THE NEW YORK TIMES – Um novo estudo relatou que adultos com 60 anos ou mais que tomaram um multivitamínico diário por dois anos obtiveram pontuações mais altas em testes cognitivos e de memória do que aqueles que tomaram um placebo – um exemplo raro de um estudo clínico que descobriu que um suplemento nutricional pode realmente beneficiar pessoas saudáveis.
“Isso sugere que os multivitamínicos podem ser uma abordagem segura, econômica e acessível para proteger a saúde cognitiva em adultos mais velhos”, disse Chirag Vyas, epidemiologista psiquiátrico da Mass General Brigham, em Boston, e um dos principais autores do estudo, publicado recentemente no The American Journal of Clinical Nutrition.
Mas os especialistas não envolvidos no estudo advertiram que os benefícios eram pequenos e não estava claro se eles se traduziriam em melhorias na vida das pessoas.
“Eu o colocaria na categoria de promissor“, avalia Mary Butler, professora associada de saúde pública da Universidade de Minnesota, que publicou vários artigos avaliando intervenções para prevenir a demência.
A pesquisa fez parte de um estudo mais amplo que envolveu mais de 21 mil adultos mais velhos e analisou se os suplementos podem proteger contra várias doenças relacionadas à idade, chamado COSMOS (COcoa Supplement and Multivitamin Outcomes Study). O novo relatório incluiu os resultados de um subconjunto de 573 participantes – em sua maioria brancos e com bom nível educacional – que fizeram vários testes cognitivos pessoalmente.
As pessoas dos grupos multivitamínico e placebo melhoraram seus scores cognitivos ao longo de dois anos, possivelmente porque já estavam familiarizadas com os testes. Mas os participantes que tomaram o multivitamínico apresentaram um ganho ligeiramente maior.
O estudo também combinou essas descobertas com os resultados de duas pesquisas COSMOS anteriores que testaram a cognição de mais de 5 mil pessoas por telefone ou online. Nos três estudos, as pessoas que tomaram multivitamínicos tiveram uma melhora consistente em suas pontuações nos testes de memória e na capacidade cognitiva geral em comparação com as pessoas que receberam placebo, comenta JoAnn Manson, professor de medicina da Universidade de Harvard e co-investigador principal do estudo.
Os pesquisadores estimaram que o aumento de memória observado nas pessoas que tomaram o multivitamínico correspondeu a uma redução de dois anos no envelhecimento do cérebro, o que significa que, teoricamente, elas foram testadas tão bem quanto alguém dois anos mais jovem, disse Vyas.
Especialistas não envolvidos na pesquisa disseram que o estudo foi bem planejado: incluiu um grande número de participantes e usou testes cognitivos de boa reputação. Mas as descobertas “são relativamente modestas”, afirma Hussein Yassine, professor associado de neurologia da Keck School of Medicine da University of Southern California. Embora algumas pessoas possam ter se beneficiado de fato com o multivitamínico, disse ele, a maioria provavelmente não se beneficiou.
Yassine acrescenta que afirmar que um multivitamínico poderia retardar o envelhecimento cognitivo em dois anos “é realmente um exagero”. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores compararam o desempenho do grupo multivitamínico com as pontuações médias dos testes por idade. Yassine não concordou com essa técnica, chamando a interpretação de “enganosa”.
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Esse cálculo também foi a principal preocupação citada por Pieter Cohen, um internista da Cambridge Health Alliance em Boston que estuda suplementos. Ele acrescentaque seria muito mais convincente se o estudo descobrisse que as pessoas que tomam multivitamínicos têm menos probabilidade de serem diagnosticadas com Alzheimer até uma determinada idade ou que podem viver de forma independente por mais tempo.
Manson concordou que são necessárias mais pesquisas sobre multivitamínicos, especialmente em grupos com maior diversidade racial, étnica e socioeconômica. Estudos de acompanhamento devem analisar quem se beneficiou com os suplementos e por que, acrescentou Yassine. É possível, por exemplo, que os ganhos tenham sido obtidos por pessoas que não estavam consumindo o suficiente de determinados nutrientes importantes para a saúde do cérebro, como vitamina B12, vitamina D e zinco.
“Em vez de concluir que todos deveriam tomar um multivitamínico, acho que deveríamos tentar entender quem se beneficia com o uso do multivitamínico”, resume Yassine.
Os multivitamínicos podem ser úteis para determinadas pessoas, como aquelas com doenças que afetam sua capacidade de absorver nutrientes, diz Cohen, mas a maioria das pessoas saudáveis não precisa deles. “Não vou recomendar multivitamínicos para melhorar a memória com base nesses dados”, afirma ele.
O estudo COSMOS, financiado pelo National Institutes of Health e pela fabricante de chocolates Mars Inc., tinha como objetivo original verificar se os multivitamínicos ou suplementos contendo flavanóis de cacau afetariam o risco de doenças cardíacas ou câncer. No entanto, o estudo encontrou poucos benefícios em qualquer um dos suplementos.
Outros estudos demonstraram amplamente que os multivitamínicos não melhoram a cognição nem previnem a demência. Por exemplo, em um estudo com quase 6.000 médicos do sexo masculino acompanhados por 12 anos, aqueles que tomaram um multivitamínico não tiveram melhor desempenho em testes cognitivos ou de memória do que aqueles que tomaram um placebo.
No entanto, as pesquisas têm constatado de forma consistente que uma dieta saudável e outras intervenções no estilo de vida podem beneficiar o cérebro. Puja Agarwal, epidemiologista nutricional do Centro Médico da Universidade Rush, em Chicago, chamou as novas descobertas de “encorajadoras”. Mas, ela acrescenta, “se pudermos atender às nossas necessidades nutricionais com abordagens dietéticas, essa deve ser a prioridade”.
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