RIO - O que fazer para prevenir o risco de morte durante ou logo após atividade física intensa? Especialistas ouvidos pelo Estadão dizem que alguns cuidados podem ser tomados, sobretudo por quem já tem algum diagnóstico cardíaco ou apresenta sintomas. Elas devem procurar fazer uma avaliação médica antes de praticar exercício físico, principalmente se pretendem fazer atividades de alta performance, como triatlo e maratona, por exemplo. Um eletrocardiograma (ECG) e um ecocardiograma podem ser recomendados.
No último domingo, 31, o empresário João Paulo Diniz, de 58 anos, morreu em Paraty (RJ), horas depois de ter feito exercícios físicos. A causa do óbito não foi divulgada, mas a principal hipótese é de que o triatleta amador tenha sofrido um enfarte. Em livro publicado em 2004, seu pai, Abilio Diniz, revelou que o filho tinha um problema cardíaco – a cardiomiopatia hipertrófica.
Existem algumas doenças cardíacas relacionadas ao risco de morte súbita durante a prática de exercícios físicos. Doenças estruturais do coração, como miocardiopatia hipertrófica e miocardiopatia de ventrículo arritmogênica; doenças adquiridas, como miocardite; e ainda doenças relacionadas a anormalidades elétricas do coração. São condições raras e muitas vezes assintomáticas. Esses casos só são detectados com avaliação médica e alguns exames, como eletrocardiograma e ecocardiograma.
O ECG é um exame rápido e indolor para avaliação da atividade elétrica do coração, por meio de fixação de eletrodos na pele. Já o ecocardiograma segue o princípio do ultrassom, em que ondas sonoras são usadas para formar imagens do órgão e de suas estruturas. Assim, é possível identificar problemas anatômicos e sinais de insuficiência cardíaca. O ideal é ter acompanhamento médico periódico.
“Conforme o diagnóstico, a pessoa não poderá fazer certas coisas”, explica o cardiologista Edimar Bocchi, do Instituto do Coração (Incor), em São Paulo. “Esse diagnóstico preventivo antes da prática de exercício evita que a pessoa corra esse risco.”
Clínicas especializadas em medicina do esporte fazem também um tipo de avaliação mais sofisticada, em que a aceleração dos batimentos cardíacos das pessoas é estimulado no laboratório para que seja avaliada a ocorrência de problemas como dores no peito e falta de ar.
“Alguns países adotam uma série de exames de rotina, como eletrocardiograma e ecocardiograma, e hoje se usa muito também o teste cardiopulmonar do exercício, em que o batimento cardíaco é elevado em laboratório para ver se a pessoa tem pressão baixa, dor no peito. É muito usado entre os atletas. Hoje, existe uma série de ferramentas para o atleta amador que quer praticar atividade física mais intensa”, afirma o cardiologista Cláudio Domênico, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Mas não podemos esquecer que, depois dos 50 anos, a ocorrência de problemas coronarianos, como a obstrução das artérias, é mais frequente.”
"É bom saber o que você pode ou não pode fazer"
De forma geral, concordam os especialistas, pessoas sem sintomas ou prognósticos que pretendam se exercitar de forma leve ou moderada não precisam fazer exames médicos. É consenso que os exercícios, na maioria dos casos, são positivos para a saúde. As pessoas, entretanto, devem estar atentas a eventuais sinais de problema, como dor no peito e falta de ar. Neste caso, a recomendação é interromper o exercício imediatamente e procurar um especialista.
“A mensagem importante é que o que mata mais é não fazer exercício. O exercício previne a mortalidade por todas as causas e, em princípio, todo mundo pode fazer”, afirmou o médico Luis Fernando Correia, do American College of Physicians. “Agora, a avaliação pode ser importante para determinar eventuais limitações, não só cardiovasculares, mas também outras, como ortopédicas e respiratórias. É bom saber o que você pode ou não pode fazer.”