BRASÍLIA - O número de brasileiros obesos saltou 60% em uma década, passando de 11,8% da população em 2006 para 18,9% em 2016. A prevalência de diabete e hipertensão arterial também cresceu no País, chegando a 8,9% e 25,7% da população, respectivamente. Os indicadores relacionados a excesso de peso subiram 26,3% em dez anos. Em 2006, 42,6% da população estava acima do peso. Hoje, já são 53,8%. Na capital paulista, os dados superam a média nacional: 53,9% dos paulistanos estão acima do peso, 25,9% são hipertensos e 10% têm diabete.
Os dados fazem parte da mais recente edição da pesquisa Vigitel do Ministério da Saúde, feita por meio de entrevista telefônica com a população com mais de 18 anos das capitais brasileiras. Dados do trabalho com indicadores de 2016 divulgados nesta segunda-feira, 17, mostram que a expansão da diabete, da hipertensão, do sobrepeso e da obesidade se dá na população em geral, mas de uma forma mais acentuada entre pessoas com menor escolaridade. A diabete, por exemplo, já afeta 16,5% da população com até oito anos de estudo; indicador três vezes maior do que o apresentado por quem estudou 12 anos ou mais: 4,6%.
Amante dos doces e dos sanduíches, a química Fernanda Roberto de Andrade, de 29 anos, entrou para o grupo de obesos justamente na última década. “De uns anos para cá, engordei muito. Comia demais. Era hambúrguer, bolacha, doces, e nunca conseguia parar na academia”, conta ela, que tem 1,62 metro de altura e chegou aos 85 quilos no fim do ano passado. Foi quando decidiu mudar os hábitos alimentares. “Eu me matriculei no programa Vigilantes do Peso e já perdi 12 quilos. Tenho hipertensão, AVC e diabete na família. Não quero esperar para ver”, diz.
Com já se era esperado, a frequência dos quatro fatores de risco para doenças cardiovasculares (obesidade, sobrepeso, hipertensão e diabete) aumenta com o passar dos anos. O que o trabalho chama a atenção, no entanto, é o que ocorre com obesidade. A prevalência do problema duplica a partir dos 25 anos.
Causas. “Nunca como comida. Para mim, é besteira o dia todo, chocolate, salgadinho”, diz a estudante de Fotografia Victória Lobo, de 18 anos. Para Carlos Monteiro, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), o consumo de alimentos ultraprocessados, como massas congeladas, biscoitos e bebidas artificiais, é um dos principais motivos do aumento de doenças crônicas relatado. “Buscando maior praticidade e menor preço, as pessoas estão cada vez menos preparando comida e optando por alimentos prontos, que geralmente têm péssima qualidade nutricional.”
Endocrinologista do Centro de Obesidade e Diabete do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Tarissa Petry ainda levanta outros fatores. “Na lógica das grandes cidades, os pais não têm tido tempo para cozinhar, o índice de sedentarismo é alto e o estresse leva ao aumento do cortisol, hormônio que age contra a insulina, favorecendo o aparecimento da diabete”, destaca.
Os dados da pesquisa deixam claro que a mudança de hábitos alimentares está diretamente relacionada ao problema. A começar pela redução do consumo regular de arroz e feijão. Em 2012, 74,2% da população masculina entrevistada dizia consumir a combinação pelo menos cinco dias da semana. Bastaram quatro anos para esse indicador cair para 67,9%. A boa notícia, no entanto, é que o consumo regular de frutas e hortaliças apresentou leve elevação, passando de 33% para 35,2%.