Durante mais de 25 anos de sua vida, o influenciador Caio Revela lidou com dificuldades em seu corpo. Não que isso hoje não seja uma questão. Mas agora, além de os “defeitinhos” não o impedirem de viver sua vida, ele pode dividir isso com seus seguidores. “Todas essas histórias relacionadas à pressão estética, à insegurança corporal, são questões que atingem todo mundo. Porque independentemente de a pessoa ser magra ou gorda, com certeza já fizeram comentários sobre o corpo dela que criaram inseguranças”, diz ele, que hoje leva mensagens de autoestima e amor-próprio às redes.
“Eu saí de um lugar em que tinha vontade de ser invisível para ninguém falar mais nada do meu corpo para hoje me mostrar cada vez mais e ajudar as pessoas a terem uma relação menos conflituosa com elas mesmas.”
“Quando o bebê ou a criança, durante a primeira infância é gordinho, isso é sinônimo de fofura. As pessoas te tratam com carinho, acham que você é um ursinho”, conta Caio, que diz sempre ter sido uma pessoa gorda. “Mas quando cheguei a uma determinada idade, comecei a perceber que as pessoas se afastavam de mim. Passaram a me tratar mal e a culpar, tanto eu quanto a minha mãe, por eu ser gordo.”
Isso, segundo ele, aconteceu por volta dos 10 anos. Depois de sofrer muito com os comentários e as ofensas – tanto de familiares e amigos quanto de desconhecidos –, ele decidiu recorrer ao esporte para emagrecer. “Só que o treino não mudou muito meu corpo, porque o gasto de energia me deixava com mais fome ainda.”
Na adolescência, a falta de acessibilidade aos parques de diversão e a inexistência de roupas do seu tamanho só intensificaram a crença de que ser gordo era algo ruim. “Parecia que tudo na minha vida e na minha rotina jogava na minha cara, a todo instante, que realmente eu não era aceito”, diz ele, que desenvolveu então anorexia e bulimia e emagreceu 60 quilos em seis meses.
Mudança de vida
“Quando eu emagreci, as pessoas passaram a me tratar bem e a falar comigo. Antes, eu não era nem visto. Mas ninguém sabia o que eu estava passando”, lembra. Sua rotina, com apenas 16 anos, era sentir fome e ir à academia três vezes por dia. “Em vez de estudar para a prova, eu ficava com fome, pensando que a cadeira ia cair. Era um sofrimento interno muito grande.” Até que um dia, depois de horas sem comer, Caio desmaiou na escola e foi colocado em um tratamento psiquiátrico, durante o qual engordou novamente.
Frustrado, ele voltou a ter uma rotina restrita para conseguir emagrecer e desenvolveu a ortorexia, um transtorno alimentar que busca excessivamente a alimentação perfeita. “Às vezes eu me pergunto quem eu seria se não tivesse perdido tanto tempo da minha vida com a obsessão de emagrecer”, reflete.
Até que tudo mudou. Depois de se isolar para evitar jantares sociais, postergar os sonhos porque precisava do “corpo perfeito” e sofrer com essas escolhas, ele deu um basta. “Cheguei a um estado de extremo cansaço por submeter meu corpo a todas as agressões que eu infligia a mim mesmo”, afirma. “E isso não significa que eu não cuido do meu corpo, mas quer dizer que não preciso viver lutando por um corpo específico. Preciso me cuidar, mas também ser feliz.”
Caio Revela, influenciador
Amor-próprio
Hoje, Caio faz questão de se exercitar três vezes por semana, alternando entre ioga, musculação e crossfit. Além de manter os exames em dia e seguir uma alimentação saudável – com moderação. “As pessoas têm um estereótipo. Elas acham que as pessoas gordas são preguiçosas, desleixadas, não se exercitam. E não é assim. Faço tudo isso para ter mais mobilidade, para conseguir ter fôlego e brincar com os meus cachorros. Eu me movimento pela minha saúde, porque eu me amo.”
E é essa mensagem que ele tenta passar na internet para os seus mais de 115 mil seguidores. “Acho que cada um tem de fazer o que quiser com o seu corpo, mas o caminho para chegar onde você quer pode ser de carinho e empatia com o seu corpo. Será que você tem de se odiar enquanto não chega ao corpo que considera ideal?”, indaga ele, que esclarece não querer romantizar a obesidade, mas valorizar o amor-próprio.
A proposta também conversa com a luta contra a gordofobia. “Eu posso me amar quanto eu quiser, mas continuo não cabendo na cadeira do cinema, não passando na catraca do ônibus e não conseguindo viajar em um avião sem ficar cheio de hematomas. É importante a sociedade nos enxergar”, declara.
Aos 33 anos, Caio se permite ter todas as experiências que antes achava que não merecia. Incluindo ter um relacionamento amoroso, aproveitar um dia na praia e ser “um ícone fashion”, brinca ele.