quando se busca preservar a biografia da pessoa – um fator, a seu ver, crucial, considerando que a família já vive o luto antecipado de constatar que aquele pai ou aquela mãe de dez anos atrás já não existe mais por causa da demência. “Ao se expor ou expor outras pessoas, ao desempenhar uma sexualidade que não é sua, a pessoa pode estar impactando a própria história e, por isso, seria uma questão de intervir, ainda que de forma comedida.”

Em Meu Pai, filme estrelado por Anthony Hopkins, um idoso com demência se insinua para uma candidata a cuidadora que acaba de conhecer. Diz que a moça é bonita, serve-lhe uma dose de uísque, se faz de dançarino de sapateado (quando, na verdade, é engenheiro), chama-a de “querida”. O constrangimento de Anne, a filha dele, interpretada por Olivia Colman, é evidente, porém contido.

Como ela se sentiria se o pai se despisse na frente das visitas? Se passasse a mão na cuidadora ou fizesse uma piada vulgar em público, quando nunca foi dado a isso? Anne talvez fosse ríspida com o pai, não raro a reação mais comum entre aqueles que precisam lidar com um parente que age assim. Manifestação neuropsiquiátrica relativamente frequente em pessoas com demência, a chamada hipersexualidade pode deixar familiares e cuidadores perdidos com a falta de freio nessa área – por si só já cercada de pudores e preconceitos.

Por esse motivo, os especialistas tentam alocar esse comportamento dentro de um espectro de mudança. “A hipersexualidade é um aumento da expressão sexual assim definida quando representa uma alteração de padrão da pessoa, seja na qualidade ou na intensidade”, resume o psiquiatra Lucas Francisco Botequio Mella, diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer, regional São Paulo (ABRAz-SP).

A hipersexualidade entre pessoas com demência é comum, e entender o processo pode ajudar a identificar maneiras de evitar situações difíceis para o paciente e os familiares. Foto: fizkes/Adobe Stock

“Uma pessoa muito reservada, por exemplo, pode ter um nível de desinibição sexual que nunca teve, contar piadas inapropriadas e, em estágios mais avançados da doença, até se masturbar na frente dos outros ou procurar ter relações sexuais de forma agressiva”, exemplifica.

Os casos mais graves são menos comuns. Mas isso não diminui a importância de se olhar para a hipersexualidade – mesmo porque ela pode ser um dos primeiros sinais de que a doença mental chegou. Em dois tipos de demência, a frontotemporal e a Late, essa desinibição exagerada muitas vezes aparece como sintoma inaugural.

A demência frontotemporal (DFT) afeta o lobo frontal e, às vezes, também o lobo temporal do cérebro, causando alterações na personalidade, no comportamento e na linguagem. Ela ficou mais conhecida nos últimos tempos depois de diagnosticada no ator Bruce Willis e no jornalista Mauricio Kubrusly.

Já a Late, do inglês limbic-predominant age-related TDP-43 encefalopathy (encefalopatia TDP-43 límbica-predominante relacionada à idade), é desencadeada pela tal proteína TDP-43, cujo acúmulo no cérebro pode levar a alterações de humor, perda de memória e declínio cognitivo.

Enquanto a primeira aparece com mais frequência em pessoas com menos de 65 anos, a segunda costuma estar mais presente entre aqueles com mais de 80 anos.

No meio do caminho está o Alzheimer, a mais incidente das demências, que representa até 75% dos casos e que também pode ser marcada por episódios de hipersexualidade. Daí a necessidade de entender o processo e propor alterações no dia a dia a fim de suprimir situações difíceis tanto para a pessoa com demência quanto para quem convive com ela.

Segundo Milton Crenitte, geriatra e diretor técnico do Centro Internacional da Longevidade Brasil, é importante identificar em primeiro lugar se há a presença de infecção urinária ou ginecológica. É que o quadro pode levar ao toque nos genitais em função de um desconforto local, que a pessoa com demência não consegue explanar.

Descartada essa hipótese clínica, algumas mudanças simples no ambiente em que o indivíduo vive e no jeito de tratá-lo tendem a fazer diferença no seu comportamento. Mella propõe evitar que essa pessoa com expressão sexual exagerada assista a mídias com cenas picantes, por exemplo. Crenitte sugere, por sua vez, uma massagem nos pés, que redireciona a atenção para outra parte do corpo. Também indica que o idoso use roupas que fecham atrás ou de outro modelo que dificulte se despir por conta própria.

A depender do gênero que mais atrai a pessoa, ambos os médicos não descartam ainda contratar um cuidador do gênero oposto ou pedir a esse profissional que sempre use um uniforme ou um crachá, de tal forma que identifique essa condição para o paciente.

Afora isso, oferecer um local no qual o idoso possa se distrair e se divertir é condição sine qua non para atenuar (ou até prevenir) a hipersexualidade. “É fundamental enriquecer o ambiente com atividade física e estímulos cognitivos apropriados para o respectivo estágio da demência do paciente, como jogos lúdicos e atividades em grupo”, reforça Mella.

Vale saber que a hipersexualidade, além de estar ligada ao processamento de redes neurais na região frontal do cérebro, tem relação estreita com a regulação da dopamina e operações cerebrais do chamado sistema de recompensa, circuito neuronal que influencia diretamente as emoções. “Além de perder o controle inibitório, a pessoa está com hiperativação da busca por compensação e, então, entra nesse comportamento sexual muitas vezes repetitivo, que pode ser atenuado com atividades prazerosas de outra natureza”, completa o diretor científico da ABRAz-SP.

Cuidado com a agressividade

Impor limites verbais e de postura está na cartilha dos especialistas para essa condição, desde que não venha respingado por agressividade. A pessoa com demência, afinal, pode estar se tocando despudoramente achando que está em casa, quando se encontra em uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI). Sintonizar, na medida do possível, o indivíduo com seu próprio espaço e acentuar diariamente – e passo a passo – as etapas de procedimentos como o banho e a troca de fraldas, por exemplo, podem ajudar nessa contenção natural, dependendo do estágio da doença.

Caso todo esse manejo falhe e o comportamento sexual traga um risco iminente para a própria pessoa ou para outra que a cerca, os médicos sugerem a introdução de medicamentos como antidepressivos e/ou antipsicóticos. “Mas deve estar presente a prescrição geriátrica do start slow and go slow”, diz Mella. Ou seja, começar com baixas doses e ir subindo lentamente, sempre observando os potenciais riscos e benefícios das drogas escolhidas para essa condição de vulnerabilidade.

Para Crenitte, o uso de remédios se justifica quando se busca preservar a biografia da pessoa – um fator, a seu ver, crucial, considerando que a família já vive o luto antecipado de constatar que aquele pai ou aquela mãe de dez anos atrás já não existe mais por causa da demência. “Ao se expor ou expor outras pessoas, ao desempenhar uma sexualidade que não é sua, a pessoa pode estar impactando a própria história e, por isso, seria uma questão de intervir, ainda que de forma comedida.”

Em Meu Pai, filme estrelado por Anthony Hopkins, um idoso com demência se insinua para uma candidata a cuidadora que acaba de conhecer. Diz que a moça é bonita, serve-lhe uma dose de uísque, se faz de dançarino de sapateado (quando, na verdade, é engenheiro), chama-a de “querida”. O constrangimento de Anne, a filha dele, interpretada por Olivia Colman, é evidente, porém contido.

Como ela se sentiria se o pai se despisse na frente das visitas? Se passasse a mão na cuidadora ou fizesse uma piada vulgar em público, quando nunca foi dado a isso? Anne talvez fosse ríspida com o pai, não raro a reação mais comum entre aqueles que precisam lidar com um parente que age assim. Manifestação neuropsiquiátrica relativamente frequente em pessoas com demência, a chamada hipersexualidade pode deixar familiares e cuidadores perdidos com a falta de freio nessa área – por si só já cercada de pudores e preconceitos.

Por esse motivo, os especialistas tentam alocar esse comportamento dentro de um espectro de mudança. “A hipersexualidade é um aumento da expressão sexual assim definida quando representa uma alteração de padrão da pessoa, seja na qualidade ou na intensidade”, resume o psiquiatra Lucas Francisco Botequio Mella, diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer, regional São Paulo (ABRAz-SP).

A hipersexualidade entre pessoas com demência é comum, e entender o processo pode ajudar a identificar maneiras de evitar situações difíceis para o paciente e os familiares. Foto: fizkes/Adobe Stock

“Uma pessoa muito reservada, por exemplo, pode ter um nível de desinibição sexual que nunca teve, contar piadas inapropriadas e, em estágios mais avançados da doença, até se masturbar na frente dos outros ou procurar ter relações sexuais de forma agressiva”, exemplifica.

Os casos mais graves são menos comuns. Mas isso não diminui a importância de se olhar para a hipersexualidade – mesmo porque ela pode ser um dos primeiros sinais de que a doença mental chegou. Em dois tipos de demência, a frontotemporal e a Late, essa desinibição exagerada muitas vezes aparece como sintoma inaugural.

A demência frontotemporal (DFT) afeta o lobo frontal e, às vezes, também o lobo temporal do cérebro, causando alterações na personalidade, no comportamento e na linguagem. Ela ficou mais conhecida nos últimos tempos depois de diagnosticada no ator Bruce Willis e no jornalista Mauricio Kubrusly.

Já a Late, do inglês limbic-predominant age-related TDP-43 encefalopathy (encefalopatia TDP-43 límbica-predominante relacionada à idade), é desencadeada pela tal proteína TDP-43, cujo acúmulo no cérebro pode levar a alterações de humor, perda de memória e declínio cognitivo.

Enquanto a primeira aparece com mais frequência em pessoas com menos de 65 anos, a segunda costuma estar mais presente entre aqueles com mais de 80 anos.

No meio do caminho está o Alzheimer, a mais incidente das demências, que representa até 75% dos casos e que também pode ser marcada por episódios de hipersexualidade. Daí a necessidade de entender o processo e propor alterações no dia a dia a fim de suprimir situações difíceis tanto para a pessoa com demência quanto para quem convive com ela.

Segundo Milton Crenitte, geriatra e diretor técnico do Centro Internacional da Longevidade Brasil, é importante identificar em primeiro lugar se há a presença de infecção urinária ou ginecológica. É que o quadro pode levar ao toque nos genitais em função de um desconforto local, que a pessoa com demência não consegue explanar.

Descartada essa hipótese clínica, algumas mudanças simples no ambiente em que o indivíduo vive e no jeito de tratá-lo tendem a fazer diferença no seu comportamento. Mella propõe evitar que essa pessoa com expressão sexual exagerada assista a mídias com cenas picantes, por exemplo. Crenitte sugere, por sua vez, uma massagem nos pés, que redireciona a atenção para outra parte do corpo. Também indica que o idoso use roupas que fecham atrás ou de outro modelo que dificulte se despir por conta própria.

A depender do gênero que mais atrai a pessoa, ambos os médicos não descartam ainda contratar um cuidador do gênero oposto ou pedir a esse profissional que sempre use um uniforme ou um crachá, de tal forma que identifique essa condição para o paciente.

Afora isso, oferecer um local no qual o idoso possa se distrair e se divertir é condição sine qua non para atenuar (ou até prevenir) a hipersexualidade. “É fundamental enriquecer o ambiente com atividade física e estímulos cognitivos apropriados para o respectivo estágio da demência do paciente, como jogos lúdicos e atividades em grupo”, reforça Mella.

Vale saber que a hipersexualidade, além de estar ligada ao processamento de redes neurais na região frontal do cérebro, tem relação estreita com a regulação da dopamina e operações cerebrais do chamado sistema de recompensa, circuito neuronal que influencia diretamente as emoções. “Além de perder o controle inibitório, a pessoa está com hiperativação da busca por compensação e, então, entra nesse comportamento sexual muitas vezes repetitivo, que pode ser atenuado com atividades prazerosas de outra natureza”, completa o diretor científico da ABRAz-SP.

Cuidado com a agressividade

Impor limites verbais e de postura está na cartilha dos especialistas para essa condição, desde que não venha respingado por agressividade. A pessoa com demência, afinal, pode estar se tocando despudoramente achando que está em casa, quando se encontra em uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI). Sintonizar, na medida do possível, o indivíduo com seu próprio espaço e acentuar diariamente – e passo a passo – as etapas de procedimentos como o banho e a troca de fraldas, por exemplo, podem ajudar nessa contenção natural, dependendo do estágio da doença.

Caso todo esse manejo falhe e o comportamento sexual traga um risco iminente para a própria pessoa ou para outra que a cerca, os médicos sugerem a introdução de medicamentos como antidepressivos e/ou antipsicóticos. “Mas deve estar presente a prescrição geriátrica do start slow and go slow”, diz Mella. Ou seja, começar com baixas doses e ir subindo lentamente, sempre observando os potenciais riscos e benefícios das drogas escolhidas para essa condição de vulnerabilidade.

Para Crenitte, o uso de remédios se justifica quando se busca preservar a biografia da pessoa – um fator, a seu ver, crucial, considerando que a família já vive o luto antecipado de constatar que aquele pai ou aquela mãe de dez anos atrás já não existe mais por causa da demência. “Ao se expor ou expor outras pessoas, ao desempenhar uma sexualidade que não é sua, a pessoa pode estar impactando a própria história e, por isso, seria uma questão de intervir, ainda que de forma comedida.”

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