Não é cedo para flexibilizar o uso de máscaras em ambiente aberto, contanto que alguns indicadores sejam observados. Para a decisão de adotar a medida em Belo Horizonte, foram levados em conta uma série de aspectos. A questão é que falta padronização para a adoção de políticas em outras cidades e Estados durante a pandemia. É o preço que pagamos por não ter uma centralização pelo Ministério da Saúde.
O primeiro aspecto que permite a flexibilização em Belo Horizonte neste momento é a ampla cobertura vacinal, inclusive com três doses. Ela se soma à alta disseminação da Ômicron nos meses de janeiro e fevereiro – talvez foram mais do que o dobro de casos notificados –, o que acabou fazendo parte da população desenvolver algum grau de proteção coletiva.
Com a pico da variante ficando no passado, a baixa taxa de ocupação de leitos e os baixos níveis da taxa de transmissão (Rt) de covid-19, que está inferior a 1,0 há uma semana, possibilitam a adoção dessa medida. Mas só em ambientes abertos. Em espaços fechados, deve-se manter a obrigatoriedade.
No estádio de futebol, por exemplo, a medida segue valendo. Nas avenidas e praças, já não tem tanto sentido. A transmissão do coronavírus em áreas abertas e ventiladas é muito pouco eficiente. Uma ampla literatura aponta que a transmissão se dá em espaços fechados, que são aqueles com os quais os governos devem se preocupar, inclusive indicando máscaras melhores. Com a flexibilização, essa questão de usar máscaras em ambientes fechados não deve ser prejudicada. A população já introjetou a questão da máscara. Levam no bolso, colocam as máscaras em espaços fechados.
A despeito do carnaval estar acabando agora, o grupo de pesquisadores que assessora a prefeitura de Belo Horizonte achou que era o momento de flexibilizar. A gente acredita que vai viver uns três meses de “lua de mel” até ver qual vai ser a nova variante que vai chegar. Como a nova variante vai se comportar? Pior ou melhor que a Ômicron? Se precisar, caso os indicadores piorem, a cidade volta atrás com a medida.
*PROFESSOR DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG), COMPÕE O GRUPO QUE ASSESSORA A PREFEITURA DE BELO HORIZONTE DURANTE A PANDEMIA