Nesta quinta-feira, 25, que marca o Dia Mundial da Malária, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o progresso na redução da doença estagnou, persistindo como uma ameaça à saúde e à vida das pessoas, enquanto alimenta um ciclo de desigualdade. Para ter ideia, em 2022 foram registrados 249 milhões de novos casos e 608 mil mortes em todo o mundo.
Embora a incidência de malária relatada nas Américas tenha diminuído desde 2017, quando 934 mil casos foram registrados, alguns países ainda estão longe de alcançar a meta de redução de 75% até 2025, conforme proposto pela OMS. “Isso se deve ao fato de que muitas populações continuam a não ter acesso a intervenções chave, especialmente em áreas remotas e de difícil acesso”, disse Sylvain Aldighieri, diretor de Doenças Transmissíveis da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), agência da OMS focada nas Américas.
Esse é o caso do continente africano. Segundo a OMS, a região contabilizou 94% dos casos globais de malária, respondendo ainda por 95% dos registros de morte em decorrência da doença. Populações rurais que vivem em situação de pobreza e com menos acesso à educação são as mais atingidas, assim como as crianças, que representam quatro em cada cinco óbitos relacionados à infecção no continente.
“Crianças menores de 5 anos de famílias pobres da África subsaariana têm cinco vezes mais chance de serem infectadas pela malária do que as de famílias com melhores condições socioeconômicas”, alertou a entidade.
No caso das Américas, mineradores, trabalhadores agrícolas e refugiados estão em particular risco de malária, respondendo entre 29 e 64% dos casos em alguns países, enquanto as populações indígenas são as mais afetadas, respondendo entre 25 e 100% dos casos. Em algumas partes da bacia amazônica, até 45% dos casos de malária são relatados em crianças menores de 10 anos.
“Alcançar as metas globais exigirá uma mudança urgente em nossa resposta à malária, abordando as causas fundamentais da doença e garantindo que os serviços de saúde essenciais sejam entregues de forma equitativa. Métodos inovadores de prestação de cuidados de saúde, incluindo voluntários comunitários de saúde, são uma parte crucial disso”, afirmou Aldighieri em comunicado.
Além dos grupos mencionados, a OMS ressaltou a vulnerabilidade das mulheres grávidas à malária, que pode levar a complicações graves, incluindo morte materna e fetal. Mudanças climáticas, desastres naturais e conflitos também foram citados como fatores que aumentam a vulnerabilidade à malária em países endêmicos, onde 70% das mortes estão associadas a diagnósticos tardios.
“Esses grupos continuam sendo excluídos dos serviços necessários para prevenir, detectar e tratar a malária, dificultando nosso progresso rumo a um mundo livre da doença”, concluiu a OMS.
O que é a malária?
De acordo com a Fiocruz, a malária é uma doença infecciosa febril aguda, causada por três protozoários da espécie Plasmodium: P. falciparum, P. vivax e P. malariae. A doença é transmitida por meio da picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles infectada por uma ou mais espécies do Plasmodium.
O mais agressivo é o P. falciparum, que se multiplica rapidamente na corrente sanguínea, destruindo de 2% a 25% do total de hemácias (glóbulos vermelhos) e provocando um quadro de anemia grave, além de pequenos coágulos que podem gerar problemas como tromboses e embolias em diversos órgãos do corpo.
Leia Também:
Já o P. Vivax, de modo geral, causa um tipo de malária mais branda, que não atinge mais do que 1% das hemácias, e é raramente mortal. No entanto, seu tratamento pode ser mais complicado, já que se aloja por mais tempo no fígado, dificultando sua eliminação. Além disso, pode haver diminuição do número de plaquetas, o que pode confundir a infecção com outra doença bastante comum, a dengue, retardando o diagnóstico.
A doença provocada pela espécie P. malariae possui quadro clínico bem semelhante ao da malária causada pelo P. vivax. É possível que a pessoa acometida por este parasita tenha recaídas a longo prazo, podendo desenvolver a doença novamente anos mais tarde.
Quais os sintomas?
Segundo o Ministério da Saúde, os sintomas mais comuns incluem:
- Febre alta
- Calafrios
- Tremores
- Sudorese
- Dor de cabeça
Muitas pessoas, antes de apresentarem estas manifestações mais características, sentem náuseas, vômitos, cansaço e falta de apetite.
Já a malária grave caracteriza-se por um ou mais desses sinais e sintomas:
- Prostração
- Alteração da consciência
- Dispneia ou hiperventilação
- Convulsões
- Hipotensão arterial ou choque
- Hemorragias
Existe tratamento?
Sim. Após a confirmação da malária, o paciente recebe o tratamento em regime ambulatorial, com medicamentos que são fornecidos gratuitamente em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Somente os casos graves devem ser hospitalizados de imediato. O tratamento indicado depende de alguns fatores, como a espécie do protozoário que picou a pessoa, a idade e o peso do paciente; condições associadas, tais como gravidez e outros problemas de saúde, além da gravidade da doença.
Em 2021, OMS aprovou a primeira vacina contra a malária, fabricada pela farmacêutica britânica GSK. Contudo, a vacina está disponível apenas para alguns países africanos com alta transmissão de malária por P. falciparum e é exclusiva para crianças pequenas.
De acordo com o MS, algumas substâncias capazes de gerar imunidade para a malária estão sendo estudadas no Brasil e no mundo, mas os resultados encontrados ainda não são satisfatórios para implantação da vacinação como medida de prevenção da malária. Vale ressaltar que, no Brasil, quase 90% da malária é causada pelo Plasmodium vivax e não há ainda previsão de alguma vacina eficaz para essa espécie específica.