'Momento agora é de olhar para a ciência'


Brasileira na cúpula da OMS defende que países usem as evidências científicas para definir as políticas públicas

Por Paulo Beraldo

Conforme a pandemia avança no Brasil, a diretora-geral assistente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mariângela Simão, afirma que é o momento de olhar cuidadosamente o que aconteceu em outros países. Segundo ela e as principais autoridades mundiais, o objetivo deve ser o de achatar a transmissão, evitar picos de contaminação e não exercer pressão no sistema de saúde. 

"Se você permitir uma grande circulação de pessoas, está permitindo também que o vírus circule junto", disse ao Estado a única brasileira na cúpula da instituição que lidera a luta mundial contra a pandemia. "Políticas públicas precisam estar baseadas em evidência científica mais do que nunca."

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Mariângela Simão trabalhava no Unaids, em Genebra, antes de ser nomeada ao novo cargo. Foto: Nicolas Lieber/Unaids

Qual a avaliação do cenário da pandemia no Brasil? À medida que a pandemia vai progredindo e o número de casos vai aumentando no Hemisfério Sul, é o momento de se olhar muito cuidadosamente o que aconteceu em outros países. No Brasil, o Ministério da Saúde está sendo transparente em relação a isso, está em uma etapa de subida da transmissão comunitária. O objetivo do sistema de saúde, de achatar a curva da transmissão de casos, pode fazer com que não haja um pico tão grande dessa transmissão para não colocar muita pressão no sistema de saúde. O Brasil aparenta estar ainda na fase de ascensão do número de casos. 

O que se pode vislumbrar pelas próximas semanas? Como vai progredir depende muito das medidas tomadas. Essa é a hora de olhar para os outros países e ver o que está dando certo. A gente observa que nos locais onde não houve distanciamento social no momento oportuno, houve um pico grande e o sistema de saúde sofreu bastante. Itália e Espanha, por exemplo. No caso da Suíça, que fez uma contenção precoce da movimentação de pessoas, já falam em abrir gradativamente, buscando retomar de maneira escalonada a atividade econômica. É um país que tomou medidas de contenção da movimentação das pessoas e, ao mesmo tempo, fez um grande esforço para testar os casos suspeitos, identificar os contatos e isolá-los. 

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O caminho então é o distanciamento social, quarentena?  Não é o caso de uma opinião aqui - é uma questão científica. Se você permitir uma grande circulação de pessoas, está permitindo também que o vírus circule junto. Mas medidas de distanciamento social têm de estar acopladas a medidas de identificação dos suspeitos e dos contatos. As duas coisas têm de caminhar juntas. E também é preciso mudança no hábito das pessoas. Não é só fechar o comércio. É evitar o aperto de mão, aglomerações, abraços, e lavar as mãos reiteradamente com água e sabão. São todas as medidas juntas. 

Existe muita desinformação sobre o coronavírus no Brasil e no mundo. Como lidar? É um momento em que não se pode estar respaldado em opiniões de pessoas. O mundo precisa olhar com atenção para o que a ciência está dizendo e usar a ciência para ajudar as pessoas nesse período difícil.Há muitos esforços sendo feitos em todo o mundo em busca dessa vacina. Fala-se em 12 a 18 meses. É por aí mesmo?  Em condições normais, uma vacina pode demorar de seis a dez anos. A estimativa de um ano, um ano e meio, é extremamente otimista porque há um enorme esforço global. 

Sobre tratamentos, alguns líderes como o presidente Jair Bolsonaro defendem a cloroquina... Todo mundo gostaria muito que uma droga que não está sob patente e tem muitos produtores no mundo pudesse provar que é efetiva contra o vírus. É importante dizer que quando alguém fala que está pesquisando e ainda é in vitro, quando você mistura na plaquinha ela pode funcionar contra o vírus. Mas entre as pesquisas no laboratório e o uso em seres humanos há uma diferença enorme. Quando você aplica em gente viva, pode ter efeitos colaterais. Até o momento, não há nenhuma investigação robusta para nenhuma droga. 

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É importante deixar claro qual é exatamente o papel da OMS nesse momento...  A OMS é uma organização de países-membros. Ela não pode interditar um país ou entrar sem ter autorização. Faz recomendações técnicas, aprova resoluções, monitora e cabe a cada país fazer a implementação. A cada vez que se tem uma pandemia, se torna mais aguda a necessidade de haver uma forte preparação para epidemias globais e o reforço da estrutura da OMS... Reproduzo uma fala do Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA. Ele colocou muito bem que o pesadelo da saúde pública sempre foi um vírus altamente transmissível para o qual não houvesse vacina nem tratamento e com letalidade razoável, não controlável. E esse é o vírus respiratório que está acontecendo agora. É o pior cenário que você tem. Por isso a necessidade de haver uma boa estrutura global e estruturas nacionais para preparação dos países para enfrentamento de situações como a atual.

Conforme a pandemia avança no Brasil, a diretora-geral assistente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mariângela Simão, afirma que é o momento de olhar cuidadosamente o que aconteceu em outros países. Segundo ela e as principais autoridades mundiais, o objetivo deve ser o de achatar a transmissão, evitar picos de contaminação e não exercer pressão no sistema de saúde. 

"Se você permitir uma grande circulação de pessoas, está permitindo também que o vírus circule junto", disse ao Estado a única brasileira na cúpula da instituição que lidera a luta mundial contra a pandemia. "Políticas públicas precisam estar baseadas em evidência científica mais do que nunca."

Mariângela Simão trabalhava no Unaids, em Genebra, antes de ser nomeada ao novo cargo. Foto: Nicolas Lieber/Unaids

Qual a avaliação do cenário da pandemia no Brasil? À medida que a pandemia vai progredindo e o número de casos vai aumentando no Hemisfério Sul, é o momento de se olhar muito cuidadosamente o que aconteceu em outros países. No Brasil, o Ministério da Saúde está sendo transparente em relação a isso, está em uma etapa de subida da transmissão comunitária. O objetivo do sistema de saúde, de achatar a curva da transmissão de casos, pode fazer com que não haja um pico tão grande dessa transmissão para não colocar muita pressão no sistema de saúde. O Brasil aparenta estar ainda na fase de ascensão do número de casos. 

O que se pode vislumbrar pelas próximas semanas? Como vai progredir depende muito das medidas tomadas. Essa é a hora de olhar para os outros países e ver o que está dando certo. A gente observa que nos locais onde não houve distanciamento social no momento oportuno, houve um pico grande e o sistema de saúde sofreu bastante. Itália e Espanha, por exemplo. No caso da Suíça, que fez uma contenção precoce da movimentação de pessoas, já falam em abrir gradativamente, buscando retomar de maneira escalonada a atividade econômica. É um país que tomou medidas de contenção da movimentação das pessoas e, ao mesmo tempo, fez um grande esforço para testar os casos suspeitos, identificar os contatos e isolá-los. 

O caminho então é o distanciamento social, quarentena?  Não é o caso de uma opinião aqui - é uma questão científica. Se você permitir uma grande circulação de pessoas, está permitindo também que o vírus circule junto. Mas medidas de distanciamento social têm de estar acopladas a medidas de identificação dos suspeitos e dos contatos. As duas coisas têm de caminhar juntas. E também é preciso mudança no hábito das pessoas. Não é só fechar o comércio. É evitar o aperto de mão, aglomerações, abraços, e lavar as mãos reiteradamente com água e sabão. São todas as medidas juntas. 

Existe muita desinformação sobre o coronavírus no Brasil e no mundo. Como lidar? É um momento em que não se pode estar respaldado em opiniões de pessoas. O mundo precisa olhar com atenção para o que a ciência está dizendo e usar a ciência para ajudar as pessoas nesse período difícil.Há muitos esforços sendo feitos em todo o mundo em busca dessa vacina. Fala-se em 12 a 18 meses. É por aí mesmo?  Em condições normais, uma vacina pode demorar de seis a dez anos. A estimativa de um ano, um ano e meio, é extremamente otimista porque há um enorme esforço global. 

Sobre tratamentos, alguns líderes como o presidente Jair Bolsonaro defendem a cloroquina... Todo mundo gostaria muito que uma droga que não está sob patente e tem muitos produtores no mundo pudesse provar que é efetiva contra o vírus. É importante dizer que quando alguém fala que está pesquisando e ainda é in vitro, quando você mistura na plaquinha ela pode funcionar contra o vírus. Mas entre as pesquisas no laboratório e o uso em seres humanos há uma diferença enorme. Quando você aplica em gente viva, pode ter efeitos colaterais. Até o momento, não há nenhuma investigação robusta para nenhuma droga. 

É importante deixar claro qual é exatamente o papel da OMS nesse momento...  A OMS é uma organização de países-membros. Ela não pode interditar um país ou entrar sem ter autorização. Faz recomendações técnicas, aprova resoluções, monitora e cabe a cada país fazer a implementação. A cada vez que se tem uma pandemia, se torna mais aguda a necessidade de haver uma forte preparação para epidemias globais e o reforço da estrutura da OMS... Reproduzo uma fala do Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA. Ele colocou muito bem que o pesadelo da saúde pública sempre foi um vírus altamente transmissível para o qual não houvesse vacina nem tratamento e com letalidade razoável, não controlável. E esse é o vírus respiratório que está acontecendo agora. É o pior cenário que você tem. Por isso a necessidade de haver uma boa estrutura global e estruturas nacionais para preparação dos países para enfrentamento de situações como a atual.

Conforme a pandemia avança no Brasil, a diretora-geral assistente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mariângela Simão, afirma que é o momento de olhar cuidadosamente o que aconteceu em outros países. Segundo ela e as principais autoridades mundiais, o objetivo deve ser o de achatar a transmissão, evitar picos de contaminação e não exercer pressão no sistema de saúde. 

"Se você permitir uma grande circulação de pessoas, está permitindo também que o vírus circule junto", disse ao Estado a única brasileira na cúpula da instituição que lidera a luta mundial contra a pandemia. "Políticas públicas precisam estar baseadas em evidência científica mais do que nunca."

Mariângela Simão trabalhava no Unaids, em Genebra, antes de ser nomeada ao novo cargo. Foto: Nicolas Lieber/Unaids

Qual a avaliação do cenário da pandemia no Brasil? À medida que a pandemia vai progredindo e o número de casos vai aumentando no Hemisfério Sul, é o momento de se olhar muito cuidadosamente o que aconteceu em outros países. No Brasil, o Ministério da Saúde está sendo transparente em relação a isso, está em uma etapa de subida da transmissão comunitária. O objetivo do sistema de saúde, de achatar a curva da transmissão de casos, pode fazer com que não haja um pico tão grande dessa transmissão para não colocar muita pressão no sistema de saúde. O Brasil aparenta estar ainda na fase de ascensão do número de casos. 

O que se pode vislumbrar pelas próximas semanas? Como vai progredir depende muito das medidas tomadas. Essa é a hora de olhar para os outros países e ver o que está dando certo. A gente observa que nos locais onde não houve distanciamento social no momento oportuno, houve um pico grande e o sistema de saúde sofreu bastante. Itália e Espanha, por exemplo. No caso da Suíça, que fez uma contenção precoce da movimentação de pessoas, já falam em abrir gradativamente, buscando retomar de maneira escalonada a atividade econômica. É um país que tomou medidas de contenção da movimentação das pessoas e, ao mesmo tempo, fez um grande esforço para testar os casos suspeitos, identificar os contatos e isolá-los. 

O caminho então é o distanciamento social, quarentena?  Não é o caso de uma opinião aqui - é uma questão científica. Se você permitir uma grande circulação de pessoas, está permitindo também que o vírus circule junto. Mas medidas de distanciamento social têm de estar acopladas a medidas de identificação dos suspeitos e dos contatos. As duas coisas têm de caminhar juntas. E também é preciso mudança no hábito das pessoas. Não é só fechar o comércio. É evitar o aperto de mão, aglomerações, abraços, e lavar as mãos reiteradamente com água e sabão. São todas as medidas juntas. 

Existe muita desinformação sobre o coronavírus no Brasil e no mundo. Como lidar? É um momento em que não se pode estar respaldado em opiniões de pessoas. O mundo precisa olhar com atenção para o que a ciência está dizendo e usar a ciência para ajudar as pessoas nesse período difícil.Há muitos esforços sendo feitos em todo o mundo em busca dessa vacina. Fala-se em 12 a 18 meses. É por aí mesmo?  Em condições normais, uma vacina pode demorar de seis a dez anos. A estimativa de um ano, um ano e meio, é extremamente otimista porque há um enorme esforço global. 

Sobre tratamentos, alguns líderes como o presidente Jair Bolsonaro defendem a cloroquina... Todo mundo gostaria muito que uma droga que não está sob patente e tem muitos produtores no mundo pudesse provar que é efetiva contra o vírus. É importante dizer que quando alguém fala que está pesquisando e ainda é in vitro, quando você mistura na plaquinha ela pode funcionar contra o vírus. Mas entre as pesquisas no laboratório e o uso em seres humanos há uma diferença enorme. Quando você aplica em gente viva, pode ter efeitos colaterais. Até o momento, não há nenhuma investigação robusta para nenhuma droga. 

É importante deixar claro qual é exatamente o papel da OMS nesse momento...  A OMS é uma organização de países-membros. Ela não pode interditar um país ou entrar sem ter autorização. Faz recomendações técnicas, aprova resoluções, monitora e cabe a cada país fazer a implementação. A cada vez que se tem uma pandemia, se torna mais aguda a necessidade de haver uma forte preparação para epidemias globais e o reforço da estrutura da OMS... Reproduzo uma fala do Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA. Ele colocou muito bem que o pesadelo da saúde pública sempre foi um vírus altamente transmissível para o qual não houvesse vacina nem tratamento e com letalidade razoável, não controlável. E esse é o vírus respiratório que está acontecendo agora. É o pior cenário que você tem. Por isso a necessidade de haver uma boa estrutura global e estruturas nacionais para preparação dos países para enfrentamento de situações como a atual.

Conforme a pandemia avança no Brasil, a diretora-geral assistente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mariângela Simão, afirma que é o momento de olhar cuidadosamente o que aconteceu em outros países. Segundo ela e as principais autoridades mundiais, o objetivo deve ser o de achatar a transmissão, evitar picos de contaminação e não exercer pressão no sistema de saúde. 

"Se você permitir uma grande circulação de pessoas, está permitindo também que o vírus circule junto", disse ao Estado a única brasileira na cúpula da instituição que lidera a luta mundial contra a pandemia. "Políticas públicas precisam estar baseadas em evidência científica mais do que nunca."

Mariângela Simão trabalhava no Unaids, em Genebra, antes de ser nomeada ao novo cargo. Foto: Nicolas Lieber/Unaids

Qual a avaliação do cenário da pandemia no Brasil? À medida que a pandemia vai progredindo e o número de casos vai aumentando no Hemisfério Sul, é o momento de se olhar muito cuidadosamente o que aconteceu em outros países. No Brasil, o Ministério da Saúde está sendo transparente em relação a isso, está em uma etapa de subida da transmissão comunitária. O objetivo do sistema de saúde, de achatar a curva da transmissão de casos, pode fazer com que não haja um pico tão grande dessa transmissão para não colocar muita pressão no sistema de saúde. O Brasil aparenta estar ainda na fase de ascensão do número de casos. 

O que se pode vislumbrar pelas próximas semanas? Como vai progredir depende muito das medidas tomadas. Essa é a hora de olhar para os outros países e ver o que está dando certo. A gente observa que nos locais onde não houve distanciamento social no momento oportuno, houve um pico grande e o sistema de saúde sofreu bastante. Itália e Espanha, por exemplo. No caso da Suíça, que fez uma contenção precoce da movimentação de pessoas, já falam em abrir gradativamente, buscando retomar de maneira escalonada a atividade econômica. É um país que tomou medidas de contenção da movimentação das pessoas e, ao mesmo tempo, fez um grande esforço para testar os casos suspeitos, identificar os contatos e isolá-los. 

O caminho então é o distanciamento social, quarentena?  Não é o caso de uma opinião aqui - é uma questão científica. Se você permitir uma grande circulação de pessoas, está permitindo também que o vírus circule junto. Mas medidas de distanciamento social têm de estar acopladas a medidas de identificação dos suspeitos e dos contatos. As duas coisas têm de caminhar juntas. E também é preciso mudança no hábito das pessoas. Não é só fechar o comércio. É evitar o aperto de mão, aglomerações, abraços, e lavar as mãos reiteradamente com água e sabão. São todas as medidas juntas. 

Existe muita desinformação sobre o coronavírus no Brasil e no mundo. Como lidar? É um momento em que não se pode estar respaldado em opiniões de pessoas. O mundo precisa olhar com atenção para o que a ciência está dizendo e usar a ciência para ajudar as pessoas nesse período difícil.Há muitos esforços sendo feitos em todo o mundo em busca dessa vacina. Fala-se em 12 a 18 meses. É por aí mesmo?  Em condições normais, uma vacina pode demorar de seis a dez anos. A estimativa de um ano, um ano e meio, é extremamente otimista porque há um enorme esforço global. 

Sobre tratamentos, alguns líderes como o presidente Jair Bolsonaro defendem a cloroquina... Todo mundo gostaria muito que uma droga que não está sob patente e tem muitos produtores no mundo pudesse provar que é efetiva contra o vírus. É importante dizer que quando alguém fala que está pesquisando e ainda é in vitro, quando você mistura na plaquinha ela pode funcionar contra o vírus. Mas entre as pesquisas no laboratório e o uso em seres humanos há uma diferença enorme. Quando você aplica em gente viva, pode ter efeitos colaterais. Até o momento, não há nenhuma investigação robusta para nenhuma droga. 

É importante deixar claro qual é exatamente o papel da OMS nesse momento...  A OMS é uma organização de países-membros. Ela não pode interditar um país ou entrar sem ter autorização. Faz recomendações técnicas, aprova resoluções, monitora e cabe a cada país fazer a implementação. A cada vez que se tem uma pandemia, se torna mais aguda a necessidade de haver uma forte preparação para epidemias globais e o reforço da estrutura da OMS... Reproduzo uma fala do Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA. Ele colocou muito bem que o pesadelo da saúde pública sempre foi um vírus altamente transmissível para o qual não houvesse vacina nem tratamento e com letalidade razoável, não controlável. E esse é o vírus respiratório que está acontecendo agora. É o pior cenário que você tem. Por isso a necessidade de haver uma boa estrutura global e estruturas nacionais para preparação dos países para enfrentamento de situações como a atual.

Conforme a pandemia avança no Brasil, a diretora-geral assistente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mariângela Simão, afirma que é o momento de olhar cuidadosamente o que aconteceu em outros países. Segundo ela e as principais autoridades mundiais, o objetivo deve ser o de achatar a transmissão, evitar picos de contaminação e não exercer pressão no sistema de saúde. 

"Se você permitir uma grande circulação de pessoas, está permitindo também que o vírus circule junto", disse ao Estado a única brasileira na cúpula da instituição que lidera a luta mundial contra a pandemia. "Políticas públicas precisam estar baseadas em evidência científica mais do que nunca."

Mariângela Simão trabalhava no Unaids, em Genebra, antes de ser nomeada ao novo cargo. Foto: Nicolas Lieber/Unaids

Qual a avaliação do cenário da pandemia no Brasil? À medida que a pandemia vai progredindo e o número de casos vai aumentando no Hemisfério Sul, é o momento de se olhar muito cuidadosamente o que aconteceu em outros países. No Brasil, o Ministério da Saúde está sendo transparente em relação a isso, está em uma etapa de subida da transmissão comunitária. O objetivo do sistema de saúde, de achatar a curva da transmissão de casos, pode fazer com que não haja um pico tão grande dessa transmissão para não colocar muita pressão no sistema de saúde. O Brasil aparenta estar ainda na fase de ascensão do número de casos. 

O que se pode vislumbrar pelas próximas semanas? Como vai progredir depende muito das medidas tomadas. Essa é a hora de olhar para os outros países e ver o que está dando certo. A gente observa que nos locais onde não houve distanciamento social no momento oportuno, houve um pico grande e o sistema de saúde sofreu bastante. Itália e Espanha, por exemplo. No caso da Suíça, que fez uma contenção precoce da movimentação de pessoas, já falam em abrir gradativamente, buscando retomar de maneira escalonada a atividade econômica. É um país que tomou medidas de contenção da movimentação das pessoas e, ao mesmo tempo, fez um grande esforço para testar os casos suspeitos, identificar os contatos e isolá-los. 

O caminho então é o distanciamento social, quarentena?  Não é o caso de uma opinião aqui - é uma questão científica. Se você permitir uma grande circulação de pessoas, está permitindo também que o vírus circule junto. Mas medidas de distanciamento social têm de estar acopladas a medidas de identificação dos suspeitos e dos contatos. As duas coisas têm de caminhar juntas. E também é preciso mudança no hábito das pessoas. Não é só fechar o comércio. É evitar o aperto de mão, aglomerações, abraços, e lavar as mãos reiteradamente com água e sabão. São todas as medidas juntas. 

Existe muita desinformação sobre o coronavírus no Brasil e no mundo. Como lidar? É um momento em que não se pode estar respaldado em opiniões de pessoas. O mundo precisa olhar com atenção para o que a ciência está dizendo e usar a ciência para ajudar as pessoas nesse período difícil.Há muitos esforços sendo feitos em todo o mundo em busca dessa vacina. Fala-se em 12 a 18 meses. É por aí mesmo?  Em condições normais, uma vacina pode demorar de seis a dez anos. A estimativa de um ano, um ano e meio, é extremamente otimista porque há um enorme esforço global. 

Sobre tratamentos, alguns líderes como o presidente Jair Bolsonaro defendem a cloroquina... Todo mundo gostaria muito que uma droga que não está sob patente e tem muitos produtores no mundo pudesse provar que é efetiva contra o vírus. É importante dizer que quando alguém fala que está pesquisando e ainda é in vitro, quando você mistura na plaquinha ela pode funcionar contra o vírus. Mas entre as pesquisas no laboratório e o uso em seres humanos há uma diferença enorme. Quando você aplica em gente viva, pode ter efeitos colaterais. Até o momento, não há nenhuma investigação robusta para nenhuma droga. 

É importante deixar claro qual é exatamente o papel da OMS nesse momento...  A OMS é uma organização de países-membros. Ela não pode interditar um país ou entrar sem ter autorização. Faz recomendações técnicas, aprova resoluções, monitora e cabe a cada país fazer a implementação. A cada vez que se tem uma pandemia, se torna mais aguda a necessidade de haver uma forte preparação para epidemias globais e o reforço da estrutura da OMS... Reproduzo uma fala do Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA. Ele colocou muito bem que o pesadelo da saúde pública sempre foi um vírus altamente transmissível para o qual não houvesse vacina nem tratamento e com letalidade razoável, não controlável. E esse é o vírus respiratório que está acontecendo agora. É o pior cenário que você tem. Por isso a necessidade de haver uma boa estrutura global e estruturas nacionais para preparação dos países para enfrentamento de situações como a atual.

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