Salto na telemedicina no pós-pandemia
Para o médico Giovanni Cerri, presidente dos Conselhos dos Institutos de Radiologia e de Inovação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), um dos grandes avanços proporcionados pela tecnologia na saúde durante a pandemia foi a telemedicina. “Vimos que ela é prática, adequada e, para algumas situações, apresenta o mesmo resultado de uma consulta presencial.”
Segundo Cerri, essa evolução tem impulsionado todo o setor de saúde digital, que passou a ser visto como uma área de atenção para o Ministério da Saúde e o governo do Estado de São Paulo. “Hoje essa tecnologia não é usada em todo o seu potencial, mas isso será possível dentro de alguns anos com a melhora na conectividade.”
Inteligência artificial para monitoramento
Outra aposta recente da transformação digital é o uso de inteligência artificial (IA) para apoiar a tomada de decisão de médicos. Segundo Solange Oliveira Rezende, professora do Laboratório de Inteligência Computacional da USP, embora pareça que esse tipo de tecnologia tenha nascido com o ChatGPT, ele vem sendo pesquisado há décadas e oferece aplicações práticas no campo da saúde. “Algoritmos de padrões de análise que reconhecem resultados de exames e cruzam os dados dos pacientes são apenas alguns exemplos que estão sendo estudados.”
Para Solange, o ponto mais complexo desse uso recai sobre os aspectos éticos. “Precisamos olhar para o contexto, a legislação, o acesso que será feito dos dados e a representatividade das bases que alimentam o aprendizado das máquinas. A tecnologia permite fazer grandes avanços, mas até que ponto deixar todos os dados disponíveis? A IA deve ser usada como recurso e não como fim.”
Cirurgia remota de alta complexidade
Para o professor e médico Fabio Biscegli Jatene, vice-presidente do Conselho Diretor do InCor, uma das grandes possibilidades da tecnologia aplicada à medicina é a viabilidade de cirurgias por meio de colaboração remota entre equipes médicas.
Em parceria com o Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, o InCor desenvolve uma iniciativa de inovação para o telemonitoramento de cirurgias cardiovasculares a distância, que permite a integração de dados de um lugar para o outro e já beneficiou 16 crianças com cardiopatia congênita.
Durante a cirurgia, um monitor de vídeo na sala de operações compartilha todas as informações importantes e sinais do paciente, que são transmitidos do Maranhão ou a São Paulo em tempo real. “Nosso acompanhamento não é só do ponto de vista da cirurgia em si, mas de todo o processo operatório, aumentando as chances do paciente em casos de alta complexidade.”
Um dos casos mais emblemáticos para a equipe foi a cirurgia de Pedro Lucas, hoje com 1 ano de idade. Segundo a mãe, Ladjane da Silva Cordeiro, o procedimento foi uma alternativa que a surpreendeu positivamente e que garantiu a continuidade da vida da criança em um momento em que todos acreditavam que não seria possível. “Jamais esperaria que meu filho passaria por isso. Era como se os médicos de São Paulo estivessem dentro do hospital em São Luís. Eu fiquei muito feliz, porque na minha cabeça meu filho foi abençoado ao ser atendido por especialistas de dois lugares.”
Para saber mais sobre o caso de Pedro Lucas e o telemonitoramento de cirurgias remotas, clique aqui.
Produção de medicamentos com uso de dados
O desenvolvimento de medicamentos com o foco na saúde pública também tem sido beneficiado pelo avanço tecnológico, como aponta Cristiano Gonçalves, gerente de Inovação e Licenciamento de Tecnologia do Instituto Butantan. “A descoberta de drogas antes era feita por tentativa e erro. Hoje, com análise de dados, encurtamos o tempo de descobrimento de moléculas com potencial de erro e acerto, por exemplo.”
Ele explica, contudo, que o Brasil ainda tem limitações que inviabilizam o pleno desenvolvimento das pesquisas. “Para atender o sistema regulatório, precisamos de condições de boas práticas de fabricação, e não temos isso de forma corriqueira nas universidades e centros de pesquisas, porque é uma estrutura cara. Investimento é uma barreira que precisamos superar.”
MÊS DA SAÚDE ESTADÃO
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