Minoxidil e calvície: esse remédio realmente combate a queda de cabelo? Especialistas avaliam


Medicamento originalmente indicado para hipertensão tem, como efeito colateral, o crescimento de cabelo; mas uso oral da substância com essa finalidade divide os médicos

Por Victória Ribeiro
Atualização:

Medicamento desenvolvido na década de 1970 para tratar a hipertensão arterial, o minoxidil ganhou popularidade rapidamente devido ao seu principal efeito colateral: a hipertricose. Segundo Nathan Soubihe Jr., cardiologista do Hospital do Coração (Hcor), em São Paulo, trata-se do crescimento excessivo de pelos no corpo. Ele afirma que 15% dos pacientes que utilizam minoxidil apresentam esse sintoma. Não demorou, então, para o remédio ser considerado também um aliado contra a alopecia androgenética (AAG), popularmente conhecida como calvície.

Mas, enquanto a aplicação tópica – em formato de loções, por exemplo – é considerada uma opção eficaz e isenta de riscos no tratamento da alopecia, o uso do medicamento de forma oral está no centro de uma polêmica, já que nem todos os médicos acham essa alternativa segura. Isso porque o minoxidil poderia causar efeitos colaterais que vão além do crescimento dos fios.

O minoxidil, um remédio para hipertensão, ficou popular entre pessoas que apresentam calvície. Mas não há consenso médico sobre forma de uso. Foto: andranik123/Adobe Stock
continua após a publicidade

A medicação é segura ou não?

Geralmente, o uso do minoxidil é considerado seguro. Mas existe a possibilidade de o paciente encarar efeitos colaterais negativos. E é justamente por isso que o uso oral tem provocado debate acalorado no que diz respeito ao tratamento da calvície.

A Sociedade Brasileira de Tricologia (SBTri), que reúne especialistas focados em lidar com doenças relacionadas ao cabelo e couro cabeludo, contraindica qualquer forma de uso do minoxidil oral para tratar a calvície – inclusive, divulgou um comunicado oficial sobre isso em setembro de 2023.

continua após a publicidade

Por outro lado, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) defende que o uso do medicamento oral pode ser considerado entre alguns pacientes com alopecia. A entidade ressalta que “seu uso criterioso, isolado ou associado a outras abordagens, ocorre por indicação médica”, em nota publicada em outubro do ano passado.

Quais os possíveis efeitos colaterais do minoxidil?

continua após a publicidade

O cardiologista Soubihe Jr., do Hcor, reforça que o principal efeito colateral é mesmo o crescimento dos fios. Quanto a sintomas como tontura, edema ou taquicardia, ele diz que a frequência fica em torno de 1,7%, 1,3% e menos de 1%, respectivamente. “Casos de pericardite [inflamação de membrana que envolve e protege o coração], um quadro mais severo, são extremamente raros”, adiciona o especialista.

A dermatologista Fabiane Brenner, membro da diretoria da SBD, destaca que, para garantir resultados seguros com o medicamento oral, o ideal é recorrer a doses mínimas, variando de 0,5 a 5 miligramas – para ter ideia, em tratamentos contra a hipertensão, a dose chega a cerca de 20 miligramas, de acordo com a especialista.

Ela reconhece que há possíveis efeitos colaterais, mas conta que, de acordo com sua experiência, são pouco frequentes. Entre eles, a médica menciona pressão baixa, aumento de pelos no corpo (não só no couro cabeludo) e inchaço da face e dos membros inferiores, especialmente nos primeiros três meses de tratamento.

continua após a publicidade

Por outro lado, profissionais como o médico tricologista Luciano Barsanti, presidente da SBTri, defendem o uso tópico, mas demonstram forte resistência em relação à medicação oral. Barsanti, que também é diretor do Instituto do Cabelo, relata não ter observado resultados eficazes em pacientes submetidos ao tratamento oral, além de constatar que a maioria apresenta graves efeitos colaterais. “Pacientes relatam desmaios, zumbidos no ouvido, alterações no eletrocardiograma e, principalmente, taquicardia”, afirma.

Em meio a essas divergências, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu uma nota afirmando que o minoxidil oral não está registrado no Brasil para uso contra a alopecia e, por isso, não é recomendado para essa finalidade.

Minoxidil em formato de comprimido, para ser ingerido via oral, divide a opinião de especialistas. Para alguns médicos, os riscos não compensam os eventuais benefícios. Foto: luchschenF/Adobe Stock
continua após a publicidade

O medicamento pode reverter a doença por completo?

Não, apesar da eficácia do minoxidil no tratamento para alopecia androgenética, o medicamento não é uma cura definitiva para a doença. Segundo a dermatologista Leila Bloch, membro efetivo da SBD, o minoxidil desempenha um papel indireto ao prolongar o ciclo de crescimento do cabelo, o que pode retardar a progressão da calvície. No entanto, não reverte completamente a condição, especialmente em áreas onde o comprometimento é antigo.

Além disso, ela frisa a necessidade de ajustar as expectativas em relação ao tratamento. Embora o minoxidil possa oferecer melhorias visíveis, o uso precisa ser progressivo, alinhado a uma rotina de cuidados. “É uma medicação com efeito ‘cinderela’. Se o tratamento é interrompido, há grandes chances da retomada da queda de cabelo ao padrão anterior”, diz Leila.

continua após a publicidade

Em quanto tempo os efeitos podem ser percebidos?

O tratamento da alopecia é uma jornada que demanda paciência e um acompanhamento cuidadoso. É o que afirma Francisco Le Voci, professor titular da pós-graduação em Dermatologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica. De acordo com ele, pode levar cerca de três meses para que os pacientes comecem a notar melhorias significativas depois do início do tratamento com minoxidil.

Entretanto, é importante ressaltar que os resultados podem variar de pessoa para pessoa, e é comum que haja uma oscilação inicial. Inclusive, há a possibilidade até de ocorrer uma aparente piora nos primeiros dias ou semanas de tratamento.

Para garantir a eficácia do tratamento, a abordagem do especialista inclui o início com doses baixas, ajustadas de acordo com a resposta do paciente ao longo do tempo. “Esse acompanhamento próximo permite uma avaliação contínua da progressão da alopecia e a possibilidade de aumentar a dose conforme necessário”, diz Le Voci.

Além disso, o especialista afirma que o tratamento raramente se resume apenas ao uso de um medicamento, como o minoxidil. Em muitos casos, de acordo com ele, é necessário combinar diferentes abordagens terapêuticas, incluindo outros tratamentos tópicos e sistêmicos.

Quem não deve usar o minoxidil?

Com relação ao uso tópico, a especialista Leila Bloch afirma que a contraindicação diz respeito a pessoas com hipersensibilidade a qualquer componente da fórmula. Embora a alergia ao próprio minoxidil seja rara, é mais comum a sensibilidade ao veículo da loção, como propilenoglicol e álcool. “Esses indivíduos podem apresentar irritação no couro cabeludo, manifestada por descamação”, descreve Leila.

Quando se trata do minoxidil oral, o uso deve ser evitado por indivíduos com histórico cardíaco, como cardiopatas. Segundo a especialista, esse medicamento, geralmente adquirido por meio de manipulação, tem o potencial de interagir com outros vasodilatadores, resultando em uma redução da pressão arterial e aumentando o risco de insuficiência cardíaca, especialmente em pessoas com predisposição.

Outro grupo que precisa ser cauteloso é o de pessoas com problemas hepáticos pré-existentes, pois o minoxidil oral pode passar pelo fígado, exacerbando ainda mais complicações no órgão.

Além disso, Luciano Barsanti, presidente da SBTri, afirma que gestantes e indivíduos com feridas e lesões na cabeça não devem apostar no medicamento.

O especialista aproveita para ressaltar a importância de ter um diagnóstico médico para realizar o tratamento. “Hoje em dia, muitas pessoas descobrem o minoxidil por meio de redes sociais e influencers. Aí, pedem para manipular, sem qualquer orientação. Esse é um risco muito grande”, afirma Barsanti.

Como o medicamento age?

Apesar de estudos analisarem a ação do minoxidil no tratamento de calvície desde os anos 1980, ainda não está claro como o medicamento promove o crescimento capilar.

Inicialmente, pesquisadores suspeitaram que tinha a ver com a vasodilatação provocada pelo medicamento. Isso porque, ao aumentar o fluxo sanguíneo no couro cabeludo, os folículos capilares receberiam mais nutrientes, facilitando o crescimento capilar.

No entanto, estudos recentes sugerem que o minoxidil exerce uma ação direta nos folículos, indicando que a vasodilatação pode não ser o fator crucial para seu efeito de crescimento de fios.

“Apesar de ser um vasodilatador, o mecanismo direto de ação nos folículos contribui para a modificação da fase de crescimento. Isso resulta em um prolongamento do ciclo capilar, além de estimular o crescimento de novos fios, melhorando a densidade do couro cabeludo”, explica Fabiane, da SBD.

Outro efeito da droga no couro cabeludo é o prolongamento da fase ativa do folículo capilar. Com a idade, a fase de crescimento do cabelo fica mais curta. O uso do minoxidil prolongaria, então, o período no qual o folículo está ativo.

Medicamento desenvolvido na década de 1970 para tratar a hipertensão arterial, o minoxidil ganhou popularidade rapidamente devido ao seu principal efeito colateral: a hipertricose. Segundo Nathan Soubihe Jr., cardiologista do Hospital do Coração (Hcor), em São Paulo, trata-se do crescimento excessivo de pelos no corpo. Ele afirma que 15% dos pacientes que utilizam minoxidil apresentam esse sintoma. Não demorou, então, para o remédio ser considerado também um aliado contra a alopecia androgenética (AAG), popularmente conhecida como calvície.

Mas, enquanto a aplicação tópica – em formato de loções, por exemplo – é considerada uma opção eficaz e isenta de riscos no tratamento da alopecia, o uso do medicamento de forma oral está no centro de uma polêmica, já que nem todos os médicos acham essa alternativa segura. Isso porque o minoxidil poderia causar efeitos colaterais que vão além do crescimento dos fios.

O minoxidil, um remédio para hipertensão, ficou popular entre pessoas que apresentam calvície. Mas não há consenso médico sobre forma de uso. Foto: andranik123/Adobe Stock

A medicação é segura ou não?

Geralmente, o uso do minoxidil é considerado seguro. Mas existe a possibilidade de o paciente encarar efeitos colaterais negativos. E é justamente por isso que o uso oral tem provocado debate acalorado no que diz respeito ao tratamento da calvície.

A Sociedade Brasileira de Tricologia (SBTri), que reúne especialistas focados em lidar com doenças relacionadas ao cabelo e couro cabeludo, contraindica qualquer forma de uso do minoxidil oral para tratar a calvície – inclusive, divulgou um comunicado oficial sobre isso em setembro de 2023.

Por outro lado, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) defende que o uso do medicamento oral pode ser considerado entre alguns pacientes com alopecia. A entidade ressalta que “seu uso criterioso, isolado ou associado a outras abordagens, ocorre por indicação médica”, em nota publicada em outubro do ano passado.

Quais os possíveis efeitos colaterais do minoxidil?

O cardiologista Soubihe Jr., do Hcor, reforça que o principal efeito colateral é mesmo o crescimento dos fios. Quanto a sintomas como tontura, edema ou taquicardia, ele diz que a frequência fica em torno de 1,7%, 1,3% e menos de 1%, respectivamente. “Casos de pericardite [inflamação de membrana que envolve e protege o coração], um quadro mais severo, são extremamente raros”, adiciona o especialista.

A dermatologista Fabiane Brenner, membro da diretoria da SBD, destaca que, para garantir resultados seguros com o medicamento oral, o ideal é recorrer a doses mínimas, variando de 0,5 a 5 miligramas – para ter ideia, em tratamentos contra a hipertensão, a dose chega a cerca de 20 miligramas, de acordo com a especialista.

Ela reconhece que há possíveis efeitos colaterais, mas conta que, de acordo com sua experiência, são pouco frequentes. Entre eles, a médica menciona pressão baixa, aumento de pelos no corpo (não só no couro cabeludo) e inchaço da face e dos membros inferiores, especialmente nos primeiros três meses de tratamento.

Por outro lado, profissionais como o médico tricologista Luciano Barsanti, presidente da SBTri, defendem o uso tópico, mas demonstram forte resistência em relação à medicação oral. Barsanti, que também é diretor do Instituto do Cabelo, relata não ter observado resultados eficazes em pacientes submetidos ao tratamento oral, além de constatar que a maioria apresenta graves efeitos colaterais. “Pacientes relatam desmaios, zumbidos no ouvido, alterações no eletrocardiograma e, principalmente, taquicardia”, afirma.

Em meio a essas divergências, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu uma nota afirmando que o minoxidil oral não está registrado no Brasil para uso contra a alopecia e, por isso, não é recomendado para essa finalidade.

Minoxidil em formato de comprimido, para ser ingerido via oral, divide a opinião de especialistas. Para alguns médicos, os riscos não compensam os eventuais benefícios. Foto: luchschenF/Adobe Stock

O medicamento pode reverter a doença por completo?

Não, apesar da eficácia do minoxidil no tratamento para alopecia androgenética, o medicamento não é uma cura definitiva para a doença. Segundo a dermatologista Leila Bloch, membro efetivo da SBD, o minoxidil desempenha um papel indireto ao prolongar o ciclo de crescimento do cabelo, o que pode retardar a progressão da calvície. No entanto, não reverte completamente a condição, especialmente em áreas onde o comprometimento é antigo.

Além disso, ela frisa a necessidade de ajustar as expectativas em relação ao tratamento. Embora o minoxidil possa oferecer melhorias visíveis, o uso precisa ser progressivo, alinhado a uma rotina de cuidados. “É uma medicação com efeito ‘cinderela’. Se o tratamento é interrompido, há grandes chances da retomada da queda de cabelo ao padrão anterior”, diz Leila.

Em quanto tempo os efeitos podem ser percebidos?

O tratamento da alopecia é uma jornada que demanda paciência e um acompanhamento cuidadoso. É o que afirma Francisco Le Voci, professor titular da pós-graduação em Dermatologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica. De acordo com ele, pode levar cerca de três meses para que os pacientes comecem a notar melhorias significativas depois do início do tratamento com minoxidil.

Entretanto, é importante ressaltar que os resultados podem variar de pessoa para pessoa, e é comum que haja uma oscilação inicial. Inclusive, há a possibilidade até de ocorrer uma aparente piora nos primeiros dias ou semanas de tratamento.

Para garantir a eficácia do tratamento, a abordagem do especialista inclui o início com doses baixas, ajustadas de acordo com a resposta do paciente ao longo do tempo. “Esse acompanhamento próximo permite uma avaliação contínua da progressão da alopecia e a possibilidade de aumentar a dose conforme necessário”, diz Le Voci.

Além disso, o especialista afirma que o tratamento raramente se resume apenas ao uso de um medicamento, como o minoxidil. Em muitos casos, de acordo com ele, é necessário combinar diferentes abordagens terapêuticas, incluindo outros tratamentos tópicos e sistêmicos.

Quem não deve usar o minoxidil?

Com relação ao uso tópico, a especialista Leila Bloch afirma que a contraindicação diz respeito a pessoas com hipersensibilidade a qualquer componente da fórmula. Embora a alergia ao próprio minoxidil seja rara, é mais comum a sensibilidade ao veículo da loção, como propilenoglicol e álcool. “Esses indivíduos podem apresentar irritação no couro cabeludo, manifestada por descamação”, descreve Leila.

Quando se trata do minoxidil oral, o uso deve ser evitado por indivíduos com histórico cardíaco, como cardiopatas. Segundo a especialista, esse medicamento, geralmente adquirido por meio de manipulação, tem o potencial de interagir com outros vasodilatadores, resultando em uma redução da pressão arterial e aumentando o risco de insuficiência cardíaca, especialmente em pessoas com predisposição.

Outro grupo que precisa ser cauteloso é o de pessoas com problemas hepáticos pré-existentes, pois o minoxidil oral pode passar pelo fígado, exacerbando ainda mais complicações no órgão.

Além disso, Luciano Barsanti, presidente da SBTri, afirma que gestantes e indivíduos com feridas e lesões na cabeça não devem apostar no medicamento.

O especialista aproveita para ressaltar a importância de ter um diagnóstico médico para realizar o tratamento. “Hoje em dia, muitas pessoas descobrem o minoxidil por meio de redes sociais e influencers. Aí, pedem para manipular, sem qualquer orientação. Esse é um risco muito grande”, afirma Barsanti.

Como o medicamento age?

Apesar de estudos analisarem a ação do minoxidil no tratamento de calvície desde os anos 1980, ainda não está claro como o medicamento promove o crescimento capilar.

Inicialmente, pesquisadores suspeitaram que tinha a ver com a vasodilatação provocada pelo medicamento. Isso porque, ao aumentar o fluxo sanguíneo no couro cabeludo, os folículos capilares receberiam mais nutrientes, facilitando o crescimento capilar.

No entanto, estudos recentes sugerem que o minoxidil exerce uma ação direta nos folículos, indicando que a vasodilatação pode não ser o fator crucial para seu efeito de crescimento de fios.

“Apesar de ser um vasodilatador, o mecanismo direto de ação nos folículos contribui para a modificação da fase de crescimento. Isso resulta em um prolongamento do ciclo capilar, além de estimular o crescimento de novos fios, melhorando a densidade do couro cabeludo”, explica Fabiane, da SBD.

Outro efeito da droga no couro cabeludo é o prolongamento da fase ativa do folículo capilar. Com a idade, a fase de crescimento do cabelo fica mais curta. O uso do minoxidil prolongaria, então, o período no qual o folículo está ativo.

Medicamento desenvolvido na década de 1970 para tratar a hipertensão arterial, o minoxidil ganhou popularidade rapidamente devido ao seu principal efeito colateral: a hipertricose. Segundo Nathan Soubihe Jr., cardiologista do Hospital do Coração (Hcor), em São Paulo, trata-se do crescimento excessivo de pelos no corpo. Ele afirma que 15% dos pacientes que utilizam minoxidil apresentam esse sintoma. Não demorou, então, para o remédio ser considerado também um aliado contra a alopecia androgenética (AAG), popularmente conhecida como calvície.

Mas, enquanto a aplicação tópica – em formato de loções, por exemplo – é considerada uma opção eficaz e isenta de riscos no tratamento da alopecia, o uso do medicamento de forma oral está no centro de uma polêmica, já que nem todos os médicos acham essa alternativa segura. Isso porque o minoxidil poderia causar efeitos colaterais que vão além do crescimento dos fios.

O minoxidil, um remédio para hipertensão, ficou popular entre pessoas que apresentam calvície. Mas não há consenso médico sobre forma de uso. Foto: andranik123/Adobe Stock

A medicação é segura ou não?

Geralmente, o uso do minoxidil é considerado seguro. Mas existe a possibilidade de o paciente encarar efeitos colaterais negativos. E é justamente por isso que o uso oral tem provocado debate acalorado no que diz respeito ao tratamento da calvície.

A Sociedade Brasileira de Tricologia (SBTri), que reúne especialistas focados em lidar com doenças relacionadas ao cabelo e couro cabeludo, contraindica qualquer forma de uso do minoxidil oral para tratar a calvície – inclusive, divulgou um comunicado oficial sobre isso em setembro de 2023.

Por outro lado, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) defende que o uso do medicamento oral pode ser considerado entre alguns pacientes com alopecia. A entidade ressalta que “seu uso criterioso, isolado ou associado a outras abordagens, ocorre por indicação médica”, em nota publicada em outubro do ano passado.

Quais os possíveis efeitos colaterais do minoxidil?

O cardiologista Soubihe Jr., do Hcor, reforça que o principal efeito colateral é mesmo o crescimento dos fios. Quanto a sintomas como tontura, edema ou taquicardia, ele diz que a frequência fica em torno de 1,7%, 1,3% e menos de 1%, respectivamente. “Casos de pericardite [inflamação de membrana que envolve e protege o coração], um quadro mais severo, são extremamente raros”, adiciona o especialista.

A dermatologista Fabiane Brenner, membro da diretoria da SBD, destaca que, para garantir resultados seguros com o medicamento oral, o ideal é recorrer a doses mínimas, variando de 0,5 a 5 miligramas – para ter ideia, em tratamentos contra a hipertensão, a dose chega a cerca de 20 miligramas, de acordo com a especialista.

Ela reconhece que há possíveis efeitos colaterais, mas conta que, de acordo com sua experiência, são pouco frequentes. Entre eles, a médica menciona pressão baixa, aumento de pelos no corpo (não só no couro cabeludo) e inchaço da face e dos membros inferiores, especialmente nos primeiros três meses de tratamento.

Por outro lado, profissionais como o médico tricologista Luciano Barsanti, presidente da SBTri, defendem o uso tópico, mas demonstram forte resistência em relação à medicação oral. Barsanti, que também é diretor do Instituto do Cabelo, relata não ter observado resultados eficazes em pacientes submetidos ao tratamento oral, além de constatar que a maioria apresenta graves efeitos colaterais. “Pacientes relatam desmaios, zumbidos no ouvido, alterações no eletrocardiograma e, principalmente, taquicardia”, afirma.

Em meio a essas divergências, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu uma nota afirmando que o minoxidil oral não está registrado no Brasil para uso contra a alopecia e, por isso, não é recomendado para essa finalidade.

Minoxidil em formato de comprimido, para ser ingerido via oral, divide a opinião de especialistas. Para alguns médicos, os riscos não compensam os eventuais benefícios. Foto: luchschenF/Adobe Stock

O medicamento pode reverter a doença por completo?

Não, apesar da eficácia do minoxidil no tratamento para alopecia androgenética, o medicamento não é uma cura definitiva para a doença. Segundo a dermatologista Leila Bloch, membro efetivo da SBD, o minoxidil desempenha um papel indireto ao prolongar o ciclo de crescimento do cabelo, o que pode retardar a progressão da calvície. No entanto, não reverte completamente a condição, especialmente em áreas onde o comprometimento é antigo.

Além disso, ela frisa a necessidade de ajustar as expectativas em relação ao tratamento. Embora o minoxidil possa oferecer melhorias visíveis, o uso precisa ser progressivo, alinhado a uma rotina de cuidados. “É uma medicação com efeito ‘cinderela’. Se o tratamento é interrompido, há grandes chances da retomada da queda de cabelo ao padrão anterior”, diz Leila.

Em quanto tempo os efeitos podem ser percebidos?

O tratamento da alopecia é uma jornada que demanda paciência e um acompanhamento cuidadoso. É o que afirma Francisco Le Voci, professor titular da pós-graduação em Dermatologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica. De acordo com ele, pode levar cerca de três meses para que os pacientes comecem a notar melhorias significativas depois do início do tratamento com minoxidil.

Entretanto, é importante ressaltar que os resultados podem variar de pessoa para pessoa, e é comum que haja uma oscilação inicial. Inclusive, há a possibilidade até de ocorrer uma aparente piora nos primeiros dias ou semanas de tratamento.

Para garantir a eficácia do tratamento, a abordagem do especialista inclui o início com doses baixas, ajustadas de acordo com a resposta do paciente ao longo do tempo. “Esse acompanhamento próximo permite uma avaliação contínua da progressão da alopecia e a possibilidade de aumentar a dose conforme necessário”, diz Le Voci.

Além disso, o especialista afirma que o tratamento raramente se resume apenas ao uso de um medicamento, como o minoxidil. Em muitos casos, de acordo com ele, é necessário combinar diferentes abordagens terapêuticas, incluindo outros tratamentos tópicos e sistêmicos.

Quem não deve usar o minoxidil?

Com relação ao uso tópico, a especialista Leila Bloch afirma que a contraindicação diz respeito a pessoas com hipersensibilidade a qualquer componente da fórmula. Embora a alergia ao próprio minoxidil seja rara, é mais comum a sensibilidade ao veículo da loção, como propilenoglicol e álcool. “Esses indivíduos podem apresentar irritação no couro cabeludo, manifestada por descamação”, descreve Leila.

Quando se trata do minoxidil oral, o uso deve ser evitado por indivíduos com histórico cardíaco, como cardiopatas. Segundo a especialista, esse medicamento, geralmente adquirido por meio de manipulação, tem o potencial de interagir com outros vasodilatadores, resultando em uma redução da pressão arterial e aumentando o risco de insuficiência cardíaca, especialmente em pessoas com predisposição.

Outro grupo que precisa ser cauteloso é o de pessoas com problemas hepáticos pré-existentes, pois o minoxidil oral pode passar pelo fígado, exacerbando ainda mais complicações no órgão.

Além disso, Luciano Barsanti, presidente da SBTri, afirma que gestantes e indivíduos com feridas e lesões na cabeça não devem apostar no medicamento.

O especialista aproveita para ressaltar a importância de ter um diagnóstico médico para realizar o tratamento. “Hoje em dia, muitas pessoas descobrem o minoxidil por meio de redes sociais e influencers. Aí, pedem para manipular, sem qualquer orientação. Esse é um risco muito grande”, afirma Barsanti.

Como o medicamento age?

Apesar de estudos analisarem a ação do minoxidil no tratamento de calvície desde os anos 1980, ainda não está claro como o medicamento promove o crescimento capilar.

Inicialmente, pesquisadores suspeitaram que tinha a ver com a vasodilatação provocada pelo medicamento. Isso porque, ao aumentar o fluxo sanguíneo no couro cabeludo, os folículos capilares receberiam mais nutrientes, facilitando o crescimento capilar.

No entanto, estudos recentes sugerem que o minoxidil exerce uma ação direta nos folículos, indicando que a vasodilatação pode não ser o fator crucial para seu efeito de crescimento de fios.

“Apesar de ser um vasodilatador, o mecanismo direto de ação nos folículos contribui para a modificação da fase de crescimento. Isso resulta em um prolongamento do ciclo capilar, além de estimular o crescimento de novos fios, melhorando a densidade do couro cabeludo”, explica Fabiane, da SBD.

Outro efeito da droga no couro cabeludo é o prolongamento da fase ativa do folículo capilar. Com a idade, a fase de crescimento do cabelo fica mais curta. O uso do minoxidil prolongaria, então, o período no qual o folículo está ativo.

Medicamento desenvolvido na década de 1970 para tratar a hipertensão arterial, o minoxidil ganhou popularidade rapidamente devido ao seu principal efeito colateral: a hipertricose. Segundo Nathan Soubihe Jr., cardiologista do Hospital do Coração (Hcor), em São Paulo, trata-se do crescimento excessivo de pelos no corpo. Ele afirma que 15% dos pacientes que utilizam minoxidil apresentam esse sintoma. Não demorou, então, para o remédio ser considerado também um aliado contra a alopecia androgenética (AAG), popularmente conhecida como calvície.

Mas, enquanto a aplicação tópica – em formato de loções, por exemplo – é considerada uma opção eficaz e isenta de riscos no tratamento da alopecia, o uso do medicamento de forma oral está no centro de uma polêmica, já que nem todos os médicos acham essa alternativa segura. Isso porque o minoxidil poderia causar efeitos colaterais que vão além do crescimento dos fios.

O minoxidil, um remédio para hipertensão, ficou popular entre pessoas que apresentam calvície. Mas não há consenso médico sobre forma de uso. Foto: andranik123/Adobe Stock

A medicação é segura ou não?

Geralmente, o uso do minoxidil é considerado seguro. Mas existe a possibilidade de o paciente encarar efeitos colaterais negativos. E é justamente por isso que o uso oral tem provocado debate acalorado no que diz respeito ao tratamento da calvície.

A Sociedade Brasileira de Tricologia (SBTri), que reúne especialistas focados em lidar com doenças relacionadas ao cabelo e couro cabeludo, contraindica qualquer forma de uso do minoxidil oral para tratar a calvície – inclusive, divulgou um comunicado oficial sobre isso em setembro de 2023.

Por outro lado, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) defende que o uso do medicamento oral pode ser considerado entre alguns pacientes com alopecia. A entidade ressalta que “seu uso criterioso, isolado ou associado a outras abordagens, ocorre por indicação médica”, em nota publicada em outubro do ano passado.

Quais os possíveis efeitos colaterais do minoxidil?

O cardiologista Soubihe Jr., do Hcor, reforça que o principal efeito colateral é mesmo o crescimento dos fios. Quanto a sintomas como tontura, edema ou taquicardia, ele diz que a frequência fica em torno de 1,7%, 1,3% e menos de 1%, respectivamente. “Casos de pericardite [inflamação de membrana que envolve e protege o coração], um quadro mais severo, são extremamente raros”, adiciona o especialista.

A dermatologista Fabiane Brenner, membro da diretoria da SBD, destaca que, para garantir resultados seguros com o medicamento oral, o ideal é recorrer a doses mínimas, variando de 0,5 a 5 miligramas – para ter ideia, em tratamentos contra a hipertensão, a dose chega a cerca de 20 miligramas, de acordo com a especialista.

Ela reconhece que há possíveis efeitos colaterais, mas conta que, de acordo com sua experiência, são pouco frequentes. Entre eles, a médica menciona pressão baixa, aumento de pelos no corpo (não só no couro cabeludo) e inchaço da face e dos membros inferiores, especialmente nos primeiros três meses de tratamento.

Por outro lado, profissionais como o médico tricologista Luciano Barsanti, presidente da SBTri, defendem o uso tópico, mas demonstram forte resistência em relação à medicação oral. Barsanti, que também é diretor do Instituto do Cabelo, relata não ter observado resultados eficazes em pacientes submetidos ao tratamento oral, além de constatar que a maioria apresenta graves efeitos colaterais. “Pacientes relatam desmaios, zumbidos no ouvido, alterações no eletrocardiograma e, principalmente, taquicardia”, afirma.

Em meio a essas divergências, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu uma nota afirmando que o minoxidil oral não está registrado no Brasil para uso contra a alopecia e, por isso, não é recomendado para essa finalidade.

Minoxidil em formato de comprimido, para ser ingerido via oral, divide a opinião de especialistas. Para alguns médicos, os riscos não compensam os eventuais benefícios. Foto: luchschenF/Adobe Stock

O medicamento pode reverter a doença por completo?

Não, apesar da eficácia do minoxidil no tratamento para alopecia androgenética, o medicamento não é uma cura definitiva para a doença. Segundo a dermatologista Leila Bloch, membro efetivo da SBD, o minoxidil desempenha um papel indireto ao prolongar o ciclo de crescimento do cabelo, o que pode retardar a progressão da calvície. No entanto, não reverte completamente a condição, especialmente em áreas onde o comprometimento é antigo.

Além disso, ela frisa a necessidade de ajustar as expectativas em relação ao tratamento. Embora o minoxidil possa oferecer melhorias visíveis, o uso precisa ser progressivo, alinhado a uma rotina de cuidados. “É uma medicação com efeito ‘cinderela’. Se o tratamento é interrompido, há grandes chances da retomada da queda de cabelo ao padrão anterior”, diz Leila.

Em quanto tempo os efeitos podem ser percebidos?

O tratamento da alopecia é uma jornada que demanda paciência e um acompanhamento cuidadoso. É o que afirma Francisco Le Voci, professor titular da pós-graduação em Dermatologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica. De acordo com ele, pode levar cerca de três meses para que os pacientes comecem a notar melhorias significativas depois do início do tratamento com minoxidil.

Entretanto, é importante ressaltar que os resultados podem variar de pessoa para pessoa, e é comum que haja uma oscilação inicial. Inclusive, há a possibilidade até de ocorrer uma aparente piora nos primeiros dias ou semanas de tratamento.

Para garantir a eficácia do tratamento, a abordagem do especialista inclui o início com doses baixas, ajustadas de acordo com a resposta do paciente ao longo do tempo. “Esse acompanhamento próximo permite uma avaliação contínua da progressão da alopecia e a possibilidade de aumentar a dose conforme necessário”, diz Le Voci.

Além disso, o especialista afirma que o tratamento raramente se resume apenas ao uso de um medicamento, como o minoxidil. Em muitos casos, de acordo com ele, é necessário combinar diferentes abordagens terapêuticas, incluindo outros tratamentos tópicos e sistêmicos.

Quem não deve usar o minoxidil?

Com relação ao uso tópico, a especialista Leila Bloch afirma que a contraindicação diz respeito a pessoas com hipersensibilidade a qualquer componente da fórmula. Embora a alergia ao próprio minoxidil seja rara, é mais comum a sensibilidade ao veículo da loção, como propilenoglicol e álcool. “Esses indivíduos podem apresentar irritação no couro cabeludo, manifestada por descamação”, descreve Leila.

Quando se trata do minoxidil oral, o uso deve ser evitado por indivíduos com histórico cardíaco, como cardiopatas. Segundo a especialista, esse medicamento, geralmente adquirido por meio de manipulação, tem o potencial de interagir com outros vasodilatadores, resultando em uma redução da pressão arterial e aumentando o risco de insuficiência cardíaca, especialmente em pessoas com predisposição.

Outro grupo que precisa ser cauteloso é o de pessoas com problemas hepáticos pré-existentes, pois o minoxidil oral pode passar pelo fígado, exacerbando ainda mais complicações no órgão.

Além disso, Luciano Barsanti, presidente da SBTri, afirma que gestantes e indivíduos com feridas e lesões na cabeça não devem apostar no medicamento.

O especialista aproveita para ressaltar a importância de ter um diagnóstico médico para realizar o tratamento. “Hoje em dia, muitas pessoas descobrem o minoxidil por meio de redes sociais e influencers. Aí, pedem para manipular, sem qualquer orientação. Esse é um risco muito grande”, afirma Barsanti.

Como o medicamento age?

Apesar de estudos analisarem a ação do minoxidil no tratamento de calvície desde os anos 1980, ainda não está claro como o medicamento promove o crescimento capilar.

Inicialmente, pesquisadores suspeitaram que tinha a ver com a vasodilatação provocada pelo medicamento. Isso porque, ao aumentar o fluxo sanguíneo no couro cabeludo, os folículos capilares receberiam mais nutrientes, facilitando o crescimento capilar.

No entanto, estudos recentes sugerem que o minoxidil exerce uma ação direta nos folículos, indicando que a vasodilatação pode não ser o fator crucial para seu efeito de crescimento de fios.

“Apesar de ser um vasodilatador, o mecanismo direto de ação nos folículos contribui para a modificação da fase de crescimento. Isso resulta em um prolongamento do ciclo capilar, além de estimular o crescimento de novos fios, melhorando a densidade do couro cabeludo”, explica Fabiane, da SBD.

Outro efeito da droga no couro cabeludo é o prolongamento da fase ativa do folículo capilar. Com a idade, a fase de crescimento do cabelo fica mais curta. O uso do minoxidil prolongaria, então, o período no qual o folículo está ativo.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.