BRASÍLIA - O secretário nacional de Vigilância Sanitária, Arnaldo Medeiros, disse nesta quinta-feira, 3, que o Ministério da Saúde mantém interesse em comprar diferentes vacinas para a covid-19, mas vinculou qualquer aquisição ao registro do produto pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Estamos abertos a adquirir vacinas que sejam seguras, eficazes e com registro na Anvisa", afirmou Medeiros durante entrevista à imprensa.
O secretário repetiu esse argumento ao ser questionado sobre a compra de modelos específicos, como da Pfizer e a Coronavac, vacina que está sendo desenvolvida pela chinesa Sinovac e o Instituto Butantã. Medeiros não mencionou interesse do governo em ofertar uma vacina de forma emergencial, a um público restrito, como de idosos ou profissionais de saúde. A medida é permitida mesmo antes do registro definitivo do imunizante no Brasil, conforme novas regras divulgadas na quarta-feira, 3, pela Anvisa.
O Estadão enviou uma pergunta ao ministério sobre a possibilidade de a pasta firmar parcerias com laboratórios para este uso emergencial, mas a assessoria de imprensa do órgão não quis ler o questionamento ao secretário. Perguntado sobre a possibilidade de Estados definirem regras próprias para o uso emergencial, Medeiros disse apenas que a atribuição é do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
O governo Jair Bolsonaro aposta na vacina de Oxford. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), laboratório vinculado ao Ministério da Saúde, trabalha para incorporar a tecnologia e produzir as próprias doses desse imunizante. Além disso, a pasta espera receber doses para 10% da população brasileira por meio da Covax Facility, um consórcio internacional liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A compra de vacinas contra a covid-19 tornou-se motivo de briga política entre Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Por represália ao adversário tucano, Bolsonaro mandou a Saúde recuar, em outubro, da compra de doses da Coronavac.
Mesmo antes de apresentar os dados da última fase da pesquisa clínica à Anvisa, Doria prometeu nesta quinta-feira, 3, começar a aplicar a Coronavac em janeiro. Para chegar ao SUS de forma definitiva, porém, a vacina terá de ser registrada pela Anvisa, que tem até 60 dias para a análise, além de ser precificada e, depois, inserida no SUS pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS). A agência não deu prazo para análises de pedido de uso emergencial, que poderia agilizar a aplicação da Coronavac, mas a expectativa é que sejam mais céleres.
Segundo apurou o Estadão, a postura reticente do ministério sobre a compra de vacinas se agravou após a ordem de Bolsonaro para bloquear a compra da vacina desenvolvida pelo Butantã. Tutelado pelo Palácio do Planalto, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, já disse a auxiliares que, para evitar novo "fato político", só voltará a tratar da aquisição dessa vacina após o imunizante receber o registro da Anvisa.
Além disso, Pazuello manifestou publicamente que propostas de outras fabricantes de vacinas não agradaram o ministério. Em audiência no Congresso Nacional, na quarta-feira, 2, ele chamou de "pífios" os números de doses oferecidas por alguns laboratórios, sem citar nomes. Segundo apurou o Estadão, o ministro disse a auxiliares, em tom irônico, que propostas como a da Pfizer não serviriam para "vacinar Brasília", que tem cerca de 3 milhões de habitantes.
A Pfizer prometeu vacinar "alguns milhões de brasileiros" no primeiro semestre, em nota divulgada em 18 de novembro, mas não detalhou quantas doses conseguria entregar, caso firmasse compra com o governo federal.
O ministério também tem sinalizado que as temperaturas de armazenamento de vacinas da Pfizer e da Moderna, -70 e -20 graus, respectivamente, são barreiras para a compra destes imunizantes. O secretário Medeiros disse que o ministério tem investido na modernização da "rede de frios" dos cerca de 40 mil postos de vacinação do SUS. Diferentemente do discurso feito na terça-feira, 1, Medeiros não citou que a "vacina ideal" procurada pelo ministério tem de ser armazenada entre 2 a 8 graus.
A Pfizer afirma que tem um "plano logístico" para apoiar o transporte e armazenamento das doses ao Sistema Único de Saúde (SUS), caso o ministério feche contrato com a companhia. "Para isso, foi desenvolvida uma espécie de container (embalagem em formato de caixa) com temperatura controlada, que utiliza gelo seco para manter a condição de armazenamento recomendada, de - 75 °C, por até 15 dias", diz a empresa em nota divulgada no começo do mês.
Vacinação no Brasil
Idosos com 75 anos ou mais, profissionais de saúde e indígenas serão os primeiros a ser vacinados contra a covid-19 no País, segundo cronograma apresentado na terça-feira, 1º, pelo Ministério da Saúde, em reunião com um comitê de especialistas.
No encontro, a pasta informou ainda que a perspectiva é começar a vacinação contra a doença em março de 2021 e finalizar a campanha somente em dezembro, quando há previsão de oferta de doses suficientes para imunizar a população-alvo. Não há previsão de vacinar toda a população no ano que vem, de acordo com a apresentação feita pelo ministério.
Em entrevista à imprensa nesta quinta-feira, o secretário de Vigilância Sanitária afirmou que as primeiras 15 milhões de doses da vacina de Oxford, previstas para chegar ao Brasil no começo de 2021, devem atender ao grupo prioritário da primeira fase de vacinação no País.
Medeiros também afirmou que crianças não foram inseridas no plano nacional de vacinação pela falta de dados em estudos de desenvolvimento de vacinas sobre a imunização nessa faixa etária.
Aumento de contaminação
Medeiros reconheceu que há um "recrudescimento" da pandemia no Brasil nas últimas semanas. Ele citou preocupação sobre o aumento de casos na região Sul. O secretário, porém, disse que não vê "variação muito significativa" no número de óbitos. Ele recomendou manter cuidados como de distanciamento social, uso de máscara e higienização das mãos.