Metade da dieta de crianças de até dois anos é composta por alimentos ultraprocessados


Dados mostram que, nessa idade, elas já consumiram refrigerantes, biscoitos e sucos processados. Ministério da Saúde lançou campanha para ajudar a combater a obesidade infantil

Por Roberta Jansen e Fabio Grellet

RIO DE JANEIRO - O consumo de alimentos ultraprocessados é cada vez mais precoce no Brasil. Crianças com menos de dois anos chegam a ter praticamente a metade da sua alimentação diária composta por produtos industrializados. São farináceos, bebidas lácteas, refrigerantes, biscoitos. Por isso, o Ministério da Saúde lançou nesta quarta-feira, 13, uma campanha de prevenção e controle da obesidade infantil.

O objetivo é alertar e orientar as famílias sobre a importância da formação de hábitos saudáveis na infância. Foi lançada também uma nova versão do Guia Alimentar Para Menores de Dois Anos.

A nutricionista Mayra Reis, de 34 anos, nunca deu doces ao filho Rafael, de um ano Foto: Paulo Araújo/Estadão
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A alimentação com altas quantidades de sal, gordura e açúcar desde a primeira infância tem impacto direto nos índices de obesidade dos pequenos e também da população em geral.

Dados do governo mostram que 15,9% das crianças com menos de cinco anos já apresentam excesso de peso. Nos últimos 13 anos, o porcentual de obesos no País passou de 11,8% para 19,8%. Foi um aumento 67,8%, um dos maiores índices de crescimento do mundo.

Já está bem estabelecido cientificamente que o excesso de peso pode causar doenças crônicas como diabetes, hipertensão e colesterol alto. Também é fator decisivo para o desenvolvimento de problemas cardíacos e câncer.

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“O cenário de obesidade infantil é muito preocupante, com índices cada vez mais altos de diabetes e hipertensão”, afirmou o nutricionista Cristiano Boccolini, da Fiocruz, um dos organizadores da III Conferência Mundial de Aleitamento Materno e da I Conferência Mundial de Alimentação Complementar, que ocorrem no Rio. “Cada vez mais as crianças estão recebendo produtos ultraprocessados em vez de comida de verdade. Temos que desembalar menos e descascar mais.”

A má alimentação desde a primeira infância tem causas múltiplas, como indicam especialistas. Um dos maiores problemas está relacionado ao aleitamento materno. O recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é que bebês de até seis meses se alimentem exclusivamente do leite das suas mães. A entidade também indica que, até os dois anos, as crianças sejam amamentadas e recebam alimentos saudáveis como complemento.

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Dados do governo brasileiro mostram, no entanto, que duas em cada três crianças com menos de seis meses de idade já recebem algum outro tipo de leite, em geral acrescido de alguma farinha e açúcar. E apenas uma em três continua recebendo leite materno até os dois anos. Nesta faixa etária, 49% já se alimentam também de sucos adoçados, refrigerantes e biscoitos. O preconizado é zero açúcar até essa idade.

“A amamentação previne a obesidade na idade adulta, as crianças amamentadas têm menos chances de se tornarem adultos obesos”, afirmou Boccolini. “Mas, além disso, a complementação alimentar dos bebês deve ser feita com comida de verdade - arroz, feijão, carne, legumes e verduras.”

Alguns obstáculos são a pouca disponibilidade das mães que precisam trabalhar e o alto preço dos alimentos mais saudáveis em comparação aos ultraprocessados.

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 “O paladar das crianças na hora de descobrir o açúcar é muito aguçado, a adicção é muito rápida”, disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que lançou a campanha no Rio, na abertura das conferências. “É preciso evitar alimentos que não agregam valor nutricional, mas agregam peso. E criança tem que andar descalça, correr, pedalar. Se essas atividades forem substituídas por horas de tela, vamos pagar um preço muito alto.”

A falta de atividade física contribui para esse quadro. A OMS recomenda que crianças menores de um ano façam até 30 minutos de atividade física diariamente, como engatinhar, movimentar os braços, ficar de barriga para baixo. De um a dois anos, elas devem se movimentar pelo triplo desse tempo. A partir dos três anos, pelo menos 60 minutos devem ser de atividades físicas moderadas ou vigorosas.

“O leite materno tem menos proteína que o leite de vaca, mas é uma proteína de qualidade superior. Quando tira a o leite materno, a criança recebe um excesso de proteína que já favorece o ganho de peso”, afirmou o nutricionista Marcio Atalla, embaixador da campanha do ministério. “Além disso, tem muita criança com menos de dois anos tomando refrigerante, comendo biscoito; um excesso de caloria que ela não gasta nessa idade e que vai reverter no sobrepeso e na saúde mais para frente.”

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Os dados disponíveis para as crianças ainda não estão completos. Uma pesquisa inédita está sendo conduzida pelo governo em todo o País para avaliar dados sobre amamentação, alimentação e nutrição entre menores de 5 anos.

O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) já esteve em onze Estados e continua em campo. Pela primeira vez, será feito um exame sanguíneo nas crianças para mapear doze micronutrientes como vitaminas e minerais, além da incidência de doenças como diabetes e hipertensão.

“Neste estudo estamos trazendo um componente novo que é estudar também o ambiente alimentar doméstico, entender o comportamento de toda a família”, explicou o coordenador do Enani, Gilberto Kac, do Instituto de Nutrição da UFRJ.

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Alimentação das crianças

Chocolate soa como palavra mágica para o pequeno Bryan, de 4 anos. “Quero”, responde o garoto, olhos brilhando, mesmo quando não há ninguém lhe oferecendo a guloseima. “Ele adora, come qualquer um”, conta o pai, o vistoriador Pedro Reis, de 22 anos, morador da Tijuca (zona norte do Rio). “Se deixar, come todo dia, mas eu e a mãe não permitimos. É uma vez por semana mais ou menos”, conta o pai.

Reis também é pai de Derik, de 2 anos, outro apreciador de doces. “Uma vez por semana eles comem brigadeiro, biscoito waffer, iogurte”, conta Reis. Os dois meninos estão em forma. “Eles nunca tiveram problema com obesidade”, afirma.

Já Rafael, de um ano e um mês, ainda nem sabe o que é o sabor doce. “Só dou pra ele comida sem sal nem açúcar”, conta a mãe do bebê, a nutricionista Mayra Reis, de 34 anos. “Sei que não vai dar pra manter essa regra para sempre, mas meu objetivo é que, até os dois anos, ele não coma nada industrializado. No começo deu certo, mas agora ele vê os primos comendo (lanche do) McDonald’se também quer”, diz. “Mas não deixo. O máximo que ele come não feito em casa é biscoito de polvilho e algum pão.”

A nutricionista convenceu o marido a manter o filho na dieta, mas a falta de sal e açúcar gerou protestos da sogra: “Ela reclamou, disseque a comida ia ficar sem sabor nenhum. Mas eu expliquei que assim é que o Rafael sentiria o verdadeiro gosto dos alimentos. E é para o bem dele”, afirmou. “Uma hora ele vai experimentar outras comidas, mas enquanto eu puder vou controlar isso”, completou.

Preste atenção

  • Bebês. A amamentação deve ser exclusiva até os 6 meses de idade e complementar até 2 anos ou mais. A partir dos 6 meses, se houver introdução de alimentos, eles devem ser in natura ou minimamente processados
  • Bebidas. Prefira água em vez de bebidas adoçadas. Para crianças até 2 anos de idade, a recomendação é de zero açúcar na alimentação
  • Família. É importante que a criança tenha bons exemplos de alimentação em casa. Uma alimentação mais saudável também passa por criar momentos de refeição com a família, para troca de afeto
  • Dosagem. É preciso ficar atento aos sinais de fome e saciedade. Evite refeições em frente à TV ou ao celular, já que os equipamentos podem distrair a atenção em relação à comida, comprometendo a sensação de saciedade
  • Atividade. Os exercícios físicos deve ser incentivada desde os primeiros anos de vida, com atividades como engatinhar, correr, pular corda, andar de bicicleta, brincar de bambolê ou jogar futebol
  • Tempo de tela. Evite excessos na utilização do celular e substitua o tempo de tela por mais brincadeiras que movimentam o corpo

RIO DE JANEIRO - O consumo de alimentos ultraprocessados é cada vez mais precoce no Brasil. Crianças com menos de dois anos chegam a ter praticamente a metade da sua alimentação diária composta por produtos industrializados. São farináceos, bebidas lácteas, refrigerantes, biscoitos. Por isso, o Ministério da Saúde lançou nesta quarta-feira, 13, uma campanha de prevenção e controle da obesidade infantil.

O objetivo é alertar e orientar as famílias sobre a importância da formação de hábitos saudáveis na infância. Foi lançada também uma nova versão do Guia Alimentar Para Menores de Dois Anos.

A nutricionista Mayra Reis, de 34 anos, nunca deu doces ao filho Rafael, de um ano Foto: Paulo Araújo/Estadão

A alimentação com altas quantidades de sal, gordura e açúcar desde a primeira infância tem impacto direto nos índices de obesidade dos pequenos e também da população em geral.

Dados do governo mostram que 15,9% das crianças com menos de cinco anos já apresentam excesso de peso. Nos últimos 13 anos, o porcentual de obesos no País passou de 11,8% para 19,8%. Foi um aumento 67,8%, um dos maiores índices de crescimento do mundo.

Já está bem estabelecido cientificamente que o excesso de peso pode causar doenças crônicas como diabetes, hipertensão e colesterol alto. Também é fator decisivo para o desenvolvimento de problemas cardíacos e câncer.

“O cenário de obesidade infantil é muito preocupante, com índices cada vez mais altos de diabetes e hipertensão”, afirmou o nutricionista Cristiano Boccolini, da Fiocruz, um dos organizadores da III Conferência Mundial de Aleitamento Materno e da I Conferência Mundial de Alimentação Complementar, que ocorrem no Rio. “Cada vez mais as crianças estão recebendo produtos ultraprocessados em vez de comida de verdade. Temos que desembalar menos e descascar mais.”

A má alimentação desde a primeira infância tem causas múltiplas, como indicam especialistas. Um dos maiores problemas está relacionado ao aleitamento materno. O recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é que bebês de até seis meses se alimentem exclusivamente do leite das suas mães. A entidade também indica que, até os dois anos, as crianças sejam amamentadas e recebam alimentos saudáveis como complemento.

Dados do governo brasileiro mostram, no entanto, que duas em cada três crianças com menos de seis meses de idade já recebem algum outro tipo de leite, em geral acrescido de alguma farinha e açúcar. E apenas uma em três continua recebendo leite materno até os dois anos. Nesta faixa etária, 49% já se alimentam também de sucos adoçados, refrigerantes e biscoitos. O preconizado é zero açúcar até essa idade.

“A amamentação previne a obesidade na idade adulta, as crianças amamentadas têm menos chances de se tornarem adultos obesos”, afirmou Boccolini. “Mas, além disso, a complementação alimentar dos bebês deve ser feita com comida de verdade - arroz, feijão, carne, legumes e verduras.”

Alguns obstáculos são a pouca disponibilidade das mães que precisam trabalhar e o alto preço dos alimentos mais saudáveis em comparação aos ultraprocessados.

 “O paladar das crianças na hora de descobrir o açúcar é muito aguçado, a adicção é muito rápida”, disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que lançou a campanha no Rio, na abertura das conferências. “É preciso evitar alimentos que não agregam valor nutricional, mas agregam peso. E criança tem que andar descalça, correr, pedalar. Se essas atividades forem substituídas por horas de tela, vamos pagar um preço muito alto.”

A falta de atividade física contribui para esse quadro. A OMS recomenda que crianças menores de um ano façam até 30 minutos de atividade física diariamente, como engatinhar, movimentar os braços, ficar de barriga para baixo. De um a dois anos, elas devem se movimentar pelo triplo desse tempo. A partir dos três anos, pelo menos 60 minutos devem ser de atividades físicas moderadas ou vigorosas.

“O leite materno tem menos proteína que o leite de vaca, mas é uma proteína de qualidade superior. Quando tira a o leite materno, a criança recebe um excesso de proteína que já favorece o ganho de peso”, afirmou o nutricionista Marcio Atalla, embaixador da campanha do ministério. “Além disso, tem muita criança com menos de dois anos tomando refrigerante, comendo biscoito; um excesso de caloria que ela não gasta nessa idade e que vai reverter no sobrepeso e na saúde mais para frente.”

Os dados disponíveis para as crianças ainda não estão completos. Uma pesquisa inédita está sendo conduzida pelo governo em todo o País para avaliar dados sobre amamentação, alimentação e nutrição entre menores de 5 anos.

O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) já esteve em onze Estados e continua em campo. Pela primeira vez, será feito um exame sanguíneo nas crianças para mapear doze micronutrientes como vitaminas e minerais, além da incidência de doenças como diabetes e hipertensão.

“Neste estudo estamos trazendo um componente novo que é estudar também o ambiente alimentar doméstico, entender o comportamento de toda a família”, explicou o coordenador do Enani, Gilberto Kac, do Instituto de Nutrição da UFRJ.

Alimentação das crianças

Chocolate soa como palavra mágica para o pequeno Bryan, de 4 anos. “Quero”, responde o garoto, olhos brilhando, mesmo quando não há ninguém lhe oferecendo a guloseima. “Ele adora, come qualquer um”, conta o pai, o vistoriador Pedro Reis, de 22 anos, morador da Tijuca (zona norte do Rio). “Se deixar, come todo dia, mas eu e a mãe não permitimos. É uma vez por semana mais ou menos”, conta o pai.

Reis também é pai de Derik, de 2 anos, outro apreciador de doces. “Uma vez por semana eles comem brigadeiro, biscoito waffer, iogurte”, conta Reis. Os dois meninos estão em forma. “Eles nunca tiveram problema com obesidade”, afirma.

Já Rafael, de um ano e um mês, ainda nem sabe o que é o sabor doce. “Só dou pra ele comida sem sal nem açúcar”, conta a mãe do bebê, a nutricionista Mayra Reis, de 34 anos. “Sei que não vai dar pra manter essa regra para sempre, mas meu objetivo é que, até os dois anos, ele não coma nada industrializado. No começo deu certo, mas agora ele vê os primos comendo (lanche do) McDonald’se também quer”, diz. “Mas não deixo. O máximo que ele come não feito em casa é biscoito de polvilho e algum pão.”

A nutricionista convenceu o marido a manter o filho na dieta, mas a falta de sal e açúcar gerou protestos da sogra: “Ela reclamou, disseque a comida ia ficar sem sabor nenhum. Mas eu expliquei que assim é que o Rafael sentiria o verdadeiro gosto dos alimentos. E é para o bem dele”, afirmou. “Uma hora ele vai experimentar outras comidas, mas enquanto eu puder vou controlar isso”, completou.

Preste atenção

  • Bebês. A amamentação deve ser exclusiva até os 6 meses de idade e complementar até 2 anos ou mais. A partir dos 6 meses, se houver introdução de alimentos, eles devem ser in natura ou minimamente processados
  • Bebidas. Prefira água em vez de bebidas adoçadas. Para crianças até 2 anos de idade, a recomendação é de zero açúcar na alimentação
  • Família. É importante que a criança tenha bons exemplos de alimentação em casa. Uma alimentação mais saudável também passa por criar momentos de refeição com a família, para troca de afeto
  • Dosagem. É preciso ficar atento aos sinais de fome e saciedade. Evite refeições em frente à TV ou ao celular, já que os equipamentos podem distrair a atenção em relação à comida, comprometendo a sensação de saciedade
  • Atividade. Os exercícios físicos deve ser incentivada desde os primeiros anos de vida, com atividades como engatinhar, correr, pular corda, andar de bicicleta, brincar de bambolê ou jogar futebol
  • Tempo de tela. Evite excessos na utilização do celular e substitua o tempo de tela por mais brincadeiras que movimentam o corpo

RIO DE JANEIRO - O consumo de alimentos ultraprocessados é cada vez mais precoce no Brasil. Crianças com menos de dois anos chegam a ter praticamente a metade da sua alimentação diária composta por produtos industrializados. São farináceos, bebidas lácteas, refrigerantes, biscoitos. Por isso, o Ministério da Saúde lançou nesta quarta-feira, 13, uma campanha de prevenção e controle da obesidade infantil.

O objetivo é alertar e orientar as famílias sobre a importância da formação de hábitos saudáveis na infância. Foi lançada também uma nova versão do Guia Alimentar Para Menores de Dois Anos.

A nutricionista Mayra Reis, de 34 anos, nunca deu doces ao filho Rafael, de um ano Foto: Paulo Araújo/Estadão

A alimentação com altas quantidades de sal, gordura e açúcar desde a primeira infância tem impacto direto nos índices de obesidade dos pequenos e também da população em geral.

Dados do governo mostram que 15,9% das crianças com menos de cinco anos já apresentam excesso de peso. Nos últimos 13 anos, o porcentual de obesos no País passou de 11,8% para 19,8%. Foi um aumento 67,8%, um dos maiores índices de crescimento do mundo.

Já está bem estabelecido cientificamente que o excesso de peso pode causar doenças crônicas como diabetes, hipertensão e colesterol alto. Também é fator decisivo para o desenvolvimento de problemas cardíacos e câncer.

“O cenário de obesidade infantil é muito preocupante, com índices cada vez mais altos de diabetes e hipertensão”, afirmou o nutricionista Cristiano Boccolini, da Fiocruz, um dos organizadores da III Conferência Mundial de Aleitamento Materno e da I Conferência Mundial de Alimentação Complementar, que ocorrem no Rio. “Cada vez mais as crianças estão recebendo produtos ultraprocessados em vez de comida de verdade. Temos que desembalar menos e descascar mais.”

A má alimentação desde a primeira infância tem causas múltiplas, como indicam especialistas. Um dos maiores problemas está relacionado ao aleitamento materno. O recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é que bebês de até seis meses se alimentem exclusivamente do leite das suas mães. A entidade também indica que, até os dois anos, as crianças sejam amamentadas e recebam alimentos saudáveis como complemento.

Dados do governo brasileiro mostram, no entanto, que duas em cada três crianças com menos de seis meses de idade já recebem algum outro tipo de leite, em geral acrescido de alguma farinha e açúcar. E apenas uma em três continua recebendo leite materno até os dois anos. Nesta faixa etária, 49% já se alimentam também de sucos adoçados, refrigerantes e biscoitos. O preconizado é zero açúcar até essa idade.

“A amamentação previne a obesidade na idade adulta, as crianças amamentadas têm menos chances de se tornarem adultos obesos”, afirmou Boccolini. “Mas, além disso, a complementação alimentar dos bebês deve ser feita com comida de verdade - arroz, feijão, carne, legumes e verduras.”

Alguns obstáculos são a pouca disponibilidade das mães que precisam trabalhar e o alto preço dos alimentos mais saudáveis em comparação aos ultraprocessados.

 “O paladar das crianças na hora de descobrir o açúcar é muito aguçado, a adicção é muito rápida”, disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que lançou a campanha no Rio, na abertura das conferências. “É preciso evitar alimentos que não agregam valor nutricional, mas agregam peso. E criança tem que andar descalça, correr, pedalar. Se essas atividades forem substituídas por horas de tela, vamos pagar um preço muito alto.”

A falta de atividade física contribui para esse quadro. A OMS recomenda que crianças menores de um ano façam até 30 minutos de atividade física diariamente, como engatinhar, movimentar os braços, ficar de barriga para baixo. De um a dois anos, elas devem se movimentar pelo triplo desse tempo. A partir dos três anos, pelo menos 60 minutos devem ser de atividades físicas moderadas ou vigorosas.

“O leite materno tem menos proteína que o leite de vaca, mas é uma proteína de qualidade superior. Quando tira a o leite materno, a criança recebe um excesso de proteína que já favorece o ganho de peso”, afirmou o nutricionista Marcio Atalla, embaixador da campanha do ministério. “Além disso, tem muita criança com menos de dois anos tomando refrigerante, comendo biscoito; um excesso de caloria que ela não gasta nessa idade e que vai reverter no sobrepeso e na saúde mais para frente.”

Os dados disponíveis para as crianças ainda não estão completos. Uma pesquisa inédita está sendo conduzida pelo governo em todo o País para avaliar dados sobre amamentação, alimentação e nutrição entre menores de 5 anos.

O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) já esteve em onze Estados e continua em campo. Pela primeira vez, será feito um exame sanguíneo nas crianças para mapear doze micronutrientes como vitaminas e minerais, além da incidência de doenças como diabetes e hipertensão.

“Neste estudo estamos trazendo um componente novo que é estudar também o ambiente alimentar doméstico, entender o comportamento de toda a família”, explicou o coordenador do Enani, Gilberto Kac, do Instituto de Nutrição da UFRJ.

Alimentação das crianças

Chocolate soa como palavra mágica para o pequeno Bryan, de 4 anos. “Quero”, responde o garoto, olhos brilhando, mesmo quando não há ninguém lhe oferecendo a guloseima. “Ele adora, come qualquer um”, conta o pai, o vistoriador Pedro Reis, de 22 anos, morador da Tijuca (zona norte do Rio). “Se deixar, come todo dia, mas eu e a mãe não permitimos. É uma vez por semana mais ou menos”, conta o pai.

Reis também é pai de Derik, de 2 anos, outro apreciador de doces. “Uma vez por semana eles comem brigadeiro, biscoito waffer, iogurte”, conta Reis. Os dois meninos estão em forma. “Eles nunca tiveram problema com obesidade”, afirma.

Já Rafael, de um ano e um mês, ainda nem sabe o que é o sabor doce. “Só dou pra ele comida sem sal nem açúcar”, conta a mãe do bebê, a nutricionista Mayra Reis, de 34 anos. “Sei que não vai dar pra manter essa regra para sempre, mas meu objetivo é que, até os dois anos, ele não coma nada industrializado. No começo deu certo, mas agora ele vê os primos comendo (lanche do) McDonald’se também quer”, diz. “Mas não deixo. O máximo que ele come não feito em casa é biscoito de polvilho e algum pão.”

A nutricionista convenceu o marido a manter o filho na dieta, mas a falta de sal e açúcar gerou protestos da sogra: “Ela reclamou, disseque a comida ia ficar sem sabor nenhum. Mas eu expliquei que assim é que o Rafael sentiria o verdadeiro gosto dos alimentos. E é para o bem dele”, afirmou. “Uma hora ele vai experimentar outras comidas, mas enquanto eu puder vou controlar isso”, completou.

Preste atenção

  • Bebês. A amamentação deve ser exclusiva até os 6 meses de idade e complementar até 2 anos ou mais. A partir dos 6 meses, se houver introdução de alimentos, eles devem ser in natura ou minimamente processados
  • Bebidas. Prefira água em vez de bebidas adoçadas. Para crianças até 2 anos de idade, a recomendação é de zero açúcar na alimentação
  • Família. É importante que a criança tenha bons exemplos de alimentação em casa. Uma alimentação mais saudável também passa por criar momentos de refeição com a família, para troca de afeto
  • Dosagem. É preciso ficar atento aos sinais de fome e saciedade. Evite refeições em frente à TV ou ao celular, já que os equipamentos podem distrair a atenção em relação à comida, comprometendo a sensação de saciedade
  • Atividade. Os exercícios físicos deve ser incentivada desde os primeiros anos de vida, com atividades como engatinhar, correr, pular corda, andar de bicicleta, brincar de bambolê ou jogar futebol
  • Tempo de tela. Evite excessos na utilização do celular e substitua o tempo de tela por mais brincadeiras que movimentam o corpo

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