Um novo estudo publicado recentemente na revista científica Menopause levantou evidências de que mulheres diagnosticadas com menopausa precoce cirúrgica – aquela que surge em decorrência de procedimentos para retirada dos ovários – apresentam maior probabilidade de desenvolver distúrbios e dores musculares em comparação com aquelas que passam pela menopausa de forma natural e na faixa etária esperada.
O estudo envolveu a participação de 644 mulheres, das quais 468 estavam passando pela menopausa naturalmente e 176 tinham menopausa precoce, seja por causas naturais ou cirúrgicas. Após a seleção das participantes, um questionário foi aplicado, abordando questões sobre desconforto musculoesquelético, incluindo aspectos como força física, capacidade de caminhar ou levantar sem dificuldades, subir escadas e histórico de quedas.
Os resultados do estudo revelaram que 46,7% das mulheres que enfrentavam a menopausa precoce cirúrgica exibiram desconfortos musculoesqueléticos, enquanto o mesmo acontecia com 29,3% daquelas que passavam por esse estágio de forma natural e dentro da idade esperada. A prevalência de sarcopenia, condição caracterizada pela perda progressiva de massa muscular e força, também era maior no grupo da menopausa precoce cirúrgica (45% contra 27,6%).
Entre as mulheres com menopausa precoce espontânea, inicialmente os resultados também mostraram maior sensação de desconforto musculoesquelético e sarcopenia. Mas, depois que os pesquisadores ajustaram uma série de fatores, essa relação não se mostrou tão significativa quanto a observada no grupo com menopausa precoce cirúrgica – considerou-se que a situação estava mais atrelada a especificidades vividas por cada uma dessas mulheres.
Segundo os pesquisadores responsáveis pelo estudo, os resultados indicam que a dor e o declínio da massa muscular estão mais associados a variações hormonais do que à idade em si. Isso porque a menopausa cirúrgica prematura provoca uma perda mais abrupta e completa dos hormônios produzidos pelo ovário, incluindo estrogênio e testosterona, em comparação aos outros tipos de menopausa observados.
“O uso da terapia hormonal até a idade natural da menopausa tem o potencial de mitigar alguns dos efeitos adversos em longo prazo”, destacou a diretora médica da The Menopause Society, Stephanie Faubion, em comunicado.
O que é a menopausa precoce?
De acordo com Sérgio Podgaec, ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, a menopausa é marcada pelo término definitivo da menstruação, geralmente manifestando-se entre os 45 e 50 anos. “A mulher possui uma reserva de óvulos e, quando essa reserva se esgota, resultando na interrupção da ovulação, a menstruação cessa. Quando esse processo acontece antes dos 40 anos, nós chamamos de menopausa precoce, seja ela desenvolvida de forma espontânea ou por meio de processos cirúrgicos”, explica Podgaec.
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Além dos procedimentos cirúrgicos, a menopausa precoce, também conhecida como ‘insuficiência ovariana primária’, pode estar relacionada a fatores genéticos, como a síndrome de Turner, e também a doenças autoimunes, a exemplo de vitiligo, tireoidite e miastenia grave (que causa fraqueza muscular). Segundo Manuela Gurgel, ginecologista da Casa de Saúde São José, distúrbios metabólicos, incluindo alterações enzimáticas, também podem estar relacionados ao problema, assim como tratamentos considerados agressivos, como quimioterapia e radioterapia, que induzem a falência ovariana por toxinas.
Quais são os sintomas da menopausa precoce?
O principal sintoma observado na menopausa precoce é a alteração no padrão menstrual. Tipicamente, mulheres diagnosticadas com essa condição começam a experimentar ciclos menstruais mais espaçados e com menor quantidade de sangramento, até eventualmente chegarem à ausência completa do fluxo menstrual.
Com a interrupção da ovulação, ocorre uma diminuição na produção dos hormônios femininos, como o estrogênio. Isso leva à manifestação de sintomas característicos da deficiência hormonal e da menopausa precoce, como ondas de calor, sudorese noturna, variações de humor, distúrbios do sono e redução da densidade óssea, que pode resultar em osteoporose, além do ressecamento ou atrofia da mucosa vaginal.
Outro impacto significativo relacionado à insuficiência ovariana primária é a infertilidade. Com o fim da liberação dos óvulos, os gametas femininos ficam impedidos de encontrar os masculinos para realizar a fecundação, o que tem um impacto direto na capacidade reprodutiva da mulher. Segundo Podgaec, mesmo em casos de reprodução assistida, muitas vezes é necessário que as pacientes utilizem os óvulos de uma doadora.
“Além da infertilidade, o ressecamento vaginal e a atrofia são sintomas comuns capazes de afetar a intimidade e o bem-estar sexual. Esses problemas podem levar a uma redução na qualidade de vida e desencadear quadros de ansiedade e depressão”, enfatizou Manuela.
Existe tratamento?
Sim. O tratamento para a menopausa precoce segue uma abordagem semelhante àquela aplicada na menopausa comum. Quando não há contraindicação absoluta ao uso de terapia de estrogênio, recomenda-se o uso de estradiol para diminuir o risco de osteoporose, doenças cardiovasculares, atrofia vaginal e para promover a saúde sexual e a qualidade de vida da paciente. Para mulheres com útero, a adição de progesterona é necessária, segundo Podgaec.
Para pacientes com contraindicações ao uso de estrogênio, Manuela destaca que existem opções terapêuticas alternativas disponíveis atualmente. Isso pode incluir medicamentos de ação central ou até mesmo fitoterápicos em alguns casos. “É importante enfatizar que cada tratamento deve ser individualizado de acordo com as necessidades específicas da paciente, considerando suas particularidades e condições de saúde”, ressalta a médica.
Além das terapias de reposição hormonal, semelhantes às utilizadas na menopausa convencional, outras medidas devem ser consideradas, como intervenções nutricionais, prática de atividade física e, principalmente, acompanhamento terapêutico.