Conhecida pelos vídeos sobre maquiagens, a influenciadora Karen Bachini, de 32 anos, repercutiu nas redes sociais na terça-feira, 21, por outro motivo. Em um vídeo, a youtuber, influenciadora e empresária revelou ser uma pessoa intersexo. “Categorizando em um termo geral para as pessoas entenderem, eu sou pseudo-hermafrodita feminina, onde tenho as genitais e os órgãos internos, mas não possuo qualquer tipo de hormônio”, disse. “Naquela época (quando tinha 18 anos), quando você vai fazer seus exames, entra em um consultório médico, muitas vezes são impostas decisões. Naquela época eu fui aos médicos e não sabia o que estava acontecendo com meu corpo, meu ovário era desse ‘tamanho’, eu não tinha glândula mamária, estava totalmente com o corpo atípico.”
Karen afirma ter recebido o diagnóstico após um longo processo. Durante o relato, a influenciadora citou entre as dificuldades a falta de entendimento sobre sua condição. Ela explicou que precisou tomar hormônios femininos, já que o corpo dela não os produzia.
O que significa intersexo?
O intersexo é um termo mais recente que é utilizado para definir, de forma médica, o pseudo-hermafroditismo. Ele pode ser tanto masculino quanto feminino.
“Não é que a pessoa não produza hormônios, mas ela produz uma quantidade diferente e desproporcional. O pseudo-hermafroditismo é quando você tem uma genitália externa, que seria a que vemos do lado de fora, em que você não consegue identificar se é uma vagina ou um pênis”, afirma Taís Calomeny, médica ginecologista.
“Quando a pessoa é pseudo-hermafrodita feminina, não é possível identificar de forma visível e ter certeza que ela tem uma vagina, mas quando são feitos os exames de imagem, é possível verificar que a paciente tem útero e tem ovários. Podem até ser ovários imaturos, sem uma produção de hormônios femininos ideal e adequada”, acrescenta a especialista.
Ainda de acordo com Taís, quando há a diferença de genitália em que não se consegue determinar o sexo da pessoa, ela pode descobrir que é pseudo-hermafrodita masculino. Ou seja, por meio de imagens, pode se identificar que o paciente tem testículos – às vezes, pode ter testículo na região inguinal ou, em algumas situações, até dentro do abdome mesmo.
A influenciadora disse que precisou resgatar exames de saúde antigos, de quando tinha 18 anos, quase para, assim, entender todo o processo. Ela explicou ainda que quando procurou ajuda médica, na época da adolescência, foi diagnosticada com menopausa precoce. Os médicos impuseram um diagnóstico que seria o tratamento com hormonização (estrogênio) e o uso da pílula anticoncepcional.
Como pode ser feito o diagnóstico?
Em algumas situações, isso não é tão perceptível no nascimento. Com o crescimento da criança, é possível observar se ela vai desenvolver mais características sexuais femininas ou masculinas. “Mas há casos em que o diagnóstico é feito no nascimento. O médico olha e já identifica e pede um cariótipo, que é um exame que irá identificar se é 46, XX, se é 46, XXY ou 46, XY. Se tem ou não um cromossomo Y. A partir daí, será feita toda uma investigação e tratamento”, diz a médica ginecologista.
Um cariótipo considerado normal é composto de 22 pares de cromossomos autossomos e um par de cromossomos sexuais, sendo representados da seguinte forma: 46, XX (mulher) ou 46, XY (homem).
Há casos, no entanto, em que o diagnóstico é feito posteriormente. “Pode ser feito também depois, como por exemplo, no caso de meninas que tem uma genitália com protuberância um pouco maior na região do clitóris e não foi avaliada e se desenvolveu. Tinha características sexuais femininas, pois tinha ovário, mesmo imaturo, mas que conseguiu se desenvolver com características sexuais femininas. Às vezes, o que acontece é um desenvolvimento imaturo. Pouca mama, pouco pelo nas regiões de genitália e, aí, tem uma menina que faz 15 anos e não menstrua. Em algumas situações, quem faz o diagnóstico é o ginecologista”, acrescenta Taís.
No caso dos diagnósticos feitos pela pediatria, o próprio médico irá conduzir o tratamento, que inclui a reposição de hormônios.
“Na maioria das vezes, independentemente da idade do diagnóstico, a reposição hormonal será indicada, de acordo com o que o médico identificar que está faltando e com o gênero que a criança ou adolescente se identificar mais. Se a identificação for com o sexo feminino, a reposição hormonal será voltada para os hormônios femininos. Se o paciente se identifica mais com o gênero masculino, a reposição será feita com hormônios androgênicos”, explica a especialista.
Dependendo da idade do paciente, pode ser feita reposição com ambos os hormônios – femininos e masculinos.
Há controvérsias sobre o tipo de tratamento?
Conforme Taís, o tratamento muito precoce pode impedir que, com o tempo, a criança entenda com qual gênero se identifica mais. Desta forma, afirma a médica, até hoje ainda não há um protocolo instituído.
Qual a importância do acompanhamento psicológico, além do tratamento com hormônios?
É importante ainda que o paciente realize acompanhamento psicológico e faça terapias. Os familiares também precisam de auxílio para buscar o melhor tratamento para a criança ou o adolescente.
Como afeta a vida do paciente?
“A pessoa pode ter uma genitália que não sabe se é masculina ou feminina, pode ter desenvolvido características sexuais femininas, mas quando vai fazer o exame descobre que tem testículos, então tem produção, embora muito pequena, de hormônios masculinos. Isso faz uma bagunça na cabeça, especialmente se o diagnóstico é feito na adolescência”, explica a ginecologista.
No caso das mulheres, elas podem entrar na menopausa mais cedo?
Em alguns casos, a pessoa tem um ovário pequeno e imaturo que não produz quantidade de hormônios suficiente para desenvolver todo o organismo. “Então, não estará na menopausa mais cedo, mas vai viver como se fosse ‘uma menopausa’. Desta forma, será feito o tratamento médico para melhor atender a paciente”, conclui a especialista.