Cientistas da Universidade de Nova York avaliaram dados de cerca de 15 mil alunos, de 17 a 18 anos, de 130 escolas públicas e privadas de 48 Estados americanos. Os resultados foram publicados no American Journal of Drugs and Alcohol Abuse, e noticiados pelo jornal britânico Daily Mail.
Dois terços dos estudantes que experimentam maconha não progrediram para outras substâncias ilícitas. Mas aqueles que buscavam a droga para aliviar o tédio correram mais esse risco. Ainda segundo a pesquisa, os motivos mais frequentes que levaram estudantes a experimentar drogas foram: viver uma nova experiência, aliviar o tédio ou alcançar novas “percepções”.
Os dados fazem parte do relatório anual Monitorando o Futuro e foram focados nos jovens que disseram ter usado maconha nos últimos 12 meses. Outras oito drogas ilícitas foram avaliadas, entre elas, LSD, heroína, crack, cocaína, anfetaminas e estimulantes, entre outros alucinógenos.
Uma análise mais demorada das causas que levaram o jovem a usar maconha e a frequência desse uso revelou alguns pontos interessantes. Os que usaram apenas para “viver uma nova experiência” tiveram um risco menor de usar outras substâncias ilícitas. Da mesma forma, o consumo eventual de maconha não se relacionou com o uso de outras drogas.
Mas os especialistas alertam que esses resultados não servem de base para afirmar que fumar maconha de vez em quando é uma forma de prevenir, no futuro, o contato com as demais drogas. Para eles, a principal conclusão do estudo é que apenas uma parte dos usuários de maconha pode estar sob maior risco de evoluir para o uso de outras substâncias e que seria importante pensar estratégias específicas de prevenção para essa população como, por exemplo, diminuir o tédio do jovem, investindo em alternativas de lazer, cultura e esporte, que ocupem uma parte do seu tempo ocioso.
Droga mais usada. Bom lembrar que a maconha é a droga ilícita mais consumida nos EUA e em boa parte do mundo, incluindo o Brasil. Um levantamento recente, a Pesquisa Nacional de Uso de Drogas e Saúde, divulgada no início de junho pelo Nida (National Institute on Drug Abuse), apontou que cerca de 2,8 milhões de pessoas experimentaram drogas pela primeira vez nos EUA em 2013; 54% tinham menos de 18 anos e, para 70% dos iniciantes, a maconha foi a droga de escolha. Outro dado mostra que um em cada dois estudantes de 17 a 18 anos já experimentou maconha.
Desde 2014, a venda de maconha para uso recreativo está liberada para quem tem mais de 21 anos em alguns Estados americanos, como Colorado e Washington. Ainda não se sabe se retirar a droga da ilegalidade (do “mercado das ruas”) poderia diminuir o contato dos jovens com outras substâncias ilícitas.
Outra questão que a pesquisa ajuda a pensar é que não é a maconha, isoladamente, que traz mais ou menos risco de contato com outras drogas, mas questões emocionais, sociais e de comportamento.
Assim, é possível imaginar que o jovem que já enfrenta dificuldades em lidar com sua rotina, com seu tédio, com suas expectativas e com seu projeto de vida é que pode acabar fazendo um uso mais frequente da droga e, possivelmente, estar sob maior risco de usar outras substâncias, como cocaína e alucinógenos. Não é a maconha, em si, que vai levá-lo a migrar para outras experiências.
Jairo Bouer é psiquiatra