Relato de uma mãe de uma adolescente de 16 anos:
Cinco meses atrás, minha filha de 16 anos chegou para mim e meu marido e nos informou que é não-binária. Não sabemos ao certo o que fazer. Achamos que pode ser apenas uma “fase”. Ela e todos os seus amigos mais próximos (sete no total) estão se identificando com termos como bissexual, não-binário, trans, poliamoroso e uma série de outras palavras que fazem os pais e mães correrem para o dicionário. E gastam muita energia discutindo como suas celebridades e influenciadores favoritos se identificam em determinada entrevista ou nas redes sociais.
Não quero ofendê-la rejeitando a maneira como ela está se identificando, mas também quero que ela encontre uma expressão autêntica de si mesma – e sinto que talvez não seja o caso.
Dois meses atrás, ela começou a insistir para que nos referíssemos a ela por um novo nome, e estou tentando ao máximo me lembrar de chamá-la como ela quer. O nome que ela recebeu ao nascer era um nome bonito, do qual ela costumava se orgulhar. Agora ela reclama que eu estou “apagando seu nome” se eu a chamo pelo seu “nome de nascimento”.
Não há nenhuma tentativa dos profissionais de saúde mental ou conselheiros escolares de sequer pensar que talvez ela esteja confusa – muito pelo contrário. O conselheiro do colégio disse que as escolas não podem questionar como os alunos se identificam, por medo de ação judicial. Até mesmo o clérigo que pedi para falar com minha filha só queria ajudá-la a desenvolver algo que eles chamaram de “identidade lésbica”. Todos os profissionais nos admoestaram a nem mesmo questionar as decisões de minha filha sobre quem ela é e simplesmente aceitar o que ela nos oferece – mesmo que ela tenha insistido que era quatro coisas diferentes nos últimos meses.
Estou muito triste. Quero que ela se torne quem ela está destinada a ser, e ficaria feliz com isso. É possível que uma adolescente se identifique como algo diferente a cada mês? Quanta influência os amigos têm uns sobre os outros nesse aspecto?
Como podemos encontrar um terapeuta, conselheiro ou pastor que possa gentilmente fazer perguntas, respeitando o fato de que uma jovem de 16 anos talvez não saiba tudo?
Resposta de Meghan Leahy, mãe de três filhas e autora de Parenting Outside the Lines. Tem mestrado em aconselhamento escolar e é coach certificada de pais:
Muitos pais e mães têm dificuldades com as mudanças de gênero e sexualidade de seus filhos. Você não está sozinha. Nossa cultura fez uma grande mudança em direção à abertura e à aceitação nesse domínio, mas isso não significa que é fácil para os pais e mães entenderem as coisas como os adolescentes entendem. Lembre-se: qualquer ser humano que não se encaixe na norma cultural (heterossexual) passou a vida se escondendo ou, quando assumido, colocando em risco sua segurança emocional, física e econômica.
Nossa cultura e nossas famílias estão enfrentando essa enorme mudança, e quero deixar claro os perigos de negar, desprezar ou tentar mudar sua filha quando se trata de identidade sexual e de gênero. Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças: “Os jovens LGB correm maior risco de depressão, suicídio, uso de substâncias e comportamentos sexuais que podem colocá-los em maior risco de HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Quase um terço (29%) dos jovens LGB tentou suicídio pelo menos uma vez no ano anterior, em comparação com 6% dos jovens heterossexuais”.
Não estou exagerando quando digo que é uma questão de vida ou morte aceitar adolescentes LGBTQ+ como eles são. Então, se você começar a resvalar no medo, no questionamento e no controle, repita esta frase para si mesma: “Ao amar e aceitar totalmente minha filha, eu a estou ajudando a se amar e a se aceitar totalmente”.
No que diz respeito à sua mente adolescente, porém, você não está errada em sentir que ela está um pouco confusa. Em termos de desenvolvimento, os adolescentes estão em um momento intenso. Seus cérebros estão crescendo muito rápido, e a ciência mostra que eles são atraídos para assumir riscos, bem como para estreitar conexões com amigos. Mas isso não é de todo ruim. Estudos recentes mostraram que os adolescentes também estão interessados em assumir riscos quando isso beneficia não apenas a si mesmos, mas também seus amigos e familiares. Embora isso possa parecer estranho para muitos adultos, esse risco é um passo necessário para que eles passem da infância para a idade adulta. Os riscos podem ser extremos e perigosos? Sim, mas muitos adolescentes estão desenvolvendo um senso de raciocínio aguçado durante esse período.
O que isso tem a ver com sua filha? Bom, você pode estar partindo do pressuposto de que seu grupo de amigos está pressionando e influenciando sua sexualidade e gênero, mas e se sua filha estiver se cercando propositalmente de pessoas que a fazem se sentir segura? E se sua filha assumindo o risco de mudar de nome porque se sente segura e aceita? Você pode pensar que o grupo está causando o “problema”, mas e se o grupo de amigos for um reflexo da sua filha?
Não estou dizendo que o status não-binário de sua filha não seja vertiginoso para você, nem espero que você ache normal chamar sua filha por outro nome. Eu sei que medo, confusão, tristeza, frustração, preocupação e raiva podem vir com essas mudanças e, dependendo da maneira como você foi criada, tudo isso pode parecer ameaçador. Mas está na hora de parar de procurar um adulto que force sua filha a adotar um estilo de vida hétero. Sua filha sabe tudo sobre a vida, aos 16 anos? Claro que não – e você também não. Seu trabalho como mãe e pai não é colocá-la na linha: é amá-la completamente e aceitá-la exatamente como ela é (hoje, esta semana, ano que vem, etc.). Raramente dou conselhos explícitos em minhas colunas, mas os riscos são altos demais para nossas crianças e adolescentes LGBTQ+. Você obviamente se importa e afirma que não quer machucar sua filha, então, por favor, pare de desprezar suas decisões.
Em vez de convencer sua filha de que ela está só imitando seus amigos, faça perguntas ponderadas. “Nós não crescemos com essas identidades e queremos entender mais sobre isso. Você pode nos falar mais sobre ser não-binária, a partir do seu ponto de vista?”. Então fique quieta e ouça. Você não precisa acertar tudo nem ser perfeita; basta estar aberta. Este também é um bom momento para afirmar seus valores familiares fundamentais. Você pode dizer, por exemplo: “Na nossa família, honestidade, compaixão e estar com pessoas que nos valorizam são as coisas mais importantes. Seus amigos devem fazer isso por você. Como eles são?”. Sua filha talvez lhe deixe no vácuo – talvez não confie em você ainda – mas, se você abrir as portas para sua filha e seus amigos (comida é o melhor caminho), você provavelmente encontrará alguns adolescentes sensíveis, carinhosos e amorosos ao seu redor.
Por fim, tem muito apoio por aí, como o PFLAG, onde você pode encontrar fatos e definições, além de grupos perto de você, e o amaze.org, que fornece fatos sobre gênero e sexualidade fáceis de digerir e de acordo com a idade. Sei que largar a armadura e o medo é um passo corajoso. Será um processo que vai se desenrolar por muito tempo, mas é a diferença entre ter um relacionamento amoroso com sua filha e não ter. Obtenha a ajuda de que você precisa. Toda a sua família merece. Boa sorte. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU