Uma mulher de 31 anos morreu nesta terça-feira, 26, na capital paulista, após sofrer uma parada cardiorrespiratória durante a realização de uma hidrolipo. O caso levantou questões sobre o procedimento: como é realizado? Quais os riscos?
“Hidrolipo” é uma nova nomenclatura para lipoaspiração, procedimento cirúrgico para a retirada de gordura corporal. Apesar de soar como uma inovação, o termo é usado apenas como “uma estratégia de marketing”, segundo Volney Pitombo, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
A palavra tem sido comumente empregada para cirurgias feitas com anestesia local e em consultórios, não em centros cirúrgicos com anestesia geral. Esse “marketing” costuma vender o procedimento como menos invasivo e mais barato, conta Daniel Regazzini, diretor de comunicação da SBCP.
Em tese, o termo “hidro” faz referência à umidade, já que antes do procedimento é injetada na área de gordura uma solução composta por soro e adrenalina. No entanto, a SBCP esclarece que essa etapa é padrão em praticamente todos os tipos de lipoaspiração realizados atualmente.
Essa solução tem a função de reduzir o sangramento durante a cirurgia e possibilitar a remoção de uma maior quantidade de gordura. No caso da “hidrolipo”, é comum que os cirurgiões também adicionem o anestésico local ao líquido.
Segundo os especialistas, realizar a lipoaspiração com anestesia local e/ou em consultório é comum e seguro, entretanto, é preciso seguir critérios e cuidados rígidos para reduzir os riscos de complicações.]
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“A lipoaspiração, embora amplamente reconhecida como um procedimento seguro quando realizada de forma adequada, é uma cirurgia que demanda preparo técnico, infraestrutura adequada e a observância rigorosa das normas de segurança e ética médica”, reforça o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).
Quais os riscos da lipoaspiração?
As substâncias usadas na anestesia local, como a xilocaína, podem ser tóxicas caso administradas em excesso, podendo prejudicar o funcionamento do coração e levar a uma parada cardiorrespiratória.
Por isso, procedimentos dessa forma só devem ser feitos em pequenas áreas corporais, que não exijam uma maior quantidade de anestésico. Assim, a decisão quanto ao método deve levar em consideração as particularidades de cada paciente e a região corporal que se deseja operar.
“Com esse método você não vai conseguir fazer um abdômen inteiro, se ele for muito grande, por exemplo. Existem recomendações que devem ser seguidas”, comenta Regazzini.
Os especialistas também enfatizam que, independentemente do formato, o procedimento deve ser realizado em ambientes seguros. Nesse sentido, tanto hospitais quanto clínicas precisam atender os pré-requisitos do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Vigilância Sanitária.
Entre as determinações, eles mencionam, por exemplo, a obrigatoriedade de o espaço contar com suporte para qualquer intercorrência, incluindo recursos para ressuscitação e desfibrilador.
Além disso, a lipoaspiração envolve os riscos associados a procedimentos cirúrgicos em geral, incluindo:
- embolia pulmonar, quando coágulos sanguíneos se deslocam para os pulmões;
- intoxicação por anestésicos;
- hemorragias;
- trombose venosa profunda (TVP), caracterizada pela formação de coágulos devido ao longo período de imobilização;
- risco de perfuração, quando os instrumentos utilizados na cirurgia atingem outras áreas, como parede torácica ou vísceras.
“A banalização de qualquer procedimento cirúrgico, por menor que ele possa parecer, é inaceitável”, diz o Cremesp. “A decisão de realizar uma cirurgia plástica se inicia na escolha do profissional e deve ser feita de forma consciente e sólida. Cirurgias plásticas, como a lipoaspiração, não são isentas de riscos, e tratá-las como procedimentos triviais compromete a segurança dos pacientes e contraria os princípios fundamentais da Medicina.”
Cuidados necessários
Alguns cuidados são essenciais para garantir a segurança antes de realizar uma lipoaspiração. O Cremesp e os especialistas indicam as seguintes medidas:
- Escolha um médico com habilitação em cirurgia plástica registrada junto ao Conselho Regional de Medicina, com Registro de Qualificação de Especialista (RQE);
- Converse com outros pacientes e conheça experiências de pessoas que já passaram por cirurgias com o mesmo profissional;
- Verifique o local da cirurgia, escolhendo hospital ou clínica devidamente autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa);
- Lembre-se que o médico deve solicitar exames pré-operatórios, como hemograma e avaliação cardíaca, e que a comunicação deve ser clara e detalhada sobre os riscos e benefícios envolvidos.
Já para o pós-operatório, Pitombo ressalta a importância de usar meias de compressão, que ajudam a prevenir a formação de coágulos sanguíneos, além de manter-se em movimento com caminhadas leves para estimular a circulação. Ele também recomenda o uso de cintas modeladoras.