“Nunca paramos de crescer. Mesmo quando a gente chega à idade adulta, porque tem outro processo acontecendo de compreensão maior da realidade. E quando a gente percebe isso, tudo muda. Nossa vida humana é de uma riqueza tão grande. A gente deve apreciar mais a vida em vez de reclamar tanto.”
É com esse pensamento que Monja Coen fala sobre os mais diversos assuntos em seus livros (mais de meio milhão já vendidos) e redes sociais (só no YouTube são quase 2 milhões de inscritos). Tudo, claro, fazendo referência ao budismo, mas nunca impondo regras ou proibições. Seu intuito é repassar o conhecimento adquirido ao longo dos anos. “Quais são os ingredientes da sua vida? E como você faz disso um banquete?”, indaga.
Antiga repórter do Jornal da Tarde, do Grupo Estado, Monja Coen assinou seus primeiros textos como Cláudia Dias Baptista de Souza, seu nome de batismo. Numa delas, foi fazer uma reportagem sobre “sociedades alternativas” e descobriu o zen, uma das vertentes japonesas do budismo.
“Foi o que deu sentido à minha vida”, conta, em entrevista por vídeo ao Estadão. “O jornal foi fundamental para abrir esses portais de percepção. Estávamos em um governo militar, tudo estava muito intenso e eu fui procurar a tranquilidade. Fiz muitas experiências à procura de Deus, do sagrado, de conhecer a mente humana, entrei por rotas que não recomendo, mas que para mim foram importantes na época.”
Longe de ter um passado com o estereótipo de monge budista, ela chegou a ter passagem pela cadeia, histórico com uso de drogas e alguns casamentos – o primeiro, aos 14 anos. Mas, para ela, a capacidade de mudança é muito mais importante do que se prender às decisões do passado. “Não há nada fixo, nem nada permanente. Até o próprio Buda era um ser humano comum”, diz.
Tornou-se monja no Zen Center de Los Angeles, nos Estados Unidos, em 1983. Anos mais tarde, viajou para o Japão no intuito de se especializar na filosofia. Em 1995 voltou ao Brasil e se dedicou a compartilhar com os outros seus aprendizados. “Fiz questão de que não ficassem criando a ideia fantasiosa de uma mestra; aquela que você põe no altar, acima de outros seres. Não. Eu sou uma pessoa, um ser humano com falhas. Estudei uma determinada tradição e eu posso falar sobre isso. Até estimular outras pessoas a práticas que eu aprendi, mas isso não me torna uma ‘super-humana’”, conta. O segredo é nunca se conformar. “Eu sempre falo: ‘Nossa, estou falhando aqui, ainda tem partes minhas que estão frágeis e posso fortalecer’. Então meu processo de vida deixa de ser estático, e vira de transformação”, afirma.
REDES. Apesar de ter sempre sido uma leitora ávida, hoje ela prefere textos curtos. “Por melhores que sejam o autor e a história, eu prefiro mensagens mais diretas, mais específicas”, revela ela, citando seu novo livro Faça Sua Pergunta: Monja Coen, da Buzz Editora. “Achei interessante poder colocar como resposta uma frase que vem de um contexto enorme. Pois hoje em dia não temos mais tempo, nem disposição, para ler toda aquela história, mas a hora que a gente pega a essência do pensamento e joga ali, eu não preciso pensar pelo outro, eu deixo ele ver se faz sentido ou não para ele”, observa, relembrando sua superiora no monastério do Japão, que fazia isso por telefone.
“Ela fazia isso porque acreditava que, quando a gente aprende alguma coisa boa, temos de tornar acessível para o maior número de pessoas. Hoje, a gente faz isso com as redes sociais.”
Seus vídeos, palestras e lives também seguem esse conceito de coesão. “Foi algo muito natural, não planejado. Tudo começou quando o marido da minha neta ficou aqui em casa, e ele descia para assistir a minhas palestras. Um dia, ele me pediu para gravar e colocar no YouTube. Eu deixei, e bombou. Fiquei muito feliz, porque se eu conseguia reunir aqui em casa 50 pessoas, na internet de repente tinha 5 mil, 1 milhão de pessoas assistindo.”
De acordo com ela, “nesse mundo frenético nós temos de ter respiros, parar de vez em quando e respirar. Não respirar pensando no que tem de fazer, somente respirar. Aí você entra de novo no seu ponto de equilíbrio no presente”. Uma das coisas que a ajudam é a escrita. “Quando as coisas me incomodam, escrever é uma coisa que me faz bem”, conta. Ela tem mais de 20 livros publicados.
“O contentamento do silêncio me fez voltar a escrever, mas eu deixava às vezes a televisão ligada, porque era muito importante saber o que estava acontecendo no Brasil e no mundo. Não gosto de me esconder da realidade, acho importante estar em contato com o que está acontecendo”, conclui.