Pergunta: Sempre vejo TikTokers chamando o chá verde de “Ozempic da natureza”. Há alguma verdade nisso?
O chá verde é considerado um truque de dieta faz séculos: na China antiga, 2 mil anos atrás, as pessoas já promoviam a bebida como uma ferramenta para perda de peso. Nos tempos modernos, esse chá tem sido um elemento básico de livros de dieta e planos de refeições.
Agora, o chá verde seguiu a trajetória inevitável de qualquer truque de perda de peso: está ficando famoso no TikTok. Vídeos virais afirmam que a bebida ajuda a perder peso, chegando ao ponto de chamá-la de “Ozempic da natureza”. Alguns posts sugerem beber até cinco xícaras por dia.
Embora existam algumas pesquisas sobre o chá verde e o peso, as evidências sobre a possibilidade de uma caneca (ou várias) derreter os quilos não são claras, diz Jyotsna Ghosh, médica especialista em medicina da obesidade da Universidade Johns Hopkins.
A ligação entre o chá verde e os hormônios da fome
Muitos dos vídeos do TikTok afirmam que o chá verde aumenta a produção de GLP-1, um hormônio intestinal que faz com que o pâncreas libere insulina após a refeição. Essa insulina, por sua vez, reduz o nível de açúcar no sangue. O GLP-1 também diminui a velocidade com que os alimentos saem do estômago e afeta as áreas do cérebro que regulam a fome.
O Ozempic e medicamentos semelhantes fornecem um composto que imita o GLP-1, fazendo com que as pessoas se sintam saciadas mais rapidamente. Muitas deixam de sentir aquela ânsia por comida.
Alguns pesquisadores teorizaram que o chá verde pode estimular o GLP-1, em parte porque estudos descobriram que o extrato de chá verde pode reduzir o açúcar no sangue em camundongos diabéticos. No entanto, foram realizados apenas alguns estudos pequenos em humanos, e os resultados são inconclusivos. Um dos poucos ensaios clínicos sobre o assunto, que analisou 92 pessoas com diabetes tipo 2, sugeriu que não houve uma diferença notável na produção de GLP-1 entre as pessoas que tomaram extrato de chá verde e aquelas que tomaram uma pílula placebo.
Qualquer efeito que o chá verde possa ter sobre o GLP-1 provavelmente será pequeno, disseram os especialistas. Qualquer alimento ou bebida pode aumentar ligeiramente os níveis de GLP-1, informa Jyotsna. Mas os níveis de GLP-1 na corrente sanguínea caem minutos depois de comermos ou bebermos algo; esta é uma das razões pelas quais sentimos fome novamente e por que o aumento temporário do hormônio não garante a perda de peso.
O Ozempic e medicamentos similares, por outro lado, permanecem no corpo por dias e são muito mais potentes do que o hormônio natural, o que os torna excepcionalmente bons em suprimir o apetite.
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O chá verde ajuda na perda de peso?
Muitas das alegações sobre o chá verde e a perda de peso mencionam dois componentes da bebida: cafeína e antioxidantes.
A cafeína pode, em teoria, acelerar ligeiramente o metabolismo. Mas é improvável que esse efeito se traduza diretamente em perda de peso substancial, avisa Jyotsna.
O chá verde também contém compostos chamados polifenóis, antioxidantes que podem ajudar a proteger as células contra danos e reduzir a inflamação. Estudos em animais e em células humanas sugeriram que esses compostos poderiam melhorar o metabolismo e reduzir a absorção de gordura pelo intestino. Mas os testes em humanos tiveram resultados mistos.
Também foram realizados vários estudos pequenos que analisaram diretamente se o chá verde está associado à perda de peso. Um artigo de revisão, que analisou mais de uma dúzia desses estudos controlados e randomizados, descobriu que as pessoas que tomam extrato de chá verde geralmente perdem uma pequena quantidade de peso, algo que “provavelmente não é clinicamente importante”.
Outros estudos também descobriram que as pessoas que consumiam chá verde tendiam a perder uma pequena quantidade de peso, normalmente menos de dois quilos.
As pessoas que recorrem ao chá verde para perder peso “não podem esperar um grande efeito, e certamente nada que se compare a medicamentos como o Ozempic”, resume Rob van Dam, professor de ciências do exercício e da nutrição na Escola de Saúde Pública do Instituto Milken da Universidade George Washington.
Julia Zumpano, nutricionista registrada na Cleveland Clinic, em Ohio, acrescenta que o foco em um único alimento ou bebida ignora os muitos outros fatores que têm um papel na perda de peso. Entre esses fatores estão uma dieta mais variada, hábitos de exercício, genética, estresse, saúde metabólica e até mesmo qualidade do sono.
“Se sua meta for perder peso, pense em como você pode melhorar o estilo de vida”, disse ela. “Não apenas especificamente um alimento, um medicamento, um suplemento, o que quer que seja”.
/ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU