Durante a pandemia do novo coronavírus, imunidade de rebanho - ou imunidade coletiva - tem sido uma expressão muito usada para se referir à quantidade de pessoas que devem ter a doença com o objetivo de parar a transmissão do vírus.
Mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o uso comum do conceito está relacionado a quantos devem receber vacina contra uma determinada doença para que a população em geral esteja protegida. Isso porque, quando existe vacinação, nem todos precisam recebê-la para que atingir a imunidade coletiva.
Não se trata de infectar pessoas e deixar, neste caso, a covid-19 ser transmitida livremente. A OMS e epidemiologistas apontam que essa não é uma estratégia apropriada para combater o novo coronavírus, já que resultaria em muitas mortes e na sobrecarga dos sistemas de saúde.
Entenda abaixo o que é a imunidade coletiva, como funciona e o que já se sabe em relação à pandemia.
O que é imunidade de rebanho?
É quando uma determinada porcentagem de indivíduos fica imune à uma doença transmissível de pessoa para pessoa e a infecção para de se alastrar. Assim, mesmo os que não foram infectados ficam protegidos, porque a população com imunidade serve como uma barreira para a transmissão.
Normalmente, o conceito é aplicado para saber quantas pessoas de um local devem ser vacinadas, conforme aponta a OMS. A cientista-chefe da entidade, Soumya Swaminathan, disse durante coletiva de imprensa que nenhuma doença foi controlada somente por permitir que a imunidade natural ocorra.
Quando se atinge a imunidade coletiva?
A entidade aponta que ainda não foi encontrado um número exato para isso acontecer com a covid-19, mas estima que deve ser de 65% a 70% da população com anticorpos para o novo coronavírus.
Alguns estudos apontam que essa porcentagem pode ser menor, 43% ou até 20%. Mesmo que seja menor, especialistas apontam que é perigoso contar com isso, porque ainda há muitas lacunas de conhecimento sobre o vírus. O que se sabe é que, quanto mais transmissível a doença, maior é esse índice.
Em relação ao sarampo, bastante contagioso, cada infectado transmite para 15 a 20 pessoas e a taxa da população que deve ter anticorpos para que seja atingida a imunidade de rebanho é de 90%. A OMS aponta que alguém com covid-19 passa a doença para duas a três pessoas, em média, mas pode ser mais que quatro em alguns locais.
Essa imunidade já foi atingida no Brasil?
Até o momento, não há notícia de nenhuma cidade que tenha atingido, com base na estimativa da OMS. A organização considera que, em média, apenas 5% a 10% da população mundial desenvolveu anticorpos para a covid-19 até o momento. Ou seja, a doença ainda tem muito espaço para se propagar. O número pode ser maior em algumas cidades mais afetadas pela pandemia.
Em locais de contágio intenso no Brasil, como São Paulo e Amazonas, pesquisas apontam que a porcentagem de pessoas que teve contato com o vírus foi de 18% e 30%, respectivamente - também bem abaixo da estimativa.
Em julho, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço nas Américas da entidade internacional, indicou que nenhum local no País estava perto da imunidade de rebanho.
Além disso, a estratégia não é recomendada pela OMS e por epidemiologistas para combater a pandemia. Segundo a agência, deixar a transmissão ocorrer livremente sobrecarregaria os hospitais e resultaria em muitas mortes, pelo próprio coronavírus e pela falta de estrutura para atendimento de outras emergências.
Para evitar o colapso do sistema de saúde e óbitos, a entidade recomenda o uso de ferramentas de controle, como distanciamento físico, uso de máscaras, testagem da população e rastreamento de contatos para identifcar os focos da doença.
Também há a questão de que ainda não se sabe por quanto tempo, exatamente, alguém fica imune à covid-19. Há estudos que apontam que a imunidade tem duração de apenas alguns meses. Outros mais recentes mostram que essa proteção pode durar anos. O primeiro caso de reinfecção foi documentado em Hong Kong, em agosto.