Mais de 70% dos trabalhadores do mundo estão expostos aos riscos de saúde relacionados às mudanças climáticas, segundo novo relatório divulgado nesta segunda-feira, 22, pela Organização Mundial do Trabalho (OIT), agência da Organização das Nações Unidas (ONU).
As mudanças climáticas têm gerado eventos climáticos extremos em todo o planeta nos últimos anos. Nesse contexto, por estarem mais expostos, os trabalhadores (em especial os que atuam em áreas externas), tendem a ser mais afetados pelos desdobramentos dessas mudanças, o que inclui problemas de saúde, como câncer, doenças cardiovasculares e respiratórias, disfunções renais e distúrbios de saúde mental, de acordo com a OIT.
Segundo o documento, em 2020 - último ano com estatísticas disponíveis -, 2.4 bilhões de trabalhadores, ou seja mais de 70% da força de trabalho do planeta, foram expostos ao calor extremo durante o trabalho. Trata-se de um crescimento de 35% em 20 anos, de acordo com a OIT.
O relatório pontua ainda que o calor excessivo provoca lesões ocupacionais em 22,8 milhões de trabalhadores todos os anos, sendo que mais de 18 mil têm desfechos fatais. O órgão registra também que o calor extremo no trabalho está relacionado ao aparecimento de doenças renais crônicas em 26 milhões de trabalhadores no mundo.
O relatório menciona regras de diferentes países. Nesse sentido, indica que a legislação brasileira estipula limites máximos de temperatura de acordo com o tipo de trabalho exercido. Em relação a ocupações que não exijam tanto do corpo, o limite é de 29,4 °C; para as de médio esforço corporal, é de 27.3°C; para as de alta intensidade, 26°C; e para as de altíssima intensidade física, 24.7°C.
Vale destacar que, de acordo com o relatório, em países como a Áustria, Espanha e Portugal, a temperatura do ambiente de trabalho não pode superar os 25°C, enquanto na China o limite é de 40°C.
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Outros perigos
O calor extremo, contudo, é apenas um dos diversos perigos que as mudanças climáticas oferecem à saúde dos trabalhadores, segundo a OIT. A exposição à radiação ultravioleta (UV) durante o trabalho também merece destaque, já que atinge 1.6 bilhões de pessoas no mundo e está associada à cerca de 19 mil mortes em decorrência de câncer de pele todos os anos.
Outro risco vinculado às mudanças climáticas destacado no relatório é a poluição atmosférica no ambiente de trabalho. Esta atinge 1.6 bilhões de trabalhadores no mundo e mata mais de 860 mil todos os anos.
A OIT destaca ainda que as mudanças climáticas têm gerado um aumento no uso de pesticidas nos últimos anos, o que ameaça especialmente os trabalhadores do campo. De acordo com o relatório, mais de 870 milhões de trabalhadores agrícolas são expostos a esses químicos e mais de 300 mil morrem por intoxicação todos os anos.
Já a exposição a parasitas e vetores, como o Aedes Aegypti, transmissor da dengue, está por trás de cerca de 15 mil mortes relacionadas ao trabalho todos os anos, aponta o relatório.
De acordo com a OIT, o efeito cumulativo desses fatores pode ter consequências sem precedentes para a humanidade, sendo que os números ainda estão sendo atualizados e tendem a mostrar um cenário ainda pior. Nesse sentido, a organização pontua que é fundamental que os trabalhadores estejam no centro das ações de combate à mudança climática daqui para frente.