A morte da atriz Shannen Doherty, conhecida pela série Barrados no Baile, reacende a importância da discussão sobre o câncer de mama em mulheres mais jovens – e as medidas para detectar a doença nesse público.
Shannen revelou o diagnóstico de câncer de mama em 2015, quando tinha 44 anos. Na época, ela passou por uma mastectomia e fez quimioterapia e radioterapia. A doença entrou em remissão em 2017, mas voltou dois anos depois.
Casos como o da atriz são minoria. Segundo a Sociedade Americana de Câncer (ACS, em inglês), a idade média de diagnóstico de câncer de mama nos Estados Unidos, onde Shannen morava, é de 62 anos e “um número muito pequeno de mulheres diagnosticadas com a doença tem menos de 45 anos”.
A ocorrência da enfermidade nessa faixa etária, porém, vem aumentando. De acordo com a ACS, as taxas de incidência têm subido 0,6% ao ano, no geral, ante 1% em mulheres abaixo de 50 anos.
No Brasil, um estudo realizado no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e publicado na revista científica Cancer Epidemiology indicou o aumento da incidência de câncer de mama em mulheres com menos de 40 anos.
De acordo com a pesquisa, em 2020, 21,8% dos diagnósticos ocorreram em pacientes nessa faixa etária, ante 7,9% em 2009. A proporção de mortes abaixo dos 40 anos também aumentou, passando de 9,6% entre 2009 e 2014 para 12,4% entre 2015 e 2020.
Por essa alteração no perfil das pacientes, entidades do Brasil e do exterior têm discutido quais as melhores formas de rastrear o câncer de mama, responsável por 670 mil mortes no mundo em 2022, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Nos Estados Unidos, a ACS recomenda que o rastreamento com mamografia para mulheres fora do grupo de alto risco seja iniciado antes dos 50 anos. A entidade diz que aquelas entre 40 e 44 anos têm a opção de iniciar o rastreamento anual e que, na faixa entre 45 e 54, o exame deve ser feito anualmente.
“Mulheres com 55 anos ou mais podem optar por uma mamografia a cada dois anos ou por continuar com as mamografias anuais”, diz a ACS. A triagem deve ocorrer enquanto a mulher estiver com boa saúde e tiver expectativa de vida de pelo menos mais 10 anos.
No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda a realização de mamografia bianual para mulheres entre 50 e 69 anos. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), antes dessa idade, “as mamas são mais densas e com menos gordura, o que limita o exame e gera muitos resultados incorretos”.
Entidades brasileiras como a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), porém, discordam desse posicionamento. Para Maira Caleffi, chefe do Núcleo da Mama do Hospital Moinhos de Vento e presidente da Femama, a mamografia de rotina deveria ser oferecida a partir dos 40 anos, com periodicidade anual.
“A única maneira de as mulheres terem mais chance de cura é se houver o diagnóstico precoce, com a realização da mamografia com a paciente ainda sem sintomas”, afirma a mastologista.
A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) também já se mostrou favorável à redução da idade para início do exame periódico, em uma nota em defesa do exame.
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A discordância, contudo, não vale para todas as situações. Tanto o ministério quanto os médicos ressaltam que, em caso de sinais e sintomas, como a presença de nódulo no seio ou de retração do mamilo, a mamografia deve ser realizada o quanto antes.
Nesse contexto, já não se trata de mamografia de rastreio, e sim de mamografia de diagnóstico, exame valioso para mulheres e homens (entre 0,5% e 1% dos casos de câncer de mama ocorrem em pacientes masculinos, segundo a OMS) independentemente da idade.
Também é consenso que o autoconhecimento pode ajudar na detecção da doença. “Se autoconhecer e prestar atenção na forma das mamas, se o mamilo está retraído ou não, se tem alguma ferida na mama ou até mesmo caroços na mama ou na axila é importantíssimo, e também vale para o homem”, diz Maira.