Mortes por câncer no Brasil aumentaram 31% na última década


Envelhecimento da população, sedentarismo, obesidade e má alimentação estão relacionados ao aumento da perda de vidas

Por Redação

O número de brasileiros que morreram de câncer  aumentou 31% de 2010 a 2019— foi um salto de 178.990 para 235.301. Os dados, tabulados pelo Estadão a partir do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, mostram que os tumores com maior número de vítimas no País foram os de pulmão, intestino e mama.

“O aumento de casos de câncer na população brasileira é multifatorial. Além do próprio aumento populacional em uma década, temos também o envelhecimento da população, o aumento de forma exponencial da obesidade, o aumento da incidência de doenças crônicas, além de maior sedentarismo da população e exposição a mais fatores de risco, como tabaco e álcool. O consumo excessivo de gorduras saturadas e produtos industrializados que se tornaram mais acessíveis à nossa população também influencia”, diz o cirurgião oncológico Gustavo Cardoso Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica, que também atua como coordenador dos departamentos cirúrgicos oncológicos da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Oncologista da clínica Onco Star e do Hospital São Luiz Itaim, da Rede D’Or São Luiz, Maria Del Pilar Estevez Diz acrescenta à lista de fatores que explicam o aumento dos casos de câncer “a crescente urbanização, com mudanças do estilo de vida, como sedentarismo e obesidade, além da maior exposição a carcinógenos”. Estudos mostram, por exemplo, que a poluição do ar, muitas vezes ignorada, pode contribuir para o desenvolvimento dos tumores.

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O rastreamento do câncer, segundo Maria Del Pilar, é outro gargalo que precisa ser enfrentado, para que os casos possam ser tratados mais cedo, em última análise. “Nossos programas dependem da busca espontânea de pacientes ou da busca ativa dos agentes de saúde. Não temos um sistema organizado e individualizado que seja capaz de buscar indivíduos que não aderiram ao rastreamento ou que não estejam seguindo os intervalos propostos de acompanhamento”, afirma a médica. As dificuldades, explica a oncologista, surgem principalmente em alguns tipos de tumor, como o de colo de útero, de mama e o colorretal. “Outra questão importante é com relação às medidas de promoção de saúde para redução de risco de câncer.” A ciência atesta que o combate ao sedentarismo e à obesidade, com a diminuição da ingestão de gorduras e aumento do consumo de fibras, é prática saudável contra o câncer. Assim como a redução do tabagismo e do álcool.

 “Estima-se que por volta de 2030 o câncer seja a primeira causa de mortalidade no mundo”, diz a médica patologista Kátia Moreira Leite, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia. Um dos motivos que estão por trás disso, segundo a médica, é na verdade um paradoxo. As pessoas estão vivendo mais, principalmente por causa do avanço das tecnologias e das drogas para tratar problemas cardiovasculares. “Como a mortalidade por doenças cardiovasculares e infecciosas diminuiu, abre-se uma maior probabilidade de o indivíduo viver um tempo maior e, então, ter a capacidade de desenvolver um câncer”, diz Kátia.

Desigualdade social

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As grandes diferenças socioeconômicas que existem no Brasil mostram quadros bem distintos em relação ao câncer, a depender da região que se investiga. De acordo com um levantamento realizado pelo Estadão, tumores facilmente evitáveis matam mais nos Estados mais pobres da Federação. Na Região Norte, o câncer de colo de útero é o terceiro que mais mata — no ranking nacional, ocupa a 12ª posição.

A oncologista Andréa Gadelha, coordenadora do EVA – Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos, ressalta que tal cenário é decorrente do acesso às redes de saúde, além de desigualdades tanto sociais quanto culturais. “A principal causa do câncer de colo de útero é o HPV, o papilomavírus humano, mas, para isso, existe vacina que deve ser tomada. Meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos podem ser vacinados gratuitamente pelo SUS”, frisa Andréa.

Outro ponto fundamental é a realização periódica do exame preventivo do papanicolau. “A rotina recomendada é a de repetição do exame a cada três anos, após dois exames normais consecutivos realizados com um intervalo de um ano”, explica a médica, ressaltando que se trata de recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).

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Na Bahia, o tumor que mais mata é o de próstata, também evitável por exames de rotina. “É recomendável fazer exames de PSA [antígeno prostático específico] e do toque retal a partir dos 50 anos. Quando há histórico familiar ou pacientes com mais risco, isso deve começar aos 45 anos”, explica Gustavo Guimarães.

Outro tumor evitável que afeta mais a Região Nordeste do País é o câncer de pênis. O Maranhão tem a maior incidência do mundo — 6,1 casos por 100 mil habitantes, enquanto em países europeus se trata de um câncer que afeta de 0,1 a 1 caso por 100 mil habitantes.

“É um carcinoma relacionado à falta de higiene e de acesso ao sistema de saúde, deixando a população carente mais exposta”, diz Kátia Leite. “Metade dos casos está relacionada à infecção pelo HPV, outra metade pela precariedade de higiene, e isso é um problema sério no Brasil.” De acordo com a médica, enquanto esse câncer em geral costuma atingir uma população na faixa dos 60 a 65 anos em termos mundiais, no Brasil é recorrente o diagnóstico ser feito em pacientes entre 30 e 35 anos.

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Datasus/ Ministério da Saúde 

Rotina saudável faz a diferença

É possível reduzir as possibilidades de desenvolver câncer, com mudanças de hábito e acompanhamento médico constante. “Os cuidados que devem ser tomados vão desde a prática regular de exercícios físicos a uma alimentação mais saudável, rica em frutas, verduras e legumes, passando pela cessação do tabagismo e diminuição ou cessação do consumo de álcool”, aponta o cirurgião oncológico Gustavo Guimarães, do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica. “A visita regular ao seu médico é muito importante para a definição exata de quais exames devem ser feitos de acordo com a faixa etária e os fatores de exposição a riscos”, explica o médico.

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 De modo geral, a oncologista Maria Del Pilar Estevez Diz, da clínica Onco Star, lembra que é importante aderir aos programas de rastreamento e às vacinas preventivas disponíveis no Programa Nacional de Vacinação, como a da Hepatite B e do HPV. Prestar atenção ao corpo também é importante, ressalta a médica. “É bom procurar o serviço de saúde se houver alterações persistentes. Além disso, indivíduos que tenham vários casos de câncer na família devem também procurar avaliar se têm um risco aumentado de desenvolver a doença.”

 Em geral, recomenda-se a mamografia a partir dos 50 anos de idade, o papanicolau a partir dos 24 anos de idade, e a colonoscopia ou pesquisa de sangue oculto nas fezes a partir dos 50 anos de idade, para citar alguns exemplos de exames periódicos preventivos que devem ser realizados. Mas, é claro, segundo os especialistas, apenas um médico saberá avaliar, considerando o histórico familiar e os fatores de risco, a hora certa de se fazer esses vários exames de rotina.

O número de brasileiros que morreram de câncer  aumentou 31% de 2010 a 2019— foi um salto de 178.990 para 235.301. Os dados, tabulados pelo Estadão a partir do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, mostram que os tumores com maior número de vítimas no País foram os de pulmão, intestino e mama.

“O aumento de casos de câncer na população brasileira é multifatorial. Além do próprio aumento populacional em uma década, temos também o envelhecimento da população, o aumento de forma exponencial da obesidade, o aumento da incidência de doenças crônicas, além de maior sedentarismo da população e exposição a mais fatores de risco, como tabaco e álcool. O consumo excessivo de gorduras saturadas e produtos industrializados que se tornaram mais acessíveis à nossa população também influencia”, diz o cirurgião oncológico Gustavo Cardoso Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica, que também atua como coordenador dos departamentos cirúrgicos oncológicos da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Oncologista da clínica Onco Star e do Hospital São Luiz Itaim, da Rede D’Or São Luiz, Maria Del Pilar Estevez Diz acrescenta à lista de fatores que explicam o aumento dos casos de câncer “a crescente urbanização, com mudanças do estilo de vida, como sedentarismo e obesidade, além da maior exposição a carcinógenos”. Estudos mostram, por exemplo, que a poluição do ar, muitas vezes ignorada, pode contribuir para o desenvolvimento dos tumores.

O rastreamento do câncer, segundo Maria Del Pilar, é outro gargalo que precisa ser enfrentado, para que os casos possam ser tratados mais cedo, em última análise. “Nossos programas dependem da busca espontânea de pacientes ou da busca ativa dos agentes de saúde. Não temos um sistema organizado e individualizado que seja capaz de buscar indivíduos que não aderiram ao rastreamento ou que não estejam seguindo os intervalos propostos de acompanhamento”, afirma a médica. As dificuldades, explica a oncologista, surgem principalmente em alguns tipos de tumor, como o de colo de útero, de mama e o colorretal. “Outra questão importante é com relação às medidas de promoção de saúde para redução de risco de câncer.” A ciência atesta que o combate ao sedentarismo e à obesidade, com a diminuição da ingestão de gorduras e aumento do consumo de fibras, é prática saudável contra o câncer. Assim como a redução do tabagismo e do álcool.

 “Estima-se que por volta de 2030 o câncer seja a primeira causa de mortalidade no mundo”, diz a médica patologista Kátia Moreira Leite, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia. Um dos motivos que estão por trás disso, segundo a médica, é na verdade um paradoxo. As pessoas estão vivendo mais, principalmente por causa do avanço das tecnologias e das drogas para tratar problemas cardiovasculares. “Como a mortalidade por doenças cardiovasculares e infecciosas diminuiu, abre-se uma maior probabilidade de o indivíduo viver um tempo maior e, então, ter a capacidade de desenvolver um câncer”, diz Kátia.

Desigualdade social

As grandes diferenças socioeconômicas que existem no Brasil mostram quadros bem distintos em relação ao câncer, a depender da região que se investiga. De acordo com um levantamento realizado pelo Estadão, tumores facilmente evitáveis matam mais nos Estados mais pobres da Federação. Na Região Norte, o câncer de colo de útero é o terceiro que mais mata — no ranking nacional, ocupa a 12ª posição.

A oncologista Andréa Gadelha, coordenadora do EVA – Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos, ressalta que tal cenário é decorrente do acesso às redes de saúde, além de desigualdades tanto sociais quanto culturais. “A principal causa do câncer de colo de útero é o HPV, o papilomavírus humano, mas, para isso, existe vacina que deve ser tomada. Meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos podem ser vacinados gratuitamente pelo SUS”, frisa Andréa.

Outro ponto fundamental é a realização periódica do exame preventivo do papanicolau. “A rotina recomendada é a de repetição do exame a cada três anos, após dois exames normais consecutivos realizados com um intervalo de um ano”, explica a médica, ressaltando que se trata de recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Na Bahia, o tumor que mais mata é o de próstata, também evitável por exames de rotina. “É recomendável fazer exames de PSA [antígeno prostático específico] e do toque retal a partir dos 50 anos. Quando há histórico familiar ou pacientes com mais risco, isso deve começar aos 45 anos”, explica Gustavo Guimarães.

Outro tumor evitável que afeta mais a Região Nordeste do País é o câncer de pênis. O Maranhão tem a maior incidência do mundo — 6,1 casos por 100 mil habitantes, enquanto em países europeus se trata de um câncer que afeta de 0,1 a 1 caso por 100 mil habitantes.

“É um carcinoma relacionado à falta de higiene e de acesso ao sistema de saúde, deixando a população carente mais exposta”, diz Kátia Leite. “Metade dos casos está relacionada à infecção pelo HPV, outra metade pela precariedade de higiene, e isso é um problema sério no Brasil.” De acordo com a médica, enquanto esse câncer em geral costuma atingir uma população na faixa dos 60 a 65 anos em termos mundiais, no Brasil é recorrente o diagnóstico ser feito em pacientes entre 30 e 35 anos.

Datasus/ Ministério da Saúde 

Rotina saudável faz a diferença

É possível reduzir as possibilidades de desenvolver câncer, com mudanças de hábito e acompanhamento médico constante. “Os cuidados que devem ser tomados vão desde a prática regular de exercícios físicos a uma alimentação mais saudável, rica em frutas, verduras e legumes, passando pela cessação do tabagismo e diminuição ou cessação do consumo de álcool”, aponta o cirurgião oncológico Gustavo Guimarães, do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica. “A visita regular ao seu médico é muito importante para a definição exata de quais exames devem ser feitos de acordo com a faixa etária e os fatores de exposição a riscos”, explica o médico.

 De modo geral, a oncologista Maria Del Pilar Estevez Diz, da clínica Onco Star, lembra que é importante aderir aos programas de rastreamento e às vacinas preventivas disponíveis no Programa Nacional de Vacinação, como a da Hepatite B e do HPV. Prestar atenção ao corpo também é importante, ressalta a médica. “É bom procurar o serviço de saúde se houver alterações persistentes. Além disso, indivíduos que tenham vários casos de câncer na família devem também procurar avaliar se têm um risco aumentado de desenvolver a doença.”

 Em geral, recomenda-se a mamografia a partir dos 50 anos de idade, o papanicolau a partir dos 24 anos de idade, e a colonoscopia ou pesquisa de sangue oculto nas fezes a partir dos 50 anos de idade, para citar alguns exemplos de exames periódicos preventivos que devem ser realizados. Mas, é claro, segundo os especialistas, apenas um médico saberá avaliar, considerando o histórico familiar e os fatores de risco, a hora certa de se fazer esses vários exames de rotina.

O número de brasileiros que morreram de câncer  aumentou 31% de 2010 a 2019— foi um salto de 178.990 para 235.301. Os dados, tabulados pelo Estadão a partir do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, mostram que os tumores com maior número de vítimas no País foram os de pulmão, intestino e mama.

“O aumento de casos de câncer na população brasileira é multifatorial. Além do próprio aumento populacional em uma década, temos também o envelhecimento da população, o aumento de forma exponencial da obesidade, o aumento da incidência de doenças crônicas, além de maior sedentarismo da população e exposição a mais fatores de risco, como tabaco e álcool. O consumo excessivo de gorduras saturadas e produtos industrializados que se tornaram mais acessíveis à nossa população também influencia”, diz o cirurgião oncológico Gustavo Cardoso Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica, que também atua como coordenador dos departamentos cirúrgicos oncológicos da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Oncologista da clínica Onco Star e do Hospital São Luiz Itaim, da Rede D’Or São Luiz, Maria Del Pilar Estevez Diz acrescenta à lista de fatores que explicam o aumento dos casos de câncer “a crescente urbanização, com mudanças do estilo de vida, como sedentarismo e obesidade, além da maior exposição a carcinógenos”. Estudos mostram, por exemplo, que a poluição do ar, muitas vezes ignorada, pode contribuir para o desenvolvimento dos tumores.

O rastreamento do câncer, segundo Maria Del Pilar, é outro gargalo que precisa ser enfrentado, para que os casos possam ser tratados mais cedo, em última análise. “Nossos programas dependem da busca espontânea de pacientes ou da busca ativa dos agentes de saúde. Não temos um sistema organizado e individualizado que seja capaz de buscar indivíduos que não aderiram ao rastreamento ou que não estejam seguindo os intervalos propostos de acompanhamento”, afirma a médica. As dificuldades, explica a oncologista, surgem principalmente em alguns tipos de tumor, como o de colo de útero, de mama e o colorretal. “Outra questão importante é com relação às medidas de promoção de saúde para redução de risco de câncer.” A ciência atesta que o combate ao sedentarismo e à obesidade, com a diminuição da ingestão de gorduras e aumento do consumo de fibras, é prática saudável contra o câncer. Assim como a redução do tabagismo e do álcool.

 “Estima-se que por volta de 2030 o câncer seja a primeira causa de mortalidade no mundo”, diz a médica patologista Kátia Moreira Leite, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia. Um dos motivos que estão por trás disso, segundo a médica, é na verdade um paradoxo. As pessoas estão vivendo mais, principalmente por causa do avanço das tecnologias e das drogas para tratar problemas cardiovasculares. “Como a mortalidade por doenças cardiovasculares e infecciosas diminuiu, abre-se uma maior probabilidade de o indivíduo viver um tempo maior e, então, ter a capacidade de desenvolver um câncer”, diz Kátia.

Desigualdade social

As grandes diferenças socioeconômicas que existem no Brasil mostram quadros bem distintos em relação ao câncer, a depender da região que se investiga. De acordo com um levantamento realizado pelo Estadão, tumores facilmente evitáveis matam mais nos Estados mais pobres da Federação. Na Região Norte, o câncer de colo de útero é o terceiro que mais mata — no ranking nacional, ocupa a 12ª posição.

A oncologista Andréa Gadelha, coordenadora do EVA – Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos, ressalta que tal cenário é decorrente do acesso às redes de saúde, além de desigualdades tanto sociais quanto culturais. “A principal causa do câncer de colo de útero é o HPV, o papilomavírus humano, mas, para isso, existe vacina que deve ser tomada. Meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos podem ser vacinados gratuitamente pelo SUS”, frisa Andréa.

Outro ponto fundamental é a realização periódica do exame preventivo do papanicolau. “A rotina recomendada é a de repetição do exame a cada três anos, após dois exames normais consecutivos realizados com um intervalo de um ano”, explica a médica, ressaltando que se trata de recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Na Bahia, o tumor que mais mata é o de próstata, também evitável por exames de rotina. “É recomendável fazer exames de PSA [antígeno prostático específico] e do toque retal a partir dos 50 anos. Quando há histórico familiar ou pacientes com mais risco, isso deve começar aos 45 anos”, explica Gustavo Guimarães.

Outro tumor evitável que afeta mais a Região Nordeste do País é o câncer de pênis. O Maranhão tem a maior incidência do mundo — 6,1 casos por 100 mil habitantes, enquanto em países europeus se trata de um câncer que afeta de 0,1 a 1 caso por 100 mil habitantes.

“É um carcinoma relacionado à falta de higiene e de acesso ao sistema de saúde, deixando a população carente mais exposta”, diz Kátia Leite. “Metade dos casos está relacionada à infecção pelo HPV, outra metade pela precariedade de higiene, e isso é um problema sério no Brasil.” De acordo com a médica, enquanto esse câncer em geral costuma atingir uma população na faixa dos 60 a 65 anos em termos mundiais, no Brasil é recorrente o diagnóstico ser feito em pacientes entre 30 e 35 anos.

Datasus/ Ministério da Saúde 

Rotina saudável faz a diferença

É possível reduzir as possibilidades de desenvolver câncer, com mudanças de hábito e acompanhamento médico constante. “Os cuidados que devem ser tomados vão desde a prática regular de exercícios físicos a uma alimentação mais saudável, rica em frutas, verduras e legumes, passando pela cessação do tabagismo e diminuição ou cessação do consumo de álcool”, aponta o cirurgião oncológico Gustavo Guimarães, do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica. “A visita regular ao seu médico é muito importante para a definição exata de quais exames devem ser feitos de acordo com a faixa etária e os fatores de exposição a riscos”, explica o médico.

 De modo geral, a oncologista Maria Del Pilar Estevez Diz, da clínica Onco Star, lembra que é importante aderir aos programas de rastreamento e às vacinas preventivas disponíveis no Programa Nacional de Vacinação, como a da Hepatite B e do HPV. Prestar atenção ao corpo também é importante, ressalta a médica. “É bom procurar o serviço de saúde se houver alterações persistentes. Além disso, indivíduos que tenham vários casos de câncer na família devem também procurar avaliar se têm um risco aumentado de desenvolver a doença.”

 Em geral, recomenda-se a mamografia a partir dos 50 anos de idade, o papanicolau a partir dos 24 anos de idade, e a colonoscopia ou pesquisa de sangue oculto nas fezes a partir dos 50 anos de idade, para citar alguns exemplos de exames periódicos preventivos que devem ser realizados. Mas, é claro, segundo os especialistas, apenas um médico saberá avaliar, considerando o histórico familiar e os fatores de risco, a hora certa de se fazer esses vários exames de rotina.

O número de brasileiros que morreram de câncer  aumentou 31% de 2010 a 2019— foi um salto de 178.990 para 235.301. Os dados, tabulados pelo Estadão a partir do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, mostram que os tumores com maior número de vítimas no País foram os de pulmão, intestino e mama.

“O aumento de casos de câncer na população brasileira é multifatorial. Além do próprio aumento populacional em uma década, temos também o envelhecimento da população, o aumento de forma exponencial da obesidade, o aumento da incidência de doenças crônicas, além de maior sedentarismo da população e exposição a mais fatores de risco, como tabaco e álcool. O consumo excessivo de gorduras saturadas e produtos industrializados que se tornaram mais acessíveis à nossa população também influencia”, diz o cirurgião oncológico Gustavo Cardoso Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica, que também atua como coordenador dos departamentos cirúrgicos oncológicos da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Oncologista da clínica Onco Star e do Hospital São Luiz Itaim, da Rede D’Or São Luiz, Maria Del Pilar Estevez Diz acrescenta à lista de fatores que explicam o aumento dos casos de câncer “a crescente urbanização, com mudanças do estilo de vida, como sedentarismo e obesidade, além da maior exposição a carcinógenos”. Estudos mostram, por exemplo, que a poluição do ar, muitas vezes ignorada, pode contribuir para o desenvolvimento dos tumores.

O rastreamento do câncer, segundo Maria Del Pilar, é outro gargalo que precisa ser enfrentado, para que os casos possam ser tratados mais cedo, em última análise. “Nossos programas dependem da busca espontânea de pacientes ou da busca ativa dos agentes de saúde. Não temos um sistema organizado e individualizado que seja capaz de buscar indivíduos que não aderiram ao rastreamento ou que não estejam seguindo os intervalos propostos de acompanhamento”, afirma a médica. As dificuldades, explica a oncologista, surgem principalmente em alguns tipos de tumor, como o de colo de útero, de mama e o colorretal. “Outra questão importante é com relação às medidas de promoção de saúde para redução de risco de câncer.” A ciência atesta que o combate ao sedentarismo e à obesidade, com a diminuição da ingestão de gorduras e aumento do consumo de fibras, é prática saudável contra o câncer. Assim como a redução do tabagismo e do álcool.

 “Estima-se que por volta de 2030 o câncer seja a primeira causa de mortalidade no mundo”, diz a médica patologista Kátia Moreira Leite, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia. Um dos motivos que estão por trás disso, segundo a médica, é na verdade um paradoxo. As pessoas estão vivendo mais, principalmente por causa do avanço das tecnologias e das drogas para tratar problemas cardiovasculares. “Como a mortalidade por doenças cardiovasculares e infecciosas diminuiu, abre-se uma maior probabilidade de o indivíduo viver um tempo maior e, então, ter a capacidade de desenvolver um câncer”, diz Kátia.

Desigualdade social

As grandes diferenças socioeconômicas que existem no Brasil mostram quadros bem distintos em relação ao câncer, a depender da região que se investiga. De acordo com um levantamento realizado pelo Estadão, tumores facilmente evitáveis matam mais nos Estados mais pobres da Federação. Na Região Norte, o câncer de colo de útero é o terceiro que mais mata — no ranking nacional, ocupa a 12ª posição.

A oncologista Andréa Gadelha, coordenadora do EVA – Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos, ressalta que tal cenário é decorrente do acesso às redes de saúde, além de desigualdades tanto sociais quanto culturais. “A principal causa do câncer de colo de útero é o HPV, o papilomavírus humano, mas, para isso, existe vacina que deve ser tomada. Meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos podem ser vacinados gratuitamente pelo SUS”, frisa Andréa.

Outro ponto fundamental é a realização periódica do exame preventivo do papanicolau. “A rotina recomendada é a de repetição do exame a cada três anos, após dois exames normais consecutivos realizados com um intervalo de um ano”, explica a médica, ressaltando que se trata de recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Na Bahia, o tumor que mais mata é o de próstata, também evitável por exames de rotina. “É recomendável fazer exames de PSA [antígeno prostático específico] e do toque retal a partir dos 50 anos. Quando há histórico familiar ou pacientes com mais risco, isso deve começar aos 45 anos”, explica Gustavo Guimarães.

Outro tumor evitável que afeta mais a Região Nordeste do País é o câncer de pênis. O Maranhão tem a maior incidência do mundo — 6,1 casos por 100 mil habitantes, enquanto em países europeus se trata de um câncer que afeta de 0,1 a 1 caso por 100 mil habitantes.

“É um carcinoma relacionado à falta de higiene e de acesso ao sistema de saúde, deixando a população carente mais exposta”, diz Kátia Leite. “Metade dos casos está relacionada à infecção pelo HPV, outra metade pela precariedade de higiene, e isso é um problema sério no Brasil.” De acordo com a médica, enquanto esse câncer em geral costuma atingir uma população na faixa dos 60 a 65 anos em termos mundiais, no Brasil é recorrente o diagnóstico ser feito em pacientes entre 30 e 35 anos.

Datasus/ Ministério da Saúde 

Rotina saudável faz a diferença

É possível reduzir as possibilidades de desenvolver câncer, com mudanças de hábito e acompanhamento médico constante. “Os cuidados que devem ser tomados vão desde a prática regular de exercícios físicos a uma alimentação mais saudável, rica em frutas, verduras e legumes, passando pela cessação do tabagismo e diminuição ou cessação do consumo de álcool”, aponta o cirurgião oncológico Gustavo Guimarães, do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica. “A visita regular ao seu médico é muito importante para a definição exata de quais exames devem ser feitos de acordo com a faixa etária e os fatores de exposição a riscos”, explica o médico.

 De modo geral, a oncologista Maria Del Pilar Estevez Diz, da clínica Onco Star, lembra que é importante aderir aos programas de rastreamento e às vacinas preventivas disponíveis no Programa Nacional de Vacinação, como a da Hepatite B e do HPV. Prestar atenção ao corpo também é importante, ressalta a médica. “É bom procurar o serviço de saúde se houver alterações persistentes. Além disso, indivíduos que tenham vários casos de câncer na família devem também procurar avaliar se têm um risco aumentado de desenvolver a doença.”

 Em geral, recomenda-se a mamografia a partir dos 50 anos de idade, o papanicolau a partir dos 24 anos de idade, e a colonoscopia ou pesquisa de sangue oculto nas fezes a partir dos 50 anos de idade, para citar alguns exemplos de exames periódicos preventivos que devem ser realizados. Mas, é claro, segundo os especialistas, apenas um médico saberá avaliar, considerando o histórico familiar e os fatores de risco, a hora certa de se fazer esses vários exames de rotina.

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