Óleo de abacate: Quais os benefícios à saúde? Como usar?


O produto costuma ser exaltado por ter uma composição similar à do azeite de oliva; confira o que os especialistas já sabem sobre o alimento

Por Layla Shasta

Enquanto o abuso de gorduras saturadas – presentes em carnes, manteiga, queijos e muitos ultraprocessados – eleva o colesterol ruim (LDL), priorizar as versões insaturadas do nutriente pode ajudar a reduzir as taxas, beneficiando a saúde do coração. Entre as fontes de gorduras do tipo monoinsaturadas está o abacate, fruta que disparou em popularidade nos últimos tempos. E, agora, há quem espere obter vantagens ao consumi-lo em forma de óleo.

O óleo de abacate de fato pode ser uma opção saudável no cardápio – e quiçá um concorrente à altura do azeite de oliva extravirgem, famoso por suas benesses. Embora ainda existam ressalvas, como o preço elevado e a necessidade de mais estudos sobre seus componentes, o produto merece ser explorado. Descubra mais sobre suas vantagens e por que ele tem chamado a atenção.

Óleo de abacate é extraído da polpa fruta e é rico em gorduras boas e compostos antioxidantes. Foto: chandlervid85/Adobe Stock
continua após a publicidade

O que é o óleo de abacate?

“É um óleo comestível, extraído da polpa do abacate, rico em gorduras monoinsaturadas e comercializado em garrafas de vidro; bem similar ao azeite de oliva, pode inclusive ser seu substituto”, resume Thamires Lima, nutricionista do Oba Hortifruti, especializada em nutrição clínica, esportiva e saúde intestinal.

Alguns estudos têm destrinchado o perfil nutricional e os benefícios do produto. Um desses trabalhos é conduzido pela pesquisadora Carla João Nogueira de Almeida, mestre em Nutrição e Metabolismo pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP). “Além de possuir perfil lipídico semelhante ao do azeite de oliva, com propriedades físico-químicas e funcionais parecidas, o azeite de abacate possui grande quantidade de vitaminas antioxidantes e fitoquímicos capazes de proporcionar inúmeros benefícios à saúde”, descreve.

continua após a publicidade

Raio-x da composição

De acordo com o nutricionista Fábio da Veiga Ued, professor do Departamento de Ciências da Saúde da FMRP/USP, o óleo de abacate e o azeite de oliva têm em comum os teores elevados de ácido oleico, também chamado de ômega-9, e a presença marcante de vitamina E.

O ômega-9 tem propriedades anti-inflamatórias e cardioprotetoras. A vitamina E, por sua vez, protege as células contra o estresse oxidativo e o envelhecimento, explica Ued, que também é autor de análises sobre o óleo do abacate.

continua após a publicidade

Segundo a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA), em uma porção de 8 gramas desse alimento, o equivalente a uma colher de sopa rasa, encontramos 5,4 gramas de ácidos graxos monoinsaturados, como é o caso do ômega-9. Na mesma porção de azeite de oliva, são 6 gramas desse nutriente. Já no quesito gorduras saturadas, o óleo de abacate concentra 1,6 gramas, enquanto o azeite de oliva soma 1,1 gramas.

“O azeite de abacate se destaca por combinar um perfil de gorduras saudáveis com compostos antioxidantes, sendo uma excelente opção para promover a saúde cardiovascular, combater o envelhecimento celular e enriquecer a dieta”, resume Ued.

Além disso, o óleo conta com polifenóis e carotenoides, que ajudam a neutralizar os radicais livres – moléculas instáveis que contribuem para o envelhecimento precoce das células e o surgimento de doenças –, e têm ação anti-inflamatória. Os nutricionistas também destacam a presença de fitoesteróis, capazes de auxiliar na redução da absorção de colesterol.

continua após a publicidade

Estudos indicam ainda que o óleo de abacate possui um alto ponto de fumaça. O termo diz respeito à temperatura a partir da qual o óleo passa a queimar e oxidar, gerando fumaça e compostos associados a malefícios à saúde, como maior risco de câncer.

Melhor do que a manteiga?

Um estudo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou que a substituição da manteiga pelo óleo de abacate do tipo Hass, conhecido como avocado, pode reduzir a inflamação e a glicemia após as refeições.

continua após a publicidade

Para o estudo, 13 voluntários saudáveis consumiram, durante uma semana, uma refeição controle – composta por manteiga, ovos, bacon, pão de trigo, batatas e açúcar gelado. Na semana seguinte, eles receberam a chamada refeição teste, onde a manteiga foi totalmente substituída por óleo de abacate Hass. Nas duas situações, os biomarcadores sanguíneos dos participantes foram medidos após a ingestão dos alimentos, e durante quatro horas.

Os pesquisadores notaram que a refeição teste, com óleo de abacate, levou a melhores níveis de insulina, glicemia, colesterol total, lipoproteína de baixa densidade e triacilgliceróis, além de reduções na proteína C-reativa e interleucina-6, indicadores de inflamação no corpo.

“O estudo mostra o potencial do óleo de abacate Hass para neutralizar o impacto negativo de uma refeição matinal rica em gordura e hipercalórica em biomarcadores importantes relacionados à saúde cardiometabólica”, concluiu a análise.

continua após a publicidade

Sem exageros

Embora a composição do óleo de abacate e as análises iniciais indiquem que o produto é bem-vindo à rotina alimentar, é preciso ressaltar que ainda há poucos estudos com humanos sobre os efeitos do consumo, alerta Daniela Cierro, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran).

Além disso, a nutricionista Priscila Kobal, docente do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo, ressalta: os benefícios para o coração e outras partes do corpo estão associados a um consumo equilibrado. “Ele pode fazer parte da alimentação, mas sempre com moderação, pois qualquer óleo em excesso pode ocasionar um efeito adverso”, frisa a especialista.

Como consumir?

O óleo de abacate pode ser usado em saladas, molhos, vinagretes e carpaccios. Também dá para utilizar para refogar ou grelhar legumes, carnes e peixes ou até em receitas doces. Em resumo, funciona como substituto do azeite. Como o ponto de fumaça é alto, existe a possibilidade ainda de usar em frituras – porém, o ideal é evitar esse método de preparo no dia a dia.

É bom ter em mente que o sabor lembra o da fruta, e é um pouco amargo e picante. Por isso, vale brincar de cientista na cozinha, experimentando as melhores combinações.

Falando em ciência, os pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) estão estudando a extração de azeite fino de abacate com a mesma tecnologia usada para o azeite de oliva. Por lá, o engenheiro agrônomo Luiz Fernando Oliveira já fez alguns testes.

Ele recomenda usar o óleo em bifes, arroz refogado e – pasme – até em sorvetes. Segundo Oliveira, sorvete de creme com um fiozinho de óleo de abacate e gotas de limão siciliano formam uma combinação deliciosa.

É óleo ou azeite?

Para essa reportagem, nos deparamos com um pequeno dilema: afinal, é óleo ou azeite de abacate? Diferentes especialistas utilizam os dois termos, e a explicação para essa divergência pode estar no processo de fabricação e nos usos do produto.

O azeite de abacate geralmente é extraído da polpa com um método semelhante ao do azeite de oliva. Ele passa por extração a frio e é conhecido por ser mais refinado, com um perfil gourmet.

Já o termo óleo de abacate é mais amplo, podendo englobar essas versões mais refinadas para usos culinários até as usadas em cosméticos. Esses produtos podem passar por processos de fabricação diferentes, que alteram suas propriedades, usos e qualidade.

Mas, no fim das contas, dá para usar as duas opções. “Considera-se azeite todo óleo vegetal comestível (como o de oliva, dendê e abacate). Sendo assim, na minha opinião, considero os dois termos corretos para se referir ao abacate: óleo ou azeite”, diz Carla.

Vale a pena colocar no cardápio?

Segundo Ued, o azeite de abacate vale a pena para quem busca alimentos funcionais de alta qualidade e está disposto a investir um pouco mais nisso. Com produção ainda limitada no Brasil, o preço geralmente é um pouco mais elevado em relação ao do azeite de oliva extravirgem (um dos mais vantajosos em termos de saúde). No entanto, o nutricionista pondera que o óleo de abacate dura bastante, pois é altamente concentrado.

À medida que for mais conhecido, consumido e produzido, diz Oliveira, esse óleo pode ficar mais barato.

Para quem quer apostar na tendência, Priscila faz uma ressalva: não é recomendável trocar totalmente os outros óleos da despensa pelo de abacate. O ideal seria apostar em um rodízio. “Os estudos com o óleo de abacate ainda estão sendo iniciados. Por isso, não temos evidências científicas robustas que nos faça indicar essa substituição. Sabemos que o consumo moderado traz benefícios, mas ainda não dá para definir qual o limite de consumo”, explica.

Daniela também faz essa indicação e acrescenta: por enquanto, a melhor forma de adquirir os nutrientes do óleo de abacate é comendo a própria fruta. “Os estudos ainda estão avançando, demonstrando seus benefícios. No entanto, preferimos incentivar uma alimentação variada, com frutas, verduras e legumes, incluindo o abacate nessa rotina”.

Um diferencial da fruta em si é a presença de fibras, substâncias associadas ao controle da saciedade e à manutenção das taxas de colesterol e glicemia.

Nova ciência, novo negócio

A produção de óleo de abacate no Brasil ainda é pequena, em parte pelo desconhecimento sobre as variedades nacionais da fruta. Acreditava-se que os abacates brasileiros tinham menos óleo. No entanto, pesquisas recentes, como a de Carla, revelaram que eles têm qualidade igual ou superior, abrindo caminho para um mercado promissor.

A Epamig, que já trabalha há anos com azeite de oliva, viu uma oportunidade estratégica: aproveitar o mesmo maquinário usado na colheita de azeitonas para extrair o óleo de abacate. Até porque, diferente das azeitonas, que só dão frutos durante três meses do ano, o abacate pode ser colhido o ano todo.

Desde que a Epamig percebeu que poderia utilizar as máquinas paradas para essa outra produção, esse tem sido um novo foco da empresa. E como o Brasil é um grande produtor de abacates, os pesquisadores estimam que o azeite da fruta pode se tornar acessível e popular em breve.

Outro usos

“Como o óleo de abacate tem propriedades antioxidantes, também ajuda na saúde da pele e do cabelo. Afinal, ele faz bem para a saúde das células, e isso diz respeito tanto à parte interna como externa do corpo”, observa Priscila.

Mas Ued faz um alerta: “No rótulo do óleo de abacate comestível estará indicado como “próprio para consumo humano” ou “para uso culinário”. Já o óleo de abacate cosmético é facilmente encontrado no mercado, mas foi desenvolvido para aplicação tópica (em pele, cabelo ou unhas). No rótulo, estará descrito como “uso cosmético” ou ‘uso tópico’”, diferencia.

Enquanto o abuso de gorduras saturadas – presentes em carnes, manteiga, queijos e muitos ultraprocessados – eleva o colesterol ruim (LDL), priorizar as versões insaturadas do nutriente pode ajudar a reduzir as taxas, beneficiando a saúde do coração. Entre as fontes de gorduras do tipo monoinsaturadas está o abacate, fruta que disparou em popularidade nos últimos tempos. E, agora, há quem espere obter vantagens ao consumi-lo em forma de óleo.

O óleo de abacate de fato pode ser uma opção saudável no cardápio – e quiçá um concorrente à altura do azeite de oliva extravirgem, famoso por suas benesses. Embora ainda existam ressalvas, como o preço elevado e a necessidade de mais estudos sobre seus componentes, o produto merece ser explorado. Descubra mais sobre suas vantagens e por que ele tem chamado a atenção.

Óleo de abacate é extraído da polpa fruta e é rico em gorduras boas e compostos antioxidantes. Foto: chandlervid85/Adobe Stock

O que é o óleo de abacate?

“É um óleo comestível, extraído da polpa do abacate, rico em gorduras monoinsaturadas e comercializado em garrafas de vidro; bem similar ao azeite de oliva, pode inclusive ser seu substituto”, resume Thamires Lima, nutricionista do Oba Hortifruti, especializada em nutrição clínica, esportiva e saúde intestinal.

Alguns estudos têm destrinchado o perfil nutricional e os benefícios do produto. Um desses trabalhos é conduzido pela pesquisadora Carla João Nogueira de Almeida, mestre em Nutrição e Metabolismo pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP). “Além de possuir perfil lipídico semelhante ao do azeite de oliva, com propriedades físico-químicas e funcionais parecidas, o azeite de abacate possui grande quantidade de vitaminas antioxidantes e fitoquímicos capazes de proporcionar inúmeros benefícios à saúde”, descreve.

Raio-x da composição

De acordo com o nutricionista Fábio da Veiga Ued, professor do Departamento de Ciências da Saúde da FMRP/USP, o óleo de abacate e o azeite de oliva têm em comum os teores elevados de ácido oleico, também chamado de ômega-9, e a presença marcante de vitamina E.

O ômega-9 tem propriedades anti-inflamatórias e cardioprotetoras. A vitamina E, por sua vez, protege as células contra o estresse oxidativo e o envelhecimento, explica Ued, que também é autor de análises sobre o óleo do abacate.

Segundo a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA), em uma porção de 8 gramas desse alimento, o equivalente a uma colher de sopa rasa, encontramos 5,4 gramas de ácidos graxos monoinsaturados, como é o caso do ômega-9. Na mesma porção de azeite de oliva, são 6 gramas desse nutriente. Já no quesito gorduras saturadas, o óleo de abacate concentra 1,6 gramas, enquanto o azeite de oliva soma 1,1 gramas.

“O azeite de abacate se destaca por combinar um perfil de gorduras saudáveis com compostos antioxidantes, sendo uma excelente opção para promover a saúde cardiovascular, combater o envelhecimento celular e enriquecer a dieta”, resume Ued.

Além disso, o óleo conta com polifenóis e carotenoides, que ajudam a neutralizar os radicais livres – moléculas instáveis que contribuem para o envelhecimento precoce das células e o surgimento de doenças –, e têm ação anti-inflamatória. Os nutricionistas também destacam a presença de fitoesteróis, capazes de auxiliar na redução da absorção de colesterol.

Estudos indicam ainda que o óleo de abacate possui um alto ponto de fumaça. O termo diz respeito à temperatura a partir da qual o óleo passa a queimar e oxidar, gerando fumaça e compostos associados a malefícios à saúde, como maior risco de câncer.

Melhor do que a manteiga?

Um estudo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou que a substituição da manteiga pelo óleo de abacate do tipo Hass, conhecido como avocado, pode reduzir a inflamação e a glicemia após as refeições.

Para o estudo, 13 voluntários saudáveis consumiram, durante uma semana, uma refeição controle – composta por manteiga, ovos, bacon, pão de trigo, batatas e açúcar gelado. Na semana seguinte, eles receberam a chamada refeição teste, onde a manteiga foi totalmente substituída por óleo de abacate Hass. Nas duas situações, os biomarcadores sanguíneos dos participantes foram medidos após a ingestão dos alimentos, e durante quatro horas.

Os pesquisadores notaram que a refeição teste, com óleo de abacate, levou a melhores níveis de insulina, glicemia, colesterol total, lipoproteína de baixa densidade e triacilgliceróis, além de reduções na proteína C-reativa e interleucina-6, indicadores de inflamação no corpo.

“O estudo mostra o potencial do óleo de abacate Hass para neutralizar o impacto negativo de uma refeição matinal rica em gordura e hipercalórica em biomarcadores importantes relacionados à saúde cardiometabólica”, concluiu a análise.

Sem exageros

Embora a composição do óleo de abacate e as análises iniciais indiquem que o produto é bem-vindo à rotina alimentar, é preciso ressaltar que ainda há poucos estudos com humanos sobre os efeitos do consumo, alerta Daniela Cierro, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran).

Além disso, a nutricionista Priscila Kobal, docente do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo, ressalta: os benefícios para o coração e outras partes do corpo estão associados a um consumo equilibrado. “Ele pode fazer parte da alimentação, mas sempre com moderação, pois qualquer óleo em excesso pode ocasionar um efeito adverso”, frisa a especialista.

Como consumir?

O óleo de abacate pode ser usado em saladas, molhos, vinagretes e carpaccios. Também dá para utilizar para refogar ou grelhar legumes, carnes e peixes ou até em receitas doces. Em resumo, funciona como substituto do azeite. Como o ponto de fumaça é alto, existe a possibilidade ainda de usar em frituras – porém, o ideal é evitar esse método de preparo no dia a dia.

É bom ter em mente que o sabor lembra o da fruta, e é um pouco amargo e picante. Por isso, vale brincar de cientista na cozinha, experimentando as melhores combinações.

Falando em ciência, os pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) estão estudando a extração de azeite fino de abacate com a mesma tecnologia usada para o azeite de oliva. Por lá, o engenheiro agrônomo Luiz Fernando Oliveira já fez alguns testes.

Ele recomenda usar o óleo em bifes, arroz refogado e – pasme – até em sorvetes. Segundo Oliveira, sorvete de creme com um fiozinho de óleo de abacate e gotas de limão siciliano formam uma combinação deliciosa.

É óleo ou azeite?

Para essa reportagem, nos deparamos com um pequeno dilema: afinal, é óleo ou azeite de abacate? Diferentes especialistas utilizam os dois termos, e a explicação para essa divergência pode estar no processo de fabricação e nos usos do produto.

O azeite de abacate geralmente é extraído da polpa com um método semelhante ao do azeite de oliva. Ele passa por extração a frio e é conhecido por ser mais refinado, com um perfil gourmet.

Já o termo óleo de abacate é mais amplo, podendo englobar essas versões mais refinadas para usos culinários até as usadas em cosméticos. Esses produtos podem passar por processos de fabricação diferentes, que alteram suas propriedades, usos e qualidade.

Mas, no fim das contas, dá para usar as duas opções. “Considera-se azeite todo óleo vegetal comestível (como o de oliva, dendê e abacate). Sendo assim, na minha opinião, considero os dois termos corretos para se referir ao abacate: óleo ou azeite”, diz Carla.

Vale a pena colocar no cardápio?

Segundo Ued, o azeite de abacate vale a pena para quem busca alimentos funcionais de alta qualidade e está disposto a investir um pouco mais nisso. Com produção ainda limitada no Brasil, o preço geralmente é um pouco mais elevado em relação ao do azeite de oliva extravirgem (um dos mais vantajosos em termos de saúde). No entanto, o nutricionista pondera que o óleo de abacate dura bastante, pois é altamente concentrado.

À medida que for mais conhecido, consumido e produzido, diz Oliveira, esse óleo pode ficar mais barato.

Para quem quer apostar na tendência, Priscila faz uma ressalva: não é recomendável trocar totalmente os outros óleos da despensa pelo de abacate. O ideal seria apostar em um rodízio. “Os estudos com o óleo de abacate ainda estão sendo iniciados. Por isso, não temos evidências científicas robustas que nos faça indicar essa substituição. Sabemos que o consumo moderado traz benefícios, mas ainda não dá para definir qual o limite de consumo”, explica.

Daniela também faz essa indicação e acrescenta: por enquanto, a melhor forma de adquirir os nutrientes do óleo de abacate é comendo a própria fruta. “Os estudos ainda estão avançando, demonstrando seus benefícios. No entanto, preferimos incentivar uma alimentação variada, com frutas, verduras e legumes, incluindo o abacate nessa rotina”.

Um diferencial da fruta em si é a presença de fibras, substâncias associadas ao controle da saciedade e à manutenção das taxas de colesterol e glicemia.

Nova ciência, novo negócio

A produção de óleo de abacate no Brasil ainda é pequena, em parte pelo desconhecimento sobre as variedades nacionais da fruta. Acreditava-se que os abacates brasileiros tinham menos óleo. No entanto, pesquisas recentes, como a de Carla, revelaram que eles têm qualidade igual ou superior, abrindo caminho para um mercado promissor.

A Epamig, que já trabalha há anos com azeite de oliva, viu uma oportunidade estratégica: aproveitar o mesmo maquinário usado na colheita de azeitonas para extrair o óleo de abacate. Até porque, diferente das azeitonas, que só dão frutos durante três meses do ano, o abacate pode ser colhido o ano todo.

Desde que a Epamig percebeu que poderia utilizar as máquinas paradas para essa outra produção, esse tem sido um novo foco da empresa. E como o Brasil é um grande produtor de abacates, os pesquisadores estimam que o azeite da fruta pode se tornar acessível e popular em breve.

Outro usos

“Como o óleo de abacate tem propriedades antioxidantes, também ajuda na saúde da pele e do cabelo. Afinal, ele faz bem para a saúde das células, e isso diz respeito tanto à parte interna como externa do corpo”, observa Priscila.

Mas Ued faz um alerta: “No rótulo do óleo de abacate comestível estará indicado como “próprio para consumo humano” ou “para uso culinário”. Já o óleo de abacate cosmético é facilmente encontrado no mercado, mas foi desenvolvido para aplicação tópica (em pele, cabelo ou unhas). No rótulo, estará descrito como “uso cosmético” ou ‘uso tópico’”, diferencia.

Enquanto o abuso de gorduras saturadas – presentes em carnes, manteiga, queijos e muitos ultraprocessados – eleva o colesterol ruim (LDL), priorizar as versões insaturadas do nutriente pode ajudar a reduzir as taxas, beneficiando a saúde do coração. Entre as fontes de gorduras do tipo monoinsaturadas está o abacate, fruta que disparou em popularidade nos últimos tempos. E, agora, há quem espere obter vantagens ao consumi-lo em forma de óleo.

O óleo de abacate de fato pode ser uma opção saudável no cardápio – e quiçá um concorrente à altura do azeite de oliva extravirgem, famoso por suas benesses. Embora ainda existam ressalvas, como o preço elevado e a necessidade de mais estudos sobre seus componentes, o produto merece ser explorado. Descubra mais sobre suas vantagens e por que ele tem chamado a atenção.

Óleo de abacate é extraído da polpa fruta e é rico em gorduras boas e compostos antioxidantes. Foto: chandlervid85/Adobe Stock

O que é o óleo de abacate?

“É um óleo comestível, extraído da polpa do abacate, rico em gorduras monoinsaturadas e comercializado em garrafas de vidro; bem similar ao azeite de oliva, pode inclusive ser seu substituto”, resume Thamires Lima, nutricionista do Oba Hortifruti, especializada em nutrição clínica, esportiva e saúde intestinal.

Alguns estudos têm destrinchado o perfil nutricional e os benefícios do produto. Um desses trabalhos é conduzido pela pesquisadora Carla João Nogueira de Almeida, mestre em Nutrição e Metabolismo pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP). “Além de possuir perfil lipídico semelhante ao do azeite de oliva, com propriedades físico-químicas e funcionais parecidas, o azeite de abacate possui grande quantidade de vitaminas antioxidantes e fitoquímicos capazes de proporcionar inúmeros benefícios à saúde”, descreve.

Raio-x da composição

De acordo com o nutricionista Fábio da Veiga Ued, professor do Departamento de Ciências da Saúde da FMRP/USP, o óleo de abacate e o azeite de oliva têm em comum os teores elevados de ácido oleico, também chamado de ômega-9, e a presença marcante de vitamina E.

O ômega-9 tem propriedades anti-inflamatórias e cardioprotetoras. A vitamina E, por sua vez, protege as células contra o estresse oxidativo e o envelhecimento, explica Ued, que também é autor de análises sobre o óleo do abacate.

Segundo a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA), em uma porção de 8 gramas desse alimento, o equivalente a uma colher de sopa rasa, encontramos 5,4 gramas de ácidos graxos monoinsaturados, como é o caso do ômega-9. Na mesma porção de azeite de oliva, são 6 gramas desse nutriente. Já no quesito gorduras saturadas, o óleo de abacate concentra 1,6 gramas, enquanto o azeite de oliva soma 1,1 gramas.

“O azeite de abacate se destaca por combinar um perfil de gorduras saudáveis com compostos antioxidantes, sendo uma excelente opção para promover a saúde cardiovascular, combater o envelhecimento celular e enriquecer a dieta”, resume Ued.

Além disso, o óleo conta com polifenóis e carotenoides, que ajudam a neutralizar os radicais livres – moléculas instáveis que contribuem para o envelhecimento precoce das células e o surgimento de doenças –, e têm ação anti-inflamatória. Os nutricionistas também destacam a presença de fitoesteróis, capazes de auxiliar na redução da absorção de colesterol.

Estudos indicam ainda que o óleo de abacate possui um alto ponto de fumaça. O termo diz respeito à temperatura a partir da qual o óleo passa a queimar e oxidar, gerando fumaça e compostos associados a malefícios à saúde, como maior risco de câncer.

Melhor do que a manteiga?

Um estudo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou que a substituição da manteiga pelo óleo de abacate do tipo Hass, conhecido como avocado, pode reduzir a inflamação e a glicemia após as refeições.

Para o estudo, 13 voluntários saudáveis consumiram, durante uma semana, uma refeição controle – composta por manteiga, ovos, bacon, pão de trigo, batatas e açúcar gelado. Na semana seguinte, eles receberam a chamada refeição teste, onde a manteiga foi totalmente substituída por óleo de abacate Hass. Nas duas situações, os biomarcadores sanguíneos dos participantes foram medidos após a ingestão dos alimentos, e durante quatro horas.

Os pesquisadores notaram que a refeição teste, com óleo de abacate, levou a melhores níveis de insulina, glicemia, colesterol total, lipoproteína de baixa densidade e triacilgliceróis, além de reduções na proteína C-reativa e interleucina-6, indicadores de inflamação no corpo.

“O estudo mostra o potencial do óleo de abacate Hass para neutralizar o impacto negativo de uma refeição matinal rica em gordura e hipercalórica em biomarcadores importantes relacionados à saúde cardiometabólica”, concluiu a análise.

Sem exageros

Embora a composição do óleo de abacate e as análises iniciais indiquem que o produto é bem-vindo à rotina alimentar, é preciso ressaltar que ainda há poucos estudos com humanos sobre os efeitos do consumo, alerta Daniela Cierro, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran).

Além disso, a nutricionista Priscila Kobal, docente do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo, ressalta: os benefícios para o coração e outras partes do corpo estão associados a um consumo equilibrado. “Ele pode fazer parte da alimentação, mas sempre com moderação, pois qualquer óleo em excesso pode ocasionar um efeito adverso”, frisa a especialista.

Como consumir?

O óleo de abacate pode ser usado em saladas, molhos, vinagretes e carpaccios. Também dá para utilizar para refogar ou grelhar legumes, carnes e peixes ou até em receitas doces. Em resumo, funciona como substituto do azeite. Como o ponto de fumaça é alto, existe a possibilidade ainda de usar em frituras – porém, o ideal é evitar esse método de preparo no dia a dia.

É bom ter em mente que o sabor lembra o da fruta, e é um pouco amargo e picante. Por isso, vale brincar de cientista na cozinha, experimentando as melhores combinações.

Falando em ciência, os pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) estão estudando a extração de azeite fino de abacate com a mesma tecnologia usada para o azeite de oliva. Por lá, o engenheiro agrônomo Luiz Fernando Oliveira já fez alguns testes.

Ele recomenda usar o óleo em bifes, arroz refogado e – pasme – até em sorvetes. Segundo Oliveira, sorvete de creme com um fiozinho de óleo de abacate e gotas de limão siciliano formam uma combinação deliciosa.

É óleo ou azeite?

Para essa reportagem, nos deparamos com um pequeno dilema: afinal, é óleo ou azeite de abacate? Diferentes especialistas utilizam os dois termos, e a explicação para essa divergência pode estar no processo de fabricação e nos usos do produto.

O azeite de abacate geralmente é extraído da polpa com um método semelhante ao do azeite de oliva. Ele passa por extração a frio e é conhecido por ser mais refinado, com um perfil gourmet.

Já o termo óleo de abacate é mais amplo, podendo englobar essas versões mais refinadas para usos culinários até as usadas em cosméticos. Esses produtos podem passar por processos de fabricação diferentes, que alteram suas propriedades, usos e qualidade.

Mas, no fim das contas, dá para usar as duas opções. “Considera-se azeite todo óleo vegetal comestível (como o de oliva, dendê e abacate). Sendo assim, na minha opinião, considero os dois termos corretos para se referir ao abacate: óleo ou azeite”, diz Carla.

Vale a pena colocar no cardápio?

Segundo Ued, o azeite de abacate vale a pena para quem busca alimentos funcionais de alta qualidade e está disposto a investir um pouco mais nisso. Com produção ainda limitada no Brasil, o preço geralmente é um pouco mais elevado em relação ao do azeite de oliva extravirgem (um dos mais vantajosos em termos de saúde). No entanto, o nutricionista pondera que o óleo de abacate dura bastante, pois é altamente concentrado.

À medida que for mais conhecido, consumido e produzido, diz Oliveira, esse óleo pode ficar mais barato.

Para quem quer apostar na tendência, Priscila faz uma ressalva: não é recomendável trocar totalmente os outros óleos da despensa pelo de abacate. O ideal seria apostar em um rodízio. “Os estudos com o óleo de abacate ainda estão sendo iniciados. Por isso, não temos evidências científicas robustas que nos faça indicar essa substituição. Sabemos que o consumo moderado traz benefícios, mas ainda não dá para definir qual o limite de consumo”, explica.

Daniela também faz essa indicação e acrescenta: por enquanto, a melhor forma de adquirir os nutrientes do óleo de abacate é comendo a própria fruta. “Os estudos ainda estão avançando, demonstrando seus benefícios. No entanto, preferimos incentivar uma alimentação variada, com frutas, verduras e legumes, incluindo o abacate nessa rotina”.

Um diferencial da fruta em si é a presença de fibras, substâncias associadas ao controle da saciedade e à manutenção das taxas de colesterol e glicemia.

Nova ciência, novo negócio

A produção de óleo de abacate no Brasil ainda é pequena, em parte pelo desconhecimento sobre as variedades nacionais da fruta. Acreditava-se que os abacates brasileiros tinham menos óleo. No entanto, pesquisas recentes, como a de Carla, revelaram que eles têm qualidade igual ou superior, abrindo caminho para um mercado promissor.

A Epamig, que já trabalha há anos com azeite de oliva, viu uma oportunidade estratégica: aproveitar o mesmo maquinário usado na colheita de azeitonas para extrair o óleo de abacate. Até porque, diferente das azeitonas, que só dão frutos durante três meses do ano, o abacate pode ser colhido o ano todo.

Desde que a Epamig percebeu que poderia utilizar as máquinas paradas para essa outra produção, esse tem sido um novo foco da empresa. E como o Brasil é um grande produtor de abacates, os pesquisadores estimam que o azeite da fruta pode se tornar acessível e popular em breve.

Outro usos

“Como o óleo de abacate tem propriedades antioxidantes, também ajuda na saúde da pele e do cabelo. Afinal, ele faz bem para a saúde das células, e isso diz respeito tanto à parte interna como externa do corpo”, observa Priscila.

Mas Ued faz um alerta: “No rótulo do óleo de abacate comestível estará indicado como “próprio para consumo humano” ou “para uso culinário”. Já o óleo de abacate cosmético é facilmente encontrado no mercado, mas foi desenvolvido para aplicação tópica (em pele, cabelo ou unhas). No rótulo, estará descrito como “uso cosmético” ou ‘uso tópico’”, diferencia.

Tudo Sobre

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.