Na terça-feira, 27, o Hospital Israelita Albert Einstein confirmou o falecimento do jogador uruguaio Juan Izquierdo, que passou mal em campo na última quinta-feira, 22, e estava internado desde então. O boletim médico informou que o zagueiro teve morte encefálica após uma parada cardiorrespiratória associada à arritmia cardíaca.
Também conhecida como morte cerebral, a morte encefálica é a perda completa e irreversível das funções cerebrais. Como o cérebro controla outros órgãos, quando é constatada sua morte, outras funções vitais também serão perdidas e o óbito da pessoa é declarado.
O que configura morte encefálica?
Para funcionarem, os neurônios precisam de oxigênio e glicose, que chegam até o cérebro pela circulação sanguínea. Quando algum problema impede o fluxo sanguíneo, essas células podem morrer e as funções cerebrais são prejudicadas. Se a perda das funções é completa e irreversível, é declarada a morte cerebral.
“Você ainda tem um coração que bate. Você ainda tem outros órgãos funcionantes, mas o cérebro já não é capaz de controlar absolutamente nada”, explica Antonio Netto, neurologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Embora ainda haja batimentos cardíacos, por exemplo, eles tendem a parar após o cérebro deixar de controlá-los. A respiração também não acontecerá sem a ajuda de aparelhos.
“Para falar de vida, precisamos falar de um completo funcionamento cerebral. E não estamos nem conversando sobre as funções corticais, de atenção, memória e inteligência. Estamos falando das funções mais básicas e primitivas do cérebro, que são justamente os reflexos”, completa Netto.
O que pode causar a morte encefálica?
Qualquer problema que cesse a função cerebral antes de encerrar o funcionamento de outras partes do organismo causa a morte encefálica. Entre as causas mais comuns estão:
- parada cardiorrespiratória;
- acidente vascular cerebral (AVC);
- doença infecciosa que afete o sistema nervoso central;
- tumor cerebral;
- traumas.
Quando a morte encefálica é declarada?
No Brasil, a resolução nº 2.173/17 do Conselho Federal de Medicina (CFM) estabelece critérios rigorosos para a declaração de morte encefálica. Segundo Netto, os protocolos podem variar de acordo com cada País, e a definição brasileira é uma das mais criteriosas do mundo.
O CFM determina a realização de uma série de exames para comprovar a perda do reflexo tronco encefálico, aquele responsável por controlar funções autônomas do organismo, como a respiração.
Essa análise deve ser feita por dois médicos que examinam o paciente em horários diferentes, e os resultados precisam ainda ser complementados por um exame — um eletroencefalograma ou uma tomografia, por exemplo.
O CFM não exige que os profissionais responsáveis pela investigação sejam neurologistas. “Nós não temos neurologistas disponíveis em diversos pontos do País”, lembra Netto. Mas o próprio conselho e diversos hospitais pelo Brasil oferecem cursos que capacitam profissionais a diagnosticar a morte encefálica seguindo todos os critérios.
Leia Também:
Morte encefálica e doação de órgãos
A “Lei dos Transplantes” (Lei nº 9.434/1997) estabelece que a doação de órgãos após a morte só pode ser realizada quando constatada a morte encefálica.
Quando isso acontece, as funções vitais do paciente são mantidas de maneira artificial até que a remoção dos órgãos seja feita, explica Netto. Nesses casos, são usados medicamentos que mantêm a pressão arterial e aparelhos de ventilação, que simulam a respiração.