O Amazonas vive uma crise sanitária ainda pior do que a que foi registrada no auge da pandemia da covid-19 em 2020. O número diário de novas internações é o mais alto já registrado, tendo duplicado nas últimas duas semanas. Até quinta-feira, 14, 427 pacientes das redes pública e privada de saúde aguardavam um leito para internação, a maioria em Manaus, que concentra a maior parte das hospitalizações no estado e enfrenta falta de oxigênio para atender a todos os pacientes.
O boletim epidemiológico de quinta-feira, 15, divulgado pelo governo estadual, aponta que a ocupação na UTI para covid-19 é de 93,9% na rede pública da capital amazonense e de 86,73% na rede privada da cidade, o que representa uma média geral de 90,4%. A situação também se repete em leitos de enfermaria, que estão com uma ocupação média de 103,46% na rede pública de Manaus (ou seja, acima da capacidade do sistema) e de 80,9% na particular, com média de 93,1%. Na quinta-feira, o Amazonas teve 258 novas internações por covid-19, número que é 53% maior do que o pico do novo coronavírus em 2020, quando foram registradas 168 novas hospitalizações em um único dia de maio. Como a atual crise sanitária se concentra principalmente na capital, o recorde é ainda mais expressivo em Manaus, que teve 254 novas internações na quinta-feira, número que é 141% maior do que os picos de 105 hospitalizações de 2020, registrados em abril e maio. A quinta-feira também teve recorde histórico no número de novos casos confirmados, com 3.816 em todo o Estado, enquanto o maior registro em um único dia de 2020 foi de 2.763, em maio. Apenas em Manaus, foram 2.516 testes positivos, enquanto, no auge de 2020, foram confirmados 1.723 novos casos, também em maio.
O último balanço de óbitos pela doença é de quarta-feira, 13, com 44 mortes confirmadas em todo o Estado, abaixo do auge registrado em 2020, que foi de 99, em abril. Diferentemente das internações, o número de óbitos costuma levar mais dias para refletir nos registros, pois depende do resultado de testes.
Entre os 427 pacientes que aguardavam leito até quinta-feira, 422 são do sistema público e outros cinco da rede privada. Do total, 371 são de Manaus e 60 precisavam de leitos de UTI. Ainda de acordo com o balanço mais recente, entre instituições públicas e privadas, Manaus tem 1.126 pacientes com suspeita ou confirmação de covid-19 na UTI e outros 2.567 em leitos de enfermaria.
Ao todo, o Amazonas tem 223.360 casos e 5.930 óbitos confirmados de covid-19. Além disso, o número de sepultamentos em Manaus aumentou 450% em um mês, segundo a prefeitura da capital.
Em entrevista ao Estadão, o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz-Amazônia, afirmou que uma nova cepa do coronavírus, identificada em turistas japoneses após viagem à Amazônia, é a explicação mais plausível para a explosão atual de casos.